segunda-feira, 23 de abril de 2018

REPETIÇÃO

O novo não tem novidades,
os galos já não cantam às 05:00 hs,
agora eu tenho Iphone,

As galinhas ainda botam ovo,
ainda do mesmo jeito,
sentadas sob o poleiro,

A confusão jaz costumeira,
Deus e o diabo vivem na terra do sol,
em paz e guerra carnaval,

A caneta gritando:
Poesia...! Poesia...! Poesia...!

QUESTÃO MORAL

Uma lesma se arrasta,
nua, gozada, úmida,
entre as pernas de uma mesa,
lambendo nosso chão.
Já não basta cupins,
comendo o armário?

TIETÊ

Enterrei na marginal,
as margens, um braço do tietê,

Ser rio poluído é preciso prática,
começa com uma cusparada,

Comer pneus e sofás,
e outras coisas jogadas fora,

A vida fecunda, bundas,
moscas de bananas madurando mortas,

Nessa paisagem passeia o poeta afogado,
entre sapos coaxando, cada qual na sua cova,

Entremorto uma coroa de borboletas,
uma poesia sem calcinhas,

O cheiro desse poema,
banha nessas águas turvas.

PALAVRAS

Calar para que?
Para que calar?
Palavras querem fugir,
querem falar caladas,

palavras escravizadas,
são queixosas,
falam com força,
poéticas teimosas,

Palavras desejam,
recitam, ouçam e vejam,
aos pulos, sussurros,
desembocando num oásis.

RALO

Nenhum grito aqui ecoa,
entre confetes, cervejas e tiros,

amplo vácuo nesse silêncio fresco,
como uma falta, de tudo e nada,

som quieto, uniforme salta,
como ondulações em águas calmas,

Como tudo que vai, corre, esvai.