sexta-feira, 13 de junho de 2008

ALIENAÇÃO

Silenciosa,
num exílio infinito
como uma escultura
de vidro;
tenho medo
que uma leve
trinca
possa me fazer
em cacos.


*Direitos Reservados*

CRESCENDO

Presente
de
silêncio
sou
procurando
meu eu
fragmento
do todo
essência
existência
que me constitui
tímido
voraz
esquentando
corajoso
no contexto
da vida
que acredito
evolui.

(Para o amigo Ney Gomes)

*Direitos Reservados*

PROCURA

Saiba que o sentimento
de amor
não cabe em quartos
amplos,
ou campos,
nem nadam em piscinas
como os desejos;
O amor
marulha nas ondas
mas não cabe no mar,
Não entende?
nem precisa,
ouve o vento
em lamento
lento
de quem procura
o que não sabe
o que é.

(Para a amiga Sandra Santana)

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 12 de junho de 2008

DO OUTRO LADO

Do outro lado
Passeiam os mortos

Andam como sombras
nas margens

Do outro lado
passeiam os vivos

Na margem oposta
sob as ávores

Do outro lado
as ávores queimam

Sob a ambição
dos marginais

Que cultivarão eunucos.

(Para o amigo Osvaldo - Dinho)

*Direitos Reservados*

MEIO MACUNAÍMA

Tem dia que acordamos
culpados e sujos
com sentimentos de cobra
coral - rastejando
meio pré-históricos
qualquer coisa
com vontade de sucumbir
ao suicídio
por ser isto
essa coisa impotente
estranha aos outros animais
que não enrubescem.
Tem dia que acordamos
pensando pesado
que nem levantamos
só nos restando
estourar a bolsa dágua
como um macunaíma
pra se esborrachar na verdade.

(Para o amigo Oswaldo Pinheiro - OS )

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 5 de junho de 2008

PERDIDO

Que alguém me ache

algum

alguém

qualquer

sem nome
pra viver

Pra viver
que venha

me ferir

Se eu puder
perdoo.

*Direitos Reservados*

CADAUM CADAUM

Na cabeça
o mar,

no corpo
um porto,

com mar
o papo é outro,

porto é pouco

mar é mar

porto é porto

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 4 de junho de 2008

POUCO ME BASTA

Sentado na cadeira me calo

Que todos falem aos ventos
ensurdecendo-se com suas idéias
no eco do silêncio da sala
Nem ligo
Já conheço um tanto de palavras
que me bastam
Não me canso dos olhares dela
Sentada a minha frente
Daniela, sempre
Tantos falares e opiniões
Ela imaginativa
e sentenciosa:
Eu já me acostumara

Podem eles falarem
Dela me basta o olhar.

*Direitos Reservados*

segunda-feira, 2 de junho de 2008

ENTREGUE

Vou mergulhar a cabeça
em alguma tina de água
pra me esfriar de você;
eu sou como sou,
na medida do impossível
vou vivendo bem ou mal,
as minhas medidas;
Apesar da paixão
me corroer,
vou tratar como um assunto
sem valor;
Que saco!
Não consigo mais ser firme
comigo mesmo
quando se trata de você.

*Direitos Reservados*

ACABOU

Agora você fala comigo!
Vamos ao teatro?
É tarde!
o pedido;
eu escuto por respeito
é tarde!
Tempo perdido
Você não ouviu?
Nos olhos de amor?
Que acabou;
Não estou a fim
de ir ao teatro.

*Direitos Reservados*

NÃO HÁ TEMPO

Não me olhe
fraco
fracassado,
pois até mesmo
este caco
pode te ferir
de fato o coração,
pra te atormentar.
Corre
pede tempo
pro tempo
pensa
avança
luta
Sua teus atos
procura ser forte
abandona os pré-conceitos
e viva a vida
olhe
corre
luta
aproveite;
a vida é assim,
e não há muito tempo.

* Direitos Reservados*

MASSAGEANDO SONHOS

Com a ponta dos dedos
espremo tuas carnes,
e sinto voce murchando
entregue;
sugo todo teu leite
até a última gota;
e sinto ele descer
pelo meu corpo;
mulher tenra
da cabeça aos pés,
toda nua
única.
Não te vejo em partes
te vejo toda
inteira eu tenho;
Desdobro então tua roupa
em pedaços
tirada com todo cuidado
e penso:
como foram bons os momentos;
mas que pena
que não aproveito;
são só pensamentos.

* Direitos Reservados *

RECORDAÇÕES

Não sei quem serei
Quem sou?
Não sei o que verei
O que vejo?
E depois?
Meu dilema
São meus problemas;
tento no presente
buscar um futuro;
vou sentar no balanço
e recordar o passado;
Oh! Daniela
que me deixa abstrato,
porque vens me encontrar
nesse poema?
Pra que?
Amanhã não serei
Amanhã não verei
nem passado
nem o futuro
que me espera;
viverei
meus problemas
abstratos
balançando
bebericando
numa choupana
que me aguarda,
lembrando balanço
e você?

* Direitos Reservados*

terça-feira, 27 de maio de 2008

ALGUÉM MORREU

Sabem quem morreu?
O Rafael;
na porta de casa
com tiros no peito;
por ser Mauá,
por ser humano;
morreu ele,
podia ser nós.
Eu mesmo não sei quem é!
Nunca levei seu beijo pra casa;
sei que sumiram com sua beleza;
assim...
um tiro resolveu a questão,
devia ser negro de noite,
a noite é negra,
tudo é negro
a noite;
anoitecidos por dentro,
quem nos clareia
é um tiro;
de quando em quando;
pra nos alertar
que um pouco de luz existe.

