sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

SEJA O QUE FLÔR

A morte do amor
posto que é chama
durante dura
de forma estranha
como uma fome Etíope.
As carícias dormem
tudo é comida
fome que não sacia
O mundo fetichiza
o amor que foi,
 agora seja o que flôr.


UM POUCO DE CADA COISA

Foi tudo muito súdito
tudo muito injusto
muito pobre muito rico
tudo meio assunto
tédio e mistério
ontem tudo inteiro
hoje tudo meio
dúvidas em pé
militando fé
tudo um saco
tudo ave maresia.

CÉU E INFERNO

Os Deuses enchem copos de esperma
fecundam óvulos, ovulando
bêbados vamos nós
pelos vazios lá de fora
porque o céu está sempre lotado.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

BORBOLETAS

Despe-se a lagarta
das vestes,
Nua bate asas
pousada numa flôr de ipê
colorida
a pele leve, voa,
viçosa na paisagem
sorrindo para a natureza.

TENTÁCULOS

Um dia de polvo
de polvo que abraça
um povo que sonha
num polvo apertado

Um polvo sedutor
que coisifica um povo,
coisas de mar
de um povo náufrago

Tão bravio e bárbaro
açoitando pedras, margens,
e um povo encharcado
de gosmas e braços.

CRESCENDO

Querida! Somos crianças.
Eternamente viveremos a dança,
 que grita
no corpo, na mente eterna,
chama
que ilumina, anima, a vida,
em uma espiral
infância infinita.

COISAS DE ARCANJO

Ví um  Deus, traindo uma menina.
- Boa noite senhor! Eu disse.
Ele respondeu: - Não sou senhor de nada.
Só um arcanjo de asas pintadas
unhas vermelhas e boca de morango

No beco, um cachorro latia
preso a uma coleira, atrás de um portão de ferro
Era uma capela. Garoava.
- É um pitbull? Perguntei
- Não. É um pastor policial.

domingo, 23 de novembro de 2014

MEU LOBO

Tenho esse ar de idiota
silencioso, separado, distante,
falando sem parar com os olhos,
resquícios de tempos estranhos,
sumiram, dormiram...dormiram,
deixaram tristezas, torturas.
Que me desperte o lobo doente
para rosnar aos caçadores e fazer
valer novamente o uivo.

NO PARQUE

Uma borboleta me sorriu
tão colorida.
Ela muda, por si um passarinho responde:
Ela te viu ela te viu ela te viu
e o verso saiu voando.

RONCO DA FOME

Minha lâmina corta a noite,
uma estrela me esbofeteia,
um projétil do sol me atingiu o peito,
ferido, acordo as baratas, e
sonho com a fome.

CORAÇÃO ABERTO

Pensamentos absurdos, não, Boca seca de calor
concava convexa. Andropausa do tempo
Sou o poeta menos lido do mundo, aquele que
não tem rima e nem segredos.

sábado, 22 de novembro de 2014

CAGADAS NOTURNAS

Criei palavras de amor
escritas somente em banheiros,
Lá saiam os versos
por baixo e por cima
sempre repletos de rimas
palavras meditabundas
que chamam de poesia,
ainda covardes não sabem,
se são ou não são, sem função,
como adolescentes em descobertas,
mugindo em vasos solitários,
diarréias, vômitos, urinais,
em muitas cagadas noturnas

O MOVIMENTO DA SOLIDÃO

No parque você passeia
e nunca namorou comigo
sorrindo para os homens mulheres
que amarrotam o vestido florido,
e, espantam as borboletas feitas pela sua mãe
viúva que busca um novo pai de agora,
caminham todos cada qual com sua solidão
que busca morrer.

CANTAREIRA

Não chove chuva
na Cantareira triste
Ela está dentro do Sol
Como uma lágrima seca

O chão rachado, a fenda fel
ensina a respeitar sua natureza,
que morta, morre, mata,
o vermelho calor verde amarelo.

sábado, 18 de outubro de 2014

CRIANÇAS DA MINHA RUA

Com o cantar do galo
As crianças acordam
Barulhentas
Num dia amarrado
Inventam cirandas
Riscam amarelinhas
Cheias de céu e inferno.

