sexta-feira, 29 de junho de 2012

BRINCANDO DE BONECA

Aline é menina
de louça, boneca,
que brinco no quarto
quando sonho.

Dormindo pesadamente
vou além do sonho
com meus segredos
que a realidade assassina

Essa minha imaginação fértil
coloco nos versos, pensando,
a boneca de louça
que brinco no quarto

Sem a rima na poesia
uma boneca mastigo,
a criança, o poeta,
que não sabe fazer poemas.

Ela sentada na cama. Sem saber
de mim, como se virasse fumaça.

OLHANDO O MAR

Penso em Cristina
sentada na pedra ao meu lado
olhando o mar
ao meu lado.

Ao meu lado, tão distante;
a distância tem que ser longe?
Faltou-me esse distanciamento
antes de sentar a olhar o mar.

LOBO DO MAR

O mar uivava
os uivos ensurdeciam os lobos,
os lobos eram cruéis.

A história passa por mim,
as lembranças são fantasmas
me torturam as noites.

Pela manhã, as lembranças se divertem
rodopiam como borboletas,
na cama o suor do embate,
a cena da tortura,
que se esconde ao raiar do sol.

OS DESEJOS

Os desejos desejaram
a morena do Rio Grande do Norte,
os sonhos, o poeta cansado,
a menina, o laço, a armadilha,
companheiros, oss corações pulsaram
e os desejos fugiram.

(Os desejos continuam ainda erectos)

ALGODÃO

Aquela jovem
era como chimaço de algodão,
tinha mêdo d´agua,
do mar azul,
do pó dos grandes centros,
da geada úmida,
daqueles que morrem de frio, mas,
sabia aquecer o meu corpo.

D´JAVÚ

Eu e ela
sentados na pedra
que o mar
quer abraçar?

No pensamento dela
golfinhos passam voando
em idéias que rastejam
como cobras.

Eu tenho um d´javú no peito
onde os gestos das mulheres,
suas ações,
se repetam.

Nós olhando a imensidão do mar
vigiados pelo seu horizonte.

domingo, 24 de junho de 2012

RENASCIMENTO

Ela jamais quebra
o silêncio
de pedra, por ser
pedra.
Ele não desmuda
o homem
de fala muda, por ser
homem

Ele ela apesar
de estátuas
homem-mulher-pedra, por ser
amantes de si
sedentários se quebram
fazendo brotar pássaros cantantes
que entoam
canções de protesto.

domingo, 10 de junho de 2012

AFIRMAÇÕES E PERGUNTAS

No mercado da mão de obra
ele se vende
Obrigado a trabalhar para sobreviver
ele se mata
Obrigado a calar a boca
ele tampa olhos e ouvidos.

No mercado da mão de obra
ensina-se a esperança,
Amai-vos uns aos outros!
Genti-leza gera genti-leza!
ele diz amém,
mas começa-se a perguntar:

Esperança, amor, gentileza?
Por um trabalho que me mata?
O que produzo, prque não posso ter?

No mercado da mão de obra
caro amigo
sua paciência, seu sorriso submisso
bebendo seu copo de humilhações,
traduzem a mais profunda barbárie
que rege tua vida. 

FATO

Nunca é o que parece
nunca é o mesmo à pouco
à pouco nunca, já passou
tudo vai se refazendo
com juízos de valor
nunca é impossível, afinal.
Nunca é o que parece
não há de ser nunca.

MEU CAMPO

Cultivo um gramado
no armário
e uma bola na gaveta
do criado mudo

logo vou ter meu
próprio campo
no meu quarto
pra não assistir campeonatos
com a sensação
de estar sendo enganado

já ouço a torcida
gritando gol bem baixinho
todas as noites.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

BRINCADEIRA DE VENTO

O vento brinca
lá fora
com a natureza

Flôres em pânico
águas trêmulas
levanta a poeira

Não fosse o vento
só o silêncio,
não fosse tanto

seria quase.

HÁ TEMPO

Ainda há tempo
minhas rugas
ainda há tempo
Nem meu definhamento
nem meu descanso fatal
Vão matar a vida que ouso
pois vou começar
tudo de novo.

ESPERANDO

Esperei se e-mail
ele não veio
esperei por vôce
também não
Nunca disse que mandaria
ou viria
mas o coração esperou.

LEMBRAR APENAS

Levanta teu muro de cravos brancos
Sei que pretende aventuras e fantasias
No passar do tempo
do calado relógio
me espia.
Provei do teu gosto
teu sumo grosso
sei que te sei
não queria dizer
nem te pôr de poema
só quero lembrar, apenas.

terça-feira, 5 de junho de 2012

PARTINDO

Gelo no copo
(chorando)
gelo ao sol.

Silêncio de gelo
que o gelo chora

No sol e no copo
gelos são
só letras frias

Silêncio - lágrimas
sempre o mesmo:
gelo.

TORTURA

Barulho de chaves
barulho das chapas
das grades
dos coturnos
dos corpos na escuridão

Um côro de passos
Um côro de bombas
um côro eu nú,
pendurado, penso,
sobre uma arara.

MATA CHICO

Da floresta mais densa
ao morrer
de uma árvore de joão de barro
bumbo sem baqueta

Os homens bárbaros
abatem como rês
o grito em volta

Tomba o corpo verde
quixote da selva
aos olhos

A cobiça (sempre a cobiça)
Age sem punição
aos interesses da ganância.

CONSTATAÇÃO

Sempre
um corpo surge
macio ao toque
de uma mão
se
uma vez acariciado
o corpo responde:
é a mão
que faltava.

FRUTAS DO CONCRETO



A poesia lida
de tão metafórica
te traem o sentido

Um papel de rabiscos
rasga o pensamento
de todos

Dos homens distraídos
as mulheres aceboladas
correndo as ruas

Os meninos famintos
aspirando o perfume da cola
do país de berço explêndido

Um pomar na cidade
de frutas amadurescendo
mortas

As que não morrem
apodrecem na terra.