quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

POEMA SALGADO

São tantas ondas
sob minha perspectiva,
rimas,

Eu barco
embarco em calmarias, e,
tormentas,

velejo,
veleiro vou com o vento,
sereio,

Por todos os mares,
depois de amar,
outro mar,

sendo, serei,
sereia,
levou-me,

pela minha
escama de pele,
Ah! Mar!

Nesse salgado
poema
que umedece a boca.

EXISTÊNCIA

Crianças corriam,
num corredor que não se podia correr,
em escolas da Santa Cecília,

Moradores do Marechal Deodoro,
dizem que faziam de propósito,
pois nasceram delinquentes,

Hoje em fase de crescimento,
vagam pelas ruas do entorno
em busca da sua existência.

JAGUARÉ

No CEASA um pé de alface
pisou no meu prato,

um pitbull
me colocou pra correr,

miseráveis
buscavam restos,

para crianças
que dormiam sonhos,

Nas camas
dos viadutos,

uma platéia
rezava e aplaudia.

FLORES

A rua das Camélias
não sabia
que não era flor
e que as mulheres se escondiam,

Sua voz não era ouvida,
das Rosas, Tulipas e Margaridas,
total silêncio,
tudo tão familiar,

Muito medo e muito altar,
como nas outras transplantadas,
somente um surdo eco
de vidas e nadas.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

MENINO BONZINHO

Ele era um menino
bonzinho,
um capitão do asfalto,
vindo d'areia de Jorge Amado,

Aos 13 anos já era
estrangeiro de tudo,
já não sorria, mas
era feliz o infeliz,

Gostava da noite,
com as mãos fabricava mortes,
vendendo balas
no farol pra alguém,

Ele era um menino
bonzinho,
me lembro do tiro no peito,
essa poesia do sem querer, querendo.

LADEIRA PORTO GERAL

Desci a ladeira
Aportei
com uma fome geral,

rangia os dentes,
entremeios
de mercadorias e fantasias,

um calafrio de consumo
cantarolava doente
no fundo do medo do bolso.

ARUAREZA

As ruas rezam Pai Nosso
porque nasceram sem mães,

Os homens assim quiseram
que vivessem para o bordado,

Nomearam Santas e Cecílias,
colocaram bundas em cada esquina,

Lá na São João,
distribuíram mendigos que comem na mão,

As ruas são civilizadas, graças
da Princesa Izabel,

Os Jardins perderam as flores,
homens vivem em pequenas prisões,

As ruas ainda oram,
como se fossem o paraíso,

Vão a ti as criancinhas,
como Mônicas e Cebolinhas,

brincando de amarelinhas
a caminho do reino dos céus.


MINHA RUA

Minha rua é tranquila,
vive na periferia,
conversa com os vizinhos,
sobre os buracos em que se mete,

Não é intelectualizada
como as ruas dos Jardins,
é uma rua mediana,
nem direita nem esquerda,

Cheia de Covas é o que acho,
também de metáforas
pelo meio do caminho,
um atalho sem correria,

Ela já tem meia idade,
cheia de meias verdades,
caminha como todas as outras,
mas só vai até a metade.

ZONAS DE DESCONFORTO

Com tantas zonas
não há cidade
que consiga ser justa,

Toda transformação
só acontecerá,
depois da novela das oito,

Seja em Guaianazes,
lá pras bandas de Santo Amaro,
ou na Parada Inglesa,
vamos ver João XXIII,

Não tenho nada melhor pra fazer.

INDIGNAÇÃO

Uma rua
me contou um sonho,

coisas de poesia
que precisa de companhia,

Onde pessoas se transformam
em coisas,

Flores nascem
privadas,

Ilusões morrem
de ego,

Não sou rua,
pra me tratares assim.

RAPIDINHO

Passos rápidos,
sem olhar para os lados,

Uma rapidinha
de amor apressado,

Eu vou, você vem,
de engarrafamentos,

Afins,
distraídos,

Vamos nos libertar dessas ruas,
que não podemos alcançar.

