segunda-feira, 14 de agosto de 2017

ARTESÃO

Pelo uso das mãos
nasce o mundo

faz-se o gesto
nasce o gesto

e o mundo
vai escorrendo

por entre os dedos
das utopias.

DESUMANO

Extingue-se a humanidade,
se não bastasse,
os micos leões dourados
e a presença do outro.

POESIA EM FLÔR

Em terra seca
com pedras sobre si,
versos e rimas
lutam por germinar,
esperando que a sensibilidade
permita a poesia aflorar.

SEM GRAÇA

Um cão urinando no poste,
moscas beijando um velho,
duas senhoras falando de alguém,
eu bebendo a mesma cerveja.
Hoje o dia acordou sem graça.

NÁUFRAGO

Garrafas ao mar,
assim são os poemas,
lê quem quer,
rimas de um cotidiano prosaico.
que não cabem numa gaiola,
não explicam, só se expressam.
A quem interessa a expressão,
se a explicação basta?
Eu acredito, o mentiroso também,
em rasgar qualquer silêncio.

PERDAS E DANOS

Já que perdi os amores que tinha,
gastarei meus míseros trocados,
tomando cerveja e debatendo com as estrelas.

MEU OLHAR

Não tenho um camaro amarelo,
vivo do meu mísero salário,
não tenho bens nem poder,
tenho sim, muita saúde,
um olhar apurado de quem olha,
para além daquilo que é visto.

MEU CONTRÁRIO

Quem puder não me esqueça
como aquele que admirava borboletas,
resmungava para tudo,
sempre inconformado,
com o amor, com amaré?
Com tudo que aparece de singelo,
entre Deus e o Diabo.

FALANDO DE SILÊNCIO

Para quem não sabe
sou um tagarela,
no meu silêncio
procuro dizer tudo.

HUMANO

D e amores e medos
vesti meu corpo,
entre seios fartos,
bocas suculentas,
coxas, nádegas e sorrisos,
na obrigação de existir,
mais do que a matéria,
resume-se em algo mais,
mais do que corpos suados,
sim o que de humano
existe no homem.

GUERREIROS

O Brasil explora conscientemente
a miséria e a fome, histórica
fome e miséria que engordam
políticos e presidentes,
queria eu estar infectado de:
Che Guevara e Betinho.

A SUA SOMBRA

Ainda farei ciesta a sua sombra,
sombra que me excita,
suave gemido, sem choro,
meu cansaço em você descansa,
o amor vence esse cansaço,
com um coração deserto.

BANANAS

Brasil! Meu país de bananas,
falando português tupiniquim,
incerto requebrado melancólico,
minha rede de descanso,
meu balanço, meu gingado,
num sono exausto repouso,
aproximo de mim, tendo a certeza
que a fome matará muitos,
antes que eu envelheça.

SÓZINHO

Estremeço, viro e me reviro,
não rangem as molas da cama,
range o corpo resmungando desejos,
gemidos, ecos de sussurros,
de corpos me acariciando.
É madrugada, peço socorro,
braços e abraços vão embora,
sigo em frente... lá longe...
meu quarto vazio...
volto a dormir novamente,
a manhã transformo em versos,
o calor, o pavor e o amor,
depois tomo um café, visto a roupa que engordou,
vou ao trabalho... depois...
voltarei aprendiz, com o fardo do destino.

MEIAS VERDADES

Sou um poeta mau humorado,
que a pessoas incomodo,
nas suas falsas paz singelas.
Não sou o homem que balança o rabo,
não sou bicho, nem acatarei os atos,
sou poeta homem do mato,
só podendo ser medido no sofrimento,
nunca serei um, visto pela metade,
nem serei inteiro de verdade.

VOLTAS QUE A GENTE DÁ

O Uber transita, a cidade
ainda me impressiona.
Os prédios e suas pichações,
arte caótica e arriscada. O vento me esquenta.
Na praça uma mulher defeca,
com a mesma calcinha de bolinhas da Minie,
um dia viveremos outro tempo,
se viver houver.

HORA DE DORMIR

A cidade vai matando de fome,
churrascos de costela,
salmão na brasa,
coração na mão;
o dia vai findando
com o ronco da barriga.