terça-feira, 19 de outubro de 2010

TEMPO DE CÓLERA

Não respeitamos o tempo
o vento corta com sua última lufada,
apoiado pela multidão de sombras,
até quem confiamos se atrasa

sempre soubemos de onde viria
a faca da sombra que nos cortaria o norte
aceitamos paralisados, decepados,
ficou a lembrança, embora reprimida.

Não sei se haverá resgate,
ainda estamos vivos. Ventania
que como tufão nos carrega,
nunca entendemos, todavia, amamos.

sempre soubemos de onde viria
a faca da sombra que nos cortaria o norte
quase sucumbimos as facadas,
fica lembrança, de um tempo de cólera.

PERDA

Vejo em teus olhos inocentes, uma menina muda,
olhos de tartaruga, menina rara, de faz-de-conta,
faz-de-conta - a vida.

Guardo tua menina na memória
nas noites rebeldes em casernas,
gritando torturada seus delírios.

Olhando sua imagem refletida
através do vidro no chuveiro,
aprendo a dor da perda,
no momento que precede meu choro.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

MUROS

Um muro que divide homens
tem os tijolos quebrados,
um muro em pedaços
na cidade viva, de homens
sujeitos divíduos estilhaços,
eu morrendo aos pouquinhos
partículas pulsantes, voando,
como gás carbonico na noite.
Um muro levantado dorme,
de manhã derrubado.

ESTRELA

Nunca aprendeu nos livros,

o ronco da barriga,
que comia vento,
por Deus.

Caído na masmorra,
Nú, espantalho,
beijando cuturnos
na bacia do banheiro.

Um pássaro com mêdo,
amarelo, boca costurada,
de pupilas brancas
como a lua cheia.

Todos o olhavam de luneta,
tentando enxergá-lo,
numa constelação.

ETIÓPIA

A tristeza fala comigo
como uma criança etíope,
após aparecer na tv.(...)

Se a poesia não falar,
os pitbuls morderão

Escrevo as palavras
nos jornais que te cobrirão.
Palavras frescas,
que não falam.

Quando a elas recorro,
poemas que ouvem
seus corpos magérimos,
a fome grita.
É o que posso fazer só.

CONFISSÃO

Quero lhe confessar, mulher meu delírio,
meu ombro dói pelo peso da cruz
da madeira das camas numeradas de gozos,
carência associada a vida material que cavalgo,
polvos amigos, polvos familiares, que me apertam
com seus tentáculos que me cercam,
cercas de gente que me aprisionam.
Viajo a hipocondria, sem dinheiro, sem baladas.

Afirmo, mulher meu delírio,
que minha hipocondria,
é fruto ficcional que comi na infância,
gulosamente adocicado pela história,
os polvos não estarão acima de mim
na cadeia alimentar, não mais.
(rrsrsrsrsrsrsrsr...)

Lavei-me em banho frio,
me machuquei demais,
vou pichar polvos pelas noites.
O tempo todo, mulher meu delírio,
pensarei no mar com amargura.
O arquipélago dos predadores
não receberá mais minhas visitas!

Bastará, querida mulher,
uma barraca de praia, um saco de dormir,
um samba de roda na esquina,
quem for amigo virá comigo sem reembolso
e me dirá: Prazer estar contigo!
Sem rugas, sem juízos, sem remédios,
Os polvos não me abraçarão mais... por ora.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ITANHAÉM

Afogado pelo mar
pelas marés que passeam como cobras
passeios que buscam lágrimas
deixarei meus castelos d´areia

Com as algas que não fazem graça
e minha companheira com o rosto de jabuticaba

Com os vagalumes de sorriso frouxo
e o céu assassinando o tempo, com sua raiva cinza

Com o stress deixado na cama
e um pernilongo cantando aos ouvidos

Passeamos diferentes a cada dia pelas ruas de Itanhaém
deixando nossos castelos d’ areia

PERTURBAÇÃO

Um grilo
pertuba os sonos
os sonhos fragmentados
passam
fogem pelas pupilas
chorosas.
É, assim como a lagarta
pulsa suas asas para o voô
para pescar flôres,
a ficção boia
numa negra realidade.