sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PÉROLA

Uns tantos,
outros nem,
sobre a areia.

De onde veio?

Empurrada pela maré,
me olhava,
negra de brilho.

Gaivotas e Marlins, cuspiram?

Ela brilhava, o coração batia,
qualquer olhar
para mim é ouro.

Tantos, nem,
ontem,
fui um deles.

O amor trabalha de muitas maneiras.

A MORTE

Morrer
é estar enrugado como um maracujá
cheio de doçura e sementes férteis,

o processo
é ser doce e tolerante,
crescer e alimentar o mundo,

nem todo gozo jazz
num prazer futuro.

Esse futuro não nos pertence,
pertence ao outro, desconhecido,
que fez por você.

Funcional, funcionário, flor ou espinho?

Na lógica formal,
nascemos para morrer.

Só.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

MEMÓRIAS


Você voltou, eu ainda estava
cheio de esperanças.
O hoje?
Correndo atrás do amanhã.

Puxei pela memória,
os nossos momentos,
cada lembrança, com muito cuidado,
com carinho; uma a uma,

com elas fiz um colar de lágrimas,
de todas as alegrias e tristezas,
brigas e reconciliações, fechei o fecho
no pescoço. Um princípio de enforcamento.

SOMBRAS


Meu coração cheio de maresia
chora muitas lágrimas salgadas,
que no convívio diário disfarço,
faço carinhos e até sou sorrisos,
na minha cama quando dou forma as sombras,
mas com medo, cantando sozinho Caetano,
as sombras me machucam.

ORQUÍDEA


Gosto de flores
são tão frágeis
duram o tempo
que dura o amor.

Duram pouco.

Se você fosse
amigas delas
talvez as orquídeas
lhe caíssem bem.

MENINA DOS OLHOS


Quanta beleza
me mostra a menina
quando ela passa,
mesmo em fração de segundos,

Teu olhar me basta
nas imagens; olhar de meninas...
me acalmam, me sugerem...
Cristina.

O QUE SERÁ QUE SERÁ.


Não parei no meio,
nem existe meia,
ela é toda,
toda poesia e ponto.

Mas como?

Nem comecei
rima por rima
rima é rima
na poesia.

Senão valem
as metáforas
que lhe dão asas,
o que será?

OBSCENIDADES

Por onde eu roce,
orelhas, pescoço, seios,
bundas, coxas e bocas,
haverá de se molhar,

Por onde eu toque,
em cima, entre, embaixo
não haverá promessas,
só um monte de surpresas,

Por onde eu beije
ou a língua toque,
haverá uma revolução,
com possíveis liberdades

CAVERNAS


Lábios, labirintos,
grande, falange,
seiva, sede,
pênis, ereto,
o caule, a flor,
lenta, mente
a vontade,
entreaberta.

ARMADILHAS

Excita-me vaginas molhadas,
num corpo cheio de formas que expressa
aos gritos em meio ao silêncio,
seu gozo matinal,

Excita-me vaginas coloridas,
grutas entrecoxas,
pensadas, descompensadas,
em seus mistérios silenciosos,

Mistérios que vou sorvendo,
com boca e língua faminta,
uma singela refeição, uma armadilha,
um laço que me aprisiona.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

BOTÕES DE ROSAS

No mundo as flores florescem a terra
para ornar os túmulos dos homens e das crianças,

gerações em fila levantam muros,
um depois do outro para que a separação implore,

aos negros, brancos, vermelhos e amarelos,
que acumulam e fazem silêncio,

silêncio de heróis mortos vivos,
exaltando liberdade e psicopatia,

No mundo as flores florescem a terra,
a primavera está abrindo botões de rosas e girassóis.

O BERÇO

Fiquei de mal com Deus a muito tempo,
meus demônios assassinaram meus anjos,
perdi a infância e as asas brancas,

ouvindo teorias prenhas, nas orações
onde nasciam realidades mortas,
sem que eu pudesse sentir ou questionar,

Ainda ouço cantigas de ninar,
uma vontade grande de voar,
mas o mundo continua a balançar meu berço.

ABRAÇOS

Quando os tentáculos me envolvem
todo fim de tarde chega a noite,
sinto a saudade de quando sabia nadar,

Não dou mais braçadas desordenadas,
não sinto mais as transformações do tempo,
tudo é tão mesmo que a mesmice afogou,

Óh meu polvo!
Perdi a memória apertado por seus abraços,
agora sou um Marlin cor de rosa.

QUESTÃO DE SEDE

Depois que comprei meu celular,
um tênis e uma moto,
enterrei minha cabeça de avestruz
num aparelho de TV de 42 polegadas.
Minha vida? Vai virando suco.


JD. UMARIZAL


O medo anda pelas ruas do Jd. Umarizal,

Companheiro das noites mal dormidas.

Entra no mercado, sai pelo posto de gasolina,

Vestindo todos os corpos.

 

Lá a infância morre cedo,

O medo envelhece todos os dias

Molhando de lágrimas as noites,

das mães com insônia.


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

DESERTOS

são ecos num vácuo,
um espaço de oceano seco,

fiquemos atentos aos silêncios
desses ecos vácuos, que não podem ser ouvidos,

são indícios, de solidão, inquietação,
que florescem em terra seca,

na aridez as coisas também mudam,
basta enterrar um casulo, até geminar borboletas.

INCONTROLÁVEL

Benvinda todas as utopias
cheias de impossibilidades
do que a ordem de todas as coisas
e do progresso que me afasta de mim,
enfezado, mal cheiroso, não ficarei,
mesmo a sete palmos de terra.

ÁGUA CORRENTE

Nas margens que oprimem o rio,
eu plantava rosas, em minutos de felicidade,
lembrando do dia em que ele fora
e que também eu era.

BRINCANDO NA CHUVA

O rosto sorria com o carinho das gotas,
os pingos encharcavam as meninas,
cantavam aos ouvidos,

na calçada, a água corria...eu esperava
a chuva se despedir, desse encontro
inesperado, umedecido...

minhas meninas não podiam ver,
mas a sensação era única...
eu afogando em criancices.

MAREANDO

O antes navega no depois
num rio de cicatrizes, entre fendas,
desaguando sempre no mar,

desenhando a forma do hoje
afogada pelas margens, majestoso
instante de um braço de oceano.