As borboletas brincam
Debaixo do meu Ipê cor de rosa

Quanta inveja!

ELEITOR

Uma coisa aprendi
Com esta eleição
A disputa e o debate
Entre os homens
Termina nos restaurantes , churrascarias.
Só fica a fome,

A barriga que ronca
Palavras de vento.
Este eleitor indigna
Nas saudades de lutas
Das manifestações da rua,

Das palavras sem ordem
Do gás, do barulho, da ilógica
A luta vira samba e cerveja,
Perdem-se nas dunas
De um Maranhão de sol

E tudo se torna tão natural.

MINHAS MEDIDAS

Tudo que fiz passo  a passo
Estão definidos na minha caminhada
Muitos quilômetros são

Me entender é entender
 em centímetros
A cada passo, senão passo
Os amores,  milímetros
Carinhos, que a imensidão

Não mede.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

LÁPIDES DE EDUCAÇÃO

Quando me entrego ao conhecimento
Tenho muito quando tenho a mim mesma
A educação é de mão única que também é fria
Mais que meus domingos asfixiados
Cheios de macarrão e ossos de galinha

Gente no mundo, experiências,
Se expandem sem parar

A faxina dos móveis e da vida
Quando ela suja os olhos, turvos de pessoas,
Lápides de homens do futuro

Em túmulos que chamamos de lar.

NÓS E TANTOS

De frente ao mar
Nós e o tempo
No futuro
Nós enrugando o vento
Neste dia
Nós e 20 e tantos anos
Danos, ganhos,
Nós não acertamos
Amor é grão
Nós vivemos, morremos,
Adoramos viver, sem germinar

Esses momentos únicos.

BANANA

Uma velha árvore centenária
Desfolhada, nua,
Alienadamente sozinha
Olhava um lago sujo
Diante daquela imagem, lodosa,
fincada uma bananeira
Com um cacho de bananas amarelentas
Balançando, como um canto de ninar.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

POESIA DE VOCÊ

Como coisa imaginada
você
Tudo que te fecha
abro
Sua morada coração
invado

devagarinho arranco
sorrisos e abraços

sem reciprocidade
me entrego

Me permito sonhar
sobre sua pessoa
Seu cheiro. Beleza
açoitando a mim mesmo

Não permito tristezas
nessa poesia de você

OSTRA

Se você viver mais do que eu,
mais do que a minha vida
nunca esqueça do nosso amor e ódio,
das borboletas que colorimos,
dos sorrisos de jacarés.
Tempo de amor, vermelhos carinhos,
num mar revolto, amante navegante,
náufrago errante das tempestades.
Ostra sou.
Amor e ódio quero desfrutar novamente.
do outro que está em nós, nas marés
No porto que atracarei.

CORAÇÃO DO OUTRO

Tomara esse flerte não me cegue,
e não! Nunca me seja eterno.
Que não me sequestre a razão,
nem me torture.
Mesmo tendo sido, sendo, serei,
por ele, o amor.
Que meu olhar não se perca no horizonte,
aquilo que ainda é tão belo desejo ver,
espante o tormento.
Que não me apequene, pequeno flerte,
gigante sentimento.
Se tornar-se amor que me deixe
cofre coração do outro.

A GENTE SE VÊ POR AI

O sol levantou cedo
estava todo dourado
o ar com cheiro de orvalho
meu corpo amarrotado de você
o sol, você, começam a esquentar
só não dá para entender
- A gente se vê por ai!
Lagartixa na parede
deixa ela comer
esses pernilongos chatos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

AS ESCOLHAS SÃO TUAS

Homem de sonhos
as margens da vida,
que te fala a solidão?

Que é só, e que oca te fica,
e que já foi antes,
hoje, amanhã e depois de amanhã
que te diz?

Mas do que essa poesia, com cereteza,
e muita outras rimas e poemas,
delas e das saudades
de tudo que nunca foi.

Não escuta essa solidão
narcisa que só fala dela,
teus ouvidos são pra outros hinos,
as escolhas são só tuas.

