quarta-feira, 24 de julho de 2019

MASP

Quem nunca esteve
na marquise do MASP,

A espera da militância
nunca viu arte,

- tomando ar, ou,
sufocando no sub-solo,

É o movimento da Av. Paulista,
que silenciam pessoas incautas,

Á falta de paredes, subtraio os ângulos,
um vão que denuncia a arte.


ESPERANDO MARGOT

No ano passado você foi?
ou
Nesse ano você vem?

Tem muito sol lá fora!
e
Nesse ano você vem?

E agora que você foi?
esquece
Nesse ano você vem.

Eu te espero Margot.

ANJO

dentro de mim
mora um outro
que vejo por ai
com meu corpo
caminhando sem rosto
sem certezas ou erros
livre, da morte e dos mortos.

DESCONFIANÇA

Fome, guerras,
fezes e mijos.
Dizem que: Se é de Judeu é bom!
Será?
- Desconfia até de Deus seu Tomé!

PRINCESAS

Ela tem celular e espelho
não há mais nada a dizer,

Não fala. Calada sussurra
num jazigo de futilidades,

o cadáver dentro dela sorri,
que fique longe de mim, pode seduzir minha alma,

tudo ontem, hoje, amanhã,
essas coisas não descansam.

terça-feira, 23 de julho de 2019

VONTADE DE CHORAR

O que estou fazendo aqui?
causando o nada.

Sou muito menos que isso,
nem tenho identidade,

Nasci e vou morrer nesse mesmo caixão,
fabricado no tempo, para ocupar meu espaço,

filho de Deus, aponto para a igreja,
meus olhos marejam d´água.

MUROS

Os muros que acontecem melhor saltá-los,
olhando para trás com os olhos de quem vai cair,

A cobiça nos fazem voar pelas vontades de lá,
onde os muros ficam incapazes de aprender,

Não se pode impedir as manhãs, nem os arco-iris desbotados,
que para lá do além muro outros muros vão saltar,

a cada salto realizado, progressivo voam esperanças,
sonhadas idealizadas como as casas de um João de barro.

D´JAVIR

Esta tarde já aconteceu,
quando?

Um cachorro se coçava no poste
um homem urinava no canto
com a sirene da polícia ao fundo,

Um homem estapeava a bíblia
blasfemando suas palavras,
colocando Deus no bolso,

Esta tarde já aconteceu,
anêmica, sem sentido, sem chuva.

Produtos chineses à venda
para homens de olhos grandes,
meninas de todos os números
se atreviam com gestos antinaturais,

a tarde segue a noite
sem consciência social,
lógica formal de sentimentos
cheia de Deuses e desejos,

Esta tarde já aconteceu,
novamente na Praça da Sé.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

SEM LIMITE


Eu não tenho limites
E gostaria que eles não houvessem,
Caminho por todos os lugares,
Não admito paradas,
Só quero um teclado ou caneta,
E muitas folhas em branco.

POEMA ENGAJADO


Tudo que é povo
É poema mal remunerado,
Presidiário dos livros,
Assim como lua, sol, mar e amor.

Porque?

Só cabe o poeta mendigo
Que passa o chapéu,
Que não come, mora ou dorme
Com palavras sem valor.

A poesia?

Está em tudo que existe,
Forte, oprimido, alegre ou triste,
Esquerda, direita, ou
Em coisas centrais.

A LÓGICA DAS RUAS

Existe um rumo que as ruas tomam
como se não ligassem para o espaço,
diante da lógica perplexa da geografia,

Porém, caminham sem se mover,
os passos dos homens e dos animais,
cantam, cantos becos, vielas,

frenéticos vai e vem que marcam o compasso,
onde a carne é verbo na esquina, em descidas,
subidas, num looping de versos adversos,


As ruas estanques não param,
não respeitam limites e vão, e,
todos os ouvidos sucumbem, sem brincar de sol e chuva.