MILITÂNCIA

Não para nunca a militância,
na voz tensa, um grito,
na gagueira do pensar
teorias prenhas de não pensar,

as utopias são possibilidades, somente,
que se expressam sós ou coletivas,
ânsias angustiosas, alimentadas,
pelas contradições de gente humana,

batalhão de quixotes confinados, entremitos,
heróis na realidade urbana,
em equilíbrio, em cordas bambas,
retardos inquietantes que traduzem um momento,

Nesse vai e vem oceânico,
geminando a miopia do presente,
entrebandeiras e ecos,
reescrevem uma existência.

ANDARILHO

Homens, alguns,
vivem a subjetividade,

voam por vários lugares,
imaginam-se passarinhos,

são heróis, são bandidos,
ainda amam fazer sexo,

nessa vida vaga,
tudo existe, tudo pode,

tudo feito,
sem ir a lugar nenhum,

imóveis, observam,
as paisagens - casulos e borboletas.

AMÉM

Sendo você sua pedra no caminho,
á água afoga e o mundo molha seus pés,
água mole em pedra dura,

São seus, só seus, os dias de ontem,
por esse chão que tropeçou, foi ultrapassado;
Vai continuar a comer nuvens com açucar?

Se for assim, que assim seja... amém.

TECELÃO DE NUVENS

A rua racha calcanhares,
a noite é uma psicopata,
onde caminham os ausentes,

Depois do longo caminho
em busca do ofício: tecelão de nuvens,
só lhe resta voltar a nado,

Razão - Tédio - Espanto?
Somente um credo na boca
grita seu caos.

QUASE LÁ

A poesia da rua
pede um livro para morar,
sozinho habita a calçada,
sem rima, institucionalizada.

Sapatos sambam paralelepípedos,
escorregadios e míopes,
entreversos, sem páginas,

A dança começa, baco aparece,
a buzina alerta: Lá vem a quentinha!
De todos os dias. Morre o poeta,

que me alimentou a existência,
eu escarrada, pisada,
poesia da palavra infeliz.



O GATO COMEU

Derrubadas as utopias,
as consciências pisam o chão, resistimos,
bebendo coca-cola e comendo hamburgueres,

Marx se masturba no caixão,
Lenin não faz o soviete,
nem Trotsky goza na cama,

Mijamos na foto dos eleitos, mas,
homens de azul e vermelho,
ainda montam nossas mulatas,

O verde e amarelo não sai do lugar,
evoluindo na horinzontal,
pipocando esperma e carnaval,

Todos ficamos míopes,
palhaços dão piruetas na história,
pássaros defecam, tiriricas sem cabeça,

Cadê o futuro?
O gato comeu.

JAZZ BRASIL

Ouço falar de paz
pelos dois ouvidos,
surdo é meu coração,

Não como alfafa ou alface,
são coisas que não amadurecem,

meu verbo é fazer.

Sempre recebi conselhos de passarinho,
dizendo que meu real é uma fábula,

me recuso a ser um cavalo.

Me recuso a morrer,
para nunca perder a rima,

que nunca devo esquecer,

Que tomates e folhas de rúcula,
são minhas cores portuguesas,

devo descer das nuvens?

Na lápide: aqui jaz o Brasil,
por Pedro Alvares Cabral,

não existem mais sereias, nem existem mais escamas.

Para a juventude de quem sou agora avô,
nem tudo é paraíso, nem tudo é um inferno,

todo nosso desespero começa da realidade, apenas.


SUICÍDIO

Acreditei em promessas,
em família feliz,
que o amor nasce eterno,
num mundo em um pelo outro,
agora adulto, só...
deixo o viaduto.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

UM MAR DE COISAS A DIZER


São Paulo, 20 de Novembro de 2018

 

Caro leitor:

UM MAR DE COISAS A DIZER

 

Veja bem! Espero que este lhe encontre com muita saúde e sensibilidade. Já vou contando um segredo: Ontem fui a praia e dei meu primeiro beijo, o nome dela é maré, uma perna de oceano. O mundo deve ter seus planos para mim; nada a fazer. O que também significa fazer algo de puro ou mundano, não acha?

 

Nesse vai e vem com ela; a maré cochichou no meu ouvido que veio acompanhada de uma onda, que veio para mudar e que tudo podia ser melhorado. Maré de utopia ou maré de lógica?


Não sei meu amigo, mas tudo a minha volta, cores, sons e natureza, fazem parte da vida, são meus fenômenos poéticos, sua essência está naquilo que se esconde nas aparências, o encanto e o fascínio estão nesse vai e vem de tudo, isso me impressiona, irrita-me as vezes e sem explicação ao menor toque, explode em rimas amorosas ou dolorosas.
Será que tenho mais prazer, amo com mais violência, odeio com mais paixão que os outros?
Duvido que aja alguém que possa enxugar o oceano para ficar mais próximo do horizonte. Somente eu.

Cordialmente,

                                                        O poeta

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

DECLARAÇÃO DE SAUDADE

Declaro,
as ironias e perguntas,
Daniela,

Das lágrimas de vinho,
ficam as saudades...
Mais tarde,

Num canto das minhas memórias,
de milhares de segundos atrás,
dos palhaços, entre outros personagens,

Meu corpo veste penas, num voo
frenético, meu pênis molha o lençol,
nesse pensar ácido, laço,

Ao meu tímido medo,
rimo e falo: Ei medo!
Com medo me calo,

Fujo batendo asas,
sem avançar, enfrentando sol e chuva,
preso a correntes de lama,

Isso não! Amor é valor,
pão e circo, nós amando,
sem fechar negócio, ainda não,

O tempo foi se esvaindo,
para esse homem novo vestido de velho,
cheio de saudades no gargalo,

Nosso amor? Feito, desprezo, adormecido,
degustando as lembranças,
a merda foi devorando.

AMARÉ

No mar do amor
não nado, navego.

Nadar esse oceano,
é se afogar, ou voar.

Navegar é medir a remada,
deitada ou possuída.

No mar do amor,
se bebe água salgada.

Nadando ou navegando,
sempre veremos um horizonte insano.

Nunca mais seremos os mesmos.


HORA DO ESPANTO

Todos os moralistas tem cheiro
de água sanitária. Ah!
Se o cheiro for de lavanda,
desconfie.

O singelo é mais perigoso.

