sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MORADIA

Eu faço minha moradia

Comecei com o desejo,
depois dei nome pra rua
com placa dependurada
na ponta do meu fuzil,
no choro, na morte na escuridão

Grupo, massa, luta,
eram uma fábula,
valiam-se mais do discurso,
e como as marés,
se moviam pra morrer se preciso.

E assim o dia chegou
juntaram-se muitos e muitos.
Na rua fincara-se em mutirão,
nessa noite chorei.

Janelas surgiram pra apreciar
o amanhã
Todos fazendo o dia juntos,
as mãos calejadas, o choro torturado,

A construção subia,
eu podia agarrar meu desejo,
que sorria de contentamento.

Das sobras dos sarrafos,
fiz cruzes pra aqueles que morreram,
que não veriam suas moradias,
sem portas, paredes rachadas, sem memórias

Era por eles que o desejo persistia:
portas perdidas, abrigos sem fundação,
sem vida.

O desejo do alto das janelas
se edificava nos nos rostos da vizinhança.

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