terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PARAPOESIA


Eu meio Milton ou Gonçalves,
parapoetizo o sal da terra,
entre peixes, entre Palmeiras,
como um perdido sabiá,

Aqui na Barra do Saí,
Não há ruas para deitar,
As ruas que aqui se deitam,
Não se deitam como lá,

Aqui tem muito mar,
Muita mata, muita areia,
A maré açoita pedras,
mais amor para apreciar,

Aqui pode-se andar sozinho,
Há cheiro de natureza no ar.
Gosto da fumaça de lá, e,
Balas perdidas para chupar,

Aqui na Barra do Saí,
Não há tantos amores para deitar,
Aqui as mulheres se deitam,
mas não se deitam como lá,

Aqui tem mais amor,
Mas sinto saudades de lá,
As ruas que se deitam,
Não tem o desconforto de lá.

Aqui temos coqueirais,
Temos varas para pescar,
Os peixes que aqui pescamos,
Muitas vezes se dão por lá,

Aqui não se tem companhia
Mas se tem muito mais vida,
Como pode um peixe vivo,
Viver fora d´agua fria?


JINGLE BELL


Dia de ofertas
Nós e mercadorias à beça,

Coisas na vida:
Um homem faz sopa de pedras,

Com cara de água de salsicha, e
Gosto de cabo de guarda-chuva,

Não morremos na véspera,
Somente os perus,

Nós e as mercadorias
Temos dias e horas marcadas,

É quase meia-noite
Para quem acredita em papai Noel,

Levantam-se os cordões,
Balanço a cabeça ao sim,

Movimento os braços arlequim,
como um feliz bobo na corte,

Noite feliz...noite feliz...
E o dia seguinte?

Jingle Bell...Jingle Bell...
This boat smells...

Entre merdas, e,
Coisas que tomam vida.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

AÇÕES

Porque as lutas não vencem batalhas?
Palavras de ordem despencam,

conspiramos embates, debates,
falácias gagas, promessas,

que não dão em nada,
nada acaba, na margem,

a correnteza arrasta
tudo que a mente inventa,

toda ideia deveria queimar,
se o verso não aquece,

É hora de fecundar poemas
com a palavra fazer.

SILÊNCIO CONJUGAL

Mais uma mulher morta
jogada no meio da rua,

mais que mulher...era gente...
gente como a gente que sangra,

morte de falta de pergunta:
o que eu quero para mim?

Sedução, festas, luxúrias,
homem pra deitar e casar,

exigências, mudanças,depois:
primeiro tapa na cara,

por amor entre paredes,
promessa de família feliz,

desmedidas outras se afoga
a braçadas,

em luas cheias de mel minguantes,
seu silêncio conjugal.

FAMINTO

Gosto de ovo frito,
maionese e bacon,
um fundo de arroz queimado,

coisas simples, saborosas
quanto matam a fome,
deixando um gosto de quero mais,

Gosto de salada Caeser,
picanha e Moet Chandon,
bom mesmo é arroz com feijão,

não sou fã de pão e vinho
nem de hóstias de igrejas,
não sustentam a barriga,
mas enchem a cabeça.

NOITES FRIAS

A noite nas ruas do centro
os ratos cochicham,

balas perdidas procuram
gemidos sob viadutos,

dormindo sonos injustos,
sonhando no asfalto gelado,

Como será o amanhã?
Pergunte a quem a souber.


Aquelas ruas que são jazigos
daqueles que respiram mortos.



ENTREPOESIAS

Olhando aquele bunda
acima das coxas e joelhos,
eu imaginava entrepernas

a paisagem árida
dagruta entrequadris
pela frente da encosta,

a côncava visão misteriosa
causava arrepios,
efêmeras eternidades,

a bunda, o surdo marcapasso
um samba sincopado,
de um enredo suado entrepúbis,

um marquês gritava:
Sapeca ai!!!
Sapeca ai!!!

GRAVIDEZ

Embaixo da marquise
da ponte da Vila Maria,
uma coruja piava,

não há vida em você!
Sob aquele céu negro
ofuscado pela luz do poste,

ela se escondia,
olhando sem enxergar,
grávida de adãos e evas.

CANTOS

Moro nessas ruas
apreensivas,
violentado,

Espero a oportunidade
que sempre chega antes,
vai, insisto, apreensivo,

não me espanto,
deito o corpo na calçada,
em cantos as vezes em prantos.

PLÁGIOS

Meus dias são
um plágio após o outro,
meus anjos se suicidam
por uma realidade menos morta,

Viver é profundo,
a morte é muito mais,
tempo inexistente;
vou ficar onde quero estar,

aqui nesses tantos lugares,
tenho a minha caverna,
que vive dentro de mim,
mais bem dentro, momentos,

momentos que não são de verdade,
você no meio da tarde
uma ausência que quero lembrar
daquilo que parecia ser,

Ontem, hoje, ontem hoje plágios,
túmulos de momentos cadáveres,
nesse verão saudosista,
de sombras e fantasmas.

Uma longa noite de pesadelos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ACONTECIMENTO

Nunca vi,
mas sabia que acontecia lá.

Um negro de cabelo loiro,
um branco rastafari,

Todos os olhos
carregavam meninas pretas,

numa Vila Madalena
fantasiada de pavão,

Trotava um homem cavalo,
com sua carroça verde amarela,

seguido fielmente
pela felicidade que latia,

naquele lombo negro reluzente
todos queriam colocar um pano branco.

SONHOS COTIDIANOS

Um sujeito matou a mulher
num sonho de família feliz,
Sonho que sonhava só.

O corpo foi encontrado,
cimentado debaixo da cama
em uma manhã cinzenta,

Nem chuva nem sol,
lavavam o sonho
do homem que se achava Deus.

EDUARDO E MÔNICA

Eduardo e Mônica
desejaram mudar o mundo,
jogaram molotvs na Rua da Consolação,
criaram o Partido Tamo Junto,
os molotovs se apagaram,
hoje fazem discursos domesticados
na Câmara dos Deputados.

KING KONG

Há animais na Rua 15 de Novembro,
prédios como o Empire States,
branquelas manchadas de negros,
de nariz empinado, em mais um dia
deitando noite adentro.

DIA DO FICO

No Parque Dom Pedro
vigiam-se contrabandos,
corotes e mendigos,
principalmente a miséria.

CONFORTO

Na Praça da Sé haviam 5 crianças,
pés descalços e nariz escorrendo, com fome,
eu cheio de vergonha elas tão magrinhas.
A mãe? deitada com o pai de agora;
ninguém se incomodava.

BADALOS

Caminho pela Rua Direita
quebro a esquerda
chego na praça da Sé,
tropeço na miséria, e,
ouço o sino da catedral.