JAMAIS

Não iríamos a lugar
algum,

Nunca chegaríamos
lá,

Você caminhava
a passos de escorpião,

Eu?

Um geminiano, em
compasso de rimas.

O QUE FAZ SENTIDO

Qualquer coisa que perdi,
foi porque estive desatento,
tenho certeza,
darei mais atenção,

Vou te encontrar novamente,
por essas ruas que guardam segredos, e ,
nossos incalculáveis silêncios,

Não posso culpá-la, pois,
entre festas e bebidas,
tudo nos atraia,

entre palavras jogadas fora,
há guardadas teses e conceitos,
ainda prenhos,

Valeu apena encontrar teses?
Para que os pré conceitos?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

SEM RUMO

Deixa eu ir até ai?
Quero ver se você está bem,

quem sabe até ganho um sorriso,
eu vou, depois você vem,

minhas dúvidas andam a pé,
carregadas por formigas,

tudo é meio assunto,
se você ai eu aqui,

vamos caminhar,
mesmo que para lugar algum,

ver uma lua japonesa,
o sol em Shangrilá,

Quantas letras carrega o vento?

Parece tudo sem sentido,
tudo sem, eu acho,

Acho que disse tudo,
tudo tão de repente.

MEIOS

Estas ruas não são minhas.
Quando um poema caminha,
uma rima percebe,

que nunca falo verdades,
muito menos mentiras,
sobre tudo nessa cidade,

declamo aquilo que sinto,
através desse gênero,
que anda a esquerda do verso,

Do Jd. Robru a Vila Madalena.
Que não me ouçam as Santas Cecílias,
preciso ser Vila Prudente,

Poesias e ruas caminham,
vagabundam em,
seja lá o que flor,

Por aqui, por ali,
a rua é um meio,
que nunca diz de onde veio.

SOLIDÃO INFINITA

Não existe nada eterno
quando se conhece a ausência,

Dorme meu quarto
com as ruas acordadas,

a cama mesma vestida
como se fosse a um baile,

só me restam os versos,
que são minha companhia.

AMANHÃ É SEGUNDA

O chopp suando no copo,
molho de macarrão, frango assado,
tudo depois do café e da hóstia,

entre meias palavras,
depois que os padres acabaram com o vinho,
agora é hora de pinga e chopp,

entre mentiras e proesas
para distrair o tempo,
porque amanhã é segunda feira.

BALAS PERDIDAS

Nos becos das periferias,
andam sobressaltos e assaltos,

O que luz e reluz?
meia luz. A crueldade
do animal que conduz,
o projétil que cala, as vozes,
roucas e vivas. E nos encaminham.

Discursos, poder público e cruzes,
eco histórico. A sete palmos do chão.

Eis uma canção de ninar,
que embalam o dia a dia,
lágrimas. sorrisos bêbados,
tempos em tempos de outros mesmos,
em que atiram e matam nossos sonhos.

DIA DE CHUVA

A lua abriu o olho, e,
um lençol de chuva voou;
ela corria apressada,

o vento começou a uivar,
as árvores começaram a dançar,
chegava a enchente no Jd. Pantanal,

Ela, inocente e surpresa,
trajava seu vestido florido, assistia,
da janela a chuva açoitando o chão,

Sozinho, na silenciosa sala,
eu a observava, ela e,
minha cama de apetites;

a sinfonia  lá fora,
parecia ser um convite,
para uma luta na lama.

COTIDIANO

Levantei o mesmo de ontem,
minha solidão acordou sozinha,

Todos os dias, as velhas ideias,
as mesmas saudades, repetidas vagabundas,

Um mesmo domingo vazio, suporto,
esse buraco dentro de mim,

Ontem se foi, hoje já é passado,
com a mesma cara do amor de que fujo.