*Direitos Reservados*

MULATO ANDARILHO

Morava numa casa de esquina,
mas queria estar em toda parte;
gritar como o vento,
gritar como o mar;
sair pro mundo sentir a vida;
como Deus,
de vila em vila;
o teto era o céu,
o chão seu abrigo,
sobre as costas,
uma mochila cheia de nuvens
mal passadas;
a alegria era um butiquim
de vozes e gargalhadas,
embebidas em garrafa de cana;
alimentado de podridão,
doido, doente,esquecido;
junto a noite cúmplice,
o mêdo,
do furor branco imposto
sobre seu corpo andarilho;
havia outro fato
que a morte velava;
era mulato.

*Direitos Reservados*

HORAS MORTAS

Após as mãos calejadas,
os pés doloridos
do trabalho;
o sono enfim;
e no sonho que dorme,
marca gols
sob a poeira de estrelas;
de repente uivam os chacais
acordando o dia;
de volta ao cativeiro
a alentar uma esperança;
de mudar os andrajos,
de acabar com a fome;
e assim vão morrendo os dias;
ficam pra trás as horas mortas,
pra novamente;
dormir enfim;
pra sonhar em fazer gols.

* Direitos Reservados*

segunda-feira, 12 de maio de 2008

DESTINO

Pela fofoca das cigarras;
era verão;
minha roupa
verão;
minhas mangas
maduras,
deitavam no cobertor,
verde
cheirando a rosas;
sobre minha cabeça
sabiás cantavam
seu nome,
preenchendo o silêncio
do fim de tarde;
ao grito de maritacas;
o curioso...
é que você nem ainda existia.

*Direitos Reservados*

FLERTE

Havia na sala
uma cena
e na cena
uma atriz
na atriz - um olhar
na cadeira calado
eu

um olhar de soslaio
nos cruzou
e nos viu
e sorriu

Hoje não sei;
Se sou eu;
seu olhar;
Tenho uma certeza;
você ou seus personagens,
não precisam mais
me atormentar o sono;
nem precisam mais me amar...


*Direitos Reservados*

sábado, 10 de maio de 2008

POBREZA

O que é que eu tenho?
algumas batidas do coração,
a rua pra andar,
pedrinhas pra chutar,
um pouco de sol,
um tiquinho de chuva
um frio pra rachar.
Se você não aparecer
vou continuar sózinho,
talvez pular de um viaduto
Só pra ver meu corpo se quebrar.

* Direitos Reservados*

ÉRAMOS CINCO

Não haviam estrelas
no céu cinzento
de muito frio,
Um único som
soava a meus ouvidos
- O trem.
Uma única coisa
me chamava atenção;
- Seu olhar.
Algo me incomodava
um mistério insolúvel;
- Seu silêncio.
Èramos cinco,
cúmplices daquele momento;
eu, o trem, seu olhar,
seu silêncio e você.

*Direitos Reservados*

BABAQUICES

Hoje quero seu sorriso,
um copo de cerveja,
ver você de meias coloridas
e tôca na cabeça;
que se dane o frio;,
na pouca luz dos meus murmúrios,
esse corpo esguio
eu esquento,
os cabelos sedosos
me tomam o tempo,
porque hoje
mesmo proibido
me sinto um comercial de cigarro.

* Direitos Reservados*

terça-feira, 15 de abril de 2008

JOÃO NINGUÉM

Nasci sem nome
lindinho
bochechudo
sem nome
quis ser Antonio,
Manuel, Joaquim
um bom português,
adolescente coca -cola;
de José fugia,
Maria comia,
apaixonado
ser Francisco
na faculdade,
pobre
me tornei,
Jesus
pedreiro penseiro
morri
João Ninguém.

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 10 de abril de 2008

PEDRA

Diante do risco
não te dou nome
ao me abrir pra dentro;
encontro um labirinto
de pedra
aberta em gruta;
mucosa como um corpo
que procuro entrar;
não te dou nome
corro o risco,
me arrisco
dessas palavras pássaras
não chegarem aos teus ouvidos;
e como pedra
se fechar em si mesmo
em silêncio
cotidiana;
só gravando meu nome
em tua carne,
pedra
do meu caminho
corro o risco
de você emitir um gemido.

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 9 de abril de 2008

INSPIRAÇÃO

Me esbarrou por acaso
e nunca notou minha existência;
nem quando morreu na janela da sala,
uma mosca sózinha;
era noite de sol posto,
e lágrimas me rolaram pelo rosto,
ela não viu,
a mosca morta,
nem o luto nos meus olhos,
quando a noite ficou mais cinza,
ela não viu que eu via,
seu corpo longo e lento,
há andar pela sala
As minhas olheiras exiladas,
se prendiam entre as pálpebras,
e meu coração marcava,
cada passo seu no peito,
movia meu pensamento,
lhe emprestava o movimento,
andando fumegante
com meu cheiro de café,
em sua caneca vermelha,
nada disso ela via,
o olhar que pedia,
nada ouvia do batuque,
que fazia a cotovia,
no peito do poeta só.

*Direitos Reservados*

PÔR DOS OLHOS

Não consigo dormir
furo com o dedo a terra
e vejo o outro lado do mundo
que trabalha;
ascendo um cigarro
me ascende uma estrela,
minha água de cana
reflete a lua,
e a noite ameaça chorar
Porque estou caramujo?
Se vou morrer no jardim?
Meu cigarro apagou
no canto da boca,
passando o passado;
vou cochilar agora,
deixar minha vara fincada,
e no anzol como isca
ficam meus sonhos,
tomara eu consiga pescar,
meu amanhã e um dia de sol.

