segunda-feira, 22 de abril de 2019

SINAL DE VIDA

Ela se foi...
entre meus versos,
levantei,
abri as cortinas da janela
para ver o pôr do sol,
foi meu sinal de vida,

Vivo, ainda sonho,
com os olhares...
com o toque das mãos...,
quentes, nas feridas abertas,
mas vazias em meu silêncio
sem respostas,

A partida foi medida
para não se desgastar,
apesar do porre do "não voltar".
Levo essas dores comigo,
carregando para sempre
esse amar desamar.

PROSTÍBULO

Podem dizer que sou insensato,
finjo mesmo a minha vida,

Ela tinha olhos sábios,
assim como o corpo e os lábios,

Me chamava pra dormir,
era toda doce e feroz.

POESIA

No branco do papel
deitado,
não dormia a poesia
com suas rimas inquietas.

De dia de noite
o branco,
solitário e distante,
corria aqui acolá.

Não podia deitar
o verso,
que dormia onde podia,
ontem hoje e durante.

No branco do papel
deitado,
caiu um montão de letrinhas
que agora vão cantar.

MEIO CORDEL

Tudo foi inventado,
até nosso pensamento,

que o ignorante compra
porque o que olha cobiça,

nunca nada ele escuta
onde se contam mentiras,

aqui se prendem inocentes
entre futebol e facebook,

essa é minha terra onde cantam sabiás,
tudo se vende e se compra.

RUA AUGUSTA

Augusta dorme lá em casa,
sempre enquando é carne.
Morando na Rua Augusta,
como não saber morar?

Não há lugar no mundo
augusta em outro lugar,
gastronomia e putaria,
mulheres de catedral,

Augusta traiçoeira,
becos e fundo de quintal,
lençóis suados, escolas,
que não se esquecem jamais,

Lá bem longe, muito longe,
hoje te lembro aqui,
tempos em que te chorei,
tempos que te sorri.

BORANDÁ

Se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante,

sei bem quem vai e não vai,
eu? Vai você com seus conflitos!
Tenho as certezas e dúvidas
de que irei bem depois,

depois com nós dois,
vão todos os filhos da mãe,
embora pelegos,
caminharão contra a vontade,

depois e depois, todos os outros,
até mesmo os oportunistas,
que querem manter o controle,
do desgovernado sem freio,

se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante!

MEU RIO DE JANEIRO

De volta
Leblon, Botafogo, Irajá,
onde tudo é chiado
como onda de mar,

seu vai e vem nunca para,
entre acertos, entre érres,
conversa de carioca
com o samba brasileiro,

a maré estica o ésse
que dá sutaque ao mar,
tudo parece tão livre,
aos acorrentados de todo lugar,

Aqui do Cristo Redentor,
o poder constrói armadilhas,
que se armam nas favelas, nos palácios,
dando abraços em criancinhas.

DÚVIDAS

Ando sempre calado,
silencio-me. Não falo com gente,
diante delas , falo de coisas,
delas, não será também de mim?

Será que esse silêncio,
amordaçado
não será medo do outro,
fragmentado?

Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é o espelho?
medo sempre, incômodo,
a cada descoberta?

Para descobrir me aventuro
a versar versos, timidamente,
uma forma de silêncio, poderá dizer tudo?


VIOLÊNCIA

Te quero,
mas me distraio;
até que a barriga grita:
Fome!
Levanto os punhos,
soco o ar, e,
te abraço.

PLÁGIOS

Os dias são
um plágio atrás do outro,

Pela fresta ela sempre passa,e,
eu com a emoção nas pernas,

Sonho em lhe dar mordidas, não!
melhor comer com os olhos,

os dias são
um plágio atrás do outro,

os cachorros se coçam no poste,
minha janela olha os ônibus circularem.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

FATOS DE UM FAROFEIRO

Jesus se mudou para uma goiabeira,
galos cantam a internacional,
sob o olhar atento de uma viatura que nada na correnteza,
bancas vendem jornal pra cachorro
uma ventania dá sentido a todas as coisas,
uma velha sem dentes sorri:
E as causas? E as causas?

TUDO E NADA

Me inspiram tantos poetas
que no los puedo contar,
e una nina mujer moça,
por quem as palavras se rebelam,
não dizem nada, as vezes dizem tudo,
nem quase nada, nem nunca foi lido,
é só o que posso oferecer.

PALAVRAS NA GARRAFA

Dentro de uma garrafa
me livro das palavras,
que deitariam num livro,

nada ou vice-versa, náufraga,

afogando num sol escaldante
de amor, mágoas, lamentos,
conflitos em rima - poesia.

HERESIAS

O pôr da paz eu vi da janela,
despertei com uma bomba,

Dei por mim fragmentado,
nunca mais de novo,

ouvi o relógio
que silenciou o tempo,

Tempo desenterrado,
digital,coisificado, ficcional,

Volta a se mover,
inerte, inútil,

As bocas costuradas, caladas,
fora delas, tudo corre,

como a muito correu,
não dará para vivê-lo,

Sabe! É como brincar de amarelinha,
pula-pula, céu e inferno.

FÉRIAS

O mar lava meus pés com sua espuma branca,
uma água viva me queima,
dois caranguejos se esgrimam,
as lutas estão no horizonte que vejo,
hoje sou um demônio descansando.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

MAR DE HERESIAS

Uma onda em mim
subia e descia,

de manhã,
de tarde,
de noite,

No horizonte,
uma paisagem de sal,

Ressecando,
vidas
passas secas,

Dentro de mim
um mar de possibilidades.

COGUMELOS

Num Jardim de Cogumelos,
subi numa goiabeira,
pelado em pelo,

Uma mulher me chamava de Jesus,
enquanto eu pegava bicho de pé,
de uma vaca que defecava,

Cavalguei um porco espinho
animal e solitário pelo pasto,
como uma porta bandeira,

Seguido de Dom Quixote,
Sancho Pança e um moinho,
o mundo mugia,

Nessa tarde aconteceu,
eu comendo flores,
numa guerra de estrumes.

FUGAS PASSAGEIRAS

De passagem passei,
ou fui passado
pra trás,

tenho vontade de pular
desse viaduto...cair
num buraco sem fundo,

cair em pé
sem um arranhão
depois sair andando,

assim foi, fez
esse amor passageiro...
passou.

NECESSIDADE POÉTICA

Um verso me infectou
por isso não reconheço rimas,

Assim afirmam
os sectários e pelegos,

poeta quando não caga
na entrada caga na saída,

Eu?
Quando tenho vontade,

de quando em quando
num beco sem saída,

onde haja
um bom cheiro de urina.

DESPEDIDA

A escolha de ser (ou não) é só minha,
viver efêmeramente tudo,
que não esteja morto,

Tenho câncer azul e rosa,
necessito de radioterapia
como homem, não estrelas,

Nessa leveza de ser,
dormir, acordar,
comer e beber,

Olho o sol nascente,
sol poente,
acordando em seus braços,

Esperando gentilmente morrer.