Deixemos o pensamento navegar,
esse mar heresia,
antes que o coração naufrague;
e afogue esse espanto.

MELHOR PENSAR OUTRAS COISAS

O passado me espiona,
eu fico espiando
com minha inconformidade eterna,
os absurdos irresistíveis da vida.

Sou portador de todas as patologias,
tenho uma pílula para cada hora do dia
que nunca curam nada, nem pagam as contas,
mas me deixam com cara de carnaval.

Será que passado tudo,
meu presente vai assegurar,
que manga com leite ainda é veneno?
Que fantasma só é, se estiver bem trajado?

Ah! Essas heranças culturais
que acompanham nossas caminhadas,
como cegos tateando bengalas,
melhor dormir e sonhar com outras coisas.

VÃOS

Te mando abraços
que não envelhecem,
atravessam o tempo
apesar dos conflitos,

lembro dos teus sorrisos,
que tornam essa horas e alegres
que a essa hora da noite, vão.

Vão por onde olho a vida,
expressão de sonhos e saudades,
sensações gratas, fogueira,
que queima inocências e poemas.

Tenho buracos no peito.

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

SAUDOSISMO

Olhando as fotos de outrora,
afirmo: Eu era lindo!
Não sabia que casaria cinco vezes,
que seria pai por três vezes,
que tudo se acabaria, mas,
estou feliz por não ter morrido antes.

UM DIA ATRÁS DO OUTRO

Anteontem tudo era
só love, silêncio e beijos,
tudo atrás, na frente, entre,
o mundo parecia grávido.
Hoje soube que foi encontrada,
largada no meio fio,
dividida em partes iguais
regada a garrafas de corote.

PRISIONEIROS

Na Av. São João, em Sampa,
os assaltos começam cedo
na Duque de Caxias, e,
vai se ampliando para a Santa Efigênia,
até o Largo do Paissandu só sossega
na Rua direita e aumenta na Praça da Sé
quando chega em você já estamos presos.

FRANGO DE VITRINE

Na avenida Paulista,
desfila uma adolescente
que nunca passou fome
por um frango de padaria,
que se bronzeia todos os domingos,
para os olhos de um assalariado
cheio de carnês das Casas Bahia.
Ela desfila, o frango se expõe,
ele caminha pelo centro financeiro,
sem grandes conflitos.

LI JUNG

Fazer poesia para uma japonesa,
crueldade com um poeta brasileiro.
Devo fechar os olhos?
Onde não se vê tantas metáforas
não se deve sonhar muito,
quem dirá engravidar a terra 
de negros japoneses.
Sempre ouvi dizer que as vaginas japonesas,
são na horizontal, lendas de curiosidade.
descobri que não é uma rodovia
somente uma viela em que marcamos
nosso primeiro encontro.

ASSIM SÃO AS COISAS...

Um jovem negro
assaltado por dois jovens brancos.
- Perdeu playboy! Perdeu Playboy.
Agridem o negro, chutam-lhe a virilha,
açoitam o negro, tatuam macaco.
Tudo é tão rápido, passa, o negro passa.
Bebo minhas cervejas, fumo um back,
vou dormir sem pesadelos.

ATEMPORAL

Tudo anda mais devagar,
dá tempo de acompanhar tartarugas.
Vou ao bar na Facul e olho as meninas,
lindas, gostosas desejosas e desejadas.
Penso: Só minhas fotos continuam jovens.
Sou enrugado e sem dinheiro.
Os jovens se vão, copular com certeza,
dava pra sentir cheiro de peixe no ar.
Um bêbado bate no balcão, e eu,
volto a minha triste realidade.

O MORTO

vejo um corpo jogado no chão,
olho suas roupas mortas, seus sapatos mortos,
um rosto tranquilo, sem ódio.
Me vejo matando o cigarro,
soprando sua alma no espaço,
para poluir lugar algum.
Isso acontece todo segundo,
morrer sozinho no chão da rua,
enquanto o mundo anda, come e ri.
Natural. Não é comigo!
Tudo se transforma a todo momento,
as novelas de hoje tem capítulos inéditos.

FRUTAS MADURANDO MORTAS

O que leva um homem...Eu...
a ficar observando frutas madurando,
mortas, ou,
plantas sedentas com folhas secas,
nos vasos, secando em vida?

Uma sobra de pó me olhava.

Lá fora a vida seguia,
o sol se divertia queimando neurônios.
Eu? Precisava dela, sem fazer perguntas,
somente prostituta, de sorriso falso,
amor falso, nada mais.

Olho-me no espelho, vejo rugas,
rosto manchado como as frutas,
madurando mortas, as bananas mortas,
as laranjas mortas e o manjericão,

eu e as pessoas da era das maçãs
não conseguimos o perdão do mundo,
pelas merdas que fizemos, ou, não.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

DESCONFIANÇA

Destino? devo seguir
ainda que alguém me atrapalhe,
com todas suas seduções,

Ilógicas trilhas,
festas de idéias
dançando outras lógicas,

Andarilho, em pleno vôo,
na paisagem fria
de muitos saberes,

Agora peixe de água fria,
nado um braço de rio,
à margem que me afoga.

AS VEZES

Na hipocrisia
a verdade
não se revela,

As vezes amarela,
como um sol quente
que queima e arde.

POESIA DE CERA

Meus pensamentos
desenham a imaginação,
nesse poema impuro,

invenções do tempo
das maçãs e desamores
com rimas,

rimas,
rimas, nas asas
de um Ícaro.

DESENCONTRO

Eu como estranhos
com fome,
não me reconheço,
nem me lembro,
nem procurarei
o que não guardei, pois,
se encontrar não saberei
o que é.

ELEIÇÃO

Luta
derrota
erros
excessos
silêncio
profundo
cachaça
festa
lixo
sol
desânimo
esquecimento
restos
do dia.

CAPITULAÇÃO

Eles não estão apenas errados,
aguardam a morte para continuarem inúteis,
por causa deles o mundo cede,
a esperança se eterniza,
o coração bate,
a cabeça resiste,
a vontade, armada,
corta as asas da utopia.

DEMÊNCIA

Rimas, aqui e ali,
inversos,
a fim de fazer poesia, ou,
pelo menos tentar,
nem uma coisa,
nem outra,
em vareios poéticos,
numa demência severina.