SEMENTE

Estou amadurecendo, já fui semente,
já flori, já dei frutos (in) suficientes,
outros verdes amarelam, noutras naturezas,
nesse processo, convexo, desconexo, dialético,

Meu pomar, minha sepultura,
nem banana, nem fruta de conde,
que amadurecer, nem terá meu mesmo nome,
será verde, amarelo, marrom, com a transformação definida,

Essa é nossa natureza, quanto mais (in) plantada,
ela se reinventa sob condições, atenta quando tenta,
alimentando os céus, purgatórios e infernos,
a morte não é maior que a semente dentro da gente.

CABEÇA DE PAPELÃO

Eles tinham cabeça de papelão,
vestidos com as notícias do dia,
mas tinham bom coração,

muita cachaça e comida,
sem chaves e sem fechaduras,
 mas projetos de casa na rua,

homens com cara de gente,
com a coleira da polícia que rosna,
diante de um Deus espetáculo,

Um silêncio, onipresente, onisciente,
bradando: Gente assim não existe!
Se torturando com tudo que sabe,

São vidas em casa, sem tetop, sem muro,
desamores, contradições e enganos,
vidas...vidas com pedaços de nada.

MENINAS AZUIS

Se eu tivesse meninas azuis,
veria tudo diferente,
mesmo com os olhos lavados na mesma fonte,

enquanto passo essa vida a limpo,
me sujo e minha menina não sabe,
me conta tudo aquilo que escondo,

O que não sei de mim,
entre azuis, negros e castanhos,
buraco é buraco, mesmo dentro do olho,

vivo, opaco ou de vidro,
não os verei mais um dia,
as meninas terão cor de chão,

as paisagens estarão mortas,
lembranças estarão enterradas,
em cegos poemas sem rima,

Descasaremos, amores, flores, pessoas,
sob esse chão de terra,
alimentando a fome dos vermes.

MOVIMENTO

Ora parava, ora seguia,
pelas vielas e ruas,
para te dar boa noite,
te acordar com bom dia,

você com seus passos rápidos,
não caminhava, corria,
acordando o silêncio do asfalto,
distanciando-se de meus pensamentos,

Passava, parava, seguia,
eu espera a volta. como um se espera Godot,
como momentos em suspenso,
que chamamos saudade.


DIA A DIA

O dia acordou cinza,
sobre mim, nuvens rabugentas, e,
uma imensidão de mau humor,

Quando agucei meus ouvidos,
não ouvi grilos, nem passarinhos,
somente um grande vazio,

Foi quando olhei um menino,
vi um velhinho sozinho,
com meus olhos bipolar,

Onde estou? Gritei pro infinito,
o dia me olhava confuso, eu meio parafuso,
escutava o grito se perdendo no espaço.



VERSO

Ruas minhas ruas,
já me enfiei em muitos dos teus buracos,
já gastei pares de sapatos,
tomei sol e tomei chuva,
agora te dou meus versos.

FLOR I CULTURA

Lírios exalam o medo,
entre as flores silenciosas,

como todos os animais,
corajosas são as azaléias,

enfrentam sol e chuva,
em vãos de ruas fétidas,

olhando despetaladas rosas, entre,
margaridas caipiras,

um mundo tenso,
que trêmula ao vento,

as abelhas famintas,
devoram a imensa floricultura.


AQUÁTICO APÁTICO

Não sei nada do mar,
sigo aprendendo a nadar,

não sei amar, quase sempre,
meus amores de areia,

visto roupas de marlins, e,
com um sorriso golfinho,

mareio pescando respostas,
para perguntas náufragas,

moro em uma concha de mar,
feliz com minhas águas vivas,

Onde? Quero, com você,
sereio, sereia,

viver aquático,
minha humanidade,

vai, vem, me leva,
além, nadou, levou.

MENINA DOS OLHOS

Vocês que conhecem o arco-íris,
me digam a cor dos olhos
da menina,

Aquela menina dos olhos
que faz-de-conta
os olhos,

Que vive em um castelo de areia,
sem fundação, tem um amor movediço,

molhada de oceano salgado,
observando o horizonte,

Esperando um cavalo marinho,
Não venho, não vou,
pois nem amaré tem mais cor.