INFERNO E CÉU

Infelizes mulheres de becos e cemitérios,
todas tem medo de poesia,
mas crescem, florescem, sorriem,
sorriso que se repete desde a antiguidade,
desde o primeiro amor,
um poema que as uniu e acariciou o coração,
pra tê-las felizes, cheias de inferno e céu.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

NO BANHEIRO

Engoli palavras
embrulha-me o estômago
que agora ronca.
Dói-me os bagos de ameixa
com a poesia crescendo
nauseante, grávido?
Vômito? Não!
Fora existe o mundo
Onde bocas pousam em outras bocas
como moscas, palavra que me dá ânsia?
Amor?
É chegada a hora da teatral defecação.
Que bicho será que darei a luz?

SE O SENHOR NÃO TÁ LEMBRADO

Estamos favelados, fruto de classe,
cruel, saboroso como limão,
ácido como a história ácida.
Quem são os construtores? Todos, que se farão cinzas,
mãos cruzadas no caixão que sorriem hipocritamente,
ricas, cheias, reduzidas a nada, singelas autoritárias,
afagando a historia na cabeça submetida de outros homens,
sonhadores, criadores de Deuses.

Os barracos se levantam alienados pra durar
reproduzindo sonhos da classe oposta desejada.
Descobrimos a roda dia a dia que há tempos roda
entusiasmada pelo mundo, turista,
da paisagem da fome, consternados olhos,
presos a correntes ocultas.
Barracos, arquitetos, singelos egoístas,
cada qual com seu espelho,
falida consciência, morta, se esvaindo em desencanto,

Tomara seja mentira
essa realidade eterna eternizada,
que barracos vão viver, mas, morrer
todos os dias, pouco a pouco,
mesmo que na beleza de cada poesia.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

ERA UMA VEZ...


A mulher na gaiola
de que adianta, pular.
de poleiro em poleiro
bater asas?

Ela na gaiola
a gaiola dentro dela
simbiose crescente
dentro de um mesmo silencio

Meu coração Quixote
te libertará donzela!
Para mim as coisas não
são coisas que são

Galopante
não vejo o cenário
acenando
estou no cenário

Com a mulher e a gaiola
como se uma coisa só fosse, vivo,
Era uma vez...era uma vez...
a vida e o resto.

sábado, 5 de abril de 2014

TRABALHO ALIENADO

Se uma máquina quebra
outra máquina nasce
dentro do trabalhador

Alienado, minuto a minuto, dentro,
em cima embaixo esconde o capital, a magia,
da máquina que brota

(vida, noutra vida, vida severina)

Vida, sem nenhum viver,
vivendo a enrugar, ruga a ruga,
que aguarda , o trabalhador, reserva,

Para ter o direito a envelhecer,
com a máquina eterna criança.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

É MEU? É NOSSO?

Meu coração
deixei pintado na escola
onde ficou pintada
minha sexta namorada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu primeiro abraço
foi um abraço foi-se
meu corpo usado
como uma mosca bêbada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente

como um sol de outono)

Minha primeira rima
a mulher do sorriso
que cruzava as pernas
à minha frente

É meu esse mundo colorido?


(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu coração achei
pintado na escola
no peito da pintada
não mais sexta
primeira namorada agora

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Amor achei adentre
em meio, embaixo, entre
com esses olhos girassóis
olhando, o dia ensolarado

É nosso esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)


SORRISOS

Os sorrisos escondidos
são adubo da seriedade
cinza e gelada

Os sorrisos palhaços
não tem cor na formalidade
por temer os erros engraçados

Uma lagartixa
na parede solitária
silenciosa

Ilumina a noite a lua gorda
com cara de preguiça
meia lua

Hoje é dia de sol!
Invade sua boca despintada
abrindo os lábios coloridos e quentes.

sábado, 29 de março de 2014

COPULANDO MISTÉRIOS

Um rosto não perde sua cor rosada
sobre outra cor,
deitado corpo, numa cama rápida.
Na noite, em movimento, o corpo,
doçura, sutilmente desenhado,
pisos, crateras, cavernas d'agua,
em que por vezes me afogo.
Sexo abundante, espelho,
onde dançam estas palavras de mistério,
Elas arfam altas e baixas tão silenciosas,
mortalmente confusas.