UM DIA NO SÍTIO

As formigas corriam sem roupa,
cogumelos nasciam sem fazer sexo,
as tartarugas não saíram de casa,
cipós disputavam espaços com teias,
enquanto as aranhas comiam moscas,
rãs e rios cantavam, e,
uma lesma fodia uma pedra.

O poeta alucinado molhado,
numa chuva que chovia em tudo
dialogava com a natureza viva.

COISAS DE CRIANÇA

Mamão macho?
Mamão fêmea?
É mesmo o mesmo mamão?
Como nascerão os mamãozinhos, então?

Essa estória é para depois do casamento.

BOCA DO LIXO

Uma caricatura com sardas
despiu-se atrás da lixeira.
No lixo uma banana passada.

Ela diz: Coisa feia!

Uma lixeira cheia de idéias
que defecava ainda,
com sua bunda limpa.

QUARTA PAREDE

Política é assim,
muitos personagens
no espetáculo da vida

vendem estórias
a muitas platéias.
Elas?
Silêncio... Palmas...

INCENTIVO

Estamos a sete palmos,
sete metros, sete salmos.
Tudo que começa finda,
sem luz no fundo do chão.
Eu digo:
Levanta-te e anda!

TUDO QUE NÃO QUERO

Eleito o coiso
ao mais alto posto,
posto sobre a miséria.

O coiso espreita,
a fome faminta
misteriosa e servil

Na paisagem divina,
um Deus cego de ódio
em nome da justiça

Mais uma vez
os anjos fazem das suas,
tudo que não quero.

LÁPIDES VIVAS

Derrotados os miseráveis,
os vencedores forjam
grilhões e masmorras,
descamisam dorsos,
expõem açoites, rasgos.
A poesia sem rima,
abre bocas sem línguas
e as mãos decepadas.

AHHHHH!

Há vida depois do fim,
para os crentes na caverna.
Tudo é possível, para quem acredita,
que nasceu do barro e uma costela,
entre achismos há muita ciência.

CORREDOR

Caminho traçado, conta o tempo,
que é um fundista,
alcançá-lo é impossível.
Quem corre nem sempre chega ao fim,
quem passa, passou.
A corrida é para todos,
quem amou ainda sofre
e amaldiçoa cada paixão,
sempre em busca da chegada.

EU CONTO

Não nasci de um ovo,
isto é certo.
 Devo ter família.
Não tenho essa coisa genealógica,
na minha lógica não existem raízes,
ando com meus próprios pés, e,
me envergando para não quebrar,
vivo num conto, com começo, meio e fim.

ILÓGICO

Coloquei os pés
sobre o travesseiro,
troquei os pés
pelas mãos,
dormi sem lógica.
Acordei com os gritos
do relógio,
com a sensação de estar
acordando outro.

BURACO DE FECHADURA

Quem olha pelo
buraco
algum ponto ou fim

o outro pelo buraco,

do fundo você é
olhado,
ponto final.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

ORQUESTRA

Sobre um comando
uma mão comandada
do fundo de uma empresa,
patentes, baquetas, regidas,
num chão que gira
sobre o próprio eixo.
Bah! Um piano, uma tuba,
humana-mente que avança,
quando a orquestra passa.

SOMBRAS

Desejo diante deste sol
a pino,
esconder-me debaixo de uma
jabuticabeira,
entre os frutos e os projéteis
da repressão.
Á espreita as fardas,
de olhos avermelhados,
nesse deserto
mais doloroso que a sombra.

INSANAS MAÇÃS

Depois do lacre das urnas,
vesti minha pele de lobo.
Na cidade entre os postes,
diálogos ignorantes, confusos,
sobre competências.
Que tempo é esse de tanta ficção,
super heróis e falsa moral?
O tempo enruga tudo que é singelo,
docilidade voando.
Não se ama mais,
o outro é outra coisa.
As pessoas maduram mortas,
como frutas numa fruteira.
tempos de insanas maçãs.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

PASSANDO DO PONTO

Todo político é um cômico,
fabricando tiriricas.
Anarquia é meu modo de vida,
arranhado de anjos, Deuses, e,
pitangas nas quitandas,
cerveja no quintal,
picanha na churrasqueira
eu passando do ponto.

PALATO DA MÚSICA

Na cozinha
frutas e legumes
agro pop,

As folhagens e cascas
mostram
seu frescor,

A polpa e o sumo
exalam
cheiro e natureza,

Charmosas e tenras
maduram
mortas,

Na fruteira
di versificadas
rimam músicas

NA FRENTE DA TV

Meu anjo tupiniquim
corre com a boca pintada
pelas ruas molhadas,

Meu coração paranóico
não para de bater
pelas pernas da tv,

Assim que ela desligar
com as coxas retesadas
já estarão gozadas,

Ficarão as legendas
os dias e as noites,
nos meus sonhos, meus pedaços.

TODO GATO É PARDO

Fruta de conde
socialista não come,

numa cidade há limites
com desertos na boca,

flores, fuzis,
sonhos, cruz na corcunda,

chibatadas anunciam chuva,
enquanto corpos tombam a noite.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

CASEIRO

Na sala

tuas coxas roliças, nuas,

deitadas no sofá,

um arrepio, um abraço, veste meu corpo,

passa,

o tempo,

a noite na cama continua chorando.

DORMINDO ACORDADO

A manhã acorda laranjeira,
coloco meus dentes
de conflitos e contradições,
para devorar certezas,

Levanto-me com o barulho
dos cascos na calçada,
homens gritando como galos
que urubus vão devorar sonhos,

Escondo minhas utopias,
para onde é possível 
se sonhar junto,

Com gritos e cantos
que cantam para dentro,
adormeço, com a mesma
cruz nos ombros.

ADORMECENDO

Sempre foi comum
abraçar a barbárie,
a barbárie alheia.

Recolho-me agora
com todas minhas utopias,
frente a um deserto,

Humanos desumanos
que ainda são,
trajado de coisa

Como vagalume
vivo um lampião
diante das luzes de led.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

MEDO

A mordaça
tem dois lados, dois lados
de uma mesma boca.

Um está com medo
do que fala,
o outro resolveu
ter medo também.

TRISTEZAS

Tive tantos amores
nenhum pude guardar
um amor tão grande
que chamei de saudade.

Tenho tantas tristezas
tristezas guardadas
tristezas que não
deveria guardar.

