segunda-feira, 26 de novembro de 2018

DESERTOS

são ecos num vácuo,
um espaço de oceano seco,

fiquemos atentos aos silêncios
desses ecos vácuos, que não podem ser ouvidos,

são indícios, de solidão, inquietação,
que florescem em terra seca,

na aridez as coisas também mudam,
basta enterrar um casulo, até geminar borboletas.

INCONTROLÁVEL

Benvinda todas as utopias
cheias de impossibilidades
do que a ordem de todas as coisas
e do progresso que me afasta de mim,
enfezado, mal cheiroso, não ficarei,
mesmo a sete palmos de terra.

ÁGUA CORRENTE

Nas margens que oprimem o rio,
eu plantava rosas, em minutos de felicidade,
lembrando do dia em que ele fora
e que também eu era.

BRINCANDO NA CHUVA

O rosto sorria com o carinho das gotas,
os pingos encharcavam as meninas,
cantavam aos ouvidos,

na calçada, a água corria...eu esperava
a chuva se despedir, desse encontro
inesperado, umedecido...

minhas meninas não podiam ver,
mas a sensação era única...
eu afogando em criancices.

MAREANDO

O antes navega no depois
num rio de cicatrizes, entre fendas,
desaguando sempre no mar,

desenhando a forma do hoje
afogada pelas margens, majestoso
instante de um braço de oceano.

MILITÂNCIA

Não para nunca a militância,
na voz tensa, um grito,
na gagueira do pensar
teorias prenhas de não pensar,

as utopias são possibilidades, somente,
que se expressam sós ou coletivas,
ânsias angustiosas, alimentadas,
pelas contradições de gente humana,

batalhão de quixotes confinados, entremitos,
heróis na realidade urbana,
em equilíbrio, em cordas bambas,
retardos inquietantes que traduzem um momento,

Nesse vai e vem oceânico,
geminando a miopia do presente,
entrebandeiras e ecos,
reescrevem uma existência.

ANDARILHO

Homens, alguns,
vivem a subjetividade,

voam por vários lugares,
imaginam-se passarinhos,

são heróis, são bandidos,
ainda amam fazer sexo,

nessa vida vaga,
tudo existe, tudo pode,

tudo feito,
sem ir a lugar nenhum,

imóveis, observam,
as paisagens - casulos e borboletas.

AMÉM

Sendo você sua pedra no caminho,
á água afoga e o mundo molha seus pés,
água mole em pedra dura,

São seus, só seus, os dias de ontem,
por esse chão que tropeçou, foi ultrapassado;
Vai continuar a comer nuvens com açucar?

Se for assim, que assim seja... amém.

TECELÃO DE NUVENS

A rua racha calcanhares,
a noite é uma psicopata,
onde caminham os ausentes,

Depois do longo caminho
em busca do ofício: tecelão de nuvens,
só lhe resta voltar a nado,

Razão - Tédio - Espanto?
Somente um credo na boca
grita seu caos.

QUASE LÁ

A poesia da rua
pede um livro para morar,
sozinho habita a calçada,
sem rima, institucionalizada.

Sapatos sambam paralelepípedos,
escorregadios e míopes,
entreversos, sem páginas,

A dança começa, baco aparece,
a buzina alerta: Lá vem a quentinha!
De todos os dias. Morre o poeta,

que me alimentou a existência,
eu escarrada, pisada,
poesia da palavra infeliz.



O GATO COMEU

Derrubadas as utopias,
as consciências pisam o chão, resistimos,
bebendo coca-cola e comendo hamburgueres,

Marx se masturba no caixão,
Lenin não faz o soviete,
nem Trotsky goza na cama,

Mijamos na foto dos eleitos, mas,
homens de azul e vermelho,
ainda montam nossas mulatas,

O verde e amarelo não sai do lugar,
evoluindo na horinzontal,
pipocando esperma e carnaval,

Todos ficamos míopes,
palhaços dão piruetas na história,
pássaros defecam, tiriricas sem cabeça,

Cadê o futuro?
O gato comeu.

JAZZ BRASIL

Ouço falar de paz
pelos dois ouvidos,
surdo é meu coração,

Não como alfafa ou alface,
são coisas que não amadurecem,

meu verbo é fazer.

Sempre recebi conselhos de passarinho,
dizendo que meu real é uma fábula,

me recuso a ser um cavalo.

Me recuso a morrer,
para nunca perder a rima,

que nunca devo esquecer,

Que tomates e folhas de rúcula,
são minhas cores portuguesas,

devo descer das nuvens?

