terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NA MINHA CELA

Na minha cela
toda manhã
tenho o ar arrogante
de um filósofo de Nietzsche

Na minha cela
penso o tempo que voa
sério como uma coruja
no mais íntimo de mim

Na minha cela
Limpo a poeira
das minhas contradições vividas
do caos que é minha vida

Na minha cela
Faço uma matemática diária
da minha liberdade
e somo com minha vida.

NOVO DIA

O sol
precisa de sombra
A lua
Precisa de luz
Os lábios secos
precisam da sua umidade
enquanto acaba o dia.

Todos precisam de sorrisos
amores novos
De sol e lua
pra fugir de amor morrido

Que amanhã apareça
um novo porvir
e a maré nos leve
pra navegar

Que o sol escondido
aqueça a alvorarada
que a chuva leve os desamores
que a lua se acenda como estrela apagada.

QUIS SER

Não sou
Midas
Sou Vidas.
Em tudo
que toco
transformo
em vida
toco ouro
toco coisas
toco gente
tão diferente
de maçãs
e tridentes.

SEM VAGALUMES

Quando se ama
dói até o ar que se respira.
Por conta do ar que machuca,
as estrelas ficam frias
e o vento pára todas as noites,
sem vagalumes.

POEMAS E CONTOS

Escrevendo poemas e contos:
- Isso não te dará dinheiro algum!
- Eu não quero dinheiro!

Eu só quero rimar e contar.

domingo, 4 de dezembro de 2011

COISAS QUE A MARÉ TRÁS

Desejos e possibilidades de areia
passeiam de mãos dadas com o tempo, prometido
poeira baladeira diante das marés,
Surfista prepara tua prancha!
Enfrenta o mar bravio,
faz teu futuro que fará teu hoje,
no coração da sereia.

NUNCA

Nunca
não existe
hoje

Nunca
não existe
posso

Nunca
acaba
aqui

Nunca
meu lugar
existe

Nunca
Pirlinpinpin
Peter pan

Nunca
você

Nunca
esqueço.

URUTAL

Um urutal no muro
olhava minha gaiola,
eu ita - pedra
na prisão de Marília
lhe namorava
a cada sol
a cada lua

METÁFORA COM ASAS

Uma mosca massageava as pernas dianteiras
Acariciava a cabeça e limpava as pernas traseiras
Eu imaginava castelos e princesas, enquanto me masturbava.

QUE ALGUÉM ME SALVE

Tempo
eificado, sedutor,
nós...a coisa
Vida! Não quero vida!
de protótipos,
quem sabe...
um ex-man
nos salve agora.

Quem dera
voltasse no tempo
de coisa me tornasse gente
gente...gente...gente...
E o amor?
Que brotasse
de sementes
queimando
como águas marinhas.

ELES

Manuéis sem bandeiras
são meninos
cavalos de cabrestos
que cavalgam
quadrados

Coras Coralinas
são meninas
despetalando margaridas
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer, mal me quer

ENTREFERROS

Entre as treliças de ferro
aprisionados
o sol, a noite,o mundo,
morada e vida.

Entre as treliças de ferro
censuras, torturas, gritos,
solidão e sobrevida.

Olhando pelas ventanas
sua silhueta
inteira
marejando-me

Uma figura de areia
coberta de espumas
lutando contra as marés

Aprisionado, navegante,
que por você sobrevive
entre o dia, a noite, no mundo
e num mar que não cabe.


Vamos e voltamos
contra as correntes
grilhões de versos
na praia pra ti.

sábado, 3 de dezembro de 2011

VELHICE

Guardamos os cacos
da vida
a naftalina
a poeira dos móveis
a velhice,
que dói embalar.

DIANTE DO ESPELHO


diante do espelho
visto
minha sombra


diante do espelho
Sou outro
que olha


diante do espelho
aquela sombra
mais um dia

Até de noite

diante do espelho.

AMANTE

Volto
ao pouco sentimento
desta noite
sózinho
Vou
sem nada
como um jabuti
fugindo do tempo.