Agora sou moço maduro
acabei-me de achar
vou procurar um novo amor
para mais tristezas guardar.

VAI CHOVER HOJE

A lua
a rua
você
nua.

A lua
a rua
gestando
um sol.

O sol
o dia
uma possibilidade
de chuva.

ENTREVISTA

- Como você consegue falar da miséria
com tanta propriedade?

Um gosto de pudim de leite
salivou dentro da boca.

- Porque nunca tive
comida na minha mesa!

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

EU ENTRE NÓS

Eu,
não me define,
sou maior do que eu,

I
em inglês sou menor,
money que é good não tenho,

Nós
é pouco ainda,
para desentupir avida.

DANDO UM TEMPO

O passado
não pode ser esquecido,
está no presente,

O presente
está sendo vivido,
inventando o futuro,

O futuro
está correndo,
senão a gente esquece,

O resto
são vida e morte,
movimento e imaginação.

VERDADES E MENTIRAS

As verdades são mentiras,
tem mentiras nas verdades
absolutas,

Não se opõem,
são verdadeiramente rebeldes.

CAMINHOS

A viela de baixo,
corre para a viela de cima,
em fuga e proteção

Por proteção,
elas descem e sobem,
das vielas para as ruas,

A rua é mobilidade,
esconderijo, outdoor,
das misérias sem sombra,

A vida?

Não existe
é apenas brincadeira,
para passar o tempo.


LÂMINA

Lâmina fálica,
nas mãos, na multidão,
cortam paredes, filetam palavras,
que divergem em si.

Todas as promessas
infinitas,
tem um começo breve.

ATENTADOS II

Atentados
são nada além
de atentados

sejam de faca,
sejam de bombas,

Atentados,
as vezes singelos,
outras, vermelhos ou azuis

ATENTADOS

Atentados começam no estômago,
o estômago então, atenta-se a fala,
a fala transforma-se em oratória,
recorrentes enchem o pensamento,
de pensamentos enchem-se as palavras,
as palavras buscam sentido,
o sentido remoe-se à espreita, a espreita, a faca,
corta a síntese do nada.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

ESPERO QUE ELA ME AME

Não é alta nem baixa,
uma atriz de teatro,
vestida bem colorida,
na fronte: Muitos mistérios.

Está sempre alta,
quando lhe colocam pra baixo,
arrogante mulher,
adolescente idosa.

Cabelos longos e negros,
gostava mais de carecas,
inclinada ao feminismo,
repleta de homens mortos.

Um pênis na mente,
as vezes dois, três,
ficava muito bem de brincos,
ladra de muitas paixões,

Espero que me ame algum dia.

TENTATIVAS

Despiu-se pela cabeça,
ficando só de calcinha
em forma de asa-delta
querendo voar pra bem longe,

acordou um pênis ereto,
pequeno mais brincalhão,
melhor que um grandão bobão,
mas fui de língua,

Tentei, falhei,
falhei, tentei,
cruzamos nossas meninas,
sua menina me olha,

Tentei...falhei...
até que a menina pariu,
comigo vivendo num pasto.

MERCADORIA

Procurei nas prateleiras,
a mulher mais aprasível,
haviam de todas as cores,
todos os sabores,

de louça, borracha, de plástico, de pedra,
a pedra levei pro caminho,
cheia de bocas e carinhos,
nada surpreendente,

Gostaria apenas de não me sentir tão sózinho.

MAIS VALIA

Longos cabelos negros,
lábios umedecidos,
molham quando se movem,

Por ela,
meus bagos chacoalham,
Caralho!

Seus seios,
saltam da camiseta,

São tenros,

as unhas pintadas,

a buceta raspada,
flora, floresta, mistérios,

Ela sabe ser muito gostosa,

Nas formas
a experiência,
uma aula,
um aprendizado frequente,

Gosto dela,
mas ela não inspira confiança,

Nunca tenho certeza de nada,

Ela me cobra cada centavo
por tudo aquilo que faz.

sábado, 4 de agosto de 2018

MULHERES DA MINHA VIDA

Todas as mulheres que tive
eram lindas, cruéis e rudes,
como serpentes que chicoteavam o chão,
singelas presas ferozes, meus anos
devoraram, envenenaram,
lindas coroas de espinhos.
Como uma ventania se foram,
frutos suculentos que deliciavam o paladar,
de uma árvore que não quebrava, porque envergava.
Lindas, amantes duras, como aço que não chorava,
em lágrimas que se afogavam em cada mar,
cada porto uma paixão.
Sou esse homem, macho solitário
que hoje lembra.

ENTARDECER

Minha vida, meu mar,
me leva, me afoga.
Nado, nado e nada,
amanheço com o galo,
queimo em sol ardente,
descanso com a lua,
minha paciência,
sempre entardecendo.

MINHA NATUREZA

Não vivo plenamente,
não aprendo com a natureza
professora do B a Bá,
a envergar como as árvores,
por isso quebro.

DESTINO?

Deus nada pode fazer por mim,
não tira as pedras dos meus caminhos,
por isso pulo amarelinha,
com minha efêmera porção homem,
cheia de escolhas, boas e ruins,
obstáculos com quais vivo,
minha vida severina.

terça-feira, 17 de julho de 2018

ARCO IRIS


Um dia seremos todas as raças,
Morenos como são as tardes,
Noturno, como é o futuro.

Eu tenho uma outra íris
Tenho outro olhar para o mundo
Tudo muito alegre e colorido.

Nem todo dia é quarta-feira
Nem todo dia é cinza
Basta chegar a noite.

Todo dia dou cores
Ao seu corpo e ausência,
100% humana é a vida.

PASSAGEIRA


Achei um amor
Dobrei com as pontas dos dedos,
Coloquei na palma da mão.

Fiquei olhando para ele
Como quem olha para
O horizonte,

Num pôr de sol
Em mar bravio,
Desconfiado do amanhã

Como a vida sonha,
Comovida, sendo
Paisagem passageira.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

FREI CANECA

De novo a Frei Caneca
de gole em gole
diante de meus olhos,
cheia de cidade, e ,
anjos de bocas pintadas,
unhas vermelhas,
Frei caneca, que bebe,
come, engole, chupa cospe,
a vida, como uma honesta gueixa,
que no escuro morre.

