sábado, 30 de março de 2019

PESCANDO PAISAGENS

O mar
cheirava peixe,

um vai e vem
eu enjoado,

entre os sorrisos
sarcásticos das ondas,

meu mal estar
num mar de heresias,

liso, um marisco
se banhava na pedra,

golfinhos passeavam
com muitos amigos,

Eu? Pescava paisagens,
vomitava iscas.

ALI LÁ LONGE

Eu ficaria ali,
à sua frente,
longe da ansiedade,

que limita a vida
e não nos deixa
ser gente,

Ali
quietinho entre seus braços,
e olhos afogados,

Eu ficaria ali
com meus antigestos silenciosos
e refúgios e cumplicidades,

Ali
numa suave permanência
enquanto todo movimento
é verbo,

Ali
numa vida sorridente
sem juízo e livre.


MARIA

Maria,
Nome de flôr, vento ou mar?
O que sei?

Morrem e vivem em terra,
nascem e deitam no horizonte,
entre vidas macieiras,

Em Marias vãos e vem os dias,
entre senzalas e taquicardias
afogada entre versos e rimas,

Mãe do mundo
adoradas, cuspidas e escarradas,
entre templos e cavernas,

banhadas em línguas e lágrimas,
meninas dos olhos em cobiça,
fala o que queres, que te adentro e durmo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

FRAGMENTO DE ORGIA

A cama
Depois de se molhar
Inteira
Foi para o sofá, e lá,
Encontrou ondas,
Deitou então tapete
No chão suado

FORMAS


Deitada na areia,
Desenhada, entre curvas e montes,
Suas cavernas de mistérios,
Brilham só descansando a solidão,
Momentos de lúcida lucidez,
Pelo sol, pelo mar, pela espuma...
Ou seus sonhos...ou seu gozo.

VIDAS SECAS

O deserto
Quer um mar,

Debaixo desse sol,
Desse pé de sossego,

Algum vento
Para refrescar?

Já houve, chuva
Onde não há,

O tempo
Já não pode esperar,

Não podem sempre
Essas vidas secas

COMO?


Foram-se os homens, é preciso renascer,
Longe desta vida grávida
De coisas que tenho que fazer
Entre subjetividades e sonhos,

- Isto é viver?
- Tudo em preto ou branco?

Para onde correm as águas?
Mar? Farol? Seca?
Não sou só eu que faço perguntas,
Nem sou quem tem as respostas.

Vão-se os homens,
Florescem coisas
Flores artesanais
De surpresas naturais
Que germinam versos.

TEMPO DE VIVER


Sem tempo
Finda o dia
Eu sonharia,

Sem tempo
Nasce o dia
Eu? Você? Comeria,

Sem tempo
Nasce a vida e finda
Eu morreria.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DIA A DIA

Os pombos bicam o chão duro,
comem e namoram daquele jeito. Sabe?
- imoral -
os machos eriçam os pescoços,
fazem a corte por todo lado.
A evangélica espantada,
pensando nas coisas de Deus
ficou toda molhada.

MORADOR DE RUA

Debaixo do minhocão,
um homem e seu fiel cachorro,
dormem com as notícias do mundo.

BAIRRO DO CAMBUCI

na minha adolescência no Cambuci
eu me transformava em um capeta,
minha tia até me comprou uma capa vermelha,
um tridente e me cochichava:
pula, canta, com samba nos pés.
Eu até cuspia fogo no carnaval da minha rua.

DA LUZ A RIO GRANDE DA SERRA

Lá vai o trem!
Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Atravessa o centro...
rumo a Rio Grande da Serra,
Vai...volta...vai...volta

LEITURA ESPELHADA

Na poesia em que me leio
      rimas após rimas
               sou sim
               sou nem,

De quando em quando
       sou só coração,
  cheio de lembranças
       que vem e vão,

Entre tantas metáforas,
    tão pouco, a pouco,
do que sou? O que restará?
    Nem vem que tem,

um homem no espelho,
  espantosa aparência
    que o olhar viaja,
como quem sabe das coisas


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

CRÔNICA DE MIM

Aprendi a me esquecer,
comprei certezas demais,
institucionalizado,
tomei muitos prejuízos,

Nunca fui humano para a burocracia,
um dia minhas certezas se distraíram,
lendo Marx, Engels, Lenin, Saramago...
As dúvidas passaram a ser uma cruz,

Entre o gosto do malte artesanal
e o trago no cigarro de contrabando,
essas novas certezas não dormiam,
ficavam miando sobre o telhado,

Corto cebola até chorar,
invento tragédias para depois rir,
repetidas são comédias, elas, as tragédias,
afinal, tudo terá carnaval mesmo,

Se tivesse sido informado que
tudo que nasce é para depois morrer,
teria escolhido não estar aqui...
me embebedando de conflitos,

vou bebendo a vida,
até tomar um porre de morte,
vou bebendo...vou bebendo...
brindando o dia seguinte,

Meu Estado fala por mim,
tenho o direito constitucional,
beber essa vida de porre,
minha garrafa é privada!

Ainda uso calça Lee
Us Stop!
Já sabem o que ando lendo,
respeitem minhas contradições

Apesar dessa fala idosa,
um adolescente vive dentro de mim,
com dor nas costas, gozo uma vez ao mês,
Certo é que na poesia eu posso tudo.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PÉROLA

Uns tantos,
outros nem,
sobre a areia.

De onde veio?

Empurrada pela maré,
me olhava,
negra de brilho.

Gaivotas e Marlins, cuspiram?

Ela brilhava, o coração batia,
qualquer olhar
para mim é ouro.

Tantos, nem,
ontem,
fui um deles.

O amor trabalha de muitas maneiras.

A MORTE

Morrer
é estar enrugado como um maracujá
cheio de doçura e sementes férteis,

o processo
é ser doce e tolerante,
crescer e alimentar o mundo,

nem todo gozo jazz
num prazer futuro.

Esse futuro não nos pertence,
pertence ao outro, desconhecido,
que fez por você.

Funcional, funcionário, flor ou espinho?

Na lógica formal,
nascemos para morrer.

Só.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

MEMÓRIAS


Você voltou, eu ainda estava
cheio de esperanças.
O hoje?
Correndo atrás do amanhã.

Puxei pela memória,
os nossos momentos,
cada lembrança, com muito cuidado,
com carinho; uma a uma,

com elas fiz um colar de lágrimas,
de todas as alegrias e tristezas,
brigas e reconciliações, fechei o fecho
no pescoço. Um princípio de enforcamento.

SOMBRAS


Meu coração cheio de maresia
chora muitas lágrimas salgadas,
que no convívio diário disfarço,
faço carinhos e até sou sorrisos,
na minha cama quando dou forma as sombras,
mas com medo, cantando sozinho Caetano,
as sombras me machucam.

ORQUÍDEA


Gosto de flores
são tão frágeis
duram o tempo
que dura o amor.

Duram pouco.

Se você fosse
amigas delas
talvez as orquídeas
lhe caíssem bem.

MENINA DOS OLHOS


Quanta beleza
me mostra a menina
quando ela passa,
mesmo em fração de segundos,

Teu olhar me basta
nas imagens; olhar de meninas...
me acalmam, me sugerem...
Cristina.