POEMA MUSICAL

Suado baú de sons
ela sonhava agora eu
depois do grande acorde
vivia em mim noite dia
um tempo de música
poesia ia e vinha
colcheia semi colcheias
violino que me tocava
Eu? Tinha a obrigação de cantar.

quinta-feira, 27 de março de 2014

PERDIDO

Não me acho
não me achando
não procuro por mim

Sem nascer
não morri

Eis me aqui
sem estar

Esqueci
que me lembro

Nesse chão
sou apenas semente

Flôr não deu.

FICÇÃO

É fato!
A vida é o que imagino.
A vida não é!
Quando ela sai de mim
sou morto - Morto - Vivo
só quando existo.

PROCURA

Um amor procura
um corpo leve, sustentável
no solitário tempo
Um anel
Um véu
Gaiola de pássaros
Um mar, maremoto
na paisagem tranquila,
olhando um horizonte
que ninguém viu.

TENHO GOSTO DE MAR

Se eu pudesse me escolher
Como ser? Teria que me desenhar
molhar lençóis de suor
talhar em dura pedra,
exato nas curvas e retas,
mesmo em pedra - pedra suave
Meu intelecto?
Esse já me é dado,
não me é dado a escolha
de ser.
Por isso sou sem asas, porém...
ser humano é um privilégio
dessa estrela,
ora fria, ora morna,
com gosto de mar.

MARIONETE

Passo a vida
embalado pela história,
mesma, mão que balança o berço,
me vigia os passos,
a frente, atrás, entre,
ora me afoga e ressucita,
me rasga o peito e cicatriza.
A vida, a vida mesma,
nunca conheci, não me achega.
As cordas dessa marionete
deixadas pelo chão, não tem raízes,
esticadas linhas frias,
que escreve esse poema
antes que a morte lhe venha.
Escreve o seu.

domingo, 23 de março de 2014

CÃES

Os cães dos vizinhos
se xingam a noite

Os cães
símbolos de proteção das casas
presos, entre paredes,
saltam sobre os portões
gritando palavrões
saltos, corpos, presas,
assaltos , sobressaltos,
assustam até estrelas
poderosos supermans
como se fossem policiais.

NOTURNOS

À noite, acordados,
os pernilongos, baratas, ratos,
corujas e grilos
Tudo que pude escutar e ver,
além de outros de pouca vida,
todo jardim dormia com o pomar
somente a vela na varanda
aquecia o silêncio
que caminhava para o fim.

DIÁLOGO

Eu debruçado sobre o alpendre da janela
à sombra de um abacateiro
os braços dobrados segurando o queixo
o dedo indicador levantado
dialogava com uma maritaca
sentada num abacate
- Porque tanta falação?
- As minhas palavras escravizadas fugiram da gaiola
sou mulher!
Discutimos pomares, flores, ventos...
Que as rugas do tempo jamais esquecem.

sábado, 22 de março de 2014

ROTINA

A mulher da minha escola
voa com o vento
observa o casal de moscas
espera palavras de amor

Reluz o repetitivo dia
na mente de trovões e trovoadas

O domingo chegando depois de amanhã
com macarrão, maionese e frango
ossos de cachorro - futebol de amor de ontem

Correm jovens sonhando
a mulher da escola voando
asas são seus pensamentos

Não sabe que sou poeta
e do amor que rima em mim.

TRISTEZA

Capotei nas curvas da morena
que descia a estrada
a caminho da escola
Minha primeira aula do dia:
sonhar!

As pudicas salivaram
o desejo dos meus olhos,
o sexo dá vertigem
molham lençóis brancos

O vento corta o tempo
que já não tenho
Pernas pra que te quero?
Corpo de ex cravo visado

As rugas amassadas
vertem lágrimas que não voltam mais.

REBOLADO

Vi um lagarto na praia
belas cores brilhantes
pele fria desfilando ao sol
atento. Me viu
correu sambando.

