sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

NASCENDO PRA VIVER

Nascemos e choramos
nadando na água
no ventre
e depois,
ganhamos um rótulo
ou nome que havemos de ter,
começamos a nascer novamente.

Como me chamam?
noturno,
vento suave ondulando
na praia.
Cheio de cifras roucas de desejo
vagueante de querer o mar
mas, no entretanto,
montado em muitas patas
continuamente fugindo
levantando no ar
poeira.

*Direitos Reservados*

DEBAIXO DA SACADA

A planta suada na sacada,
ferve ao calor
do sol
pensa na primavera
solitária
e na espera
A planta não sabe
que eu sei
solitário
embaixo da sacada
estas coisas que ela sabe
Ela dentro do vaso
Fora da sala
Fora de casa
Cresce pra onde?
Não pra dentro
Nem pra fora do vaso
Nem pra dentro da casa
Boca seca
Procura
água e espaço
onde a liberdade
não há esqueça
como a dona da casa
Que vê com choro
a seca folhagem
achando que com adubo
se resolve tudo.

*Direitos Reservados*

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

PORQUE É NATAL

Hoje levantei cedo
Pra vida
No varejo
A venda
Pra fazer poesia
Contra essas merdas
De mercadorias.

*Direitos Reservados*

ACORDANDO

O galo cantou
Na rua
suja, nua
Uma tosse rouca,
que a garoa acaricia.
Bom dia!
Vem cá,
Aperto de mão...
café com pão!
De graça
E o amanhã?
Passa
Deus, diabo
E o escuro,
ódio puro,
No peito surdo,
ódio escuro,
Muito ódio
Amigos!
Eu preciso abrir os olhos!

*Direitos Reservados*

CICLO VICIOSO

Dia. Banal. Cidade agitada.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Um sol frio embaçado
Aquecendo o cotidiano,
e a vida.
Tudo igual. Como ontem.
Eu morri.
Amanhã se repete.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Mesmo sol.
Mesma vida.
Eu
Morrendo de novo.



*Direitos Reservados*

CARTEIRA ASSINADA

Entrei no prédio de janelas azuis,
nada se via do lado de fora,
pelo vidro anti-reflexo.
É de dia - quando raia o dia,
o perfume invade a recepção,
e as bonecas pintadas me recebem,
eu me aproximo pé ante pé,
acanhado diante de tanta beleza,
das catracas travadas, severas,
Das paredes de quadros caros,
homens imóveis em posição de sentido,
vestidos de negros, alguém negro,
me olha desconfiado e sem barulho,
na minha ansiedade tudo ouço,
a boneca me chama,
com voz musicada,
no rosto um sorriso falso,
com muito esforço,
dou-lhe a carteira de trabalho,
com duas fotos recentes,
Um homem cheio de empáfias,
me olha o currículo, e sorri amarelo,
me coloca nas costas um fardo,
consegui o trabalho,
um quase trabalho.
Fiquei extasiado e feliz,
pela minha família, pelo meus filhos,
consciente de que tapearam,
mais esse pobre diabo.

*Direitos Reservados*

BATALHÃO DE MISERÁVEIS

Correm igual batalhão,
marcando o passo,
com chinelos de dedos.
Pra frente volver!
Com muito barulho.
O estado lhe puxa o arreio.
Eia! ... Eia! ... Eia!
- Agora enche a cara!
- Agora saqueia!
Corre pra não ser pego
Senão te ponho no trinco
e a tranca
Hoje eles podem tudo,
Pra manter o trabalho,
dos opressores,
ao batalhão de miseráveis.

*Direitos Reservados*

DROGA

Droga...
Droga...
Droga.
Maldito demônio,
que na minha casa dividida
Destruiu
As nossas vidas
De lar harmonioso
Em apertos de dor
Que me separou pra sempre,
De
Voce
Pra que
Eu
te odiasse
por isso
e a mim.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

NEM ME VIU

Colocou café
no copo descartável
Pôs no copo a colher
no copo com café
Pôs adoçante
no café adoçado
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café adoçado
E pôs o copo no lixo
Sem comigo falar
sentou-se na cadeira
mal sentada
Dobrou os joelhos
com as pernas
Pôs os joelhos
no queixo
sem comigo falar
Sem pra mim
um olhar
Da bolsa
Pôs um livro na mão
frente aos olhos
Abriu
a capa dura
que protegia
as folhas
nem sorriu
leu
E saiu
porta afora
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim?
Ela ficou
na cabeça
E chorei.

(Poema pra Daniela)

*Direitos Reservados*

OLHARES

Olhares de olho sonâmbulo,
sonhando desejos,
me invadindo de desconcertos,
que me encanta.
Procuro gemidos
na boca calada sob estrelas.
Tomo entre os meus dedos
o seu sorriso.
Invento a cor dos teus suspiros.
Me deito com um sonho inventado,
me perco em palavras trêmulas
como um bobo da corte,
não sei o que sinto,
sinto que sinto,
como um mar revolto
na gruta onde me encontras
com lábios de espuma
nas poucas horas
indecifráveis
que a vida nos proporciona...

IMAGEM

Oh! Imagem
Que me comprime o peito,
que me escorre o sal do corpo,
molhando como lágrima a boca;
que conservo calada,
pra esconder meu vazio.
Desse amor que é jovem,
sem consciência,
que nasce com ele.
De repente enrubesço;
não como as estrelas
que iluminam minha mudez;
que devia gritar:
Te amo!
Patética aspiração de poeta,
apaixonado e cúmplice,
segredo egoísta guardado.
Que posso fazer?
com esses pensamentos,
que a solidão me sugere,
nesse peito gelado,
nessa boca covarde,
nesses olhos furtivos,
onde continua somente imagem,
pronta pra esquentar,
esse cofre de gelo.


*Direitos Reservados*