sábado, 18 de outubro de 2014

CRIANÇAS DA MINHA RUA

Com o cantar do galo
As crianças acordam
Barulhentas
Num dia amarrado
Inventam cirandas
Riscam amarelinhas
Cheias de céu e inferno.

As borboletas brincam
Debaixo do meu Ipê cor de rosa

Quanta inveja!

ELEITOR

Uma coisa aprendi
Com esta eleição
A disputa e o debate
Entre os homens
Termina nos restaurantes , churrascarias.
Só fica a fome,

A barriga que ronca
Palavras de vento.
Este eleitor indigna
Nas saudades de lutas
Das manifestações da rua,

Das palavras sem ordem
Do gás, do barulho, da ilógica
A luta vira samba e cerveja,
Perdem-se nas dunas
De um Maranhão de sol

E tudo se torna tão natural.

MINHAS MEDIDAS

Tudo que fiz passo  a passo
Estão definidos na minha caminhada
Muitos quilômetros são

Me entender é entender
 em centímetros
A cada passo, senão passo
Os amores,  milímetros
Carinhos, que a imensidão

Não mede.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

LÁPIDES DE EDUCAÇÃO

Quando me entrego ao conhecimento
Tenho muito quando tenho a mim mesma
A educação é de mão única que também é fria
Mais que meus domingos asfixiados
Cheios de macarrão e ossos de galinha

Gente no mundo, experiências,
Se expandem sem parar

A faxina dos móveis e da vida
Quando ela suja os olhos, turvos de pessoas,
Lápides de homens do futuro

Em túmulos que chamamos de lar.

NÓS E TANTOS

De frente ao mar
Nós e o tempo
No futuro
Nós enrugando o vento
Neste dia
Nós e 20 e tantos anos
Danos, ganhos,
Nós não acertamos
Amor é grão
Nós vivemos, morremos,
Adoramos viver, sem germinar

Esses momentos únicos.

BANANA

Uma velha árvore centenária
Desfolhada, nua,
Alienadamente sozinha
Olhava um lago sujo
Diante daquela imagem, lodosa,
fincada uma bananeira
Com um cacho de bananas amarelentas
Balançando, como um canto de ninar.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

POESIA DE VOCÊ

Como coisa imaginada
você
Tudo que te fecha
abro
Sua morada coração
invado

devagarinho arranco
sorrisos e abraços

sem reciprocidade
me entrego

Me permito sonhar
sobre sua pessoa
Seu cheiro. Beleza
açoitando a mim mesmo

Não permito tristezas
nessa poesia de você

OSTRA

Se você viver mais do que eu,
mais do que a minha vida
nunca esqueça do nosso amor e ódio,
das borboletas que colorimos,
dos sorrisos de jacarés.
Tempo de amor, vermelhos carinhos,
num mar revolto, amante navegante,
náufrago errante das tempestades.
Ostra sou.
Amor e ódio quero desfrutar novamente.
do outro que está em nós, nas marés
No porto que atracarei.

CORAÇÃO DO OUTRO

Tomara esse flerte não me cegue,
e não! Nunca me seja eterno.
Que não me sequestre a razão,
nem me torture.
Mesmo tendo sido, sendo, serei,
por ele, o amor.
Que meu olhar não se perca no horizonte,
aquilo que ainda é tão belo desejo ver,
espante o tormento.
Que não me apequene, pequeno flerte,
gigante sentimento.
Se tornar-se amor que me deixe
cofre coração do outro.

A GENTE SE VÊ POR AI

O sol levantou cedo
estava todo dourado
o ar com cheiro de orvalho
meu corpo amarrotado de você
o sol, você, começam a esquentar
só não dá para entender
- A gente se vê por ai!
Lagartixa na parede
deixa ela comer
esses pernilongos chatos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

AS ESCOLHAS SÃO TUAS

Homem de sonhos
as margens da vida,
que te fala a solidão?

Que é só, e que oca te fica,
e que já foi antes,
hoje, amanhã e depois de amanhã
que te diz?

Mas do que essa poesia, com cereteza,
e muita outras rimas e poemas,
delas e das saudades
de tudo que nunca foi.

Não escuta essa solidão
narcisa que só fala dela,
teus ouvidos são pra outros hinos,
as escolhas são só tuas.

