segunda-feira, 25 de novembro de 2019

BEIJO NA BOCA

Boca na boca
ventosa
melhor do que ontem,

Um coração
fantasiado
de Arco Íris,

Tudo tão colorido,
sorrisos,
nos lábios da borboleta.


HAICAI

Bem te vi
colibri
eu Urutau


A Maritaca: - Ai cai...Ai cai...

DESAGUANDO

Uns dias chove
noutros bate sol
soprando o vento,

Cai a chuva
lava a rua
mata a sede,

Me leva
leva a rima
a poesia poema,

olhos de Lula
águas azuis,
eu e minhas maresias?

DANDO RISADAS A TOA

Surpreso? Não. Tudo foi indo,
pente ante pé, passo a passo
as mesmas manhãs,

café, almoço e jantar,
com cheiro de naftalina

Sexo? Só nas noites de sexta,
depois da novela,
posto que é chama, apagou...

depois do cigarro aceso,
a fumaça subiu, se foi,
como se nem tivesses estado,

Tudo é um saudosismo,
sem cheiro, nem nada,
agora rio a toa.

ARRANHA CÉUS

Não ando em ruas
que não me levam
a lugar algum,
por minha conta e risco
nem ando com a fé
entre prédios que me oprimem,
pelas calçadas fétidas, e,
corpos apodrecidos
sinto o cheiro de Deus,

Nunca arranharei o céu!

ZÉ MANÉ POETA

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José bobão,
Marias te trairiam,
nesse seu esgoto de ilha,

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José deixa de ser estéril,
põe vida nessa vida, ou,
leva ela a sério?

SALVE-SE QUEM PUDER

O sangue de Deus
não é verde amarelo,
incolor,

Nos espinhos das rosas,
não tremulam améns,
primavera já chega,

Trabalhadores sertão reis?

Machucam as cabeças
coroadas de reis que trabalham,

Diante de tanto sangue colorido,
Salve-se quem puder!

CARAMUJO

Inicio o dia
adentro a noite
sonhando riquezas
que não enobrecem,

mentiram para mim,
corro como uma cão para morder o rabo,
prazer não me cabe,

Não gosto, tem gente que gosta,
dessa vida oposta, fim sem finalidade,
onde tudo tem cheiro de peixe,

Reclamações são o ostento,
nestes rabiscos inúteis?
Palavras de caramujo, que
só acontecem em versos.

MUSICALIDADE

Acordo dançando uma valsa,
passo a passo, o ato é um fato
pronto,

Escuto a música que brota,
poderia ser mais bruta,
bossa nova,

O som da avenida, entoa,
outro canto, outro tempo,
que é deles hoje,

harmônica exploração de espaço,
desconforto e consolo,
diante de uma clave de sol,

Tudo faz sentido na poesia talvez?

SUICÍDIO

Viaduto. Alto. Arranha o céu.
Um salto. Ambulância.
Mergulho vermelho.
Uma manhã amarela.

VELHA CRIANÇA

Fraldas geriátricas, desfibrilador,
telefone dos amigos no SAMU,
um velhinho brincando de criança,

Pula corda na ida e na volta,
não vai nem volta,
nem chega também,

nada termina de ser feito,
tudo começa hoje, amanhã novamente,
com a vontade de fazer sempre,

As velhas narrativas,
das experiências com o tempo,
morrem e nascem,

Amarelinha, cabra cega,
acabam como ontem,
da vida somos amantes.

ÁGUAS PASSADAS

Há dias acordo assim:
sem saber definir,
o que são águas passadas,

Dói-me as costas, navego
as águas afluentes de mim,
quanto tempo passou?

Paro em frente ao espelho,
sorrio com as respostas,
da velhice aportando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MINHOCÃO

Um minhocão
abriga, sob...embala,
o lixo,

O poeta
olha a miséria,
sem culpa,

Esculpida,
pedras - pessoas, pelos
batalhões de poemas,

sobre os restos,
ratos roem
a vida,

sem gatos
que moram em
arranha-céus,

habitam
a nova violência
sem perder a ternura,

Jama`s.

ABUSANDO A VIDA

Uma nuvem cinza,
esconde, atrás,
um sol,

dentro,
uma chuva densa.
Vai saltar!

Retumbam os trovões,
correm,
ratos e baratas,

os raios, iluminam
sem suspeitar
que irão acabar em poesia,

as plantas se divertem
dos que correm
da vida seca,

vida
dádiva ávida
lavada,

molhada ou seca
em perfeita sintonia,
a poesia usa e abusa.