CIDADANIA

Minha liberdade
não me dá moradia
Nem roupas, ou alimento
nem vara de pescar

Minha liberdade
costura minha cidadania
na sola dos meus pés
Com a farsa dos direitos
e a obrigação dos deveres.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

POLVO

Por muito tempo
abracei um molusco
um polvo grande, gosmento
foi nogento.

Nogento
foi descobrir
que o polvo
é que me abraçava
todo tempo.

BARBARIDADES

A cada escolha que faço
assassino outras vidas
que não vou viver

dividido como sou
deixo as vidas por ai
ou as guardo
no fundo da gaveta

Isso é sedutor
o costume da poesia,
publicar um livro
e outras barbaridades.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CHAMAMENTO

Diante das sobras
só me cabe a luta
ancorado na utopia

Ser feliz com o pouco que conquisto
não perder já é um avanço
pra quem é cego a luz do nada

Se minha paz nunca existir
vai doer perder meu tudo
pois sonho com muito mais

Dói-me essa vida mar de rosas
disfarçada de sarau de praia
e de viver curando ressacas

Na minha militância por vitórias
Finjo que a vida ajuda o sonho
procurando um sol, nos fracassos

Repiso os caminhos antigos
procurando camaradas na solidão
pra se juntarem comigo

A história é luta
Não conjuga o verbo esquecer
Não serei esquecido vivo.

SEM PAZ NO SONO

A cricrilar, um grilo
afina o canto no meu sono
flertando com meu silêncio.

Merda!

NOVO INSTRUMENTO

Não passearei pelo céu da tua boca
manterei minha língua seca
No artesanato do teu corpo
Negro?
Vou criar meu melhor poema
Nos lençóis molhados
pelo seu peso morto
me deliciarei
como um clarinete na alvorada.

NÃO QUERO ESTAR MAIS TRISTE

Não quero estar mais triste
pro meu nariz, de poeira
há sempre outras cores
ou nenhumas.
No desejo que se quer nunca
não quero mais estar triste
me olhando
no outro.

POLIGAMIA

A poligamia é o desejo de uma mulher solitária que ama pedaços de homens.

BALADA NUM BAR DO CENTRO

Risos até as orelhas

penduricalhos imaginários

Celular ching ling, florido

opacos, rosas pink

Tiara nos cabelos, nem lisos, nem secos

Ela finge maturidade

atrás dos óculos da estação, riquezas

pra inteligêngia de rosto,

olhares de cobiça.

As roupas justas marcam o corpo,

batom vermelho nos lábios finos,

sem sensualidade.

O bar oferta alegria e prazer,

o som e a bebida, beleza

maior que a do corpo

entrega do corpo

Olhos vazios no teto

lágrimas até as orelhas

penduricalhos imaginários

repousam ao lado da cama

nas sextas.

CIDADE

Um casal se beijava

Outro pagava

Alguem resfriado

Outro sorria por nada

Uma mulher mancava

Um homem vendia paçocas

Tantos mais

pediam esmolas

pra fumar crack - fugir da cidade

bebiam cachaças - nariz escorrendo

executivos cegos - olhares mortos

palitavam os dentes e jogavam no chão

os restos pra muitos outros



O polvo dá seu abraço

aperto no povo

frio como esta noite

que escondem caladas

como o amanhã



Tumor coletivo

e uma balada na esquina.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

CRICRILANTE

Um grilo me atormentou à noite
debaixo da cama.

Cris!...Cris!...Cris!...

Tramando contra meus sonhos

Um grilo ecoava nas paredes
debaixo da minha cama

Cris!...Cris!...Cris!...


Suicidando-me de ruídos

Um grilo saltitante verde livre
debaixo da minha cama.

Cris!...Cris!...Cris!...

Um grilo cris - ta - lindo
me afogando em água represada

Cris!...Cris!...Cris!...

Na tina.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

PRISÃO DO AMOR IMPERFEITO

Cela 3/4 com grade na janela
lembranças, lembranças do tempo,
Some como sombra, defronte dela.