COISA MAR LINDA

Beijei muitas bocas,
língua a língua
ventosa,

Frente ao mar,
com Cristina beijei mar,
por ser mais beijado,

Como um anzol na boca
eu pescando a mim
peixe fora d'agua,

Essa boca salgada,
pode ser saliva
d'agua de outrora,

Sempre foi o mar,
amaré,
essa coisa mar linda.

SEREI

Serei:
- Dá licença poesia!
Quero falar de mar.

- Todos ao mar!

Bebo muita água viva,
com minhas roupas de estrela, e,
no pescoço corais,

- vai mais volta,
pra ficarmos juntos também!

Quando o vento de acalmar
acenderemos as velas,
para com a jangada navegar,

Eu em barco.

Serei:
Mar
para ser tão.

CORRENTES FILOSÓFICAS

Para lá e para cá
pessoas vão e vem,
com suas contradições, e,
abastadas misérias,

Abrigadas pessoas ricas,
outras dormindo nas ruas,
mulheres pudicas,
outras mulheres putas,

Infância de pesadelos
que se eu pudesse corria,
ruas não são corredores,
são caminhos e escolhas,

anéis entrelaçados
para os dedos dos pés,
rachando calcanhares,
em confronto de saltos altos.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

PEDRINHAS DE BRILHANTES

As ruas
são caminhos,

Os caminhos
se movimentam,

Os movimentos
tem poemas,

Os poemas
eu ladrilho,

Os ladrilhos
tem não tem rimas,

As rimas
são pedrinhas de brilhantes,

Os brilhantes
são amor por toda a rua,

As ruas
são pro meu amor passar.

CIDADE TIRADENTES

Nas ruas da Cidade Tiradentes
as estrelas se apagam com as janelas acesas,
chega a noite escura de doer,

Ouvem-se gritos e açoites,
como uma senzala nas ruas de segredos,
onde marcham cuturnos por ali,

As janelas dormem
a noite escura de doer,
enforcada e esquartejada,

as luzes ascendem, e,
acordam com os sonhos da manhã.

PRAZER DA MANHÃ

Sereno
Créu
na
Frô
molhadinha
afrô
disíaca
logo
de manhã.

AMBIVALÊNCIA

5 moradores de rua,
lhe pedem 8 reais,
você com 5 clientes
que vai visitar,
pra ganhar 40 reais,
com 5 bocas para alimentar.
Como a matemática é tão comum
aos miseráveis.

GPS

Direita, esquerda,
viramos a rua direita,
viramos,

a esquerda da rua,
vai dar no centro,
o centro conhece a cidade.

PAISAGEM

Nela eu toco,
os seios...
olhando,

amor platônico
é isso,
da cintura para cima,

lá em cima,
bate um coração, sonho
d'outro coração vivo,

batidas de poema
desgovernado,
que bate com porta na cara.

PASSATEMPO

O homem que eu achava que era,
procuro, não acho, não fui, não sou,

Infância não tive, foi outro,
que morava em outro mundo,

o que sou nem imagino,
talvez os poemas descubram,

o homem que achava que era,
passou, pela esfera, escorregou,

se fosse quadrada despencava,
para um tudo ou nada,

ficam esses segredos no meu jazigo...
a poesia já não fala comigo.

TEMPO DO ANO

Ano que morre aos doze,
começo e fim
que não finda,

entre pedidos que navegam
um rio tietê, entre
margens marginais,

ano que vem, outro vai,
vem marionetes,
no mais feliz dos anos,

Este ano não!
Ano não tem tempo,
tempo tem comando,

você que não tem nada,
com isso,
carregado pela correnteza,

Me responda!
Como pode um peixe vivo,
navegar águas tão turvas?



