quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FAZENDO AS HORAS

Como um guerreiro indígena
pinto-me para a guerra.
Levanto minha lança e lanço
gritos de indignação
sem medo do que venha a acontecer,
por andar de ombro a ombro
com aquilo em que acredito.
A fome e a opressão me fazem
ter essa coragem.

Para os sonhadores
sou mais um idealista
sob o pressuposto do idealismo.
Meus pais me ensinaram
os primeiros passos: como pensar,
a forma certa e errada de me portar,
encheram-me de juízos de valor;
aprenderam com quem?
Pergunto-me.

Fora do casulo
confronto as contradições,
daquilo que acho que sei,
com o que acham que sabem
os outros.
Alço vôo pelos jardins
e observo o roubo das flores;
permaneço calado.
Me deparo com o pisoteio
dos jardins e a caça as borboletas;
permaneço calado.
Quando por fim resolvo gritar
para o mundo, arrancam-me a voz
e cortam-me asas;
já não posso voar ou falar.

Fica claro que o movimento
na terra se acelera e não nos é possível
perceber ou descansar, sob a égide da barbárie.
Os cachorros continuam a obedecer às ordens
de comando, e nós que não somos domesticados,
ficamos calados de terror.
Afundado no travesseiro fantasio um levante;
ao acordar suado, sinto o gosto do mar na boca.
Um vírus me corrói corpo, está preste a me destruir.


Dormindo e acordando diante
das mudanças lentas, fica claro
que minto a mim mesmo, só repetindo
a história de outros heróis que não mais precisamos.
A televisão me mostra quem é Duro de matar,
Matando minha consciência.
Livros de apóstolos são lidos para embalar
meus dias e me alimentar de esperanças
enquanto o estômago ronca, com a promessa
de que todos os homens serão julgados um dia.
Não estamos atrás de vingança,
queremos igualdade em vida.
Nenhum monarca divino ou terreno deve traçar
nossos destinos: basta de sermos súditos!
Nem justiça ou Salvador aparecerão
nas prateleiras de algum supermercado.

Plantamos flores e colhemos;
na hora da paga pelo esforço,
lá estão eles como aves de rapina
a espreita para nos roubar, em nome
da nossa segurança; mas se nos defendermos.
é sobre nós que eles marcham e nos pisoteiam
com os coturnos que lhes demos; e
temerosos vivemos sob o slogan liberdade.
È chegada a hora de não ter mais medo,
afinal a vida é efêmera, acaba-se, sem aviso,
precisamos fazer valer a existência:
fazendo nossas horas segundo a segundo...


*Direitos Reservados*

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