*Direitos Reservados*

PENSA COMO EU PENSO

Ar de viúva
é chuva
Andar lento
é vento
Ter segredo
é mêdo
Nariz arrebitado
é treva
Todo remédio
é tédio
Toda criatividade
é bela
A provocação
é fera
Mulher
é menina
Se vê dor
é choro
Se vê amor
foge
Sua noite
é vitrola
Teu silencio
incomoda
é benvindo.

Pensa em você
como eu penso.

*Direitos Reservados*

MINHAS VERDADES

Estou velho
Não sou feio,
não sou belo
aos meus olhos;
sou bom como um cão,
impuro como a lama,
mas meu peito é moço e lateja,
são as verdades que carrego,
por essas ruas que me devoram,
onde as luminárias espalham
meus segredos,
ajudadas pelo vento,
que arrepia a mim e a pele
dos telhados silenciosos,
que te abrigam,
atrás das janelas,
fechadas para o mundo;
imprevista e delicada.
Diante do espelho,
minha nítida certeza;
quando eu te alcançar,
talvez não esteja vivo?

*Direitos Reservados*

AMOR É ISSO?

Amo você!
Muito além
de um olhar
de garfo e faca.
Não vou me apagar em gentilezas
pra só me fazer ver
charmoso aos teus olhos.
Amo você!
Não suportaria
vê-la na cozinha
pra cozinhar sonhos
que não são teus;
Tudo porque te amo.
Aceito que mijes coca-cola
até que saia no New York Times
porque amar é isso;
deixar que faça
o que bem entende com sua liberdade
Meu desejo é ter sempre
a sensação de poder
me esconder em seus braços.

*Direitos Reservados*

terça-feira, 8 de abril de 2008

CONSTRUÇÃO

Sei que não adoço e não tempero
se falo não volto atrás,
desacato Deus e o diabo;
mas nunca esqueço do que disse:
Seu amor? Você constrói.
Agora levanto sorridente,
se o mundo está cinzento?
coloco os óculos...
ou transformo ele.
Patético dialético
vou conquistando você,
e talvez não perceba,
vou observando suas intimidades,
e mesmo como um hippie num chip,
sonho em lamber nossos beiços,
estou construindo...estou construindo,
meu amor com você.

*Direitos Reservados*

BODAS DE BANALIDADES

Matamos por vingança,
eletrocutamos nossos inimigos;
eu aspirando gás de cozinha,
enquanto você sorria
engraçada
enquanto apanhava;
engravidada.
Um filho pra torturarmos;
Quando?
Quando nada tivermos pra fazer
de melhor.
Eu te cuspia Amélia,
escarrava,
em nossas conversas macarronadas,
com amor...com muito amor,
vomitado.
Hoje serenamos
apagando as velas
em nossa bodas de prata.


*Direitos Reservados*

quarta-feira, 2 de abril de 2008

ANDRÓGENO

Não zomba das minhas horas
se não vai me sorrir auroras
nem me olhe de soslaio; etérea
Só quando puder me olhar na terra
plantado planta no chão
como homem e mulher
argila, crosta infecunda
aperte então minhas ventas
se encharque como uma fêmea
que juntos podemos sorver
cada gemido implícito
explícitos como as mulheres.

*Direitos Reservados*

CORRE - CORRE

Geração Fast-food
que corre
como um maratonista
ligeiro
suado de óleo
de batata frita
cerveja
refri
e desejos
muitos desejos
Porque as mulheres correm também
Eles olham
passar correndo
Elas olham
passar correndo
os sorrisos trocados
os lençois encharcados
e sóis... e noites
correndo
sumindo
suando
sedentos
os dias se vão
e os sonhos
se acomodam em algo
sem lugar no espaço
só interessa o cometa
voando por entre as estrelas.

*Direitos Reservados*

BOTO CÔR DE ROSA

Me deito no rio
com um corpo rosa
movendo
peixe tenso
no ar
meu corpo de terra
se molha
ao toque do boto
bicudo abusado
eu grito meu grito
morrendo
feliz de saudade

P/ Andressa Ferrarezi

* Direitos Reservados *

CONCILIAÇÃO

Nunca me diga
-É lua cheia! Vai embora!
Diante da constatação
de que não tenho um cavalo branco
e nem sou teu salvador;
Me grita:
-É lua nova!
Engulo o meu orgulho
me dispo da vaidade
e volto a aquecer o teu corpo.

* Direitos Reservados *

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

AMOR PRÓPRIO

Sem melado, sem verso,
sem prosa, sem alucinação;
me amo;
não só isso; além disso;
eu amo também.
Me amar não é desamar;
desconfio de quem não se ama;
Se amar não é estar em primeiro;
é saber na sutileza;
situar-se em segundo;
em seu amor próprio.

* Direitos Reservados*

CRESCENDO ENTRE LÍRIOS

As vezes me vejo Casmurro,
menos feliz que Quixote;
porque não enfrento fantasmas,
nem moinho de ventos;
nem levanto fuzis contra a noite,
como um guerreiro Araguaia;
cada qual com suas guerras;
cada qual com seus mistérios,
mergulhados em suas sombras;
depois de cada momento sem luta;
durmo como um sol manso,
em um horizonte de mar,
certo que estou crescendo;
em meio há um plantio de lírios.

* Direitos Reservados*

ÊXTASE

Me cobre com tuas tranças;
deixa cair a cabeça,
sobre esse peito que dança;
escuta o som da loucura,
cantando os meus pecados
pra esse seu corpo deitado,
com suas mão prisioneiras,
agarradas as minhas trementes;
vou te açoitando o gemer,
fazendo suar os seus poros;
cúmplices num mesmo ritmo,
como onda que ondula,
viva e bravia;
gozamos espumas nas pedras;
melando tudo de amor;
caindo em profundo sono,
na noite que,
silência.