AO VENTO

Cavalguei muito tempo
pelas trilhas do corpo dela
O sabiá do mato cantou
Estávamos partindo de nós

A arara azul decolou
um roceiro montou a armadilha
que nunca prendia vôos
trotei para o pomar

Daniela me agarrava a cintura
com os olhos na pradaria
voava no trotar ao ar
despida de si mesma.

COISA DE VAGABUNDO

Sei lá porque faço poesia!
Não sei se rima... se faz barulho...
Talvez rime de vez enquando
talvez tenha musicalidade... ou não...
Prá ler...não pra cantar...
O trabalho me grita:
- Isso é coisa de vagabundo!

OUTRO AMOR

Amor, amor que transforma
efêmero, amor que muda
outro, amor sempre amor
mudanças sofridas que vivemos

sofremos passarinho
colibris numa gaiola
prisão de gelo num pôr de sol
amor, senão amor

Se o sol mudasse
derretesse o gelo,e,
nossas asas de Ícaro
amor, existência plena

amor, despe a camisa de vê nus
nau de náufragos
me faz feliz porque
te amo

Amor, amor que transforma
efêmero, amor que muda

DOMINGO DE SOL

O dia amanheceu humorado neste domingo
o sol lava a sala, os móveis, a geladeira,
não há crença no eterno
nem a verdade de haver verdade em tudo
somente um domingo de sol quente
um dia vagabundo de horas preguiçosas
cores infantis, quixotes cotidianos

na rua - um cão coçando a bunda num poste
gente caminhando juntas, distâncias cansadas
na fruteira uma banana preta, um maracujá de gaveta
tudo um domingo de sempre, rotina sonolenta
Tudo me empurrando a poesia - domingo de sol
um poema que ainda não tenho.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

METÁFORAS DE UM GRÃO

Busquei o sangue, e,
escrevi a palavra...grão...
Beija-me!
Com a faca que rasgo o chão,

chão sem fim de tarde morto
não germina o verde fim, assim,
num silêncio de flor afora
triste como o podar árvores nesse poema,

de sonhos e cansaços
onde voam coloridos pássaros
na brisa de um vento vago
envergando lírios brancos, vivendo

entre sangue, grãos e sonhos
quem me sinto, faço  morro
sentado no colo de seus ombros
navegando no mar de meus olhos,

a tarde pôs-se a garoar
no chão batido e rachado
pingos pipocas num caldeirão enorme
logo a chuva chovia, então,

que sabem os grãos, as flores
o chão, a chuva e a vida?
Gotas d'agua não são anjos,
seja o que for, parecem falar comigo,

semente de ilusão, nasce e fecunda
metas aforas, floresce o mundo
como coelhos e estrelas
sendo flor sempre será grão.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

QUEM ME FIZ?

Risos de hiena, goiaba bichada
Quem me fiz?

Passeios ao fim da tarde
furtando flores de seus vestidos
Quem me fiz?

Borboleta colorindo vôos
que bate asas no espaço, só,
quem sou eu?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ROSAS

O perfume se exala
ao largo das ruas

entre a brisa
se levantam
se espalham
aos braços do vácuo

aroma que voa
juntos colibris coloridos
cortando o ar
aromatizando o vôo

Outras rosas se procuram
voam todas pelos espaços.

PÁSSARO NEGRO

Negro
um risco
de grafite
um corcel
desenhando dias
de sol e chuva

Ao peso da outra cor
outra flor
outras correntes
selando elos e cadeias
envolvida em lençol negro

Caminho cego
num quadro negro
onde o açoite, calado, vive
à fuga da imagem
que não muda.

Ainda o dorso dobra
fustigado de liberdade
coagulado sangue escravo
Num cicatrizado
pássaro preto.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

ALAGAMENTO

Vem chuva por ai
Não venha! Conserve
a água represada
como um poço

O odor da terra
não desenha a colheita,
tão pouco se contenta
com o cheiro dos grãos

Chuva, chuva: estamos
molhados
tem gente sofrendo
a fome é um afogamento
dos que aceitam


Sem alagamentos
amor e amantes, úmidos,
da água são sementes
que colhem ao fechar das mãos

Chuva, chuva
O sol vem por ai
te espera, esperma,
tua natureza.