Atrás dela, presa comigo
esperanças, inventadas,
Num amor que te ponho
Sobre seu corpo, que pinga sal

É doce saber que nada muda
por ser bom
mas a verdade atrapalha
quem sonha com cela.

O sal do peito aprisionado
Na cela do amor que sofre
sublime, que não é,
Mas grande e imperfeito.

Some como sombra
na cela 3/4, de grades na janela.

O DRAMA DA MINHA CAMA

Vomito o que sinto
na minha falta de mimo
sob o cobertor quer não aquece,
o drama que imagino.

Dormindo e sonhando
pra crescer um pequeno amor
no tamanho que espero,
pois sonho a vida
a vida dos homens
que moram com os pés no chão.

Sonho que vens
quando encontrar o caminho,
Eu gritarei: Bem vinda!

Não sou dono do tempo
nem do vento, nem da bailarina,
sob uma dança onde
a verdade é construída.

Sei que vens
Ainda sem saber como chegar,
minha urgência não é pressa,
Pressa não é bom,
Te aguardo na janela.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

TARDE DEMAIS

Tarde de mar
Tarde de mar - surpresas
Tarde demais pra tudo.

VACAS

Nesses momentos de solidão
os ressentimentos pastam
como vacas famintas.

LAMBENDO AS MÁGOAS

O que me resta do sonho?
Coloco num poema raso
vaso
Que guardo mágoas
que de quando em quando
lambo.

SOBRE TOM

Para que não se esconda o sentimento ainda
e a admiração volte
solta a voz
outra voz
outra
sobre a voz.

NAO QUERO POESIA HOJE

Soluções de problemas
pedaços de escritas
cartas de longe
não quero poesia hoje
quero ficar quietinho na cama

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

HOMEM DE BRONZE

Em frente ao mar
de costas pra ele
havia um homem de bronze
sentado em um banco
com os punhos fechados
que apoiavam o queixo
e o cotovelo furava a coxa
o pensamento pensava marés.

EU LUTAREI

Se meu amigo te namorar
Eu lutarei
Se voce namorar o meu amigo
Eu lutarei
Se voces se namorarem
Eu lutarei
Amigos inimigos conservarei
Eu lutarei
Se Marias, Adrianas, Alines,
Danielas, Robertas, Paulas, Cristinas...
Mulheres se forem lançadas,
a mim como flexas,
Eu lutarei
Eu lutarei
Eu lutarei
No porto da minha vida,
Sete velas, sete esperanças, sete mulheres,
Que cantam no mar que leva,
Aportarei outras, marulhado prisioneiro,
preso ao mastro humilhado,
como coisa de oceano,
entre sóis indecisos,
sensuais e sedutores.
Eu lutarei

AMOR AMIGO

Ontem tive meus orgasmos
hoje estou enamorado
amanhã estarei em pânico

Sempre guardo o coração no bolso
E deixo 100,00 na cômoda
sempre náufrago de mim mesmo

Não tenho limites
tudo é intenso
excesso de amor e ódio

Meu amor é meu amigo
dentro de mim meu inimigo
sempre só... sempre só...

DEIXANDO LIMPO

Lágrimas que choram pra dentro

Enxugo com cataventos

Enxugo em volta e nos cantos

Enxugo e seco a aventura

Enxugo pra espantar os fantasmas

Que me assombrarão para sempre.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

PIAO

O sol queima
os pensamentos
eu no piâo
pensando como andorinha.

PASSARINHEIROS

Um passarinho
sobe a gaiola
pra cantar pra seu dono
passarinheiros tramam em revoada.

VOANDO

Enquanto a gaiola
não abre
eu sonho com um red bull.

PALAVRA DE DEUS

Um pastor orava
pra eu amar a Deus
 e deixá-lo entrar na minha vida.
Pra não ser infiel a voce
Não deixei.

CARTEIRO

Tenho que agarrar um carteiro
senão minhas cartas não recebo
De quem?
Não sei.
Sei que algum dia alguem me escreve.