VÍRUS

Queria rimar
lost paradise
com jukebox
junky nights
mas tenho medo
de contaminar o verso.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

O LUGAR QUE EU QUERO PRA MIM...


Preciso de uma casinha lá em Marambaia,
sozinha no alto do morro, olhando o mar.
Preciso também de uma pessoa,
sei..sei...sei..., isso me diz
que muito mais vou precisar.

TRANSFORMAÇÃO


Espanta o ceticismo,
e a descrença no futuro.
Para que no futuro,
seja suficiente a comida à mesa
e a tv na sala de estar.

Alienado de baboseiras,
entorpecido de novidades,
cachorro atrás da coleira,
vai vivendo um tempo enrugado.


Não diga que já sabia,
se tudo lhe foi ensinado!
Abre os olhos e vê!
Se puder enxergar,
cerre os punhos,
e deixa o molotov aceso.

Não acredite no que falam:
Sempre foi assim, sempre será, amém.
Nenhuma mudança se faz sem sofrimento,
encara-o, seguro em silêncio,
ele é efêmero como a liberdade.

Não espere cair nada do céu,
dali só vem chuva, Dali é Dali,
Pintando um coração que não ama,
que bomba sangue e vida.
Anda consigo mesmo,
você é teu melhor companheiro.
Limpa bem tua casa, Dali olha,
namora tua mulata,
Derruba todos teus muros,
E também a imagem da virgem Maria.
Sua mente ainda está entorpecida,
banhando-se na piscina, por enquanto.
Rasga teus planos de burguês. Sê astuto
E se agarra nas maravilhas da luta,
À muito estão sendo germinadas,
Nessa nova etapa,
Espanta o ceticismo
E a descrença no futuro

terça-feira, 3 de julho de 2018

A REVOLUÇÃO DOS MORTOS VIVOS


Mortos vivos,
sufocados em necessidades,
enrugados pelo tempo.
Cinzas que infectam,
sorrisos e lágrimas em um trovão de brados,
depois do medo,
enquanto as hienas fogem
para Pasárgada.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

CONVERSA ÍNTIMA

Palavras, precisas?
Outras, novas,
nunca ditas,
antes ou nunca
antes ditas?
Palavras, precisas?
Germinam na fala,
batucam a boca,
dançam nas línguas.
Palavras, precisas?
Elas nunca adormecem.

BARATA MORTA

Na porta da minha casa,
havia uma barata morta,
não um gato, um cachorrinho, um passarinho,
pelos quais costumamos chorar.

Era uma barata morta,
sem hipocrisia, real,
morta, fria, jogada,
morte matada,
defronte a porta da minha casa.

ENTRE DEDOS

Sobre a grama da noite
estico os braços, abro as mãos,
por entre os dedos
vejo a imensidão do céu;
um quadro de constelações
nas encostas da lua,
que me sorri e excita.

As luzes me confundem
por entre os dedos, escorrem
na minha imaginação infantil,
cavalos, leões, touros, pássaros,
se escondem atrás da luz,
ficam as sombras,
na luz dos vagalumes.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

SEVERINAS

Não é bela,
nem é feia,
a morte nem tem gosto
de amargo ou doce,
Já à vida se lambuza,
mas mesmo a morte,
lhe arranca a vida.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

MINHA CAVERNA

Me olhei me vi morto,
na escuridão da caverna
onde o tempo não dança,
sem ritmo ou instantes,
gestando um ser a ser
em movimento para nascer,
quase nada,
esvaziado de feitos não feitos.
Amarras ou liberdade?
Caos na escuridão,
Para onde ir? Por quem vou?
Perdi a memória.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

MAR DE COISAS

Tudo a minha volta, cores, sons e formas da natureza e da vida, são fenômenos poéticos; e sua essência está naquilo que se esconde nessas aparências, o encanto e o fascínio está nesse movimento de tudo, isso impressiona, irrita e ao menor toque explode em rimas dolorosas, porque tenho mais prazer, amo com mais violência, odeio com mais paixão que outros.
Duvido que aja alguém que possa enxugar o oceano para ficar mais próximo do horizonte. Somente o meu eu poeta.

PULGAS E CARRAPATOS

Os políticos só pioraram,
hienas que devoram misérias,
pulgas e carrapatos se multiplicam
disputando todos os espaços,
a miséria vai secando,
nas cinzas que respiramos.

JANELAS

Meus olhos são janelas
abertas para o mundo,
na minha mente penetram,
o movimento, ativo olhar
dentro da paisagem no cérebro,
imagens intensas, ligeiras, filtradas,
processadas, esteiras,
morro só de pensar
que um dia deixarei de enxergar.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

GOTAS DE OCEANO

Gotas de oceano,
o mundo segue seu plano,
nada a fazer, significa fazer algo,
de puro ou mundano.

Nesse seu vai vem ,
tudo pode mudar, tudo pode ser melhorado,
pelas marés da utopia,
pelas marés da lógica.

Nova gente, gera-ação
novos planos repassados,
que as hienas engordarão,
com risos insaciáveis,

Sabemos que o que começa
já anuncia seu fim,
aquilo que agora termina agora recomeça,
nas ondas do "sempre foi assim",
nas ondas do "sempre será" com
a convicção do amém.

cada qual com suas vergonhas,
vou aqui ficando com as minhas
não vou mais falar de mar,
não vou mais falar de mulheres,

De que me serve a razão
se só a desrazão engorda?
De que me serve amor e Deus,
que só olham o tempo passar?

As crianças ainda nascem,
porque o amor palpita,
os poetas ainda respiram,
outros tipos de poesia,

Gotas de oceano,
que venham as tempestades,
pois onde agora estamos,
jamais estaremos novamente.

REFLEXO

Sinto que nada é tão útil,
como brincar e ajoelhar no milho,
nada inocente, nada tão mau,
mal do ridículo de soprar no espelho,
que nem olha para você,
nem o sopro passa por aqui,
reflexo distraído que engana,
as brincadeiras refletidas de verdade.

PAISAGEM

No topo do prédio mais alto,
olhava o descampado da cidade,
cheio de desprezo,
elevado um homem pior,
com a cabeça nas alturas
nada debaixo dos pés,
a não ser aquele espectro imundo
de misérias ligadas ao mundo,
a leitura dessas verdades
 me leva a ignorar as estrelas, e,
pisar nesse chão.