Na lápide: aqui jaz o Brasil,
por Pedro Alvares Cabral,

não existem mais sereias, nem existem mais escamas.

Para a juventude de quem sou agora avô,
nem tudo é paraíso, nem tudo é um inferno,

todo nosso desespero começa da realidade, apenas.


SUICÍDIO

Acreditei em promessas,
em família feliz,
que o amor nasce eterno,
num mundo em um pelo outro,
agora adulto, só...
deixo o viaduto.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

UM MAR DE COISAS A DIZER


São Paulo, 20 de Novembro de 2018

 

Caro leitor:

UM MAR DE COISAS A DIZER

 

Veja bem! Espero que este lhe encontre com muita saúde e sensibilidade. Já vou contando um segredo: Ontem fui a praia e dei meu primeiro beijo, o nome dela é maré, uma perna de oceano. O mundo deve ter seus planos para mim; nada a fazer. O que também significa fazer algo de puro ou mundano, não acha?

 

Nesse vai e vem com ela; a maré cochichou no meu ouvido que veio acompanhada de uma onda, que veio para mudar e que tudo podia ser melhorado. Maré de utopia ou maré de lógica?


Não sei meu amigo, mas tudo a minha volta, cores, sons e natureza, fazem parte da vida, são meus fenômenos poéticos, sua essência está naquilo que se esconde nas aparências, o encanto e o fascínio estão nesse vai e vem de tudo, isso me impressiona, irrita-me as vezes e sem explicação ao menor toque, explode em rimas amorosas ou dolorosas.
Será que tenho mais prazer, amo com mais violência, odeio com mais paixão que os outros?
Duvido que aja alguém que possa enxugar o oceano para ficar mais próximo do horizonte. Somente eu.

Cordialmente,

                                                        O poeta

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

DECLARAÇÃO DE SAUDADE

Declaro,
as ironias e perguntas,
Daniela,

Das lágrimas de vinho,
ficam as saudades...
Mais tarde,

Num canto das minhas memórias,
de milhares de segundos atrás,
dos palhaços, entre outros personagens,

Meu corpo veste penas, num voo
frenético, meu pênis molha o lençol,
nesse pensar ácido, laço,

Ao meu tímido medo,
rimo e falo: Ei medo!
Com medo me calo,

Fujo batendo asas,
sem avançar, enfrentando sol e chuva,
preso a correntes de lama,

Isso não! Amor é valor,
pão e circo, nós amando,
sem fechar negócio, ainda não,

O tempo foi se esvaindo,
para esse homem novo vestido de velho,
cheio de saudades no gargalo,

Nosso amor? Feito, desprezo, adormecido,
degustando as lembranças,
a merda foi devorando.

AMARÉ

No mar do amor
não nado, navego.

Nadar esse oceano,
é se afogar, ou voar.

Navegar é medir a remada,
deitada ou possuída.

No mar do amor,
se bebe água salgada.

Nadando ou navegando,
sempre veremos um horizonte insano.

Nunca mais seremos os mesmos.


HORA DO ESPANTO

Todos os moralistas tem cheiro
de água sanitária. Ah!
Se o cheiro for de lavanda,
desconfie.

O singelo é mais perigoso.

Deixemos o pensamento navegar,
esse mar heresia,
antes que o coração naufrague;
e afogue esse espanto.

MELHOR PENSAR OUTRAS COISAS

O passado me espiona,
eu fico espiando
com minha inconformidade eterna,
os absurdos irresistíveis da vida.

Sou portador de todas as patologias,
tenho uma pílula para cada hora do dia
que nunca curam nada, nem pagam as contas,
mas me deixam com cara de carnaval.

Será que passado tudo,
meu presente vai assegurar,
que manga com leite ainda é veneno?
Que fantasma só é, se estiver bem trajado?

Ah! Essas heranças culturais
que acompanham nossas caminhadas,
como cegos tateando bengalas,
melhor dormir e sonhar com outras coisas.

VÃOS

Te mando abraços
que não envelhecem,
atravessam o tempo
apesar dos conflitos,

lembro dos teus sorrisos,
que tornam essa horas e alegres
que a essa hora da noite, vão.

Vão por onde olho a vida,
expressão de sonhos e saudades,
sensações gratas, fogueira,
que queima inocências e poemas.

Tenho buracos no peito.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

SAUDOSISMO

Olhando as fotos de outrora,
afirmo: Eu era lindo!
Não sabia que casaria cinco vezes,
que seria pai por três vezes,
que tudo se acabaria, mas,
estou feliz por não ter morrido antes.