VIDA

Aqui se cultua tanto a vida
que se esquecem da morte,
porisso morrem de medo.

CELA 59

Deitado na pedra
na pedra pensando
entre grades
entre nós e
entre nós
a pedra calada.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Quem?

Quem já fez covardias?: Ninguém
Todos os que conheço são heróis.

Quem já parasitou em algum momento? Ninguém
Todos os que conheço são ativos.

Quem já foi grotesco, mesquinho e egoísta? Ninguém
Todos os que conheço são lindos, solidários e companheiros.

Quem já chorou de amor e mêdo? Ninguém
Todos os que conheço são racionais e corajosos.

Quem já foi pobre, comeu pão com banana? Ninguém
Todos os que conheço são ricos e comem caviar

Quem já foi súdito e ridículo? Ninguém
Todos os que conheço são monarcas e politicamente corretos

Que mulher não procura um príncipe? Nenhuma
Todas as que conheço, amam despretenciosamente

Estou a procura de gente
Tomara eu ouça amor numa voz humana.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

MUDANÇAS

Já fui capitalista
trabalhei pra ter meu quinhão

Já estive Marxista
Lutei pelo quinhão do Estado

Cresci - melhorei

Hoje não me maltrato
nem maltrato ninguém

Acho que estou anarquista
Ainda só. Mais vai mudar,
como muda tudo,
o tempo todo.

MOVIMENTAÇÃO DE UM DIA BOBO

Um peixe nadava
na lama da chuva.
Naquela tarde
meninas trabalhavam
ouvindo Amie Winehouse,
No...No...No

O que estou fazendo aqui?

BANANAS

Fui gostar de voce
pra me odiar
e te chatear.

- Agora. Só mesmo comendo bananas.

EX NAMORADA

Quando ela me mostrou a vagina
com 18 anos, eu com 50
e disse: Isso é amor!

Meu pensamento riu,rsrsrsrsr
dos meus olhos sedentos em jejum.

Ela não sabia no corpo a diferença
entre outono e primavera.
Mesmo assim sou feliz.

Quando posso visito a vagina dela.

A VIDA DA GENTE

A família
Amém

A escola
amém

Ao trabalho
amém

As teorias prenhas
amém

A militância
amém

As transformações
amém

As mulheres do sexo,
Bem...Mandam bem.

HUMHUM HAMHAM

Falava com ela por horas a fio
e ela: HumHum HamHam
Como um bebê descobrindo as palavras
Foi de certo modo bom,
Ah se ela tivaesse me dado ouvidos!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

JURAS

Esse amor despedaçado
pote quebrado em cacos,
é um mergulho interior
no que havia lá dentro.

Castelos de areia, da infância,
reprojetado no amor,
Nele felicidade é metáfora,
e as alegorias, nossas juras.

Juro que te amo
Juro felicidade
Juro pra todo o sempre,
Juro de verdade

Com tantos juros
Quanto irá me custar?

CONDOR

Se estiver muito sol amanhã
e da prisão eu bater asas,
depois d"amanhã estarei queimado,
asas derretidas em silêncio,
um torturado condor.

ME ESCREVE

Escreve para o Mandela
Escreve pra toda a terra,
Escreve pra Itanhaém,
Escreve pros seus amores, enfim,
Escreve pro pico dos Andes,
escreve também para mim
Cristina Naiara Fernandes.

SACO DE POESIA

Todas as batalhas
travadas com bolinhas de gude,
enchem um saco de poesia.

Tudo que é sem eira nem beira,
sem valor de venda e compra,
como amor de esteira,
enchem um saco de poesia.

Todas as palavras, jogadas ao vento,
sem lenço e nem documento,
pisadas, mijadas, escarradas,
enchem um saco de poesia.

Tudo que é sem importância,
gente, coisas e estrelas,
iluminação de vagalume,
enchem um saco de poesia.

Minha vida, meus amores,
Tudo que é jogado no lixo
enchem um saco de poesia.

