domingo, 29 de julho de 2012

BARULHOS

Se o barulho é forte
quando é do povo, geminado,
mais que barulho:
- É mudança,
e lanterna dos miseráveis
pra acender a vida
Por isso barulho
da consciência de um povo
não é só barulho
- É revolução!

MATANDO A FOME

Sentado na escadaria da Sé
uma estudante com camiseta de Trotsky
tomando Coca cola refletia
com um olhar perdido no horizonte
e disse: Como Deus é misericordioso!
Do meu lado esquerdo um mendigo
mastigando um pão amanhecido
com o olhar na garrafa de caçhaca
respondeu: Misericordiosa seria uma feijoada!
Pensei: Primeiro é necessário se matar a fome,
se sobrar tempo, matamos o espírito.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

AMIZADE É AMOR QUE AS VEZES MORRE

O lamento das minhas mágoas
mais suaves que goles de cervejas
mais do que faca da língua,
maliciosamente me aquecem os dias
frios e mudos

Na gruta que me abrigo
fico mais pedaço de pedra

Um triste lampejo nos olhos
me adoecem quando penso imagens
dor de fanáticos em suplícios
ou de um lobo urbano...

Farsa
essa que vivi, amigo,
como câncer,
como crença,
covardemente assassinada

Foram-se as amizades
que guardamos com punho cerrado
pra solidalizarmos nos sonhos?

Hoje já não há sonho.

Durmo enganando as mágoas
essa que o punhal deixou nas costas
por gerações narcísas
geradas pelo mundo das coisas

Descanço meus dedos cansados
de palavras mudas, pedras,
falta de rimas , versos
de angústia tropical

Nessa e outras noites
vão sendo superadas
Hoje me privo de versos
não declamo mais
Zecas e Cristinas

Amizade é amor que as vezes morre,

IMAGINANDO COISAS

Lá no meu quartinho
meu mundinho
escondo um sol
no buraco da parede
que me aquece quando chamo.
Não! Como posso ter um sol num buraco?

(Segredo: Me imagino poeta.)

ME CHAMO SOMÁLIA

Há uma pobre razão pra viver
povo somaliano,
quando me vejo negro minguando
como tu
num delicioso morrer de fome.

MAÇÃ

Não teve importância
a maçã
não era nem maçã
antes de se fazer pecado.

Todo momento e manhã
maçã
sem lugar, em cima em baixo
entre

Fruta madurando
salivando a boca
como você
nos pomares das mordidas.

TERRA

Que me cantem
aos ouvidos
os sabiás.
Que me voem
as borboletas,
as libélulas,
aos beija-flores
quando chegam, digo:
Me polinizem!
Sou terra!

NEM MAR NEM PEDRA

Não mar nem pedra
no silêncio que se isola
mar amor como
vento suave e violento

Em qualquer mesa de bar
os versos fogem ao poeta
intrasubjetivamente
isolado como pedra

Não uma pedra pedra
mas um pedaço humano
coberto de andrajos
em outras mesas de bar

Não andrajos andrajos
fragmentos humanos
cercados de solidão
por todos os lados

Minha menina contempla
as doses dos copos
gotas dos olhos
Não gotas gotas
mar de pedras caídas.


URSO

A mágoa ibernou
murchou a rosa
do espinho
que me torno,
firo teu corpo
com sonhos
quando acordo.

UM TRABALHADOR COMEU UM PADRE

Os padres pedem ao trabalhador
para ter esperança, dividir seu pão,
com ritos ao som de aleluias
diante do corpo presente de Cristo.

Sem pão na mesa,
os pratos transbordam de esperança,
faminto, ronaca a barriga
e ele come o padre, diante
do corpo presente de Cristo.

ENSINANDO A POESIA A FALAR

Aquele beijo
que você me deu
a semana passada
tá doendo até hoje.

TEMPO

O tempo é movimento
interminável na existência
sussurra
sobre a vida
existência passageira
como o movimento do amor
sua significância incontrolável
laço, armadilha
que sorri, dessa efêmera existência
brisa de transformação do corpo:
dança eterna.

domingo, 22 de julho de 2012

FRUTAS PODRES

Como poeta, as vezes me revolto,
escondo mágoas
envelheço pra outras festas
e cumprimentos amigos
Só no pomar dos meus segredos
há frutas amarelando no pé,
quando apodrecerem não chorarei.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

BRINCANDO DE BONECA

Aline é menina
de louça, boneca,
que brinco no quarto
quando sonho.

Dormindo pesadamente
vou além do sonho
com meus segredos
que a realidade assassina

Essa minha imaginação fértil
coloco nos versos, pensando,
a boneca de louça
que brinco no quarto

Sem a rima na poesia
uma boneca mastigo,
a criança, o poeta,
que não sabe fazer poemas.

Ela sentada na cama. Sem saber
de mim, como se virasse fumaça.

OLHANDO O MAR

Penso em Cristina
sentada na pedra ao meu lado
olhando o mar
ao meu lado.

Ao meu lado, tão distante;
a distância tem que ser longe?
Faltou-me esse distanciamento
antes de sentar a olhar o mar.

LOBO DO MAR

O mar uivava
os uivos ensurdeciam os lobos,
os lobos eram cruéis.

A história passa por mim,
as lembranças são fantasmas
me torturam as noites.

Pela manhã, as lembranças se divertem
rodopiam como borboletas,
na cama o suor do embate,
a cena da tortura,
que se esconde ao raiar do sol.

OS DESEJOS

Os desejos desejaram
a morena do Rio Grande do Norte,
os sonhos, o poeta cansado,
a menina, o laço, a armadilha,
companheiros, oss corações pulsaram
e os desejos fugiram.

(Os desejos continuam ainda erectos)

ALGODÃO

Aquela jovem
era como chimaço de algodão,
tinha mêdo d´agua,
do mar azul,
do pó dos grandes centros,
da geada úmida,
daqueles que morrem de frio, mas,
sabia aquecer o meu corpo.

D´JAVÚ

Eu e ela
sentados na pedra
que o mar
quer abraçar?

No pensamento dela
golfinhos passam voando
em idéias que rastejam
como cobras.

Eu tenho um d´javú no peito
onde os gestos das mulheres,
suas ações,
se repetam.

Nós olhando a imensidão do mar
vigiados pelo seu horizonte.

domingo, 24 de junho de 2012

RENASCIMENTO

Ela jamais quebra
o silêncio
de pedra, por ser
pedra.
Ele não desmuda
o homem
de fala muda, por ser
homem

Ele ela apesar
de estátuas
homem-mulher-pedra, por ser
amantes de si
sedentários se quebram
fazendo brotar pássaros cantantes
que entoam
canções de protesto.