UM DIA ATRÁS DO OUTRO

Anteontem tudo era
só love, silêncio e beijos,
tudo atrás, na frente, entre,
o mundo parecia grávido.
Hoje soube que foi encontrada,
largada no meio fio,
dividida em partes iguais
regada a garrafas de corote.

PRISIONEIROS

Na Av. São João, em Sampa,
os assaltos começam cedo
na Duque de Caxias, e,
vai se ampliando para a Santa Efigênia,
até o Largo do Paissandu só sossega
na Rua direita e aumenta na Praça da Sé
quando chega em você já estamos presos.

FRANGO DE VITRINE

Na avenida Paulista,
desfila uma adolescente
que nunca passou fome
por um frango de padaria,
que se bronzeia todos os domingos,
para os olhos de um assalariado
cheio de carnês das Casas Bahia.
Ela desfila, o frango se expõe,
ele caminha pelo centro financeiro,
sem grandes conflitos.

LI JUNG

Fazer poesia para uma japonesa,
crueldade com um poeta brasileiro.
Devo fechar os olhos?
Onde não se vê tantas metáforas
não se deve sonhar muito,
quem dirá engravidar a terra 
de negros japoneses.
Sempre ouvi dizer que as vaginas japonesas,
são na horizontal, lendas de curiosidade.
descobri que não é uma rodovia
somente uma viela em que marcamos
nosso primeiro encontro.

ASSIM SÃO AS COISAS...

Um jovem negro
assaltado por dois jovens brancos.
- Perdeu playboy! Perdeu Playboy.
Agridem o negro, chutam-lhe a virilha,
açoitam o negro, tatuam macaco.
Tudo é tão rápido, passa, o negro passa.
Bebo minhas cervejas, fumo um back,
vou dormir sem pesadelos.

ATEMPORAL

Tudo anda mais devagar,
dá tempo de acompanhar tartarugas.
Vou ao bar na Facul e olho as meninas,
lindas, gostosas desejosas e desejadas.
Penso: Só minhas fotos continuam jovens.
Sou enrugado e sem dinheiro.
Os jovens se vão, copular com certeza,
dava pra sentir cheiro de peixe no ar.
Um bêbado bate no balcão, e eu,
volto a minha triste realidade.

O MORTO

vejo um corpo jogado no chão,
olho suas roupas mortas, seus sapatos mortos,
um rosto tranquilo, sem ódio.
Me vejo matando o cigarro,
soprando sua alma no espaço,
para poluir lugar algum.
Isso acontece todo segundo,
morrer sozinho no chão da rua,
enquanto o mundo anda, come e ri.
Natural. Não é comigo!
Tudo se transforma a todo momento,
as novelas de hoje tem capítulos inéditos.

FRUTAS MADURANDO MORTAS

O que leva um homem...Eu...
a ficar observando frutas madurando,
mortas, ou,
plantas sedentas com folhas secas,
nos vasos, secando em vida?

Uma sobra de pó me olhava.

Lá fora a vida seguia,
o sol se divertia queimando neurônios.
Eu? Precisava dela, sem fazer perguntas,
somente prostituta, de sorriso falso,
amor falso, nada mais.

Olho-me no espelho, vejo rugas,
rosto manchado como as frutas,
madurando mortas, as bananas mortas,
as laranjas mortas e o manjericão,

eu e as pessoas da era das maçãs
não conseguimos o perdão do mundo,
pelas merdas que fizemos, ou, não.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

DESCONFIANÇA

Destino? devo seguir
ainda que alguém me atrapalhe,
com todas suas seduções,

Ilógicas trilhas,
festas de idéias
dançando outras lógicas,

Andarilho, em pleno vôo,
na paisagem fria
de muitos saberes,

Agora peixe de água fria,
nado um braço de rio,
à margem que me afoga.

AS VEZES

Na hipocrisia
a verdade
não se revela,

As vezes amarela,
como um sol quente
que queima e arde.

POESIA DE CERA

Meus pensamentos
desenham a imaginação,
nesse poema impuro,

invenções do tempo
das maçãs e desamores
com rimas,

rimas,
rimas, nas asas
de um Ícaro.

DESENCONTRO

Eu como estranhos
com fome,
não me reconheço,
nem me lembro,
nem procurarei
o que não guardei, pois,
se encontrar não saberei
o que é.

ELEIÇÃO

Luta
derrota
erros
excessos
silêncio
profundo
cachaça
festa
lixo
sol
desânimo
esquecimento
restos
do dia.