TEMPESTADE

Ando enquanto os olhos
se abrigam das gotas,
de chuva,

Cai exausta
numa enxurrada
de existências,

Antes desse águasal,
um mendigo
já dormia úmido,

Um cheiro podre,
subindo molhado
do chão,

Abrigado sob um toldo,
ouço o pranto
da tempestade bruta,

Um choro em si mesma,
que na garoa acalma,
umedecendo a calçada,

sacia  a sede
dos pássaros...passos,
vão em vãos,

o arco íris
se levanta de manhã
sobre os ausentes,

somente ao poeta,
encharcou de palavras,
essa chuva intensa.



terça-feira, 12 de novembro de 2019

DEUS URBANO

Não gosto desse Deus urbano,
de rosto branco, loiro de olhos azuis,
olhar de candura, boca singela,
entra devagarinho, sem licença poética,]
nas casas, cavernas e mentes,

Esse velho e forte, sabe que começo tem fim,
sem medo da descrença,
com orgulho do ódio e de maldades,
tudo em mim é rebeldia,

Caminho numa insana procura,
por aqui por ali
o mundo se deita em mim,
me acoberta de gaze, nem percebemos,
quase, que vai nos cobrindo de terra.

MANDARIM

Meu amigo chinês disse:
Chinesas não gostam de negros.

Eu respondi:
Brasileiras também não.

Não durmo com Mao na cabeceira,
todo sexo é revolucionário,

só é contido pelo café e um cigarro,
nas minhas manhãs em Cunha,

Cachoeira na cabeça, água fria,
um levante popular,

um suor e um gozo
entre o fogo do molotov,

um sorriso de felicidade
meio comunista.

MEU ESPELHO

Havia um cavalo dentro de mim,
só eu montava,
com meu colete a prova de balas;

na cabeça, o descuido, meu chapéu coco,
cavalgando entre xilocaína, lidocaína, cafeína,
acetona, bomba e éter,

sempre fui medieval,
inconsciente com meu umbigo
e me espelho particular.

FAKE NEWS

Os solitários das redes sociais,
não escutaram a explosão.

Morreram crianças?
Morreram minorias?
Morreram trabalhadores?
Morreram muitos.

Os solitários nada viram,
haviam muitos amigos deletáveis e um conforto,
fugir da realidade, dos conflitos lá de fora,
basta ficar offline e ver tudo pela TV.


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

NÃO SEI FAZER POESIA

Olho pela janela do trem,
um mundo em miséria e injustiça,

O fogo de Deus, me faz respirar,
uma fumaça que embaça,

que passa,

Aqui não meu irmão!
Vou descer em outra estação,

Cains não me enganam
nessa vida severina,

Perdoai-me
não sei fazer poesia.

UM DIA

Um dia
minhas rimas
se levantarão,

andarão,

não a pedido de Deus,
mas pela palavra pão!

Todos juntos, como um batalhão
de punhos cerrados, cavalos,

deixando  o cercado
ganhando o descampado,

Rosas e cravos, espinhos,
num início de flor e cultura.

SONHO E SOL

Lá longe no horizonte,
o mar encontra as nuvens,

Tão perto?

Na menina dos olhos, uma clara paisagem,
onde aportam lembranças,

de um coração batendo asas
na imensidão azul,

o sol derretendo as penas de cera,
de um Ícaro de olhos mareados.




TEMPO

O tempo é a distância
entre e o espelho e a fotografia,
estampado na nossa cara de bunda,

Tudo é colorido
quando se cobre de cinza,

nesse tempo despresível,
vivo como cachorro morto,
cavando buracos para enterrar os ossos,

infestado de amor e silêncio,
de chão molhado,
esperando abraços.

EMOÇÃO

Sou o mesmo,
mudando: todo dia,

Pião, roda gigante,
eu num parque de diversões,

rodando moinhos
eu giramundo,

geração que gera ação
bebendo emoção.

MOCHILANDO

De sal,
castelos de areia, mar
de muitas desilusões,

exite violência
no bater das águas
sobre as rochas?

A lâmina afiada
dos mariscos
abrindo a pele?

Na minha, sua, dentro
e fora, na estrada,
eu, você com a mochila inchada?

NA BOCA DO POVO

Lábios sem intensão
não tem a ambição das bocas,
beijos, sabor e feitiço,

sufocando, afogando
despedidas e encontros,
em todas as estações do ano,

salivando como as marés
que beijam a areia nas
salgadas doces manhãs,

Olha!

Lá longe o horizonte
que habita o céu da boca
daqueles que morrem de saudade.

VIVO MINHA SEPULTURA

Quando me olho
vejo duas pessoas,
um verso, inverso,

algo incompleto,
sem ser vivo
virginal perigo,

o corpo enruga
desacompanhado
olhando lápides,

tenho idades, que
correm sem parar,
com coisas da intimidade,

um dia não terei
tempo, nem envelhecerei,
mortos não vivem isso.

NADA É COMO É

Amor que se acaba não é mais amor,
ódio que se guarda também não é mais ódio,
momentos que não são vividos não são momentos,
tudo é casco de tartaruga, abrigo de solitários,
sentimentos que devemos ultrapassar,
ao terminar um verso busca-se outras rimas,
poemas tem flores e cactus, então agora,
levanta da cama e não pergunta quem desarrumou.