ENTRE VERSOS E RIMAS

Entre o verso e a rima
a ambivalência salta para o nada,

A cada palavra metáforas e sonhos,
maçã, amor, no tempo de Eva,

entre coisas e sentimentos
a ambivalência calada,

rolam no branco pichado de tinta,
ponto a ponto linha a linha,

projetadas frases desconexas,
como asa de xícaras teimosas,

As palavras dançam num carnaval de versos,
dando mãos as rimas num imenso mar de lágrimas.

MIOPIA

Quando silencia o ronco do estômago
os olhos se arregalam, surpreendendo as meninas,
as dilatadas barrigas saem até do lugar,
então calam-se os ossos e relacham-se as pálpebras.

GATOS NO TELHADO

Profundo poema sem rima
não imita a cama,
desenha a forma da sombra,
do corpo que flutua,
nos braços negros que te enlaçam
e apertam o nó do seu coração,
que arfa descompassado
como os gemidos dos gatos no telhado.

ANDARILHO

A boca de lobo,
a boca da mina,
nuca mais beijos
no samba que vela,

Doces ideias,
amargos propósitos,
da música cantada
que levanta a poeira,

dança dos mundos.
comes e bebes
na 13 de maio
entre meigos ladrões,

Vou devagar e vou só
com meus pés pré-defuntos
atravessando a cidade
para o sono dos velhos.

PROIBIÇÃO

Olhando a calçada,
olhando a boca de lobo,
olhei para o fim da rua,

casas anônimas, janelas anônimas,
anônimos colibris dormindo,

a solidão deliciosa
de um cada qual na sua rua
sonhando a vida em pedaços,

onde a vida anoitece?
Pedaços de mortos morridos,

Olhando o fim da rua
um coro de silêncio em vida
proíbe qualquer manifestação.

AVENTURAS

Amor armadilha
animais da ficção
com unicórnios ao redor,

Nasce e finda o dia
transformando o ódio,
que imaginei na harmonia,

sobressaltos na calmaria,
guerras de um guerreiro
nas fugas que implorei,

cavalo nu celado
nessa planície escaldante
galopando as aventuras que amei.

DESCANSO

A maré traz
a maré leva.
Maravilhoso!
A maresia
desse mar dormindo.

VAZIOS

Perto?...Longe?
nem sinal do fim da rua.

Nada pode evitar os calos
somente se um avestruz surgisse na esquina,.

ou se minha fada madrinha
me desse uma passagem de metrô,

ou se sua negra vara de condão
estrelasse minha vazia trajetória.

GUAIANAZES DA ÁFRICA

Passei na Rua Guaianazes
com a África de pano de fundo,

A rua fica aqui perto
no oceano do mundo,

mulheres abundantemente negras
como espetinhos na calçada,

baratas mortas, ratos rasantes,
em obscuros convívios,

negros diamantes constantes
forjados numa dura existência,

velha África brasileira, escurecendo o dia,
as crianças daqui te saúdam.

BICHO DE PEDRA

O corpo de um crak
uma vida de pedra
que a pedra faz gol,

a face doce
tem sabor de salgado
na miragem da praça,

bicho no buraco
da paisagem pinga, pó e vapor,
como Quixotes e Sanchos Pança.

NÓS E AS RUAS

Minha rua eu batizei,
ou não,

É um pedaço de espaço
onde pessoas vão e vem,

A rua é como nós,
sem ter nome não lembramos mais,

vira água parada
nem nada,

Ah! Se não fossem as pessoas,
nesse caminhar infindo,

que passam, não passam, passas
doces ruas enrugadas,

por onde mastigam
seu caminho finito.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

CÂNCER

As armas não te deixam morrer de câncer
te protegem da morte que te procura,
mas os espelhos espalhados e expostos no espaço
formam a imagem que te espia,

cuturnos negros calçados numa roupagem verde,
empunhando bandeiras vermelhas, travestidas verde amarela,
bombardeiam jovens e adultos que explodem num arco-iris.