* Direitos Reservados*

PRESTA ATENÇÃO

Se uma leve borboleta,
empurrada por uma carinhosa brisa,
passasse diante de teus olhos;
e voasse, a se perder pelos campos;
como encontrá-la, na imensidão verde;
entre as flores que te cercassem,
e pousassem na tua solidão?
O amor se perde assim,
como o bater das asas,
desaparecendo pelo ar;
te gripando de orvalhos;
e você nem percebeu.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

VIGILANTES

As pombas vigiam a cidade
de cima dos postes de luz;
os bêbados infectam as ruas,
e as praças escondem bandidos;
onde missionários se encontram,
com aqueles que pensam com a boca,
cheia de dinheiro e pão;
a cidade anda com pressa,
com imagens que unem e magoam
maratonistas gripados;
e as pombas esperam as migalhas
vigiando nossos amanhãs;
em meio as bestas
que ainda ousam existir;
sem lamentos e sem culpas.

*Direitos Reservados*

MANIAS

Decapitar margaridas,
botar cabresto em formigas,
chutar bunda de moscas,
gritar com o piano burguês,
arrulhar no meio de vacas,
amar sapo sentado
como um burro atrelado;
é uma mania sem graça
que mostra estar vivo;
mesmo sendo tão cotidiano;
tão igual aos meus pares.

*Direitos Reservados*

CULPA DO TEMPO

Como um gato no telhado
espiando,
descanso os olhos em um lago,
com margens de margaridas;
enquanto lá na cozinha,
panelas borbulham seu cheiro,
pra minha felicidade.
Pra minha felicidade?
Por quanto tempo?
Um? Dois? Dez minutos?
É culpa do tempo,
por minhas felicidades perdidas;
ou por aquelas que acho que tenho.

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

SONHOS

Há coisas que parecem
que são;
Coisas que poderiam ser,
mas não;
há um abismo,
uma sombra que toma,
que embaça a lua;
e o vasto querer;
sugando os sonhos
como morcegos na noite;
de olhos grandes;
boca grande orvalhada;
e a querença,
vira uma cobra cruel
que nos habita,
nos cobrindo de máscaras.
Um dia um destino;
quem sabe?
Talvez um poente,
melhor dormir e sonhar.

(Poema pra Jhaíra)

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

VERSANDO PRA CAROLINA

Não jogo conversas,
e nem versos fora;
mas confesso;
a vontade de lhe versar algo
foi maior que mim mesmo,
mesmo que seja só pra brigar,
vou começar versejar,
mesmo que seja besteiras.
Essas sardas de onça,
esse olhar obsceno,
nesse corpo esbelto pequeno,
me fazem sonhar...
que haverá um dia,
que ao ler esses versos,
dormirei coberto de estrelas
com seu corpo ao meu lado,
desatando nós da lua,
fazendo emendas com nuvens,
interpretando nós dois.

(P/ CAROLINA do POUPATEMPO)

* Direitos Reservados*

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

ÓCIO DE MORTE

Meu nada está aumentando
porque sou culpado de mim,
se continuar fazendo tanto esforço
pra levantar tanto vento,
vou construir meu caixão
e morrer encostando em uma pedra,
com meu silêncio encorpando
em um completo vazio.


*Direitos Reservados*

NASCIMENTO DA COISA

Uma estrela botou um ovo,
de noite
diante de um vagalume apagado;
no corpo de uma ostra
ao som do canto dos peixes,
e do casulo do ovo,
nasceu um jabuti beato
repleto de nadadeiras;
pra vagar no universo,
de tarde
pra inverter os ocasos.


*Direitos Reservados*

LEMBRANÇAS TRISTES

Quando eu amanheci ontem,
na minha posição de múmia,
estava bem animado
desenterrando as memórias;
me despi para o dia
consciente que meus pedaços
não voltariam;
só bateu uma saudade
de quando ela pegava na faca
pra rasgar horizontes;
agora come papel,
nos circos que morrem cardíacos,
dizendo que as coisas que existem
ainda continuam feias;
e que vai ficar bem pior.


*Direitos Reservados*

SAINDO DA ALIENAÇÃO

Um mosquito de meias 3/4
buzinou no meu ouvido,
que ovelhas mijaram em mim;
ovelhas do Senhor;
porisso vivo apalpando meu ego
pra ver eu gozar em mim mesmo;
respeito as oralidades dele,
porque sei que o céu
tem mais insetos que eu;
confesso que sou uma besta
nessa minha liberdade algemada;
mais minha voz um dia,
ainda vai fazer nascimentos.

*Direitos Reservados*

BORBOLETA MARIA

Num galho de pau seco
vi uma borboleta abraçada,
com uma moldura de azul nas asas;
tinha cheiro de manhã e alecrim;
há tempos eu escutava,
esta linda paisagem,
tentando me incluir nela;
a voz dela emitiu um sussurro
e tudo amanheceu em mim;
sem eu perceber
comecei a me alimentar de ventos,
um perfume lilás me pensou;
e eu... voei com Maria.


( P/ MARIA CAROLINA DRESSLER)

*Direitos Reservados*

VERBOS FORA DE LUGAR

Vou beijando as letras
enquanto a pontuação me olha,
desmundando o mundo,
remendando o mundo
nas rimas,
resmungando versos
pra espantar fantasmas
por onde a cabeça pisa,
e os pensamentos caminham.