OUTRAS POESIAS

A poesia da rua, poesia miserável,
ninguém lê, não emociona,
em qualquer rua que ande,

Não é de ninguém, nem a rua produz,
só um anônimo autor e um muro branco,
sujando a cidade,

Poemas que dormem e acordam,
agasalhados pela noite e a notícia do dia,
assim dorme a fantasia,

Poesias doentias, deitam nas paredes frias,
onde deitam cimento, gente e terra fria,
cheias de amor nessa farsa festa criada.

OUTRAURORAS

Durante horas...
aqueles segundos
me atraíram,

Aquela curva aberta
me disparou o coração,
voce passou...passou...

Quanto tempo?
Quanto ficou, no instante?
Que olhei.

Foram horas,
os segundos olharam, e agora?
Não esqueço mais você,

Como uma Consolação,
desfilando de salto da poesia,
sem medo de ser atropelada.

DEZEMBRO

Os dezembros na 25 de março,
são de gente com dinheiro
carnês  e pesadelos,

Como vai ser o ano que vem?

Estouramos champagnes, e,
explodimos a vida, para,
depois descansar olheiras,

Sonham os que não tem?

Anda café eu vou...
Café não costuma falhar,
meus pão com manteiga, cai com a manteiga pra baixo,

Acordo humano de amigo e despedidas?

Esse Papai Noel de agora
não é o mesmo Papai Noel que conheço,
que só mata a tristeza uma vez por ano,

No Natal se vendem canhões?

Esse vermelho que a cabeça leva é de luta,
vermelho Papai Noel,
com sangue a beira-mar,

Desconfia desse branco, desse olimpo, limpo?

Jingle Bell...Jingle Bell...
Carrego essa efermidade desde a infância,
fazer poesia criança.

CONTRADIÇÕES

Só vou viver depois que morrer,
não me enterrem por favor,
me queimem como bruxo que sou,

Nasci repleto de sonhos que já não lembro
pela distração que o mundo promoveu,
mas lembro do gás de pimenta,

condimento dos meus anos 70,
quando sonhava com um mundo feliz,
adolescente rebelde aprendiz,

quis ser tudo para o qual fui educado,
doutor, professor, engenheiro, tudo que proporcionasse dinheiro,
tornei-me um poeta, nem melhor, nem exato,

Cultivei a vida, a vida inteira,
hoje tenho medo da morte,
dos botões on e off,

Só vou viver depois de morrer,
que minhas cinzas pulem um viaduto,
e sintam o ar que respiro.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PARAPOESIA


Eu meio Milton ou Gonçalves,
parapoetizo o sal da terra,
entre peixes, entre Palmeiras,
como um perdido sabiá,

Aqui na Barra do Saí,
Não há ruas para deitar,
As ruas que aqui se deitam,
Não se deitam como lá,

Aqui tem muito mar,
Muita mata, muita areia,
A maré açoita pedras,
mais amor para apreciar,

Aqui pode-se andar sozinho,
Há cheiro de natureza no ar.
Gosto da fumaça de lá, e,
Balas perdidas para chupar,

Aqui na Barra do Saí,
Não há tantos amores para deitar,
Aqui as mulheres se deitam,
mas não se deitam como lá,

Aqui tem mais amor,
Mas sinto saudades de lá,
As ruas que se deitam,
Não tem o desconforto de lá.

Aqui temos coqueirais,
Temos varas para pescar,
Os peixes que aqui pescamos,
Muitas vezes se dão por lá,

Aqui não se tem companhia
Mas se tem muito mais vida,
Como pode um peixe vivo,
Viver fora d´agua fria?


JINGLE BELL


Dia de ofertas
Nós e mercadorias à beça,

Coisas na vida:
Um homem faz sopa de pedras,

Com cara de água de salsicha, e
Gosto de cabo de guarda-chuva,

Não morremos na véspera,
Somente os perus,

Nós e as mercadorias
Temos dias e horas marcadas,

É quase meia-noite
Para quem acredita em papai Noel,

Levantam-se os cordões,
Balanço a cabeça ao sim,

Movimento os braços arlequim,
como um feliz bobo na corte,

Noite feliz...noite feliz...
E o dia seguinte?

