sexta-feira, 26 de junho de 2009

MORBIDEZ

Haviam numa fruteira sobre a mesa,
frutas silenciosas a madurar,
madurando mortas.

Que prazer mórbido esse!


*Direitos Reservados*

MORTE

Toda manhã abro os meus olhos
para ver a futura escuridão
que me chega.


*Direitos Reservados*

ASSEXUADO

Num quarto de hora
permaneço Ícaro,
noite sobre noite
exposto num prato,
pensando à deriva
mareado de versos
num vai e vem,
como ondas num mar,
são águas passadas.

*Direitos Reservados*

PERDA

Funcional na cama,
num esforço até o limite,
meu corpo encaixa, na caixa,
de outro já desigual.
Preenchido o espaço,
na noite, no quarto,
com saudades de um passado,
já foi.
Pensamento suado, pesado,
sem entusiasmo de ontem,
num outro corpo no escuro.

*Direitos Reservados*

DETALHES

Tomando um cafézinho quente,
sempre a vejo no teatro,
que coloco nesse verso menor de poema,
na casa de amigos comuns,
calados, degustando pratos,
olhamo-nos de soslaio;
após a cena improvisada,
vou apagar meu cigarro,
pra vê-la ir em seguida,
na Av. São João perdida,
com a sensação de nunca entender,
o que sinto, o que sentirei,
novamente ao te ver.

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 25 de junho de 2009

DEUS MORREU

As janelas dos trens do metrô são cegas,
a dos ônibus, veem casas, mercados, cachorros,
gente namorando, árvores, pássaros,
a dos aviões veem o mundo.
As janelas me afirmam que Deus morreu.

*Direitos Reservados*

DIA DE RESSACA

Acordei pela manhã
com um gosto de vinho sem safra,
abri a janela para beber a luz do dia,
me engasguei,
vi que o dia não precisava de ninguém,
voltei para a cama,
pra esperar sumir a luz do dia,
espero que ele volte só pra semana.


*Direitos Reservados*

sexta-feira, 19 de junho de 2009

CORRENTES

Puxava eu uma corrente marinha
e o mar nem ligava,
ora eu trazia a maré,
ora ela me levava.
Não chegarei nunca a frente,
preso a corrente desses pensamentos.

*Direitos Reservados*

COISA DE FLÔR

Nenhuma flôr pergunta:
Quem és passarinho que canta?
Aceita, se encanta.
Ele fica embriagado de flôr,
e ela flôr fica risonha.

*Direitos Reservados*

MUITAS MARIAS

Muitas Marias
muito mar
molhando meus olhos.
Marias de Graças
Marias Amélias
Marias, Aparecidas,
cheias de vida.
Naveguei por todas,
enquanto no mar ia.
Em cada porto,
Marias mareavam
a vida.
Marias de Graças,
Marias Amélias,
Marias, esquecidas,
nas velas soltas,
enquanto o mar ia,
pra outro porto,
pra um outro dia.

*Direitos Reservados*

UM POETA NO MOVIMENTO

Era preciso dizer, para provar a existência,
demonstrar inteligência,
o conhecimento das ações,do mundo.

Somos trabalhadores da arte!

Alguém solicitou ordem,
um outro encaminhamento,
na briga dos egos...um pedido de bis,
os viciados devoravam cigarros,
outros mastigavam canetas.
De repente num vacilo das eloquências,
o poeta, para a curiosidade geral,
fez um aviãozinho de papel e voou pela sala,
levando consigo junto a garota militante,
que fingia que não era com ela.

*Direitos Reservados*

ARTISTA

Pensando-me personagem,
prefiro ser platéia
de uma alguma atriz

Não sei se tanto
encanto ou pranto,
invento versos.

Me importa agora
sorrir nesse prólogo,
choramos depois.

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 17 de junho de 2009

CAMAMESA

Minha cama é uma mesa,
de carne macia ou vegetais,
onde mato a minha fome,
quente e fria,
onde não preciso ser educado,
lá pelado eu como.

*Direitos Reservados*

MUDEZ

Me recolho
a minha humilde insignificância,
diante do teu silêncio.
Me reencontro comigo mesmo,
com o cotidiano, as mesmices e a lama.

Coloco meu traje pesado
de frio e de arrogância,
para vender meu trabalho.

È só o que tenho de meu.

O seu silêncio faço meu agora,
pra continuar pensando em você.

*Direitos Reservados*

COVARDIA

Para acalmar meu pensamento de você
me transporto ao Araguaia.

Tiros, torturas e frio
cenário triste, úmido, histórico,
por muitos esquecidos.

Amor violento, onças pintadas,
saguis, gatos selvagens e lobos,
memórias de outros tempos.

Lá não pude lutar, sem muita idade,
Hoje grito meu grito de guerra:

- Não sei viver sem você!

Me escondo nesse poema,
com a desculpa de um pensamento sem lígua.

*Direitos Reservados*

DESEJO MEU

Vivo
Pra navegar esse mar.

Lamber ostras nas pedras
roçar suas algas,
te escamar a pele.

Sereia que me arrrasta, afinada.
Envergonhado te pergunto:

(Quando poderei?)


*Direitos Reservados*

DESMATAMENTO

Lambuzei-me da seiva da tua selva,
percorrendo a mata, sou teu!
És minha! floresta desbravada,
onde parte de mim, deixo, ferido,
desmatado e vegetalizado.
Me alimento de iguais,
iguais a você, vou renascendo,
conhecendo novas flôres,
instantes de minha nova herança.


*Direitos Reservados*

DEIXANDO A FORMA

Aos meus olhos bastaram a forma
a saciar meus desejos, guiei-me
pela exatidão da escultura, montado,
em um equino a domesticar.
Fêmea em frenesi, não percebeu,
que o peso do amor perdeu peso,
na escura caverna vulva ventre.
Usurpada a forma, procurei o conteúdo,
não achei porque não guardei,
olhei além da forma, um falso querer.
Acendi meu cigarro traguei fundo
e calado me fui.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 12 de junho de 2009

PARTIDA

Um dia ela te sorriu
subiu tuas escadas
percorreu o teu corpo,
sempre que te via, dizia: Bom dia!
Você desdenhava, sem se importar,
ela ficou ao teu lado, calada.

Um dia todos os amigos festejaram
(O que? Não importa)
As rosas não falam, exalam,
dizia o rádio pra ti,
os risos continuavam muitos,
lambuzados de vinho do bom.

Foi quando te olhou, interrogativa,
sem respostas, nada disse,
saiu pela porta - vive agora!
ostra, oca, só, a espera.

Foi assim que, ao se encontrar
com o mar nos olhos, descobriu
que algo faltava; ai se deu conta,
Não seria mais feliz novamente.


*Direitos Reservados*
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LEITURA NOTURNA

O farol aceso no mar
olhava para a noite apagada
que eu podia ver
do balanço da minha sacada.
A chuva contava pro chão,
pausadamente causos do céu,
minha cadeira massageava o soalho,
o vento inquieto gritava com o telhado,
meus dedos amarelos cheiravam
cinco cigarros sem cinzeiro,
eu continuava lendo você pela quinta vez,
sem cansar.

*Direitos Reservados*