*Direitos Reservados*

VENTO

Vim não sei de onde
cheguei onde não sei
girando como um moinho
fazendo não sei o que
saltitante solto sendo
vento ventando a vida.


*Direitos Reservados*

CHEIRO DE PEIXE

Deus não pode me atender hoje,
não paguei a consulta;
só queria dizer pra ele,
que crianças de olhos azuis
são mais fáceis de vender,
do que aquelas que não tem pernas;
Di Cavalcanti e Van Gogh
subiram de preço nas bolsas;
e que há um cheiro de peixe
nesse mundão de meu Deus.

*Direitos Reservados*

ORAÇÃO

sono - lento
simples - mente
gira - mundo
sangue - suga
assa - sino
assim - seja
amém.


*Direitos Reservados*

ORQUÍDEA

Nunca tive uma orquídea de bruços
indo e vindo como a maré,
escorrendo espumas nas coxas;
vou esconder meus segredos
já que não desfolharei suas pétalas
e nem te tocarei por dentro;
já tenho a nudez que queria,
junto do meu pensamento.

*Direitos Reservados*

IMAGINAÇÃO

Rolei nu pela cama
esperando voce voltar,
nu eu me masturbava,
nu me molhava e secava,
e voce nada de vir,
bebi meus sonhos contigo,
nos quatro cantos da casa,
amando teu púbis negro,
teus seios cheios de curvas,
gozando na madrugada
tudo que imaginava.

*Direitos Reservados*

PRATO FEITO

Pedi um prato de amor
me trouxeram um prato frio,
eu reclamei,
queria que fosse quente;
brigou comigo o gerente
e me trouxe outro prato frio;
comi o que me trouxeram;
paguei o prato frio
mesmo eu querendo quente;
jamais voltarei ao puteiro
procurar amor novamente.

*Direitos Reservados*

NADA

Deus é o tudo do nada
sob a mudez do céu oco,
homem bobo;
de querer tanto
submeter o mundo;
homem morto,
cinza,
de lavagem de porco,
se transformando
em seu nada.

*Direitos Reservados*

PENSAMENTO LENTO

Na casa da tartaruga
até o sol escurece,
só a poesia ilumina o escuro,
dos seus apetrechos
de dormir,
e o seu palito de dente
de comer,
depois de cansar de olhar,
toda fronteira do céu,
fazendo correr seus sonhos
bem devagar;
pelados...pra fora de casa.

*Direitos Reservados*

SAINDO DE CASA

Os beija-flores
Não querem ser vistos
de forma racional,
com olhares rosa e azul,
como burro que voce
olha empacado;
eles querem voar
pra fora de casa,
sem amarras de arame,
pra poder trepar com outras flores.

*Direitos Reservados*

INTERAÇÃO

Não dá pra quantificar
o choro de um violino,
ou quantas voltas dá uma harpa,
em um salão d baile,
é como pegar violão no hospício,
pra ir nadar na piscina.
Esse meu jeito de adormecer
de gato,
me faz acordar com as gaitas.

Qualquer contradição entre as gaitas
pode alterar o humor dos homens.

*Direitos Reservados*

sábado, 12 de janeiro de 2008

PÉ DE POEMA

Pra tentar entender um poeta,
é preciso saber virar um camaleão,
as tres da madrugada,
na hora do nascimento;
deixar as palavras crescerem
nos dedos,
sofrer uma decomposição
de lirismo,
até as palavras pularem da mente.

Hoje eu planto um pé de poema.


*Direitos Reservados*

SEJA DIFERENTE

Não abra sua manhã
com uma faca;
prepare o dia como uma orquídea;
pra morrer feia; mas feliz.
Pegue o maior peixe que grita,
na margem do rio
que umedece primeiro.
Desinvente,
fale o que não foi falado;
insista em ser diferente.


*Direitos Reservados*

DELIRANTE

A noite dormiu antes,
de mim,
enquanto uma lagartixa
coacha de tarde;
ao lado de um sapo
que relinchava auroras.
Na voz de um poeta,
as palavras deliram.

*Direitos Reservados*

DESAFOGADO

Semana passada
trovejou no meu futuro,
Falo sem desagero,
a água molhou o meu fígado,
enquanto as maritacas
fofocavam sobre o meu passado.
Desperdiço essas palavras com raiva,
sei que sou muito comum,
assim como as pedras.
Nessa minha nudez colorida,
conheci minha incompetência
até pra morrer.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

LIVRETO DE PATÊ DA DANI

Patê
pra ti
pra tu
fazê
patê
com pão...
patê com pão patê com pão patê com pão
patê com pão patê com pão patê com pão
Êeeeeeeta trem bão!

*Direitos Reservados*


PATÊ DE AÇUCAR

Um colibri
veio cheirar a varanda,
uma formiga saúva,
entrou de bunda na sala
pra comer o patê,
pensando ser um torrão
de açucar.

*Direitos Reservados*


CHÁ DAS CINCO

Vi uma mosca
se banhando pelada,
numa xícara tomando chá com hashi,
diante de torradas narcisas
em uma bandeija de prata,
ajeitei a visão do meu olho,
quando um elefante entrava
com a cueca arriada,
pra fazer não sei o quê,
com aquela dama tropical,
que olhava os patês na mesa,
as cinco da tarde largada,
fingindo ser uma inglesa.

*Direitos Reservados*

AH! SE EU PUDESSE...

Se eu pudesse teria,
400 cavalos
pra chegar até voce;
mas não posso.
Com tanta gente com fome,
não seria eu;
seria um cavalo alado,
malhado e montado.

Se eu pudesse te daria,
um castelo
pra morar com você;
mas não posso.
Com tanta gente sem teto,
não seria eu;
seria um sapo dourado,
coachando no principado.