Tudo que a borboleta come


Tudo que meu amor rejeita
Sendo jovem, sendo velho,
enchem um saco de poesia.

Tudo que pode ser disputado
num jogo de amarelinha,
enche um saco de poesia.

CUXIXO

Disse-me um pássaro:
- Vá pela manhã, na sua primeira hora,
até o jardim.
- Lá vc encontrará todos os sorrisos de que precisas.
Assim como as Margaridas.

DEITA COMIGO SEMPRE

Que custa um abraço, um carinho?
Pra alguém que vc diz ter amado.
Por acidente te pisei a juba
Do leão que em vc descansa.

Da mentira que foi vivida e dita
que te custa?
Se nada mais existe
Rolar e dividir gemidos na cama
mesmo que te mentirinha.

AVENTURA

Menina passando,
o tempo,
a toa.


Trepando,
o tempo
avoa

Como gaivota
boba

Menina amando,
um velho
sem tempo

Trepando
vem de fora
vem de dentro

Como chuva
debaixo pra cima

Molhando a menina,
vagina.

sábado, 8 de outubro de 2011

MEU ANIVERSÁRIO PRESO

Junho de espera
Junho de tormenta
que sussura a liberdade
e abre portas

Junho inventado
passado no calendário
Junho amarrado
tatuado no corpo

Junho te vigio
cada vez mais velho
sopro-me as velas
faço meu pedido calado.

SAUDOSISMO

Quando jovem ia a todos os lugares
Agora todos os lugares estão em mim
Meu canto é espinhoso, os poemas são muitos,
Hoje só faço comprar flores para meu descanso.


SIDNEY NUNES

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

MORTE

A morte
mora comigo
como um rio
de água gelada

A morte
conduz minha mão
e a caneta congela

A morte
ronda a rima
e lhe dá calafrios

Aceitar a morte
é um aprendizado
de pensar palavras
aquecidas a sete palmos

A morte
entendo: rimas
versos em poemas
que se transformam

Poemas que permanecem
como um corpo cinza
ou putrefato

Onde germes festejam
a vida.

NOVO VELHO TEMPO

Goles de tequila
estasy de alegria.

A era da imagem
ficctícias são,
viagens

Os e-mails nos prendem
com meias palavras
comidas

E no movimento repetitivo
o tempo se diverte
com a nova gente envelhecida.

BALADA

Som forte eletrônico
cabeças e azaração

início da repetição histórica,
roçar,
pênis com bunda,

Sempre tão geração.

PESO DA VIDA

Nos lençóis do tempo
suo meus desejos

Hoje, durmo com o mundo

E todas as noites
- mais do que meu gozo -
pesa-me o corpo do outro.

INSETOS

As cigarras entoam suas canções
não escutam ninguém
As formigas enchem suas despensas,
as baratas fazem a ceia no natal,
gente morre todo dia
eterno movimento da vida.
Morte, onde está tua vitória?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

REVIVENDO

O sol
dá luz
Alua
nasce
de noite
amanhecerei
de novo?
só se o sol
sobreviver
quase...quase...
então
reviverei.

SOU FRUTA

Uma jabuticaba, menina,
atrevida, aventureira,
meu delírio.

Talvez madura...
ou tenra,
eu suponho,
na cama de solteiro.

Acontece...todas as noites

Ela vai - porque amanhece
será que lembrará
que sou fruta também?

AFOGADO

Finda a tarde
na horizontal.
O sol tomba suado,
mais um dia
de mercadoria

Lixo nas calçadas,
homens náufragos,
castelos de aguardente,
acordados,

afogados

No canavial
eu de passagem
navego

Ah! Ondas bravias
a envolver o mundo!
sonhos idealistas
montados

Marinheiro, só,
quase noite,vou,
remando num mundo míope,
eu, indignado.
Nenhum tsunami
aponta

só inércia, sem fim,

sigo só, contraditório.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

VÍCIO

Ama negro
mucama
bate o tambor
abre a janela
se coça
se estira
roça
bamba
tinhosa
suada
sonha com branco
te comendo
 de aipim, que,
suja de vícios
não sabe o que é!