DESCOBERTA

Nada mais se cria,
tudo se repete
num extenso movimento sinoidal,
de erros e acertos
na vaidade das especulações.

Sentados ao pôr do sol,
bebendo água na fonte,
entreventos e folhas caídas,
pertubando a ignorância
vamos conhecendo a nós mesmos.


SOBRENATURAL

Entre as contradições,
a natureza se esvai
pouco a pouco,

desnaturalizada como ovo
frito, cozido,
choco,

triste ditadura
da fome, dentadura
em puro mecanismo.

SOPRO DA MORTE

Matei o tempo,
matei distâncias,
matei amores,
matei infância,
matei o homem,
morri velho,
minhas cinzas respiro.

A CAMINHO DO FIM

Minha humanidade cheia de certas errâncias,
viveu numa caverna, severa e severina,
esperando a morte porvir, morte lenta,
precisava de espaço e foi viajar além mundo.

MORTE ANUNCIADA

Meu olhar se perdia
naquele oceano imenso,
que acompanhava minha imagem
frágil e transitória,
findando numa estranha maré
que contava a minha estória,
numa ressaca cultural de vida,
vai e vem, início e fim,
num precioso segundo trincou-se o espelho,
morri.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

REPETIÇÃO

O novo não tem novidades,
os galos já não cantam às 05:00 hs,
agora eu tenho Iphone,

As galinhas ainda botam ovo,
ainda do mesmo jeito,
sentadas sob o poleiro,

A confusão jaz costumeira,
Deus e o diabo vivem na terra do sol,
em paz e guerra carnaval,

A caneta gritando:
Poesia...! Poesia...! Poesia...!

QUESTÃO MORAL

Uma lesma se arrasta,
nua, gozada, úmida,
entre as pernas de uma mesa,
lambendo nosso chão.
Já não basta cupins,
comendo o armário?

TIETÊ

Enterrei na marginal,
as margens, um braço do tietê,

Ser rio poluído é preciso prática,
começa com uma cusparada,

Comer pneus e sofás,
e outras coisas jogadas fora,

A vida fecunda, bundas,
moscas de bananas madurando mortas,

Nessa paisagem passeia o poeta afogado,
entre sapos coaxando, cada qual na sua cova,

Entremorto uma coroa de borboletas,
uma poesia sem calcinhas,

O cheiro desse poema,
banha nessas águas turvas.

PALAVRAS

Calar para que?
Para que calar?
Palavras querem fugir,
querem falar caladas,

palavras escravizadas,
são queixosas,
falam com força,
poéticas teimosas,

Palavras desejam,
recitam, ouçam e vejam,
aos pulos, sussurros,
desembocando num oásis.

RALO

Nenhum grito aqui ecoa,
entre confetes, cervejas e tiros,

amplo vácuo nesse silêncio fresco,
como uma falta, de tudo e nada,

som quieto, uniforme salta,
como ondulações em águas calmas,

Como tudo que vai, corre, esvai.

segunda-feira, 5 de março de 2018

VIDA E MORTE LUMPEN

A vida passa tão rápido...
passa...passa...passa...
Chega uma velhice tão jovem,
institucionalizada falece. Tudo efêmero,
nada real, tudo tão ficção.

Passeio entre Quixotes,
Ghandis e Marxs,
namorando Fridas Calos.
Calei-me. Minha lápide: Ninguém.

GESTOS

Tudo que começa termina,
como filhos de Deus e Diabo,
marionetes que olham e não vêem,
ovários e teias.

Armas que te pertencem,
mas cansam teu lombo,
Como usá-las em luta?

Ao nascer o gesto que se faça o gesto.

QUEM TEM OLHO GRANDE NÃO ENTRA NA CHINA

O Brasil morre, colocado de joelhos,
do Oiapoque ao Chui, olhando,
entre sorrisos falsos, cínicos,
chapéu de memorias, sonhando,

O lábio de cima, mostra os caninos,
o inferior, cortante como serras,
os superiores são ousados,
com punhos cerrados que apoiam o queixo,

Os olhos, inquietos, definitivos,
Um Brasil de futuro americano,

O olhar de quem olha é chinês.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

DIA DE SER CRIANÇA

A água chorava no telhado
a lua cerrava os olhos,
ainda nem são 07:00hs

quarto, sala, cozinha,
casa de magras coisas
onde passeiam lagartixas.

Da janela eu via o quadro,
com meus olhos de passarinho,
impaciente no ninho.

É manhã! Eu chateado?
Ninguém mexera comigo!
Devo me chatear? Eu não consigo.

Sem choro o sol parece um bicho preguiça,
descansando entre as nuvens.
Bora rimar!

De onde vem a coragem?
A coragem é que me alegra,
como criança a sujar papel em branco.

PERDA TOTAL

Eles queriam criar um roseiral vermelho,
sob estrelas brancas, azuis, verdes e amarelas,
Com foice e martelo fizeram cercas,
pintaram de verde, mas não vingaram.
Talvez pelos tucanos que vigiavam.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

COISAS QUE O POVO FALA

A sentença saiu. O Ex presidente Luis Inácio LULA da Silva, monta uma nova estratégia. Vamos começar, conscientizar as bases e fortalecer o partido. Quis começar neste ano, mas não há condições políticas para isso.
- Que Marx me perdoe!
A burguesia se aproximou, chegou bem pertinho, cochichou em seu ouvido e começou a comer suaus idéias, pedacinho por pedacinho...

MILITÂNCIA POÉTICA

Cai na real que nada é eterno,
fica com o germe do velho, que infecta,
um mundo em movimento,
não reto, não sinoidal, espiral,
que não finda, gesta,
eterna negação da negação,
são memórias solitárias,
sobre tudo, sobre nada,
em tempos de luta.

CRÔNICA DE UM MOLUSCO

Quando os trabalhadores deram à rua, as nuvens entraram em debate, o céu começou a chorar e a cidade ficou cinza. Nos sonhos do passado, submerso as esperanças construídas com luta. Tudo institucinalizou-se; então os velhos combatentes se cobriram com o lençol da sedução, onde os burgueses e políticos havim construído a codificação da vida cotidiana.

Nesta manhã veio a sentença, que aguardava velhos e novos trabalhadores, militantes e o povo. Como pode uma lula viva, viver fora d' agua fria? Là longe o surdo marcava o tempo e o repique anunciou:
- Tudo deixou de ser notícia e o carnaval chegou!