Se eu pudesse te faria,
um elixir
pra eternizar sua beleza;
mas não posso.
Com tanta gente morrendo,
não seria eu;
seria um câncer maligno,
pronto pra ser extirpado.

Se eu pudesse ser eu,
com você deitaria;
pra me misturar
no seu mundo;
imerso de futilidades.

*Direitos Reservados*

ESPERANDO MUDANÇAS

Garoa leve e fina;
e o dia vai se indo,
bem devagarinho;
ouço o canto do galo,
o bocejar de um grilo,
pro surgimento da lua.
As ruas caladas e desertas,
e eu te esperando,
no alpendre de casa,
vinda de não sei onde.
Chuva vem me dizer,
aquilo que só o sensível
entende.
Quando as coisas irão mudar?
No coração dessa gente!


*Direitos Reservados*

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

ESPERA

O tempo foi esculpindo,
no tempo
monstros e muitas belezas,
Transformando tudo
em um grande feitiço,
me impondo sua beleza
lá bem fundo em mim,
fazendo girar os meus olhos,
sufocando meu peito.
Ao vê-la venço meu tédio,
no canto dos seus lábios,
lábios que passeiam sorrisos;
durante as esperas úteis e inúteis
da sua recepção.

(P/ SUELEN do Poupatempo Sé)

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

ACORDA JOSÉ!

Para de reclamar
se a esperança mentiu
te prometendo palácios
e uma princesa virgem,
e te deu a favela
e uma puta triste;
que te daria paletó e gravata
mas te deu andrajos mendigos.
Acorda José!
Seu ideal está nos escombros
criado por tuas crenças;
pra quem voce orou nos seus sonhos;
maldiga esse destino,
manda ele a merda!
Acorda José!
Da crença e da esperança
das mentiras que você criou;
enterra o passado das suas ilusões.
Acorda José!
Pensa por si e toma as rédeas
desta tua triste vida,
e faz a partir agora tuas novas horas.

*Direitos Reservados*

SÓ VOU MORRER QUANDO EU QUISER

Não vou deixar
a mulher que não conheço,
nem os filhos que não tive,
nem nada que não amei ainda,
pra trocar por uma lápide,
fria e muda,
que ninguém deixa em paz.
Não conheço todos os amores,
Nem vi todas as borboletas,
não contei todas as mentiras,
e nem vivi.
Tenho compromisso com o futuro,
tenho muitos protestos pra fazer.
Se alguém quer se comover,
que se comova com a morte alheia,
bando de urubus de plantão!

*Direitos Reservados*

GRÃO

Andressa é um grão
Uma semente que germina
no coração dos homens
Dá frutos
que pendem
das árvores inocentes
que brotam nas pernas
entre
Um grão, uma semente,
no ventre
De farta colheita
multiplicadora da vida.
Um dia...
Ela ainda é um grão.

(Para Andressa Ferrarezi)

*Direitos Reservados*

LIMPANDO A ALMA

A vida seria mais fácil
Se todos deixassem a espada em casa,
Se armassem de tolerância,
e deixassem florir da alma
o sorriso.
Se o sal da lágrima
que molha os lábios
viesse do coração.
O choro
lavaria o corpo
tiraria toda a sujeira
limpando de todos o orgulho,
esse martírio que crucifica.

*Direitos Reservados*

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

AQUECENDO AS IDÉIAS

Dar um ombro para aqueles abandonados
por causa de amor - desamor,
sejam poetas ou não,
que passam todo tempo se martirizando
e sentindo na garganta a mudez do grito:
não sinto.

Um te escreve poemas,
outros te pedem em casamento,
outros só te amam em silêncio,
outros acham que já não podem viver.

Estando aqui sentado neste banco de praça,
vendo o sol queimar as paredes e o chão
devorando o mundo,
penso: como o amor é frio, cruel, todo o amor,
precisa de um cobertor com urgência!

*Direitos Reservados*

NEM ME DÊ ATENÇÃO

Se parece que não te vejo
não acredite.
Dia após dia meu sofrimento
agarra-se em você.
Dia após dia me revolto com suas tristezas.
E vejo em meu coração, possibilidades.
Nunca acredite que não te penso,
nem dê valor a minha boca muda.
E quando ler meus poemas,
desconfie.
É necessário deitar-se comigo
na cama pra entender.
Não dê atenção, se acha que são:
só palavras em papel branco.
É minha maneira de ser e existir.


*Direitos Reservados*

INSPIRAÇÃO POÉTICA

Desenho palavras
procurando aquela ideal
que te toque profunda.

A poesia é sua procura
rima por rima
criando um poema.

Eu me surpreendo
quando a poesia indica
o caminho da poesia
que eu imagino.

E as palavras pedem desculpas.

*Direitos Reservados*

ABUSO DE SAUDADE

Todo dia ela vem
suplicando eu expulso
a insistente e abusada.
O coração palpita
e o cérebro se confunde
princípio de choro.
Mando ela embora
em vão.
A noite
eu frágil
ela invade meus sonhos,
e fica guardada;
abusada.
É meio você,
meu desejo platônico;
que eu abraço
pra me unir a você,
em sonho e alma.

*Direitos Reservados*

DEVANEIOS

A terra
o mar
entre
uma praia
sozinha

O dia
a noite
entre
uma tarde
de chuva

A poesia
o verso
entre
uma rima
de mulher
serena.

*Direitos Reservados*

ARSENAL DAS ÁRVORES

Há muito barulho
das árvores
As árvores caem cantando
um canto conhecido
um canto dolorido
Oh! Homens de
desencantos cruéis -
que nos acompanham
árvores frondosas
árvores de sombra
árvores de frutos
árvores de amor
Arsenal das árvores
árvores onde crescem verdades.