Jingle Bell...Jingle Bell...
This boat smells...

Entre merdas, e,
Coisas que tomam vida.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

AÇÕES

Porque as lutas não vencem batalhas?
Palavras de ordem despencam,

conspiramos embates, debates,
falácias gagas, promessas,

que não dão em nada,
nada acaba, na margem,

a correnteza arrasta
tudo que a mente inventa,

toda ideia deveria queimar,
se o verso não aquece,

É hora de fecundar poemas
com a palavra fazer.

SILÊNCIO CONJUGAL

Mais uma mulher morta
jogada no meio da rua,

mais que mulher...era gente...
gente como a gente que sangra,

morte de falta de pergunta:
o que eu quero para mim?

Sedução, festas, luxúrias,
homem pra deitar e casar,

exigências, mudanças,depois:
primeiro tapa na cara,

por amor entre paredes,
promessa de família feliz,

desmedidas outras se afoga
a braçadas,

em luas cheias de mel minguantes,
seu silêncio conjugal.

FAMINTO

Gosto de ovo frito,
maionese e bacon,
um fundo de arroz queimado,

coisas simples, saborosas
quanto matam a fome,
deixando um gosto de quero mais,

Gosto de salada Caeser,
picanha e Moet Chandon,
bom mesmo é arroz com feijão,

não sou fã de pão e vinho
nem de hóstias de igrejas,
não sustentam a barriga,
mas enchem a cabeça.

NOITES FRIAS

A noite nas ruas do centro
os ratos cochicham,

balas perdidas procuram
gemidos sob viadutos,

dormindo sonos injustos,
sonhando no asfalto gelado,

Como será o amanhã?
Pergunte a quem a souber.


Aquelas ruas que são jazigos
daqueles que respiram mortos.



ENTREPOESIAS

Olhando aquele bunda
acima das coxas e joelhos,
eu imaginava entrepernas

a paisagem árida
dagruta entrequadris
pela frente da encosta,

a côncava visão misteriosa
causava arrepios,
efêmeras eternidades,

a bunda, o surdo marcapasso
um samba sincopado,
de um enredo suado entrepúbis,

um marquês gritava:
Sapeca ai!!!
Sapeca ai!!!

GRAVIDEZ

Embaixo da marquise
da ponte da Vila Maria,
uma coruja piava,

não há vida em você!
Sob aquele céu negro
ofuscado pela luz do poste,

ela se escondia,
olhando sem enxergar,
grávida de adãos e evas.

CANTOS

Moro nessas ruas
apreensivas,
violentado,

Espero a oportunidade
que sempre chega antes,
vai, insisto, apreensivo,

não me espanto,
deito o corpo na calçada,
em cantos as vezes em prantos.

PLÁGIOS

Meus dias são
um plágio após o outro,
meus anjos se suicidam
por uma realidade menos morta,

Viver é profundo,
a morte é muito mais,
tempo inexistente;
vou ficar onde quero estar,

aqui nesses tantos lugares,
tenho a minha caverna,
que vive dentro de mim,
mais bem dentro, momentos,

momentos que não são de verdade,
você no meio da tarde
uma ausência que quero lembrar
daquilo que parecia ser,

Ontem, hoje, ontem hoje plágios,
túmulos de momentos cadáveres,
nesse verão saudosista,
de sombras e fantasmas.

Uma longa noite de pesadelos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ACONTECIMENTO

Nunca vi,
mas sabia que acontecia lá.

Um negro de cabelo loiro,
um branco rastafari,

Todos os olhos
carregavam meninas pretas,

numa Vila Madalena
fantasiada de pavão,

Trotava um homem cavalo,
com sua carroça verde amarela,

seguido fielmente
pela felicidade que latia,

naquele lombo negro reluzente
todos queriam colocar um pano branco.

SONHOS COTIDIANOS

Um sujeito matou a mulher
num sonho de família feliz,
Sonho que sonhava só.