MEU TROTAR

Como deixo
sendo cavalo
sendo montado
antes de não ser

Como cavalgo
pelos prados, nesse novelo de gato,
teia de aranha
que grudo nos cascos

Porque trotar, se ainda
o cavaleiro me doma
o trote da vida?

Domado estou, nos campos
ferrado, nos buracos
covas me acolhem

Tombei repentinamente, sei,
sacrificado serei. Funcionário.
Não funciono. Mesmo morto
restos meus combatem.

ALERTA

Se foram
desaparecidos
eles nós vivos
em nós vivos
um alerta
aguçado instinto

Os cães adormecidos
apertam mãos, abraçam,
não estão longe, aqui,
lágrimas das lágrimas
ainda são armadilhas

Custa nos existir
gritar gritos
forca, abafos, mas,
sussurram- nos o passado
nas tardes sem brisa

Ainda somos poucos
ninguém percebe
precisamos seguir
ao ponto do medo,
resistir ao medo

Somos o todo, juntos
uma arma
que não reluz
com as estrelas

Mas, as idéias
trabalham,
sonham vivendo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

TÚMULOS

Humilhante
humilhante reconhecer
que vivo num buraco

De buraco em buraco
aguardo uma vela acesa
no fim do buraco

De buraco em buraco,
cheio de contradições, que,
se transforma o tempo todo

Meu buraco é meu lar
como o de um pombo
com ar e migalhas
preso dentro da vela

De buraco em buraco
minha metáfora buscou o mundo
o mundo era cego
num buraco maior

De buraco em buraco
abriguei a vida, cada vez
mais fundo acolhida
com tudo que acumulei
latinhas, ferro, misérias do dia

De buraco em buraco
escondido em meu latifúndio,
coquetéis molotov, um violão
Uma lata de tinta 18 litros
pra cozinhar meus dias

De buraco em buraco
maltrapilho, pés rachados
muitos caminhos e chinelas
chinelas menores que os pés

De buraco em buraco
uma mancha
uma pedra
rolando no chão

De buraco em buraco
o miserável se esconde
meu porão, meu calabouço
no fundo de cada dia

De buraco em buraco
do tamanho que é
da profundidade que quis
sou erva que não se arranca

De buraco em buraco
vivo com folhas mortas
sonhando ser, sem cura
nem existo, nem dói

De buraco em buraco
mistério e minha ignorância
onde todos são sombras
de árvores dos outros

De buraco em buraco
na inquietação de meu descanso
sonho com flores a minha volta
Não são flores! São gente, e,
só há gente lá fora

Quem me fia me desfia
de buraco em buraco.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

HOMENS E COISAS

Criaturas ou criaturas
ou lógicas criadas

Num mundo de Deuses
ou coisas estáticas
sem conflitos, harmoniosamente
névoas aspiradas viciadas

Um espetáculo resiste
leão, sereia, urso
máscaras de neon
infinitas vestimentas

Na resistência cruel
pela acumulação do valor
cemitério, latifúndio
ou ficção?

Submissos criadores
sonhos que somos
desse legado, resgate
que o sonho liberta

criatura de vidas próprias
não se vestem como nós
são coisas que nos conjuram
só morrendo para sabê-las

Nas fatias do tempo
elas caminham paradas
são fetiche, são ousadas
instantes coisificados

Só o poeta percebe o abismo
entre os homens e as coisas
como rosas e percevejos
O homem não resiste a essa infecção

Quando nos despimos
nús e sem cabrestos
obtemos uma lente de aumento
onde as coisas ficam claras




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

NASCIMENTO E MORRIMENTO

Meu começo um nascimento
chorei no ventre , no mundo
a vida, água, ar
o começo do fim
vivo morrendo

Vou me construindo
nas experiências que vivo
viver é minha ação
entre acertos e erros

De negar a ficção
ou não, vivendo
da não ficção
e das coisas que renego

A vida não sabe, desconfia
tudo o que nela agrego.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

