domingo, 29 de dezembro de 2013

VIAGEM

Faço parte dessa gente, que
agora vai
viajando em nuvens
puxadas por cavalos alados
conduzidas por mim mesmo
gente que tem vidas reais
que vão à lugares - que existem
querendo explodir o destino.
Que o diabo me carregue!
Não divague sobre sua existência
a única verdade da vida é morrer.

PAIXÃO

Paixões ainda me tentam
não nego
cruzes que carrego
quando as noites fazem estrelas

Paixões mal curadas também,
dos meus erros, zelos,
cuidados que não quero mais

Apaixonado
sempre fui suspeito
assustado dentro do peito
parecendo que nunca existi

Agora só invento quando preciso
ou...
quando quero comer o universo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

BERINJELA FOI AO MERCADO

Berinjela foi ao mercado
comprar chuchu pra salada
que fugiu pela portados fundos

Era um chuchu pequeno
chuchuzinho de não ser
notado, nem pra cozido
nem pra assado

Berinjela se chateou
com toda a confusão
não fala mais com chuchu
só anda com beterraba

MORRENDO COISAS MORTAS

Um vaso morreu
no chão da minha sala

Túmulo de uma rosa morta

Fina matéria vida
aos cacos, desfolhada se foi.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

SOBREVIVENTE

Sobrevivo a tudo isso

O amor que pareceu foi
não cabe neste poema

Fato: Foi
absolutamente

Passou simplesmente
nada mais que isso.

CARIOCAGEM

A vida corre
com água de côco
muito barulho
um mar heresia
nos corpos de areia
e muito chiado na voz.

MINHA NATUREZA

Abelhudo
bebi o mel
da Azaléia
da tua saia

A natureza
bela te veste
fera
te dispo

Nos meus sonhos
infinitamente
tanto.

PELO VÃO

Que cruel tortura esta
de querer explicar tudo

As respostas ai estão
estão ai as respostas

Há uma explicação para isso

Essa curiosidade
de querer saber
o que são como são
e que são ficção

Melhor negá-las
sempre que possível
ou vivê-las

Na ficcional realidade
dum vão.

DÚVIDAS DE UM BÊBADO

Será que vale a pena
se estou fetichisado
pela imensidão do Estado

Luto meus momentos
com o canto das cigarras
silencio... anoiteceu...
a brisa ficou

Nunca muda
tudo no devido lugar
a TV no canto
e o sofá no centro

O que devo fazer
ou não?
A vida enruguece
eu bêbado

no butiquim do Seu Armando.

ATÉ MAIS VER

Hoje há uma preguiça em tudo
uma lentidão aparente, um
silencioso pânico de gente
com doze badaladas, noite
de atores, clows, sorrisos, choros,
matando vidas inteiras
um genocídio imenso de estrelas,
parece real, mas não é
Só parece eterno
porque é lento
entre luzes e ribaltas
acenos de quem volta
sereno e descalço
 Pro ano que vem.

24 P/ 25 DO 12

Que solidão é essa
que invade até tua sombra
sob  o olhar de quem procura?
Nem-te-vi
Nada sei sobre você e a pedra
nem sobre o cão mendigo da esquina
Sei que dessa solidão me construo
construído sou só
Metafísica?
Meia noite toca o sino
nas ruas desertas, baratas,
sorrisos flácidos, amores, amigos?
Um maltrapilho morre de fome
mas a fome não morre com ele
o menino sobre a pedra na manjedoura
é de louça e fantasia.

DIÁRIO

No diário que você guarda
momentos de tua vida
não há referências
de amor

No diário
seus momentos são
linhas magras
mágoas

Seu diário
não te cabe mais
seu diário
não cabe um mar inteiro

As medidas do teu diário
são tão grandes como suas verdades.

BICHO DE GOIABA

Tento enxergar
além de mim e você
um futuro quase real
de teorias prenhas

Amanhã enxergo
todo o passado de mim e você
revivendo,
minhas correntes

De resto?
nada vejo
senão rugas
num mundo pálido

como bicho
de dentro
de goiabeira.

DESABAFO

Tomar todas as brejas
ao Pagodinho cabe,
loiras, geladas, redondas
nascer corinthiano
a nós, periferia
essa cruel realidade, de
fazer da luta um nada.

A FOME FICOU

O Natal passou
o ano já vai pra janeiro
um menino nasceu
bezerros
ovelhas
presentes
trabalho
e a fome ficou.

NO NATAL

No Natal
cantou-me um sino ao ouvido
e depois emudeceu.

PAREI, PORQUE PAREI?

Nós lutávamos

E a massa perseguida
com a luta que lutávamos

Nós lutávamos

e a luta que lutávamos
como essa de hoje
nos traz o prazer da utopia

e a luta que lutávamos
era outra alegria

Nós lutávamos

e a luta que lutávamos
achávamos vencer todo dia

Havia tanta luta que lutávamos
e o movimento mesmo
Porque parei?

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

SARDAS

Sardas esticadas no rosto
como um tapete de onça
Deito no chão e observo,
não há flores no meu Natal,
que vento te chegou?
Não veio, não virá,
só meu resto de vida
que acredita em Papai Noel.

AMANHECENDO

Amanhã é um devaneio
porque não existe hoje.
O dia é cinza agora,
se o sol não surgir
vai chover com certeza.
Apesar de bonito o amanhã
não sei se vou brincar
de sol e chuva com você,
amanhã é só um nome,
será melhor depois de amanhã.

