terça-feira, 15 de janeiro de 2019

FRAGMENTO DE ORGIA

A cama
Depois de se molhar
Inteira
Foi para o sofá, e lá,
Encontrou ondas,
Deitou então tapete
No chão suado

FORMAS


Deitada na areia,
Desenhada, entre curvas e montes,
Suas cavernas de mistérios,
Brilham só descansando a solidão,
Momentos de lúcida lucidez,
Pelo sol, pelo mar, pela espuma...
Ou seus sonhos...ou seu gozo.

VIDAS SECAS

O deserto
Quer um mar,

Debaixo desse sol,
Desse pé de sossego,

Algum vento
Para refrescar?

Já houve, chuva
Onde não há,

O tempo
Já não pode esperar,

Não podem sempre
Essas vidas secas

COMO?


Foram-se os homens, é preciso renascer,
Longe desta vida grávida
De coisas que tenho que fazer
Entre subjetividades e sonhos,

- Isto é viver?
- Tudo em preto ou branco?

Para onde correm as águas?
Mar? Farol? Seca?
Não sou só eu que faço perguntas,
Nem sou quem tem as respostas.

Vão-se os homens,
Florescem coisas
Flores artesanais
De surpresas naturais
Que germinam versos.

TEMPO DE VIVER


Sem tempo
Finda o dia
Eu sonharia,

Sem tempo
Nasce o dia
Eu? Você? Comeria,

Sem tempo
Nasce a vida e finda
Eu morreria.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DIA A DIA

Os pombos bicam o chão duro,
comem e namoram daquele jeito. Sabe?
- imoral -
os machos eriçam os pescoços,
fazem a corte por todo lado.
A evangélica espantada,
pensando nas coisas de Deus
ficou toda molhada.

MORADOR DE RUA

Debaixo do minhocão,
um homem e seu fiel cachorro,
dormem com as notícias do mundo.

BAIRRO DO CAMBUCI

na minha adolescência no Cambuci
eu me transformava em um capeta,
minha tia até me comprou uma capa vermelha,
um tridente e me cochichava:
pula, canta, com samba nos pés.
Eu até cuspia fogo no carnaval da minha rua.

DA LUZ A RIO GRANDE DA SERRA

Lá vai o trem!
Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Atravessa o centro...
rumo a Rio Grande da Serra,
Vai...volta...vai...volta

LEITURA ESPELHADA

Na poesia em que me leio
      rimas após rimas
               sou sim
               sou nem,

De quando em quando
       sou só coração,
  cheio de lembranças
       que vem e vão,

Entre tantas metáforas,
    tão pouco, a pouco,
do que sou? O que restará?
    Nem vem que tem,

um homem no espelho,
  espantosa aparência
    que o olhar viaja,
como quem sabe das coisas


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

CRÔNICA DE MIM

Aprendi a me esquecer,
comprei certezas demais,
institucionalizado,
tomei muitos prejuízos,

Nunca fui humano para a burocracia,
um dia minhas certezas se distraíram,
lendo Marx, Engels, Lenin, Saramago...
As dúvidas passaram a ser uma cruz,

Entre o gosto do malte artesanal
e o trago no cigarro de contrabando,
essas novas certezas não dormiam,
ficavam miando sobre o telhado,

Corto cebola até chorar,
invento tragédias para depois rir,
repetidas são comédias, elas, as tragédias,
afinal, tudo terá carnaval mesmo,

Se tivesse sido informado que
tudo que nasce é para depois morrer,
teria escolhido não estar aqui...
me embebedando de conflitos,

vou bebendo a vida,
até tomar um porre de morte,
vou bebendo...vou bebendo...
brindando o dia seguinte,

Meu Estado fala por mim,
tenho o direito constitucional,
beber essa vida de porre,
minha garrafa é privada!

Ainda uso calça Lee
Us Stop!
Já sabem o que ando lendo,
respeitem minhas contradições

Apesar dessa fala idosa,
um adolescente vive dentro de mim,
com dor nas costas, gozo uma vez ao mês,
Certo é que na poesia eu posso tudo.