LUMPENS

Vaga-lumpens vadios
vagam num vai e vem,

varam vertentes
pardais, pedras e pó,

velejam brisas zumbis
com Deus no espantalho dos olhos,

vasto vago vale
de crack da cracolândia,

quando o nascer renascer
não mostra caminhos de fuga,

nem vaga-lumes acesos.


DELÍRIO

Se eu te falar baixinho
tudo aquilo que sinto,

vai dizer que é ridículo
dessa solidão que me acolhe?

Se eu te falar baixinho
que vou bandear noutras bandas,

para tocar-te e aprender
como entender o canto das sereias?

Com estas minhas letras de blues
vou fazer um trato com o diabo.


LÍNGUA SOLTA

Nesse eterna vida maçã
nada é louca é sã,

teu corpo é fruta romã,
fruta urbana, do mato,

fruta de noite e manhãs
êxtase de cama e sofá,

nua entre meus dentes
na sensibilidade da minha língua solta.

GRUTA

É misteriosa essa sua gruta
rasgada por esse rio que te escorre
diante de meu olhar fálico,

busco esse ponto g
que minha língua umedece,

se revira...sere vira...se revira...
como cobra, onça, mulher.

COMPANHIA

O mar nesse coração gelado,
entre algas e festa de sol
há de ser minha companhia,

nasceu bem antes de mim
ouviu amor e lamúrias,
há de ser minha companhia,

bom ouvinte sagaz salgado
de lágrimas de tantas almas
há de ser minha companhia,

Nesse coração gelado
sou só um ser que vai e vem
debaixo desse arco-iris.

FIM DO TEMPO

A brisa arrepia seu corpo
e eu fico excitado
entre esses pelos eriçados,

são carinhos da sua pele,
esquentando ...  em mim
seus abusos e seus desejos


entre suas pernas e o cabelo me escondo,
entocado nas suas formas
até que esse tempo me acabe.

SÊMEN

Se a mistura ficção e realidade
e devaneios de família feliz
me assombram por toda minha vida,
é porque sou sêmen divino,

Essa vida é para morrer
como a flor que perde as pétalas
nesse eterno bem quer mal me quer,
tudo tão lógico formal no ventre da primavera,

lembranças da minha cabeça
descabelada queimada de sol,
ao fixar sua coroa de espinhos
encho-me de prazer e puro êxtase,

nasci para viver e morrer
neste corpo enformado,
cheio de sonhos de jardim,
invento o que me é real.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

SONÂMBULO

Na inocência dos meus sonhos,
acordei com os seios das lâmpadas,
acesos,

Uma estrela deitada aos pés,
que na cama me tiram memórias,
a pouco,

A noite cheia de malícias,
me olhava pelo espelho,
nua,

Toco o pênis e a vida
fálico ritmo equilibrado,
ejaculo,

Cubro os seios da lâmpada,
apago os olhos,
sonho profundamente.

ÂNUS

1º de Abril
não é o dia da mentira,

acho que é 24 de Dezembro
à meia noite,

é o dia
em que sou enganado,

a esperar
por mais 12 meses.

VESTIMENTAS

Nem sempre
o amor
acontece,

De repente,
um laço, uma armadilha,
serpente,

engolindo
tragédias
sem nome,

com esse
morrer
visto minha solidão.

ANJOS E DEMÔNIOS

Um anjo de unhas postiças,
boca pintada, olha por mim,

não entendo esta vigília,
se sou amigo de Marx, Engels e Brecht,

anjos não quero,
porque sou João ninguém,

deito-me no humor do vento, e,
rezo pelas crianças.

CAVALGADAS

Todo dia, toda madrugada,
dorme uma boca pagã
acorrentada pelo tempo
após a menstruação descer,

anda...anda...voa....

Com os homens nobres,
de real, euro e ien,
vai apagar esse fogo
que só o seu ventre tem,

indo ao êxtase e gozo
dentro do confessionário,
enquanto o poeta
lhe corta a jugular,

não há culpas no prazer
nem no trote da cavalgada
quando as fêmeas educadas
se transformam em sêmen.