NOVO ANO

Quando entrar o novo ano
talvez já não me encontre aqui.
Tomara o novo ano seja gente
que possa chorar crianças
mas um novo ano nem sequer é coisa!?
Nem mesmo o pão, o trigo,
os pães, o trigo
dias de um novo ano justo,
Nada surge do nada
não há d'javir
Tudo é tão ficção sem luta.

ABRAÇOS DE POLVO

O abraço do polvo
acolhe
fetichisa

Meu corpo
quente
pesado
escravo

Minha alienação
minha vida
abraçada
mão de obra

Realidade
do meu olhar fictício
meu olhar
trabalhador

Meu ver comovido
o mar
quando é tsunami

Polvo
de abraço terno
suave

Agradável
como o levantar
da brisa

Ou como a canção de sereia
que tudo é
assim é o que é

Aceito, agradeço,
acolhido pelos tentáculos
que faz pensar
que existo.

Difícil ser eu
não enxergar
ao olhar

Um trabalhador mudo
olhando o poente
pra escutar o que ele fala.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

TRISTE

Foi-se tanto tempo
momentos que a vida viveu
te casou, te felicitou,
não podia ser diferente
E eu?
Também. Triste?
Triste.
Com o tempo.

FINAL DE TARDE

Sempre ao final da tarde
final da tarde em ponto
ela me sorri, dedilha os dedos no ar
sempre ao final da tarde em ponto
telefones, amigos, funcionários, lhe cobram atenção
sempre ao final da tarde em ponto
Pequenos gestos silenciosos, flertamos,
sempre ao final da tarde em ponto
covardes perante a forma e o conteúdo dados
sempre ao final da tarde em ponto
não vivemos um amor de verdade
sempre ao final da tarde em ponto
a noite nos escurece.

PASSATEMPO

Passa tempo
como se não passasse,
Meu baú de lembranças
guarda você, o vento, e o sol

De quando em quando
me remexo a lembrar
pro tempo passar

A coloco ao meu lado
com nossa imaginação
entristecido com o pôr do sol
quando a noite escurece
com o gostinho dos vagalumes
Sorrio pras suas sardas, desejo-lhe,
muito sol e muita chuva,
levantar-lhe as saias, na esperança
Que a qualquer momento o tempo
devolva vida ao meu baú
Pra eu deixar de passar por isso
vivê-la sem pensar nisso.

TALVEZ SEJA OUTRA

Talvez eu te achasse mais linda
de noite, nas calçadas de Cajuína.
Olho teu corpo frágil e branco
vejo forma de noite calma.
Na cama, a forma que carrega
me cobra destreza e delicadeza
como quem não deitou com ninguém.
Talvez seja outra.

NATAL

Todos (alguns) terão
um Natal, quem saiba uma ceia
em (in) completa, bárbara, solidão
No saco que carrego... amigos?
Só mercadorias.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

FERIDA

Feriu-se de amor?
Não morra nas margens
nem seja marginal.
Siga a correnteza.

PRAZER PLATÔNICO

Amar dormindo
é masturbação,
morrer de gozo,
amor a perder de vista.
É demais!

PENA DE MORTE

A pena de morte
é um pitbull faminto
de carne putrefa
dos ossos que somos
O resto é botão de camisa com casa
pente de eufemismar
imagens indigeríveis.

CRUZADAS

Todo momento de solidão
me faço um guerreiro
um São jorge
Assassino um dragão
e duas cruzes
depois decifro cruzadas.

DIA DE CHUVA

Sampa
dia de chuva
noite de meia lua
em barulhos cegos
sem poesia.
Acabou a rima.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LEVEZA DE SER

Corre de mim Carolina
pela areia do mar
conflituosamente , olha o caminho
e a vida que passa
nossas separadas,
Não fica, não deixa, não volta
corre esse mar imenso
para um porto porvir
bem longe das flores
Corre arfante, barulhenta
com sua leveza de ser
que logo te alcanço.

MORTE EM MOVIMENTO

Só morrerão meus verbos
quando me for, o movimento,
com sua suavidade
de mais nada dizer.
Pena uma vida tão breve
Depois que me for, passa
porque nunca fui
quem aqui esteve.

DOS OUTROS

Oh! Portuguesa
algum dia
num bar, com cerveja
será minha por algumas horas

Seu corpo e sorriso cativante
me atravessam como flexa
aguçando-me a cobiça,
algum dia...

Me verá gostando
naquele bar, só a mim
cansado, como sempre,
das mulheres dos outros

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PORVIR

Um dia
depois de um sono frio
de lagarto
te direi o que penso

Um dia
terei a coragem
que não posso hoje

Um dia
guerreiro me torno
armado com as armas
de talvez amor

Um dia
um porvir...
um porvir...

TÉDIO

A noite subindo
as estrelas se ascendendo
abrindo-se para o vácuo universo

Uma grande festiva noite
universo em brilho, cintilando,
pelas semeadas estrelas

Fixo meus olhos no mastubar dos astros
Flora hegemônica do negro céu
Onde terminamos o tédio.

OPERANDO UM VERSO

Saltam os gritos da folha branca
dos operários que mastigam ossos
do matadouro que engole homens
como um polvo, abraçando, sacudindo,
afundando as marés com os tentáculos
ao som de uma canção de ninar
O balançar das ondas?
Juntam os corpos e as memórias
que já não trabalham, fodem como cães
mães, pais, filhos sem mais valia.

POEMA

O poeta
versou a filha
mas ela, amanhecendo
deitou-se com a lua

O poeta
rimou as amantes
mas só lhe coube,
flores, flores
e um beija-flôr

O poeta
poemou os amigos
sem rimas
se perderam em diferenças,
Fez então uma auto-poesia

Os Narcisos gritaram:
Somos enfim um poema!