O corpo foi encontrado,
cimentado debaixo da cama
em uma manhã cinzenta,

Nem chuva nem sol,
lavavam o sonho
do homem que se achava Deus.

EDUARDO E MÔNICA

Eduardo e Mônica
desejaram mudar o mundo,
jogaram molotvs na Rua da Consolação,
criaram o Partido Tamo Junto,
os molotovs se apagaram,
hoje fazem discursos domesticados
na Câmara dos Deputados.

KING KONG

Há animais na Rua 15 de Novembro,
prédios como o Empire States,
branquelas manchadas de negros,
de nariz empinado, em mais um dia
deitando noite adentro.

DIA DO FICO

No Parque Dom Pedro
vigiam-se contrabandos,
corotes e mendigos,
principalmente a miséria.

CONFORTO

Na Praça da Sé haviam 5 crianças,
pés descalços e nariz escorrendo, com fome,
eu cheio de vergonha elas tão magrinhas.
A mãe? deitada com o pai de agora;
ninguém se incomodava.

BADALOS

Caminho pela Rua Direita
quebro a esquerda
chego na praça da Sé,
tropeço na miséria, e,
ouço o sino da catedral.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

BEIJO NA BOCA

Boca na boca
ventosa
melhor do que ontem,

Um coração
fantasiado
de Arco Íris,

Tudo tão colorido,
sorrisos,
nos lábios da borboleta.


HAICAI

Bem te vi
colibri
eu Urutau


A Maritaca: - Ai cai...Ai cai...

DESAGUANDO

Uns dias chove
noutros bate sol
soprando o vento,

Cai a chuva
lava a rua
mata a sede,

Me leva
leva a rima
a poesia poema,

olhos de Lula
águas azuis,
eu e minhas maresias?

DANDO RISADAS A TOA

Surpreso? Não. Tudo foi indo,
pente ante pé, passo a passo
as mesmas manhãs,

café, almoço e jantar,
com cheiro de naftalina

Sexo? Só nas noites de sexta,
depois da novela,
posto que é chama, apagou...

depois do cigarro aceso,
a fumaça subiu, se foi,
como se nem tivesses estado,

Tudo é um saudosismo,
sem cheiro, nem nada,
agora rio a toa.

ARRANHA CÉUS

Não ando em ruas
que não me levam
a lugar algum,
por minha conta e risco
nem ando com a fé
entre prédios que me oprimem,
pelas calçadas fétidas, e,
corpos apodrecidos
sinto o cheiro de Deus,

Nunca arranharei o céu!

ZÉ MANÉ POETA

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José bobão,
Marias te trairiam,
nesse seu esgoto de ilha,

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José deixa de ser estéril,
põe vida nessa vida, ou,
leva ela a sério?

SALVE-SE QUEM PUDER

O sangue de Deus
não é verde amarelo,
incolor,

Nos espinhos das rosas,
não tremulam améns,
primavera já chega,

Trabalhadores sertão reis?

Machucam as cabeças
coroadas de reis que trabalham,

Diante de tanto sangue colorido,
Salve-se quem puder!

CARAMUJO

Inicio o dia
adentro a noite
sonhando riquezas
que não enobrecem,

mentiram para mim,
corro como uma cão para morder o rabo,
prazer não me cabe,

Não gosto, tem gente que gosta,
dessa vida oposta, fim sem finalidade,
onde tudo tem cheiro de peixe,

Reclamações são o ostento,
nestes rabiscos inúteis?
Palavras de caramujo, que
só acontecem em versos.

MUSICALIDADE

Acordo dançando uma valsa,
passo a passo, o ato é um fato
pronto,

Escuto a música que brota,
poderia ser mais bruta,
bossa nova,

O som da avenida, entoa,
outro canto, outro tempo,
que é deles hoje,

harmônica exploração de espaço,
desconforto e consolo,
diante de uma clave de sol,

Tudo faz sentido na poesia talvez?

SUICÍDIO

Viaduto. Alto. Arranha o céu.
Um salto. Ambulância.
Mergulho vermelho.
Uma manhã amarela.