BADALADAS

Bate o sino do Mosteiro São Bento
entre o bem e o mal da cidade,
fantasma da crucificação.
São dezoito horas, já esta na hora.

A fome do povo
não se mata com hóstias,
mas é vício alimento
de corpo incorporado,

entre céu e inferno
Deus e o Diabo, ambivalentes
matam a fome de boas intenções
num mundo girando num saco cheio.



CACHORROS E CADELAS

As mulheres buscam amor,
eu tento fugir delas.
Se não houvesse a vagina
o que fariam elas?

Será que seriam companheiras
se nem se dão bem entre elas?
São belas quando singelas,
se não se olhou para elas,

sinceras são garotas de programa,
as putas são menos hipócritas,
pois o pudor e o pecado, pertencem
as carolas, a venda em outro mercado,

Tenho medo da poesia das mulheres
não são a melhor opção,
poesia é palavra sincera
como as cadelas no cio,

não quero me expor
para não ser atingido,
por isso melhor fugir delas,
como um cachorro vira latas.

FEIRA DO ROLO

Na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
homens vendem de tudo,
até traças para devorar frieiras,

As igrejas ao lado cheias,
de graça não existe nada,
nem princesas nem castelos,
onde habitam cobras e ratos,

também padres e pastores,
cheios de boas intenções,
vendendo a mãe da miséria
e o paraíso em parcelas,

na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
os homens vendem de tudo,
isso, aquilo, o fim e o início.

BORBOLETANDO

Como uma borboleta
que acabou de sair do casulo,

escuto os prantos
de quem não consegue bater asas,

há cobras nos pântanos
querendo se alimentar,

mariposas desmaiam
todos os fins de tarde,

ela no seu corpinho rosa,
chora pedindo a Barbie.

COISAS MORTAS

Artistas carregam máscaras,
finjo-me de arlequim,

mas sou bom palhaço
nesse circo de destroços,

tudo tão subjetivo
nesse mundo cada vez mais morto.

DEGUSTAÇÃO

A cabeça
cheia de pensamentos

certo, errado,
muitas contradições,

meio embriagado
um hálito de urubu

uma Rua Aurora
não chega,

na sarjeta
acendo um cigarro falso

tragando
um poema.

INEXISTENTE

Você
tão útil

maquiagem
tão barata

cabelo tingido
dourado sem ouro

dias
sem sol

noites
sem lua

tão gasta
tão leve

tão frágil
tão nada

tão coisa alguma
que não existe.

BURACOS

Quantos buracos cabem
em outros buracos?

Quantos olhares profundos
nos buracos que te olham?

Quantas rosas brancas
quanta bossa nova,

quantos encontros, desencontros,
em irrupções diárias,

para dar paz ao coração
que bate desenfreado,

com que direito
me beijas e me dá abraços?

LOUCURAS

O que não tem lógica
loucura, ilógica.
Muros se erguem,
pastores cobram dízimos,
de quem nada cai de cabeça para baixo
só cartazes de preciso beber cachaça, colabore.
pombas disputam migalhas
coisa que se parecem, se misturam,
o tempo vai passando...passou...
Agora é a hora!
O amanhã é um pato atropelado
na Av. Francisco Morato.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

DOIS UM PRA CADA LADO

Um dia emprestamos as mãos,
passeamos no Trianon
sem olhar para nada
nem em frente nem pro lado,

sentamos nos bancos do parque
contamos flores e árvores,
pique esconde, amarelinha,
nada de normas ou regras,

eu, você o hotel,
avançamos ruas, cruzamos esquinas,
cheirando hamburguer e gás carbônico,
nessa cidade sem graça,

Amassamos lençóis, sem fôlego, sem freio,
adentramos cavernas, trançamos pernas,
viajamos à Hong Kong,
falamos com Kama Sutra,

sem hora, sem nada,
solucionando mistérios.
O sol se pôs e acordou,
esperava por nós,

Um beijo, um aceno,
um aperto de mão,
- Até um dia!
Fomos cada um pro seu lado.