AMOR LOUCO

Não pensei
que viveria
esse sufoco
amor
coisa de louco
muito e pouco
entre tapas
beijos e socos.

FOTO

No facebook
alguém comentou
uma foto

A foto
nem ligou
pro comentário

Foi a foto
que te imaginou ao lado

envelhecendo...envelhecendo
a foto.

TRAIÇÕES

Traições
não me incomodam mais
nada de novo
nas costas

Fico atento
como sempre
olhando as costas
esperando a nova facada.

FRAGMENTOS DE UM TEMPO

Tempo
que é tempo
passa

Fragmento
fragmento
fica

Eu e o fragmento
fazemos a vida
que o tempo
constrói

IMAGEM

A imagem
passa a ser aquilo
que voce quer

Voce desconhece
que faz aquilo
que a imagem quer.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

BOMBA

Sinto-me uma bomba
pronto pra explodir
de raiva, de ódio, de vergonha,
por viver num mundo de explorados
poetizando gente, rimando coisas.

RUÍDOS

Sou feliz preferindo-me morto
corpo mudo, surdo em paz
mudo como minhas pernas
procurando um caminho
surdo como uma ostra
que só ouve as ondas
em paz como as cigarras
que gritam nas árvores
rememorando tudo, sobretudo,
o som que vem do mundo
que cai levanta.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

VOU PRA BALADA

A noite vou pra balada
meter com algum folgado
depois de duas doses
com quem em mim encosta
em algum motel
fudendo-me pelas costas
fode, lambe e dorme
na boca afoga o pau
sou submissa, contente
meu homem com fome
não sei quem é nem a cor
nem sei seu nome.

SEM VERGONHA

Adolescente
se afirmava
sem vergonha
dos caras
dava...dava...dava...
toda festa
chupava
tomava
vara.

Lá no Rio de Janeiro
mora um punheteiro
cassete grande, liso
como ela gosta - fica
põe na garganta o narciso.

ESPERMA E RIMA

Um desejo sem gemido
num lençol
nem grosso nem fino
sol colostro

Tudo é cama
livre libido
esperma e rima

O verso é bom
quando combina
com gozo e vômito

No que dá
um frenético suor
nesse desejo sem lugar?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ANDARILHOS

Os Kms percorridos por um andarilho não o fazem um herói.
Os gritos anônimos nos interiores das casas de crianças,
não silenciam os mares ainda.
Continuamos revirando as latas de lixo à sinfonia da barriga.
Os soldados continuarão marchando comemorando
suas vitórias, ao som dos coturnos, agitando bandeiras.
Andarilhos não podem andar só, não podem andar só,
As armas e os tanques não trazem alimentos,
a farinha da pólvora não tem um bom cheiro.
A côr do sangue do andarilho também é vermelho
Como poderemos viver vivos, fingindo não enxergar?
Andarilhos não podem andar só, não podem andar só.

domingo, 7 de novembro de 2010

MORTE

De amor foi semente
crescida
ira e ódio - a vida
escolheu não morrer
de morte matada
morreu morrida.

NOITE

A noite
um óvulo passeia por mim
de manhâ se vai
vai e volta
a galope
pra lutar minhas lutas.

FILME

Jabuticaba foi ao cinema
ver um filme de ficção
estória de um alazão negro
que namorava um poema

namorava porque era poeta
residia na parte esquerda da lua
poema, desses que lutam lutas pequenas

Jabuticaba ficou triste
com aquela estória de amor
Insiste sempre com a lua:
- Amanheça por favor!

BARBIE

Voce me barbie
eu todo me barbeasse
a pé
todas as barberagens
sobre os lençóis cor de morangos,
onde
sim - sorrindo
eu bobeasse.

NÃO ENTENDO GAROTAS

Não entendo
mesmo
garotas jovens.
Nós as amamos
idosamente
e elas se vão
sem mais nem menos
como se entre nós
nunca tivessem
existido baladas.

