terça-feira, 3 de março de 2009

LETRAS

As letras descansavam na mesa,
estavam enrubescidas, acotoveladas
colavam as pálpebras, lisas.
Unidas as letras, unidas enrubescidas,
salivavam a boca com vinho sobremesa,
sobre a mesa, a caneta,
inquieta de desejo pelas letras,
coradas espalhavam feromônios,
espermas adormecidos, copularam
com a folha branca, unidas, suadas,
um poema descansava.

Aos olhares elas cantavam
como sereias, enganavam gente,
gente é outra coisa, diferente.
Flores que choravam - mulheres,
longe, perto - em flerte.
No papel um A de ódio,
morrendo de amor,
poeta, caneta, letras,
expressões de sentimentos,
descansando, sonhando,
enquanto eu - arquiteto,
imagino ao pé de uma bananeira,
construir ninhos, de letras vivas.

*Direitos Reservados*

MONOTONIA

Levanto
Banho
Sento
Como
Assisto
Durmo
Levanto
Banho
Sento
Como
Assisto
Durmo
Levanto
Banho
Sento
Como
Assisto
Durmo
Levanto
Banho
Sento
Como
Assisto
Durmo...

*Direitos Reservados*

ALÉM DO OLHAR

Se além do olhar, ela me desse,
o coração e o corpo,
eu reviveria o mundo,
que padece,
morrendo de fome em guerras,
pouco a pouco.

Se além do olhar, ela me desse,
um chamego e um sorriso,
eu transformaria esse solo,
que adoece,
faria crescer lírios e orquídeas,
por lugares onde piso.

Se além do olhar, ela me desse,
um abraço e um aperto de mão,
eu engoliria esse sonho
que me aquece,
e colocaria os pés no chão.

Se além do olhar, nada me desse,
viraria mar bravio, afogaria os rios,
feito uma peste,
ficaria sozinho ruminando, ao relento,
até morrer de frio.

*Direitos Reservados*