AS VELAS

Venta o vento, veneno,
onde quero chegar?
Não há falcões ou borboletas
apenas paixões passageiras.
Navego para o futuro
tão cheio de fronteiras,
ainda dormindo com mulheres,
ao invés de dormir nelas.
as velas vão se apagando
quando recebem carícias.




EN PASSANT

José não morava na Praça Panamericana,
ele nunca foi passarinho que descansasse,
nasceu para voar pelo mundo,
nunca fora notado, nem encontrado,
(Foi achado morto de morte matada)
Fazia uma sopa de pedras como ninguém,
mas as fumava também, bebia até as ruas                                                         ,
com suas roupas lavadas de chuva,
seu carrinho de supermercado era seu baú de riquezas,
corria feito um calango, era sua natureza,
só não sabia palitar os dentes.

COVAS

Homens deficientes de infância
habitam porões, pensando em parques,
brincam com a vida e a morte
e voltam a ressuscitar,

olhos cegos de ira,
um não vê, o outro não se enxerga,
a infância olha e ele olha pra ela,
olhando para coisas mortas,

Em um buraco de 7 palmos,
preso a presilhas no céu,
voa passarinho passarinheiro,
entre a fome, estrelas e luar,

quando cava mais fundo,
afunda-se cada vez mais,
se esvaziando por dentro,
para fora lá de dentro, seu invento.

JAMAIS

Jamais, pode ser agora,
quando desejos são poeira
e acabam quando morrem,
ou quando os versos sofrem,

Jamais, acabam no início,
a beira de precipícios,
aos cegos atentos,
no escuro, muros e lados,

Jamais, roubarão princípios,
na fissura da forma,
impacto entre guerreiros
em lutas hereditárias,

Jamais, aqui jazz
um domador de nuvens,
corpo insolente,
distante de si e destino,

Jamais...Jamais...
recuso o percurso,
frente aos galos gagos,
pois, posso mudar o mundo.

INSTANTES FINAIS

O vento despia os Ipês,
misturando cores,
recheando o chão de primavera.

Na flor da adolescência,
puxa como era bom!
Lá em Boissucanga.

Em noites amenas,
a lua sorria cheia,
e piscavam os vagalumes,

Agora na maioridade,
Ufa!
Como bate a saudade,

Chuvas, grilos,
vagalumes,  namoradas
sapos que coxavam,

Caiu a última flor do Ipê,
dias, horas, segundos passaram
nesse meu último instante.


NÃO QUERO MORRER AGORA

As pálpebras caíram,
o silêncio falou.

Era a morte
que me visitava.

E agora sem o chão?
Onde colocar a vida do morto?

Quem tem medo do escuro quer saber.
Não quero morrer agora.

INFANTILIDADADE

Estive jovem algumas vezes,

dos 15 aos 25
dos 25 aos 35
dos 35 aos 45
dos 45 aos 55

Cansei.
Era melhor quando era criança.

Até os 15,
brinquei, pulei, acho até que namorei,

Todo velho perde o tempo, chega a tempo,
com a beleza que os olhos viram,

como fruta, verdejam, amarelam, apodrecem,
se vão e novamente florescem crianças.

PERGUNTAS

São as ruas?
São os buracos?
Os homens?
A multidão?
A política?
ou são nossos olhos míopes?
São os gritos?
As bandeiras?
O tempo?
A lógica?
Ou o absurdo dentro de nós?

REZANDO

Quando deito caio no sono
sem saber o que há  embaixo da cama,

há algo crescendo, coisam  que me perturbam,
o sono e os sonhos.

A lua nova faz carícias, nos medos,
mas o que mais me assusta são os gemidos.

A PEDRA DO PATRIARCA

A pedra do Patriarca,
não vê a praça
pelos seus olhos de pedra,

nem os sem famílias,
as sujeiras dos pombos nos ombros,
ou os disfarçados poetas,

a igreja na paisagem cansada,
hoje só faz casamentos,
e outras pedras no caminho.