(Ao SIMON da Casa de Acolhida Arsenal da Esperança)

*Direitos Reservados*

PALAVRA MULHER

Amo a palavra
que desnudo
desfruto
fecundo
uma rima
um verso
e com a mulher
viva
faço a vida
em palavra viva.

*Direitos Reservados*

COMPOSIÇÃO

Gerações
que geram ação
e ingerem emoção
com cor e ação
coração de sal
e idade - saudade
amar é vida
é mar
amarévida
indo e vindo
namorar a areia
diante do sol,
e da lua
sólua
de lágrimas e rimas
lagririma
compondo poemas
no tempo
pra
velejar no aceano.


*Direitos Reservados*

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O HOMEM E O POETA

Separe o poeta
do homem
e verás o que encontra.

O poeta
sofre demais
ama demais ( ou não)
inventa mentiras ( ou não).

O homem
sente
ama
diz a verdade ( ou não).

O poeta
é lírico
chora
bebe
não dorme.

O homem
é cruel
finge
bebe
ronca
e dá osso ao cachorro
aos domingos.

O poeta
imagina
te envaidesce
voce acredita.

O homem
realiza o que ama
até que outra bunda
aparece.

O poeta
não é homem
é poeta
que na cama versa.

O homem
é um animal
que não pensa
e a barriga engorda.

O poeta
vê framboesas
nos seios
vê orquídeas
na vagina.

O homem
te sobe em cima
saliva
depois te dá
um tapa na bunda.

Ambos fumam demais.

*Direitos Reservados*

MORTOS

As pedras mudas
são casas
que nada pedem
só não aceitam
o esquecimento
porque não morrem
como os semi-mortos
floridos
cuidados
e limpos
diferente dos verdadeiros
mortos
túmulos
sem lápide
sem nome
esses sim
são mortos de fato.

*Direitos Reservados*

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

GATACAROL

Uma gata pintada
de olhar agateado
gata poupa,
gata tempo,
poupa o tempo.
Ela dança o passo,
Ela passa o espaço,
Ela ama a fome,
comida na cama.
Ela sente o mundo,
Mais no fundo,
Ela não se ilude.
tatuagem
na boca
com a boca;
beijo
da gata
dos gatos
de rua;
gata que é gata,
assanhada
fica engatada.

( Poesia pra CAROLINA do Poupatempo Sé)

*Direitos Reservados*

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

DE CARA CHEIA

As drogas que a tua alma vela,
que te leva pro mar,
não quer pena,
só uma fita de renda,
muita tinta na tela,
na paisagem dos olhos,
retina matutina,
que a noite,
rima tua menina,
na praia, no sol,
como canção na janela,
destruindo poesias,
poeta poeta;
seca a garrafa de cana
nesse teu pedaço de terra,
e vai dormir.

ESTRESSE POÉTICO

Sofrerão tanto todos os poetas?
Não todos;
somente os que choram,
com lágrimas que molham o rosto,
lágrimas que molham a alma,
uma umedece, a outra entorpece,
razão e coração,
que jamais lhe respondem,
padecem em folhas virgens,
brancas como um lençol,
que lhe cobrem,
de sofrimento e solidão.
Sabe quando um poeta fica doente?
Sabe qual é a grande questão para um poeta?
A questão é:
Quanta verdade,
quanta poesia,
ele pode suportar.
Porisso,
não me fale de tranquilidade,
todo poeta só se tranquiliza,
na morte;
só essa é sua recompensa.
A de não poder morrer,
de novo.

*Direitos Reservados*

UM OLHAR MUDO

Mulheres bonitas,
homens cansados,
trocam entre si,
olhares famintos,
de homens calados,
que fornicam,
não falam,
suados, gozados,
iluminando mudos,
frios;
que quando gritam,
se matam,
sem dizer nada.
O poeta
devora a
cena
a cama
e explode
a sua timidez.

*Direitos Reservados*

MENTE POÉTICA

Minha mente tem melodias;
está grávida delas.
São muitas canções
a serem cantadas.

Minha mente tem medo;
medos
são como estrelas,
estão sempre ali,
escondidos,
sob o clarão do dia.

Minha mente tem poesia;
que estou educando,
a tempos;
verso a verso;
até dar a luz a um poema.

*Direitos Reservados*

AZUL

Voce é azul
como o céu,
como o mar
abraçando o horizonte,
babando espuma
de maré
num frenesi,
copulando com rochas
com seu colar
de mariscos na cintura,
indo e vindo... vindo e indo
prá provocar meus olhos
azuis
de devaneios,
minha cabeça de ostra,
e meu corpo,
de Merlin azul.


*Direitos Reservados*

ACORDANDO A DECISÃO

Acordei
mas deixei a decisão
dormindo
Só me dei conta
agora.
Mandei o galo
cantar,
ela não levantou,
batuquei no peito
não se mexeu,
fiquei irritado
ela só resmungou;
Porque faz isso comigo?
Gritei!
Ela acordou,
pra eu ter coragem
de dizer:
Acorda mundão de Deus!

*Direitos Reservados*

MEDIOCRIDADE

O homem
em dado momento
chora, brada,
toma um tapa,
natureza domada,
selvática,
encarcera seu lobo,
transforma em cão
de raça.
Moderação?
Não.
Mediocridade!


*Direitos Reservados*

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

NASCENDO PRA VIVER

Nascemos e choramos
nadando na água
no ventre
e depois,
ganhamos um rótulo
ou nome que havemos de ter,
começamos a nascer novamente.