INFERNO E CÉU

Infelizes mulheres de becos e cemitérios,
todas tem medo de poesia,
mas crescem, florescem, sorriem,
sorriso que se repete desde a antiguidade,
desde o primeiro amor,
um poema que as uniu e acariciou o coração,
pra tê-las felizes, cheias de inferno e céu.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

NO BANHEIRO

Engoli palavras
embrulha-me o estômago
que agora ronca.
Dói-me os bagos de ameixa
com a poesia crescendo
nauseante, grávido?
Vômito? Não!
Fora existe o mundo
Onde bocas pousam em outras bocas
como moscas, palavra que me dá ânsia?
Amor?
É chegada a hora da teatral defecação.
Que bicho será que darei a luz?

SE O SENHOR NÃO TÁ LEMBRADO

Estamos favelados, fruto de classe,
cruel, saboroso como limão,
ácido como a história ácida.
Quem são os construtores? Todos, que se farão cinzas,
mãos cruzadas no caixão que sorriem hipocritamente,
ricas, cheias, reduzidas a nada, singelas autoritárias,
afagando a historia na cabeça submetida de outros homens,
sonhadores, criadores de Deuses.

Os barracos se levantam alienados pra durar
reproduzindo sonhos da classe oposta desejada.
Descobrimos a roda dia a dia que há tempos roda
entusiasmada pelo mundo, turista,
da paisagem da fome, consternados olhos,
presos a correntes ocultas.
Barracos, arquitetos, singelos egoístas,
cada qual com seu espelho,
falida consciência, morta, se esvaindo em desencanto,

Tomara seja mentira
essa realidade eterna eternizada,
que barracos vão viver, mas, morrer
todos os dias, pouco a pouco,
mesmo que na beleza de cada poesia.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

ERA UMA VEZ...


A mulher na gaiola
de que adianta, pular.
de poleiro em poleiro
bater asas?

Ela na gaiola
a gaiola dentro dela
simbiose crescente
dentro de um mesmo silencio

Meu coração Quixote
te libertará donzela!
Para mim as coisas não
são coisas que são

Galopante
não vejo o cenário
acenando
estou no cenário

Com a mulher e a gaiola
como se uma coisa só fosse, vivo,
Era uma vez...era uma vez...
a vida e o resto.

sábado, 5 de abril de 2014

TRABALHO ALIENADO

Se uma máquina quebra
outra máquina nasce
dentro do trabalhador

Alienado, minuto a minuto, dentro,
em cima embaixo esconde o capital, a magia,
da máquina que brota

(vida, noutra vida, vida severina)

Vida, sem nenhum viver,
vivendo a enrugar, ruga a ruga,
que aguarda , o trabalhador, reserva,

Para ter o direito a envelhecer,
com a máquina eterna criança.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

É MEU? É NOSSO?

Meu coração
deixei pintado na escola
onde ficou pintada
minha sexta namorada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu primeiro abraço
foi um abraço foi-se
meu corpo usado
como uma mosca bêbada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente

como um sol de outono)

Minha primeira rima
a mulher do sorriso
que cruzava as pernas
à minha frente

É meu esse mundo colorido?


(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu coração achei
pintado na escola
no peito da pintada
não mais sexta
primeira namorada agora

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Amor achei adentre
em meio, embaixo, entre
com esses olhos girassóis
olhando, o dia ensolarado

É nosso esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)


SORRISOS

Os sorrisos escondidos
são adubo da seriedade
cinza e gelada

Os sorrisos palhaços
não tem cor na formalidade
por temer os erros engraçados

Uma lagartixa
na parede solitária
silenciosa

Ilumina a noite a lua gorda
com cara de preguiça
meia lua

Hoje é dia de sol!
Invade sua boca despintada
abrindo os lábios coloridos e quentes.

sábado, 29 de março de 2014

COPULANDO MISTÉRIOS

Um rosto não perde sua cor rosada
sobre outra cor,
deitado corpo, numa cama rápida.
Na noite, em movimento, o corpo,
doçura, sutilmente desenhado,
pisos, crateras, cavernas d'agua,
em que por vezes me afogo.
Sexo abundante, espelho,
onde dançam estas palavras de mistério,
Elas arfam altas e baixas tão silenciosas,
mortalmente confusas.