MEMÓRIAS

Pensando o passado
que já foi novo,
vejo um mar,
uma cozinha, uma cama,
fotos de gaivotas,
melancolia do tempo,
de ontem que hoje me lembro.

PASSARINHO

Houve um tempo
em que meus braços
entrelaçados aos braços dela
eram como um abraço
que me abraçava,

Minhas pernas
com as pernas dela,
entre, em cima, embaixo,
atrás na frente,
me gozassem,

As línguas que dançavam
a chuva, entrelaçadas,
eram uma grande armadilha,
encharcadas, enxurradas,
de rosas aguadas,

Tudo afora, adentro,
as feridas que ferem o tempo,
desenha seu fim,
sustentando as sobras que fomos,

embora, ela lá eu aqui,
o amor foi beija flor,
violento, belo passageiro,
com ninhos que ficaram com ela.

ALIENAÇÃO

Entre saber e não saber
me alieno no tempo,

entre igrejas socialistas,
e quarteis que rezam a Deus,

Adeus. Fique com o que é teu!
Marx nunca foi Deus,

Vôo em vão,
avestruz perco a cabeça.

MARISCO

Pena...arrancadas...penas,
palmas apenas, poemas,
Pétalas...arrancadas...pétalas,
uma a uma de um coração apenas,

Fim desse tédio
de mulher serena,
me lambe as feridas,
fode minha vida,

marisca-me as costas,
me banha de sal,
afoga-me em seus seios,
que nas suas tranças me enforco.

PASSANDO O TEMPO

Sentado numa pedra sabão,
eu ouvia o mar,
após mais uma desilusão,

olhava para o horizonte,
pensando no tempo passado,
quebrando nas rochas mariscas,

Diante do som do sal,
os olhos marejavam,
eu um grão de areia,

Uivando como um lobo,
quebro o meu casulo,
para voar como borboleta.

O ATIRADOR

Muitos chamam esse governo:
de fascista, filho imperialista,
eu chamo de calhordas,
dominantes e individualistas
num espaço de injustiças.
Muitos bezerros pra mamar
numa vaca de poucas tetas,

Depois que ele findar
nada terá mudado,
a educação terá emburrecido
mas com diploma na mão, pois,
a lei é uma caixa de projéteis
na mão de um atirador.


DESDESEJO

Algum tempo atrás
eu quase me afoguei
de amor,

nadei numa morena,
com olhos de jabuticaba,
vinda do Rio Grande do Norte,

vestia um corpo tropical
com rosto de adolescente
e muita alegria de viver,

não havia de fato desejo,
apenas uma enorme vontade
de curar minha solidão.

PERNILONGO JACU PÊSSEGO

Um pernilongo
cantava no meu ouvido,
dei-lhe uns tapas na cara,
pra cantar noutra freguesia,

Lá reuniu os amigos,
fez fofoca, fez fuxicos,
voltou com a turma toda,
pra me fazer sinfonia,

Tudo era uma grande festa,
dia de Sabatto D' Angelo.
No córrego Jacu Pêssego,
nos tiravam para dançar.

POESIA DE CÃO

Lá na Rua Rouxinol
tem um cachorro que late,

assustando o dono,
muito mais os passantes,

Nas noites silenciosas, quando
não é mais um cão de guarda,

fica olhando para a lua,
com cara de cão sem dono,

uivando sem parar,
cada estrela que conta.

COISA DE BACO

Se você for ao Bixiga,
A tarde, depois do trabalho,
Talvez encontre um amigo,
Um amor antigo, quem sabe?

Vá lá comer macarrão,
Ou, beber um bom vinho,
Lá é um espaço mágico,
O macarrão é chinês,
o vinho é coisa de Baco

PICO DO JARAGUÁ

O frio é muito intenso
no Pico do Jaraguá,
onde os poemas,
tremem, congelam,

Se você gosta de poesias,
ao deitar-se à noite
pede para os seus sonhos
voltar a nos aquecer.