QUADRO DE RECORDAÇÕES

Recordações são,
como um quadro
na parede, colorido,
quadrado,simétrico,
como quarta parede
de momentos após momentos

 O quadro na parede
gasto, vibrante, intensa
estória de vivos e mortos,
uma jovem lenda imortal
do que foi ontem

Para avisar de que
por aqui passei
e não voltarei

O quadro quadrado
aprisionado e prisão
pincelado, linhavado,
não possui rugas, ou,sentimentos,
fria grafia que não finge

No quadro
com suas linhas multicores
pousam moscas
sem asas, sem vôo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ARMADILHAS

Tendo sido e tanto
no meio da tempestade
caiu no entanto hoje
no esquecimento

Foste um furacão
de intensa destruição
- Sua natureza
Hoje rasteja pelo chão
como bicho de peçonha

Se foi, se foi!
Não lhe abano o rabo
como cão adestrado
que come na tua mão

Hoje não é mais que um verso
catavento, que enquando
com o vento gira pra movimentar o mar
junto com outros dejetos

Sido tanto fui
um lobo faminto
preso na minha própria armadilha

TEU SILÊNCIO

Conversa com teu silêncio
na varanda
- Com o balanço da cadeira,
olha o que teu olhar alcança.
Sopra a brisa mesma
do final de tarde
arrogante, arruaceira.
Pensa no que foi, é e será
medrada por contradições,
enquanto as rosas mortas
embelezam o vaso da tua mesa
é tua  a solidão companheira de si mesma
- Como a lagartixa no alpendre
Como vai?
Seu idealismo enfrenta
a mesmice hegemônica
e tua inquietude concreta
pronta a comungar

CONSTATAÇÃO

Amigos são inimigos contra os quais não se tem defesas.

PEDRAS NO BECO

Vou morrer num beco
de crime sem autor
por quebrar pedras no caminho
tinha pedras no caminho
do beco que me abrigava,
incendiei todas.

DETRÁS DA PORTA

Sai detrás da porta
achando que o mundo havia mudado
que a fome tinha acabado
e você fosse só minha.

Que tudo fosse filho de Deus
e pecar tinha passado a ser lindo.

Escondido detrás da porta
não vi nenhum movimento,
sonhei com tudo perfeito,
cheguei tarde pra algo fazer
assim como minhas lágrimas.

Sai detrás da porta
pensei e fiz
mesmo suspeito, sujeito,
sem movimento
eu quis.

MENINA

Ouvido, silêncio ou choro
barulho que o mar faz.

Talvez seja inveja dessa meninapequena,
que, nesse olho tão grande jaz.

ALÉM DA VIDA

Não precisa vida,
sente a brisa,
estrela que não sabe nadar;
nascimento que me instiga,
só podia ser vida!
Estrangeira até para si,
só quem te vive pressente
Que dia é hoje?
Preciso dar um passo a frente.

SABEDORIA

Venho aos poucos morrendo

As pernas dando seu passo
são passos de marca passo

Venho virando criança
brincando de amarelinha

Venho saltando muito
entre céus e infernos

Venho esquecendo momentos
e os vivendo de novo

Venho perdendo as crianças

Venho descobrindo o saber
sabendo o saber que me mata.

NOTÍCIAS INACABADAS

Sobre a calçada fria
abriu-se um jornal novo
com velhas notícias do dia
numa mente deitada tranquila

O ano velho se foi
ficam nossas noites mais brabas
com o ano que agora fica
ainda repetindo os dias

Notícias dos outros
as pombas, as festas,
as roupas, as cestas,
as ceias, romãs

as notícias que aquecem o corpo
cobrem de sabedoria
sobre ser meio isso ou aquilo
sem nunca ser um inteiro

Jamais sei, saberei
Se o mundo será meu ou nosso
Com essa força pra fazer
o que posso

Certo é que essa vida decepada
jaz na tua calçada
em noites de estrelas,
ruas desertas e notícias inacabadas.

FOME

Magro, encurvado
dentes à mostra
costelas nas costas
dormindo ao relento
um cadavérico corpo
Está comendo vento?