CAPITULAÇÃO

Eles não estão apenas errados,
aguardam a morte para continuarem inúteis,
por causa deles o mundo cede,
a esperança se eterniza,
o coração bate,
a cabeça resiste,
a vontade, armada,
corta as asas da utopia.

DEMÊNCIA

Rimas, aqui e ali,
inversos,
a fim de fazer poesia, ou,
pelo menos tentar,
nem uma coisa,
nem outra,
em vareios poéticos,
numa demência severina.

UM DIA NO SÍTIO

As formigas corriam sem roupa,
cogumelos nasciam sem fazer sexo,
as tartarugas não saíram de casa,
cipós disputavam espaços com teias,
enquanto as aranhas comiam moscas,
rãs e rios cantavam, e,
uma lesma fodia uma pedra.

O poeta alucinado molhado,
numa chuva que chovia em tudo
dialogava com a natureza viva.

COISAS DE CRIANÇA

Mamão macho?
Mamão fêmea?
É mesmo o mesmo mamão?
Como nascerão os mamãozinhos, então?

Essa estória é para depois do casamento.

BOCA DO LIXO

Uma caricatura com sardas
despiu-se atrás da lixeira.
No lixo uma banana passada.

Ela diz: Coisa feia!

Uma lixeira cheia de idéias
que defecava ainda,
com sua bunda limpa.

QUARTA PAREDE

Política é assim,
muitos personagens
no espetáculo da vida

vendem estórias
a muitas platéias.
Elas?
Silêncio... Palmas...

INCENTIVO

Estamos a sete palmos,
sete metros, sete salmos.
Tudo que começa finda,
sem luz no fundo do chão.
Eu digo:
Levanta-te e anda!

TUDO QUE NÃO QUERO

Eleito o coiso
ao mais alto posto,
posto sobre a miséria.

O coiso espreita,
a fome faminta
misteriosa e servil

Na paisagem divina,
um Deus cego de ódio
em nome da justiça

Mais uma vez
os anjos fazem das suas,
tudo que não quero.

LÁPIDES VIVAS

Derrotados os miseráveis,
os vencedores forjam
grilhões e masmorras,
descamisam dorsos,
expõem açoites, rasgos.
A poesia sem rima,
abre bocas sem línguas
e as mãos decepadas.

AHHHHH!

Há vida depois do fim,
para os crentes na caverna.
Tudo é possível, para quem acredita,
que nasceu do barro e uma costela,
entre achismos há muita ciência.

CORREDOR

Caminho traçado, conta o tempo,
que é um fundista,
alcançá-lo é impossível.
Quem corre nem sempre chega ao fim,
quem passa, passou.
A corrida é para todos,
quem amou ainda sofre
e amaldiçoa cada paixão,
sempre em busca da chegada.

EU CONTO

Não nasci de um ovo,
isto é certo.
 Devo ter família.
Não tenho essa coisa genealógica,
na minha lógica não existem raízes,
ando com meus próprios pés, e,
me envergando para não quebrar,
vivo num conto, com começo, meio e fim.

ILÓGICO

Coloquei os pés
sobre o travesseiro,
troquei os pés
pelas mãos,
dormi sem lógica.
Acordei com os gritos
do relógio,
com a sensação de estar
acordando outro.

BURACO DE FECHADURA

Quem olha pelo
buraco
algum ponto ou fim

o outro pelo buraco,

do fundo você é
olhado,
ponto final.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

ORQUESTRA

Sobre um comando
uma mão comandada
do fundo de uma empresa,
patentes, baquetas, regidas,
num chão que gira
sobre o próprio eixo.
Bah! Um piano, uma tuba,
humana-mente que avança,
quando a orquestra passa.

SOMBRAS

Desejo diante deste sol
a pino,
esconder-me debaixo de uma
jabuticabeira,
entre os frutos e os projéteis
da repressão.
Á espreita as fardas,
de olhos avermelhados,
nesse deserto
mais doloroso que a sombra.

INSANAS MAÇÃS

Depois do lacre das urnas,
vesti minha pele de lobo.
Na cidade entre os postes,
diálogos ignorantes, confusos,
sobre competências.
Que tempo é esse de tanta ficção,
super heróis e falsa moral?
O tempo enruga tudo que é singelo,
docilidade voando.
Não se ama mais,
o outro é outra coisa.
As pessoas maduram mortas,
como frutas numa fruteira.
tempos de insanas maçãs.