ABAYOMI

Nunca tive Danielas, que
deveriam ter outro nome, Abayomis,
minhas bonecas de pedidos,

Sonho com que cruze oceanos,
e deite-se na minha cama,
para que eu desfaça seus nós,

Não tenho talento para amante,
nem ocasião que permita
fazer-te minha Julieta.

PASSEIOS

Saio de casa, para
mais uma aventura,
visto a roupa da cidade
costurada, vou à caçada,
nas ruas de caminhos largos,
idas, chegadas, bebidas,
gastronomia, um trago,
uma bala, fim da fome,
minha vida interrompida.

CELSIUS

Oficina - Temperatura Celso,
coisas da Rua Jaceguai,
convulsões, surpresas, sustos,
corpos que brincam,
de brincar o mundo, desconstruir,
dissonante das outras ruas, frias,
porque solenes, corpos de plásticos
ouvem o hino nacional.

OS CAVALOS

A Av. Indianópolis
não é pista de corrida, mas,
garotos donos de cavalos,
controlam volantes,

Pânico no asfalto, um assalto!

Cavalos com vidros fúnebres,
abrigam o garoto fantasma,
deitado no lombo virgem,
o corpo não controla, não corre,

Na pisca seca, o cavalo ainda relinchava,
vapor nas narinas da noite que chegava calma,
escurecendo a violência, iluminando,
o sangue e a cidade que dispara.

FIO DA NAVALHA

Um gole...engole seco
no semi árido do cimento,
na Rua Morato Coelho,
onde a noite floresce,

Não tem céu, só arranhões
de concreto, muitos gestos,
muitas cores e botecos,
que aquecem o íntimo,

Flores na rua, cobiçados olhares, 
violentam calçadas animais,
que as presas vão devorar,
o que se vê no buraco da fechadura?

Agora tudo, a pouco nada,
tudo efêmero na balada,
a noite só começou, de um lado e outro
no meio, fio da navalha.

CULPAS

Miseráveis...sem ofensa,
perfume forte que se veste,
nem um olhar,  ignora
a culpa,

Culpa da exposição,
fraterna humilhação
nas ruas do centro.
Beija-me Constant,

Desperta entre anúncios
que acorda o consumo,
aos que podem,
que também aquecem,

Como resolver?
Toda caridade será castigada
no corpo na alma,
as vidas de morte matadas.;

SEVERINA

A fome não se alimenta
da fome, nem o gosto, nem o arroto
brutal das mãos caridosas.

As quentinhas da Praça da Sé,
sem sentimento de culpa, sem saber
matam de vagar, a fome,

Como entender? Entendendo,
porque chora, escondida, naturalizada,
a vida severina.

FIM DE RUA

Passos rápidos, apesar dos avisos,
não ande assim pelas ruas
que não caminham,
nos buracos que te olham,

Olha amor, raia o dia,
deixemos os carinhos na cama,
relaxa  e escuta as batidas do coração,
que pulsa e ainda dorme,

Acorde as ideias, elas vem primeiro
com o sol que aquece o dia,
nesse duro chão, vívido,
posto aqui...no caminho,

não se pode dizer,
onde vai dar, onde?
Longe ou perto,
até que finde a rua.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O VALOR DA INFÂNCIA

Crianças jogam em casa,
crianças jogam na rua,
crianças brincam nas piscinas,
crianças brincam na chuva,
crianças sorriem
crianças choram,

entre chinelos e pés no chão,
com suas caixinhas de sonhos,

Crianças contam estrelas,
dividindo de forma justa,
o que serão amanhã?
Vou lhes contar um sonho:
- Todas serão ladras!
De ponteiros dos relógios do tempo.

SEM SENTIDO

Um pé de chuchu
pulou a cerca,

Um bicho preguiça
escalava um poste,

A menina cor de rosa
o menino azul,

misturavam as cores
brincando de arco iris,

um sol sem vergonha
dava sentido as coisas.

DANÇA DA NATUREZA

Ventos fortes
dançavam com as árvores
no Parque Villa Lobos,
uma garoa umedecia tudo,
acho que eram carícias demais,
foi assim por horas.