REFLEXÃO

Tudo que faço
altera os fatos
um caroço de azeitona
não me basta no prato.

IDÉIAS

Uma lâmpada
na cabeça.
O cérebro
também quer pensar.

AFRONTA

Dia
sem por de sol
desanoitece
no escuro
na noite, quase

Dia em si
na linha reta do horizonte
transborda de indignação
fuzis ou lua
que, enfim te afronte.

SUICÍDIO

Muitos rios afogados
embebedam meus caminhos,
hei de morar noutro lugar.
Brinco de amarrar o lençol no pescoço
pra ir me estrangulando aos poucos.

PERGUNTAS

Vivo pra perguntar
Há algo além do que foi, do que é, do que sempre será?
Soube que sim, que tudo muda a todo momento, cada segundo,
momento e maçã.
Não é demasiadamente pesado o fardo do conhecimento
de que tudo é definitivo?
Soube que de tanto, ver, viver, conhecer, há muito caminho
a percorrer e muito a saber.
Devo crer nos dedos que me apontam a vida?

ADOLESCENCIA

Daqui a pouco
deixo a adolescência, ainda,
não cheguei aos oitenta.
Não beberei como hoje
tentarei ser como papai,
farei direito
darei o diploma
para os sonhos de mamãe
casarei com uma mulher virtuosa
não farei filhos nela
Ela? Não sei...criarei.

SEGUNDA

Segunda
uma borboleta
voava
tão colorida
que dava
pra por
na salada.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SER

Ser mais infectado que a selva
esterco que cobre o chão,
o jumento confuso
esbraveja, não agrega,
não comunica ninguém.

JARDIM

Sampa travestida de Ipês
torres decadentes impiedosas,
vanguardas angustiadas de lírios
passeiam em seus jardins,
enquanto em Brasília,
as espadas de São Jorge e bromélias,
sufocam as flores do campo.
As rosas sâo uma ilusão,
mas precisamos dessa primavera,
depois de outonos tão tristes?

ESPELHO

Tudo tão cotidiano
que inclui também
eu.

Tudo tão eu
que inclui também
nós.

Tudo tão frágil
que não possa quebrar
vidro.

Tudo tão reflexivo
quanto eu, nós, vidros,
no espelho.

ME ACABO

Um pênis erecto
imagina
que uma vagina
sovina
só se preenche
não sente

Com meu dedo eu afirmo
a lingua fala sempre
diante do gozo
eu babo
nesse poema
que acabo.

EU

Me transformo
em mim mesmo
depois dos 40.
Ainda confundo
harmonia
com este incômodo
que vivo.

SONHOBOBO

Quero acordar revolucionário,
um guerrilheiro bastardo,
Como um Chê cubano - charuto
gritando:
Viva a revolução! Depois,
morrer de dengue
na Amazônia.

NEO GERA-AÇÃO

Meu coquetel Molotov
fiz numa garrafa
De Moet Chandon,
sou um revolucionário Chic
que lançara chamas
nos olhos azuis da terra.

MORADIA

Eu faço minha moradia

Comecei com o desejo,
depois dei nome pra rua
com placa dependurada
na ponta do meu fuzil,
no choro, na morte na escuridão

Grupo, massa, luta,
eram uma fábula,
valiam-se mais do discurso,
e como as marés,
se moviam pra morrer se preciso.

E assim o dia chegou
juntaram-se muitos e muitos.
Na rua fincara-se em mutirão,
nessa noite chorei.

Janelas surgiram pra apreciar
o amanhã
Todos fazendo o dia juntos,
as mãos calejadas, o choro torturado,

A construção subia,
eu podia agarrar meu desejo,
que sorria de contentamento.

Das sobras dos sarrafos,
fiz cruzes pra aqueles que morreram,
que não veriam suas moradias,
sem portas, paredes rachadas, sem memórias

Era por eles que o desejo persistia:
portas perdidas, abrigos sem fundação,
sem vida.

O desejo do alto das janelas
se edificava nos nos rostos da vizinhança.