VELHA CRIANÇA

Fraldas geriátricas, desfibrilador,
telefone dos amigos no SAMU,
um velhinho brincando de criança,

Pula corda na ida e na volta,
não vai nem volta,
nem chega também,

nada termina de ser feito,
tudo começa hoje, amanhã novamente,
com a vontade de fazer sempre,

As velhas narrativas,
das experiências com o tempo,
morrem e nascem,

Amarelinha, cabra cega,
acabam como ontem,
da vida somos amantes.

ÁGUAS PASSADAS

Há dias acordo assim:
sem saber definir,
o que são águas passadas,

Dói-me as costas, navego
as águas afluentes de mim,
quanto tempo passou?

Paro em frente ao espelho,
sorrio com as respostas,
da velhice aportando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MINHOCÃO

Um minhocão
abriga, sob...embala,
o lixo,

O poeta
olha a miséria,
sem culpa,

Esculpida,
pedras - pessoas, pelos
batalhões de poemas,

sobre os restos,
ratos roem
a vida,

sem gatos
que moram em
arranha-céus,

habitam
a nova violência
sem perder a ternura,

Jama`s.

ABUSANDO A VIDA

Uma nuvem cinza,
esconde, atrás,
um sol,

dentro,
uma chuva densa.
Vai saltar!

Retumbam os trovões,
correm,
ratos e baratas,

os raios, iluminam
sem suspeitar
que irão acabar em poesia,

as plantas se divertem
dos que correm
da vida seca,

vida
dádiva ávida
lavada,

molhada ou seca
em perfeita sintonia,
a poesia usa e abusa.

TEMPESTADE

Ando enquanto os olhos
se abrigam das gotas,
de chuva,

Cai exausta
numa enxurrada
de existências,

Antes desse águasal,
um mendigo
já dormia úmido,

Um cheiro podre,
subindo molhado
do chão,

Abrigado sob um toldo,
ouço o pranto
da tempestade bruta,

Um choro em si mesma,
que na garoa acalma,
umedecendo a calçada,

sacia  a sede
dos pássaros...passos,
vão em vãos,

o arco íris
se levanta de manhã
sobre os ausentes,

somente ao poeta,
encharcou de palavras,
essa chuva intensa.



terça-feira, 12 de novembro de 2019

DEUS URBANO

Não gosto desse Deus urbano,
de rosto branco, loiro de olhos azuis,
olhar de candura, boca singela,
entra devagarinho, sem licença poética,]
nas casas, cavernas e mentes,

Esse velho e forte, sabe que começo tem fim,
sem medo da descrença,
com orgulho do ódio e de maldades,
tudo em mim é rebeldia,

Caminho numa insana procura,
por aqui por ali
o mundo se deita em mim,
me acoberta de gaze, nem percebemos,
quase, que vai nos cobrindo de terra.

MANDARIM

Meu amigo chinês disse:
Chinesas não gostam de negros.

Eu respondi:
Brasileiras também não.

Não durmo com Mao na cabeceira,
todo sexo é revolucionário,

só é contido pelo café e um cigarro,
nas minhas manhãs em Cunha,

Cachoeira na cabeça, água fria,
um levante popular,

um suor e um gozo
entre o fogo do molotov,

um sorriso de felicidade
meio comunista.

MEU ESPELHO

Havia um cavalo dentro de mim,
só eu montava,
com meu colete a prova de balas;

na cabeça, o descuido, meu chapéu coco,
cavalgando entre xilocaína, lidocaína, cafeína,
acetona, bomba e éter,

sempre fui medieval,
inconsciente com meu umbigo
e me espelho particular.

FAKE NEWS

Os solitários das redes sociais,
não escutaram a explosão.

Morreram crianças?
Morreram minorias?
Morreram trabalhadores?
Morreram muitos.

Os solitários nada viram,
haviam muitos amigos deletáveis e um conforto,
fugir da realidade, dos conflitos lá de fora,
basta ficar offline e ver tudo pela TV.