FILANTRÓPICO

Não ganho pão
com as palavras,
elas não sabem
o que são livros,
O que ganho com elas?
Só revelo nas páginas em branco,
ao sabor dos meus erros.

CRÔNICA DA RUGA

Rugas na rua,
no meio, entre,
a rua, becos, vielas,
grita!
Asfalto e brita,
cidade do avesso,
onde dorme,
onde morre,
o sol, a chuva e a noite.

ESPERANDO CRISTINA

De novo?
Desta vez,
vou te esperar deitado, pois,
de pé cansa.

PALAVRAS

Preso em pensamentos,
abrigado pela caverna errada,
onde vivem palavras escravas,
se obstina o silêncio,

Essa solidão patética,
com medo de afrontar,
negrume que turva os olhos,
míope para não enxergar,

Vozes para arranha - céus,
falas cortam o ar,
pingando água de côco,
limão, abacaxi, poesia - algodão,

garoada a palavra emerge,
do xicote que fere o cavalo,
relincha a memória antiga,
Desperta! Essa loucura imensa,

No ceu da boca, a palavra
é um pássaro azul,
cantando com duas asas,
frevando as pernas aos gritos,

As palavras da caverna errada,
colocam as vozes para fora,
exasperadas, zombeteiras, matreiras,
tagarelas já não recuam.

Quem sou eu?
Porque poderia interessar a alguém?
Sou um miserável poeta,
que come palito de dente,
que brinca de faz- de - contas,
as palavras - eu alguém
Não! Zé ninguém.

O BOM FILHO

Filho de uma bandeira
o homem tinha sido esculpido,
lá na infância, Zé ninguém,
numa terra obscura

Se embebedava de orvalhos,
onde girassóis comiam vagalumes,
as notícias lhe acobertavam do frio,
na face só a memória das moscas,

Filho que fora folha,
sendo desfolhado pelo vento,
por que bebeu mulher numa jarra,
nunca mais parou de pingar poesia,

Dos bolsos da calça, camisa, casaco
se viam vários buracos por onde
se olhavam as igrejas,
com olhar de negro branco,

tempo que a morte rondava,
grilos, cigarras no tapa,
indigestos sapos boi,
todos iguais aos olhos da lua,

O filho foi aprendendo a vida,
um ninguém na terra do nunca,
onde ningém não dava a mínima,
sózinho fazia rimas.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A MENINA DOS OLHOS AZUIS

Além dessas meninas azuis,
tem uma mulher singela,
dentro de uma menina bela,
que se chama Daniela,
mas se não houver lá alguém,
essa tal mulher Daniela
para além de suas meninas azuis,
quero minha utopia possível,
que haja uma mulher sincera,
na menina que você era,
guardada bem dentro delas.

PÉTALAS

Mal me quer... bem me quer...
jogadas ao vento,
 não tecem amores,

Mal me quer...bem me quer...
voando na paisagem
nem sabe quem são

Mal me quer...bem me quer...
suavemente pousam no chão,
há seus pés um romance.

ABORTAR

Quando o corpo, pote de gozo,
pari fruto com  caroço,
deixando tudo em alvoroço,
entre o colosso e o lodo,
não é possível lhe aparar as asas,
mas há como cortar-lhe o vôo,
para que o corpo daquele seu corpo
deite-se em nuvens azuis.

PEQUENO POETA

Não me acostumo a poemas longos,
sou poeta de paixões,
não faço poemas para casar,
boto a fila para andar,
porque atrás de mim vem rimas,
rimas são para dançar.

AS RUAS DA CIDADE

As ruas desta cidade
estão crescendo muito rápido,
filhas de corpo feito,
de varizes e estrias

Nas manhãs acordam adormecidas,
das noites dormidas cansadas,
homens, mulheres, não amam,
somente acasalam,

Tudo com preço e horário,
gente se escondendo da vida,
saem do anonimato
frente a uma Cidade Alerta,

A cidade tem muitas ruas,
ruas para todos os gostos,
uns a moda da casa, outros em dobradinha,
tem até crianças a milanesa para seu dia a dia,

Ó minha cidade!
As ruas agora são moças,
Genis de migrantes e imigrantes
que também defecam em você

Marginais margeiam lágrimas,
mais, matam aos poucos,
digerem misteriosos carros
com suas bocas de lobo no asfalto,

Cidade despojada, seus seios amamentam
suas hienas e pombos, por aqueles que acumulam,
viver se torna uma arte,
que caminha a morrer nas esquinas,

Não há saída! Somente,
ruas becos, marginais,
avenidas, viadutos e garoas,
Nós sonhando saídas.



segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

GRANDE AMIZADE BRANCA

O sol suava
o fazendeiro e o negro,
tapinhas nas costas,
a fazenda, as cercas brancas,

"- É...é...meu amigo,
se você não fosse negro,
eu te dava um sabonete!"

CRIANCICE

Nas memórias esqueci de outrora,
brincar, curioso, descobrir.

Agora sou grande, penso e faço,
bêbado vivo a realidade que sei.

Onde há crianças,
não se vêm bestas,

Qual o sentido de tudo?
Precisa ter?

Eu quero brincar de novo,
sonhar, pois, sem dor tudo é tão simples.

SIMPLESMENTE URBANO

O homem artesão,
constrói, destrói,
ri, canta, nem vê,
a bomba que cai.

AFOGAMENTO

Salivam as hienas,
sobre o corpo seco que trabalha,

Que se farta em mão de obra
assim avança a humanidade,

Desumanidade com o outro
que considera coisa,

Das 05:00hs da manhã as 22:00hs,
deserto em que de dia caminha,

Deserto em que na noite se deita,
sonha, na sede, no trabalho se afoga.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

COTOVELO

Ela me  morde
a maçã do rosto
e se vai,

Quando ela volta,
tomo muitas doses
de revolta,

Mordo o cotovelo,
no fundo do poço

Se ex-vou indo,
deixo com a garrafa
minha última rima.



UTOPIA

Que nossa utopia
nunca acabe

Precisamos sempre um novo
para chocar

O longe fica perto
perto fica longe

Utopias vem e vão
poesias sim e não

Haverá um dia
que tudo será danação.