ESPERANDO UM AMÔ

Estou a horas olhando o horizonte,
ondas vão, ondas vem,
nenhuma delas me traz você de volta.

PRECAUÇÃO

Na necessaire
fralda geriátrica,
desfibrilador,
telefone do SAMU,
cueca limpa,
 remédio pra enxaqueca,
guarda chuva
muito papel higiênico,
nunca sei
quando vou fazer cagadas.

ANTICLÁSSICO

Corpo flácido,
cansado,
no tempo,

rugas,
testas e pálpebras,
caídas,

o corpo de dentro?
adolescente
em crescimento,

olhos famintos,
desejosos,
observando perigosa mente,

sem licença,
a velhice não vive,
só convive,

essa velha,
vanguarda militante,
anticlássica,

Assim,
não sei,
não fico.

INDIVIDUALISMOS

Borboleta
parece salada

salada
lembra primavera

Prima Vera
amor de lado

lado
éramos os dois

Dois, cada um
no seu quadrado.

VAZIOS

Dentro de mim
mora um labirinto
onde caminho
perdido de mim,
nascido sinoidal
uma vida espiral,

As vezes
tenho saudades,
de Zélia, Simone e Daniela,
mesmo que por minutos.
Eterna saudade que dói...
as vezes.

ALÔ

Toca o orelhão
na rua solitária,
toca pra ninguém,

Toca orelhão
com insistência,
alguém existe?

Olho toda a solidão,
alguém continua chamando,
ninguém, serei eu?

USOS E ABUSOS

Amar não pesa,
não custa,
como algodão
que aquece,

o valor
 está nos fios
que tecem
que cobrem

Eu peço,
me use, me leve,
para deitar
em cima de você.

FAMINTO

Daniela, João, Pedro,
não me beije,
sou um predador,

meus dentes
rasgam carnes
mastigam quem se atreve,

sou chamego, cafuné,
coração, pedra sabão,
bicho de pé,

me subverta,
me acolha,
mas não me beije

me deixa te despir,
depois,
te devoro.

CONSUMISMO

Amor não é
sacrifício
nem orifício
ou isso
ou aquilo,
é mesa, é casa,
pão e água,
Ah! se dinheiro eu tivesse.

DOCE UTOPIA

Uma bala
salivava a boca,
chocolate, hortelã,
açai cá aqui.

vai engano
sabor submisso
seduzindo
desejos.

dejetos
sonhos
doce
utopia,

nem te quero
de verdade
meu amor
diabético.

MARÉ

A onda
inquieta
do mar
vai
amaré
vem
forte
vacilante
cresce
hesita
corre
morre
nos pés.

PASSAGEIRA

Diante desse mar imenso
um sol descansando,
sem cor,

O mar. As ondas. As marés.
Vai e vem uma sensação vaga,
no corpo um arrepio.

Onde andam as ondas?
vagas águas salgadas
sem cascata,

Esse mar não tem queixume,
só vai e vem
como Cristina Naiara Fernandes.

NÃO GUARDEI

Te odeio tanto
que dá vontade de chorar,
de apertar, de sufocar.
Entrar dentro de você
inteiro até morrer
na tua cama,
onde jamais deitei.

VÃOS E VENS

Dias vem
dias vãos,
no mesmo
lugar,

Dias presentes
dias faltam
não sei
dos dias,

Hoje,
amanhã...
dias...
os mesmos.

VÁCUO

Estou ansioso,
vacilo
em meus desejos,
não tenho devolutivas do amor,
nem olhares, nem sorrisos,
só silêncios,
tudo tão vazio para mim.

MUITO A FAZER

Não sou absoluto
até daqui a pouco,
serei, sobre o que sei,
não sou

um poema de contradições
e rimas sem versos, só,
um vagalume num buraco negro,

pisco...pisco...
quando cruzo comigo...
durante do dia não.

Há muito a fazer
sobre minhas dúvidas,
naquilo que acredito,
nesse mundo que também é meu.