sexta-feira, 25 de outubro de 2019

INFANTIL

Arfante, militante, infante em si,
com erguidos punhos, cerrados,
por palavras, armas de liberdade,

marcha, molotov, fumaça,
correria, paus e pedras,
gritos e lágrimas,

Tudo em vida busca a morte,
severina fome do outro,
ainda um porvir,

Infante, lutador,
de punhos cerrados,
armado de liberdade.

EU VOCÊ E EU E VOCÊ

Todo eu que há em você
nem sempre é o eu que o outro vê,
se o eu do outro te choca,
soca, sem se abater,

Melhor ser filho da outra,

Outra realidade que se inventa
entre Deuses e diabos,
previsões e provisões
nesse mundo do nunca,

E daí?

Sou um eterno insatisfeito
me debatendo no túmulo,
quando Drumonds e Suassunas
me chamaram de bunda,

Eu sou você, eu e você,
sem você nem eu, o outro
que foge de mim
nem me conhece.

ENTREPASSOS

Vejo os punhos cerrados,
as palavras de ordem,
gritos inaudíveis
nas bocas pálidas da paisagem,

As utopias se construindo,
como edifícios, rachadas.
Não dá para abraçar
o mundo, com sal de lágrimas,

No final o mesmo começo
que segue e resiste
contando verbos de pedra,
deixando tudo em movimento,

Se não chegamos ao fim de tudo,
subimos apenas uns degraus,
de mãos dadas, não esse, outro você,
mudando as coisas entrepassos.

ENGANO PORQUE GOSTO

Amor não é para sempre,
ele só vem para amar.
Mesmo que ele se perca...
não ligue..ele vai voltar
enquanto engano você
com essa minha poesia.

MATANDO O TEMPO

Meu melhor o tempo escondeu,
não teria sobrevivido sem você,
sem arrependimentos,
continuo abraçando as manhãs,

Tudo vai mudar, o tempo, o vento
vai espantar o que está seco,
o sol vai se apagar, a lua acender,
sem explicação ou razão,

Com essa nova luz, fica?
Sai da escuridão lá de fora,
não há o que inventar sem sol e lua,
vale a pena matar o tempo.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

PERSONAGENS

Entre os personagens com quem convivo,
não acho o real, nem procuro,
nessa páginas que já enrugam,

vivo subjeticídio público,
funcional, funcionário frente a espelhos,
afogando-se num mar de idades,

mesmo se os encontrar
perderei o fôlego na praia,
sob um sol escaldante,

nas minhas costas, gargalhadas,
que batem em corais e incomodam a maré,
nessa ilusão de horizontes.

AMÉM

Um mar que sabe nadar,
nada desengonçado,
quebrando a cara nas pedras,

Um mar que não sabe andar
anda afundando seus pés
num imenso chão de areia,

Um mar dentro da ostra
não conhece
o sonho de uma pérola,

Um mar que não sonha
não vai nem vem,
só leva uma vida de amém.

VIDA ALHEIA

Um graveto seco
desce pelo rio.
Uma formiga nua
toma sol na bunda.
Lá nas nuvens,
fofocam um bando de maritacas.

AO PÉ DA LETRA

O escuro aprisiona vaga-lumes
em lugares vazios,
a cada um que foge uma luz se perde
e enterra um corpo,

O escuro fica órfão, não enxerga,
perde a direção e cambaleia,
tem asas mas não voa,
lágrimas de um só olho,

O vazio se fortalece,
proliferam morcegos,
a poesia vai fugindo,
caminhando com pés de letras.

LADEIRA PORTO GERAL

Uma rua para quem sobe,
uma ladeira para quem desce,
para todos que caminham,

fantasias, futilidades,
roubos e precariedades,
uma ladeira Porto Geral.

AMOR

Me livra do laço
que aperta o pescoço,
dessas armadilhas insanas,

que afogam os olhos,
bumba marcapasso
que no coração lateja,

Ah! Amor alado dolorido,
com asas de Ícaro,
só me vale as orgias,

que estrangula esse lobo
sem matilha, vai e vem
que não volta nunca mais.

CRIANCICE

Tomara eu viva mais 10 anos,
reclamando, chutando pau da barraca,
tenha amor de uma loirinha ou negrinha,
meninas para brincar, de papai ou médico,
de mamãe ou enfermeira, tudo assim misturado,
chorar, soluçar e sonhar criança de novo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A RUA

A rua deita, acorda, o corpo,
cansado, inerte, lúmpem, desesperado,
só o seguinte,

Morre,

morte fria, acamada, indigente coisa,
animal fera inútil,
disforme.

A rua é despresível, aconchegante,
te abraça, te ouve calada,
conforta,

cama esquecida, deitada,
acordamos depois.


FATOS FRIOS

- Quem vai querer comprar banana?
Pergunta a Rede Globo.

- Acataremos teu ato! Responde o abacate.
Nós também somos do mato.

Nesse pomar de futilidades,
tem carne seca na calçada,
caipirinha de água ao dente,

Um pato aqui outro acolá,
noves fora entre,
se não é do lixo não pense,

De tudo o que falta,
o que resta,
é somente um fato frio.