Como me chamam?
noturno,
vento suave ondulando
na praia.
Cheio de cifras roucas de desejo
vagueante de querer o mar
mas, no entretanto,
montado em muitas patas
continuamente fugindo
levantando no ar
poeira.

*Direitos Reservados*

DEBAIXO DA SACADA

A planta suada na sacada,
ferve ao calor
do sol
pensa na primavera
solitária
e na espera
A planta não sabe
que eu sei
solitário
embaixo da sacada
estas coisas que ela sabe
Ela dentro do vaso
Fora da sala
Fora de casa
Cresce pra onde?
Não pra dentro
Nem pra fora do vaso
Nem pra dentro da casa
Boca seca
Procura
água e espaço
onde a liberdade
não há esqueça
como a dona da casa
Que vê com choro
a seca folhagem
achando que com adubo
se resolve tudo.

*Direitos Reservados*

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

PORQUE É NATAL

Hoje levantei cedo
Pra vida
No varejo
A venda
Pra fazer poesia
Contra essas merdas
De mercadorias.

*Direitos Reservados*

ACORDANDO

O galo cantou
Na rua
suja, nua
Uma tosse rouca,
que a garoa acaricia.
Bom dia!
Vem cá,
Aperto de mão...
café com pão!
De graça
E o amanhã?
Passa
Deus, diabo
E o escuro,
ódio puro,
No peito surdo,
ódio escuro,
Muito ódio
Amigos!
Eu preciso abrir os olhos!

*Direitos Reservados*

CICLO VICIOSO

Dia. Banal. Cidade agitada.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Um sol frio embaçado
Aquecendo o cotidiano,
e a vida.
Tudo igual. Como ontem.
Eu morri.
Amanhã se repete.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Mesmo sol.
Mesma vida.
Eu
Morrendo de novo.



*Direitos Reservados*

CARTEIRA ASSINADA

Entrei no prédio de janelas azuis,
nada se via do lado de fora,
pelo vidro anti-reflexo.
É de dia - quando raia o dia,
o perfume invade a recepção,
e as bonecas pintadas me recebem,
eu me aproximo pé ante pé,
acanhado diante de tanta beleza,
das catracas travadas, severas,
Das paredes de quadros caros,
homens imóveis em posição de sentido,
vestidos de negros, alguém negro,
me olha desconfiado e sem barulho,
na minha ansiedade tudo ouço,
a boneca me chama,
com voz musicada,
no rosto um sorriso falso,
com muito esforço,
dou-lhe a carteira de trabalho,
com duas fotos recentes,
Um homem cheio de empáfias,
me olha o currículo, e sorri amarelo,
me coloca nas costas um fardo,
consegui o trabalho,
um quase trabalho.
Fiquei extasiado e feliz,
pela minha família, pelo meus filhos,
consciente de que tapearam,
mais esse pobre diabo.

*Direitos Reservados*

BATALHÃO DE MISERÁVEIS

Correm igual batalhão,
marcando o passo,
com chinelos de dedos.
Pra frente volver!
Com muito barulho.
O estado lhe puxa o arreio.
Eia! ... Eia! ... Eia!
- Agora enche a cara!
- Agora saqueia!
Corre pra não ser pego
Senão te ponho no trinco
e a tranca
Hoje eles podem tudo,
Pra manter o trabalho,
dos opressores,
ao batalhão de miseráveis.

*Direitos Reservados*

DROGA

Droga...
Droga...
Droga.
Maldito demônio,
que na minha casa dividida
Destruiu
As nossas vidas
De lar harmonioso
Em apertos de dor
Que me separou pra sempre,
De
Voce
Pra que
Eu
te odiasse
por isso
e a mim.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

NEM ME VIU

Colocou café
no copo descartável
Pôs no copo a colher
no copo com café
Pôs adoçante
no café adoçado
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café adoçado
E pôs o copo no lixo
Sem comigo falar
sentou-se na cadeira
mal sentada
Dobrou os joelhos
com as pernas
Pôs os joelhos
no queixo
sem comigo falar
Sem pra mim
um olhar
Da bolsa
Pôs um livro na mão
frente aos olhos
Abriu
a capa dura
que protegia
as folhas
nem sorriu
leu
E saiu
porta afora
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim?
Ela ficou
na cabeça
E chorei.

(Poema pra Daniela)

*Direitos Reservados*

OLHARES

Olhares de olho sonâmbulo,
sonhando desejos,
me invadindo de desconcertos,
que me encanta.
Procuro gemidos
na boca calada sob estrelas.
Tomo entre os meus dedos
o seu sorriso.
Invento a cor dos teus suspiros.
Me deito com um sonho inventado,
me perco em palavras trêmulas
como um bobo da corte,
não sei o que sinto,
sinto que sinto,
como um mar revolto
na gruta onde me encontras
com lábios de espuma
nas poucas horas
indecifráveis
que a vida nos proporciona...

IMAGEM

Oh! Imagem
Que me comprime o peito,
que me escorre o sal do corpo,
molhando como lágrima a boca;
que conservo calada,
pra esconder meu vazio.
Desse amor que é jovem,
sem consciência,
que nasce com ele.
De repente enrubesço;
não como as estrelas
que iluminam minha mudez;
que devia gritar:
Te amo!
Patética aspiração de poeta,
apaixonado e cúmplice,
segredo egoísta guardado.
Que posso fazer?
com esses pensamentos,
que a solidão me sugere,
nesse peito gelado,
nessa boca covarde,
nesses olhos furtivos,
onde continua somente imagem,
pronta pra esquentar,
esse cofre de gelo.


*Direitos Reservados*