Humilhante
humilhante reconhecer
que vivo num buraco
De buraco em buraco
aguardo uma vela acesa
no fim do buraco
De buraco em buraco,
cheio de contradições, que,
se transforma o tempo todo
Meu buraco é meu lar
como o de um pombo
com ar e migalhas
preso dentro da vela
De buraco em buraco
minha metáfora buscou o mundo
o mundo era cego
num buraco maior
De buraco em buraco
abriguei a vida, cada vez
mais fundo acolhida
com tudo que acumulei
latinhas, ferro, misérias do dia
De buraco em buraco
escondido em meu latifúndio,
coquetéis molotov, um violão
Uma lata de tinta 18 litros
pra cozinhar meus dias
De buraco em buraco
maltrapilho, pés rachados
muitos caminhos e chinelas
chinelas menores que os pés
De buraco em buraco
uma mancha
uma pedra
rolando no chão
De buraco em buraco
o miserável se esconde
meu porão, meu calabouço
no fundo de cada dia
De buraco em buraco
do tamanho que é
da profundidade que quis
sou erva que não se arranca
De buraco em buraco
vivo com folhas mortas
sonhando ser, sem cura
nem existo, nem dói
De buraco em buraco
mistério e minha ignorância
onde todos são sombras
de árvores dos outros
De buraco em buraco
na inquietação de meu descanso
sonho com flores a minha volta
Não são flores! São gente, e,
só há gente lá fora
Quem me fia me desfia
de buraco em buraco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário