sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

NASCENDO PRA VIVER

Nascemos e choramos
nadando na água
no ventre
e depois,
ganhamos um rótulo
ou nome que havemos de ter,
começamos a nascer novamente.

Como me chamam?
noturno,
vento suave ondulando
na praia.
Cheio de cifras roucas de desejo
vagueante de querer o mar
mas, no entretanto,
montado em muitas patas
continuamente fugindo
levantando no ar
poeira.

*Direitos Reservados*

DEBAIXO DA SACADA

A planta suada na sacada,
ferve ao calor
do sol
pensa na primavera
solitária
e na espera
A planta não sabe
que eu sei
solitário
embaixo da sacada
estas coisas que ela sabe
Ela dentro do vaso
Fora da sala
Fora de casa
Cresce pra onde?
Não pra dentro
Nem pra fora do vaso
Nem pra dentro da casa
Boca seca
Procura
água e espaço
onde a liberdade
não há esqueça
como a dona da casa
Que vê com choro
a seca folhagem
achando que com adubo
se resolve tudo.

*Direitos Reservados*

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

PORQUE É NATAL

Hoje levantei cedo
Pra vida
No varejo
A venda
Pra fazer poesia
Contra essas merdas
De mercadorias.

*Direitos Reservados*

ACORDANDO

O galo cantou
Na rua
suja, nua
Uma tosse rouca,
que a garoa acaricia.
Bom dia!
Vem cá,
Aperto de mão...
café com pão!
De graça
E o amanhã?
Passa
Deus, diabo
E o escuro,
ódio puro,
No peito surdo,
ódio escuro,
Muito ódio
Amigos!
Eu preciso abrir os olhos!

*Direitos Reservados*

CICLO VICIOSO

Dia. Banal. Cidade agitada.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Um sol frio embaçado
Aquecendo o cotidiano,
e a vida.
Tudo igual. Como ontem.
Eu morri.
Amanhã se repete.
Padaria. Mercado. Farmácia.
Mesmo sol.
Mesma vida.
Eu
Morrendo de novo.



*Direitos Reservados*

CARTEIRA ASSINADA

Entrei no prédio de janelas azuis,
nada se via do lado de fora,
pelo vidro anti-reflexo.
É de dia - quando raia o dia,
o perfume invade a recepção,
e as bonecas pintadas me recebem,
eu me aproximo pé ante pé,
acanhado diante de tanta beleza,
das catracas travadas, severas,
Das paredes de quadros caros,
homens imóveis em posição de sentido,
vestidos de negros, alguém negro,
me olha desconfiado e sem barulho,
na minha ansiedade tudo ouço,
a boneca me chama,
com voz musicada,
no rosto um sorriso falso,
com muito esforço,
dou-lhe a carteira de trabalho,
com duas fotos recentes,
Um homem cheio de empáfias,
me olha o currículo, e sorri amarelo,
me coloca nas costas um fardo,
consegui o trabalho,
um quase trabalho.
Fiquei extasiado e feliz,
pela minha família, pelo meus filhos,
consciente de que tapearam,
mais esse pobre diabo.

*Direitos Reservados*

BATALHÃO DE MISERÁVEIS

Correm igual batalhão,
marcando o passo,
com chinelos de dedos.
Pra frente volver!
Com muito barulho.
O estado lhe puxa o arreio.
Eia! ... Eia! ... Eia!
- Agora enche a cara!
- Agora saqueia!
Corre pra não ser pego
Senão te ponho no trinco
e a tranca
Hoje eles podem tudo,
Pra manter o trabalho,
dos opressores,
ao batalhão de miseráveis.

*Direitos Reservados*

DROGA

Droga...
Droga...
Droga.
Maldito demônio,
que na minha casa dividida
Destruiu
As nossas vidas
De lar harmonioso
Em apertos de dor
Que me separou pra sempre,
De
Voce
Pra que
Eu
te odiasse
por isso
e a mim.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

NEM ME VIU

Colocou café
no copo descartável
Pôs no copo a colher
no copo com café
Pôs adoçante
no café adoçado
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café adoçado
E pôs o copo no lixo
Sem comigo falar
sentou-se na cadeira
mal sentada
Dobrou os joelhos
com as pernas
Pôs os joelhos
no queixo
sem comigo falar
Sem pra mim
um olhar
Da bolsa
Pôs um livro na mão
frente aos olhos
Abriu
a capa dura
que protegia
as folhas
nem sorriu
leu
E saiu
porta afora
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim?
Ela ficou
na cabeça
E chorei.

(Poema pra Daniela)

*Direitos Reservados*

OLHARES

Olhares de olho sonâmbulo,
sonhando desejos,
me invadindo de desconcertos,
que me encanta.
Procuro gemidos
na boca calada sob estrelas.
Tomo entre os meus dedos
o seu sorriso.
Invento a cor dos teus suspiros.
Me deito com um sonho inventado,
me perco em palavras trêmulas
como um bobo da corte,
não sei o que sinto,
sinto que sinto,
como um mar revolto
na gruta onde me encontras
com lábios de espuma
nas poucas horas
indecifráveis
que a vida nos proporciona...

IMAGEM

Oh! Imagem
Que me comprime o peito,
que me escorre o sal do corpo,
molhando como lágrima a boca;
que conservo calada,
pra esconder meu vazio.
Desse amor que é jovem,
sem consciência,
que nasce com ele.
De repente enrubesço;
não como as estrelas
que iluminam minha mudez;
que devia gritar:
Te amo!
Patética aspiração de poeta,
apaixonado e cúmplice,
segredo egoísta guardado.
Que posso fazer?
com esses pensamentos,
que a solidão me sugere,
nesse peito gelado,
nessa boca covarde,
nesses olhos furtivos,
onde continua somente imagem,
pronta pra esquentar,
esse cofre de gelo.


*Direitos Reservados*

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE

A amizade é um amor que nunca morre
como a água que eu bebi,
no seu copo, em sua casa,
que eu bebi, como um beijo;
água de infância,
água nos meus olhos;
água, muito mais que água.
A amizade é um amor que nunca morre
como a abelha
que eu vi mamar nas plantas
da sua sacada;
ou nas pedras que pensavam
sob os pés da mulher que adorava
o pôr do sol na sua sala.
A amizade é um amor que nunca morre
no valor terapêutico
das nossas conversas,
é como tosse que não se oculta,
e só vale se for lúcida.
A amizade é um amor que nunca morre
como o forno quente
que me aquece o coração,
me dando coragem de ser eu mesmo
na hora de lhe fazer o pão.
A amizade é um amor que nunca morre
que dá saudade antes mesmo da partida,
que propõe a troca por toda a vida,
troca de carícias sempre lidas,
nas páginas do livro de nossas vidas.
A amizade é um amor que nunca morre
Em Natal no natal, onde a chuva pouco chora,
Là não esqueça, que o melhor perfume é o do pão,
o melhor sabor é o do sal,
e o melhor amor é o do amigo.

AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE II

Minha inspiração amiga;
Sinto vontade de te dizer;
só esperava que voce voltasse;
sabe quando te versei,
amizade é um amor que nunca morre?
Preciso passar a limpo;
não quis deixá-la mais só
com aquelas palavras.
Não! Não é disso de que precisamos;
de tempestades de bem querer;
não há vento pra soprar essas velas,
desse barco de encantos;
apesar dos sussurros dos olhares
em nossos ouvidos
sempre me recomponho e pergunto:
Há cheiro de recheio nesse aroma de coisa boa?
São sinais que me paralizam;
encorajam, exorcisam...atemorizam;
Já tive o altar no meio das coxas;
agora já não me permito mais o definitivo;
nem atropelar sonhos,
com beijos vagabundos;
beijos equivocados,
sem tom ou rimas;
o amor tem suas facetas;
a amizade continua sendo,
um amor que nunca morre.

(Poema para a amiga Jhaíra)

* Direitos Reservados*

sábado, 3 de novembro de 2007

DO OUTRO LADO

Trate de penetrar no nevoeiro,
molhar-se todo,
buscar a tradução ou as chaves,
sem mêdo,
sem olhar para trás.
Porque o importante,
está do outro lado:
o importante é chegar lá,
estabelecer uma cabeça-de-ponte
esperando o grosso que virá atrás.
Não porque alguém seja o mocinho do filme,
mais porque esta é a nossa missão,
missão de todos os oprimidos.
Nem por choro,
nem porque nós poetas
damos vida as árvores.
Tudo ao contrário.
Porque não somos nós que daremos
beijinhos salvadores,
à boa princesinha.
Sabemos muito bem quem são.

*Direitos Reservados*

DISTÂNCIA

A dor de não mais te amar,
me deixa em suspenso;
mas no coração,
lá bem fundo eu entendo.
Escuros dias se passaram;
nada mais poderá ser igual aquilo.
Não a mais nada a dizer...
só me resta ouvir
a batida do coração,
como batem na água os remos,
que nunca mais voltarão.

*Direitos Reservados*

CRESCIMENTO

Tinha tanta palavra meiga
quando me fizeram de leite.
Conhecia vozes de bicho,
sabia os beijos mais violentos,
viajava, brincava, aprendia.
Era bom amar, desamar, viver, uivar, desesperar.
Era bom mentir e sofrer;
adolescência inocente.
Meu corpo, que era do corpo,
meu único corpo
desamparado entre nuvens,
que eu vesti de negro,
vesti de branco,
cerquei de defesas,
embalei, tratei.
Meu mercado de desejos,
expôe seus tristes tesouros.

*Direitos Reservados*

A PROCURA DE RESPOSTAS

Busco na morte um terror,
um exorcisamento...ou uma atração?
Não sei.
Apenas sei que devo cortar-me
uma orelha,
cozinhá-la e enlouquecer...
ou embriagar-me de côres luminosas
e esquecer...
o arame farpado,
a roupa pendurada,
são meus irmãos,
que estão comigo.
Vivo a mil,
luto...
para que apareça a ambivalência
do torturador
e sua relação com o torturado.


*Direitos Reservados*

QUAL É A TUA?

Teu rosto claro e bem feito,
teu corpo que tudo cheira,
teus lábios vermelhos e macios,
teus olhos - ilusão de retina
de tocaia pupila,
tuas mãos inquietas -
eterno queixume,
tuas pernas esguias
ficam a espreita.
Com que frase,
com que poema,
com que base,
te deitas na minha esteira?


*Direitos Reservados*

PRISIONEIRO

Na vida fazemos ginásticas possíveis
nas mais duras prisões.
No segredo das noites,
fazemos exercícios,
adestramos as pernas
nos confins da cela.
Mais uma vez o bicho aprisionado,
que aprenda a regra mais elementar da natureza,
para alterar a natureza das coisas.
Um homem aprende o que necessita,
ele vive em qualquer circunstância.
O homem é mais do que o lagarto?
Ou do que um cachorro?
Na mão do homem surgem
as vezes escamas.
Nos braços surgem martelos.
Uma poeira cai no relógio do tempo,
e aquele animal na solitária,
aprende a tereza, o tatu,
aprendeu a caminhar,
no túnel que sobe aos céus.
Quem pode sufocar o coração,
do bicho homem?


*Direitos Reservados*

FUGA

Hoje sou moço moderno,
remo, pulo e danço,
Tenho dinheiro no banco.
A posia deste momento
inunda minha vida inteira.
Todos já foram poetas!
Eu nada mais sou do que um poeta.
E a noite caiu na minh'alma
porém meus olhos não perguntam nada.
Nenhum problema nesta vida.
O mundo parou de repente,
os homens ficaram calados.
Que ironia da vida.
Se eu tivesse mil pernas,
fugia com todas elas.

*Direitos Reservados*

MIRAGEM

É engraçado ver as pessoas
em plena 24 de Maio
com a testa enrugada,
indo e vindo
das outras ruas do centro,
ou das ruas da periferia,
preocupados, lívidos,
mortos de medo,
por razôes de ordem política,
por razões de ordem sexual,
por razões de ordem religiosa,
tirando de lado a existencia
da cidade e seus habitantes,
embora esteja claro
que os habitantes não nasceram
e nem nascerão
antes de sucumbir,
e que o mundo é um deserto.
Acreditamos sermos pais,
sermos amigos, sermos irmãos.
A verdade é que somos
apenas miragem.


*Direitos Reservados*

BOM DIA POESIA!

Boa noite estrela!
A terra é quem diz,
voce brilha no alto,
nós brilhamos aqui.
Boa noite estrela!
Que vem nos iluminar,
a mim e a minha paixão,
à nossa poesia,
poesia anoitecida.
Poeta e coração
lembram a poesia,
amam a poesia,
riem na poesia,
cantam a poesia.
A poesia sim,
sim, sim a poesia.

*Direitos Reservados*

PASSA TEMPO

O dia surge, o dia passa.
A noite surge, a noite passa.
O tempo passa.

O riso surge, o riso passa.
O pranto surge, o pranto passa.
O tempo passa.

A vida surge, a vida passa.
A morte surge.
O tempo passa.

O tempo cria. O tempo mata.

*Direitos Reservados*

ACONTECE MUITO

As vezes acontece com a gente
uma raiva imensa
de não poder nem mesmo
controlar nosso próximo dia.
De não saber o que vai ser
de tudo
que pensamos sobre a vida,
as pessoas,
o nosso futuro,
das pessoas.
de não saber aonde vamos parar,
de língua, de braços
e consciência cortados.

*Direitos Reservados*

POLÉTICA POLÍTICA POÉTICA

A mão...
o rosto...
o corpo...
o gesto...

A mão escreve no espaço em branco,
norteando o sentimento,
delimitando-o.
Os músculos do rosto,
contraem-se,
relaxam,
arquitetam expressões:
esperança,
alegria,
tristeza,
e dor.
O corpo acompanha,
retorcido,
mole,
duro,
erecto.
Nasce o gesto,
faz-se o gesto.

*Direitos Reservados*

PARA MEU FILHO HENRIQUE

Não leia poesias
filho meu!
Leia os horários dos aviões,
são mais exatos.
Estude direito
enquanto lhe sobre tempo.
Abra os olhos,
não cante.
Voltam os dias
em que fixarão
faixa sobre as portas
e marcarão
o peito dos que digam
NÃO.

SIMPLES ASSIM

Sou pelo princípio do prazer,
pelo princípio de fazer,
pedreiro que sabe,
que com a conjugação dos esforços,
faz nascer a construção.
Não o palacete,
autoritário e facista.
Mais uma casa,
suficiente para abrigar a vida,
o gozo,
dois metros de verde,
e água limpinha.

VIVAS AO OPERÁRIO!

Ninguém me fale de penas,
porque eu penando vivo.
Que todos se mostrem altivos,
mesmo sendo escravisados,
pois escravisado está até
o operário mais vivo.
Junta experiência na vida,
até pra dar e emprestar
a quem a teve que passar,
entre sofrimento e pranto,
pois que nada ensina tanto,
como sofrer e lutar.

LIBERDADE

Liberdade, sem ti...
nada mais sei.
Compreendi o mundo
em ti,
stil compêndio.
Amei muito antes
de me amares,
entre surtos e sulcos.
Amei.
E só a morte
de perder-te,
me faz viver,
multiplicando auroras e meses.
Eu sou tão doido
que o risco inútil...
percorri
de me perder, perdendo-te,
perdido em mim.

O DRAMA

Sinto que o drama já não interessa.
Quem ama, quem luta,
quem bebe veneno?
Quem chora no escuro?
Quem se diverte?
Todos os mortos presentes?
Cão morto.
Passarinho morto.
Roseira morta.
Laranjeira morta.
Ar morto.
Enseada morta.
Esperança, paciência, olhos, sono,
mover de mãos: mortos.
Homem morto.
O drama já não interessa;
a palavra encanto recolhe-se
entre outras mil palavras.
A espera.

HOMENS DO TRECHO

Eles vem de todos os lugares,
e de todos os momentos,
junto com a fumaça do cigarro que sobe,
com o pensamento... e pensativos,
vendo desaparcer,
o onde foi criado raízes.
Talvez virem vapor,
e falem calmamente a todos,
exortando,
cada vez melhor,
um ser humano,
que é o princípio da vida.
E se tornem brilhantes,
tão brilhantes,
que talvez ninguém os consiga olhar.

GABRIELA MINHA FILHA

Gabi, Gabriela, menininha.
Que linda menina tenho eu,
Estava escondida,
fiz esta poesia e ela reviveu,
Pela simpatia,
Pela sua graça,
e a emoção do meu peito,
ficou muito admirada,
de eu ainda viver neste mundo,
com meu coração solitário,
com raça,
na indisposição com o certo.
Mais meu peito foi se abrindo...
foi se abrindo...
E me tornando tão belo.

NOITE DE JANELAS ANÔNIMAS

As vezes, (em) quando
o ruído de um carro se ouve,
é noite.
O carro corta o silêncio,
como a um túnel.
Onde estavam os que há pouco,
falavam, cantavam e riam
às portas das lojas abertas?
Estão todos deitados,
dormindo profundamente,
é noite
de janelas anônimas.

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

QUERENDO SER UM POETA

Sentado no chão da rua,
Envolto em moscas,
vadiando junto com as palavras,
Sinto os passarinhos,
cagando em mim de dia,
e me cantando pela manhã,
Sou um ser da cidade,
Aprendi a gostar de arranha-céus,
antes das coisas de Deus,
Gosto da palavra "bunda",
e da palavra "piranha",
prefiro viajar com elas,
mais do que de metrô,
As palavras me aceitam,
do jeito que sou,
assim como as pedras.

Detesto as pedras do caminho,
Não tem a importância das latas,
Nem pra mim, a solidão
de um pé de sapato abandonado,
num canto,
Pô!
Estou engatinhando ainda,
sou somente um bebê,
arriscando ser um poeta.

*Direitos Reservados*

BUCHUDA DE GOIABEIRA

O cravo engravidou a Rosa
Que contou pra roseira,
que deixou de ser botão,
- Estou buchuda de goiabeira.
- Vamos comer goiaba de montão!
- Goiaba com bicho de dentro.
Parece poesia de Arnaldo Antunes,
coisa pra encher papel,
de linguiça,
Se masturbando em palavras,
pra parecer poesia.

*Direitos Reservados*

POEMA P/ MAIARA AOS 4 ANOS

Filha, minha filha
que esperta!
Menina tenho eu
jamais estarás só,
De alguma forma
nesses versos sem valor
mas teus e meus
Pequenas coisas tuas
me emocionam
Fico admirado
de originar a vida
mesmo de corpo e coração
solitário
Te vendo
não posso admitir
a não importância da vida
És prova de que cá estive
Talvez não lhe importe
a poesia
de um vagabundo calado
que dela hoje vive
pensando a filha em silêncio
Minha é a amargura
minhas são as cruzes
Será teu esse mundo
mas lhe dou um conselho:
Aprenda a criar flores.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

JUNTANDO OS PEDAÇOS

O homem que vaga,
pelas ruas sem parar,
não canta andança,
não sabe cantar,
Nem sabe brincar,
Ele vive sózinho,
o culpado,
rachado e imundo,
Sem rumo acertado,
Homem com fome,
Faz macarrão de cadarço,
fuma cigarro em latinhas,
torturado,
Não conhece a fartura,
Homem que vaga,
sem medo,
que a morte acompanha,
bem cedo,
vive sonhando,
com as mulheres passando,
olhando as vitrines,
de intensos coloridos,
de coisas tão boas,
vai assustando as meninas,
de sustinhos a toa,
Ele vai, ele vem,
sem casa ou destino,
que te passam correndo,
o largado de olhar sem brilho,
de coração vazio, em pedaços,
o homem menino,
caminha com solidão,
tentando colar os seus cacos.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O DOM DA PALAVRA

O homem herdou a palavra
Alguns com um magro destino
outros a conduziram a brilho,
pra muitos são cantilenas,
de velhas doutrinas,
opiniões e crenças,
como fantasmas,
nascidas das penas,
dos mundos dos reis e guerras,
que ainda assombram o mundo,
ocultas entrelinhas,
de bandeira de revoluções,
pão, terra e liberdade,
e trágica pra quem não ouvira.
Na guerra por seu domínio,
muitos foram calados,
pagaram quem lhe acharam dono,
pois em si mesmo ela lhe impede,
armada de liberdade,
cuspindo em balas,
não são mais palavras.
Só o poeta lhe tem companheira,
calado,
queixando-se as flores,
que pena não falam,
somente mudas de versos e prosas,
que falam consigo.

MENINA DOS OLHOS

Olhos grandes,
meninas negras,
olhos brancos,
em brincadeira,
meninas claras,
sedutoras e livres,
jóias raras,
olhos e meninas,
quase louças,
cúmplices na vida do corpo,
que sabedor de sua beleza,
cavalga a moça.

RUGAS DE MENINO

Quando o homem era menino
de olhar faminto
devorava tudo em dobro.
Enormes olhos, de menina castanho,
curiosa,
sedutora quando observada,
olhares cruzados, flertaram,
inocentes com energia.
Como saberia o menino,
que o tempo lhe enrugaria,
o rosto, o riso.
Entristecida a menina,
com os sonhos que queria,
se perderam por ai.
Só há um restinho de antes,
nas linhas dessa poesia.

O HOMEM É UMA BOMBA

O homem criou a bomba
pra matar o homem
que controla a bomba
que teme o homem
que fabrica a bomba
com que o homem luta
no tempo
como uma bomba
pra explodir primeiro
antes da bomba

MINHA MORADA

Porta aberta a poesia,
que enche os compartimentos
fazendo do livro sua morada,
alojando, sonhos, risos e momentos,
ressucitando tudo que é morto,
abrindo-se para quem chega,
tempo e espaço,
de benquerença,
que a todo ser aconchega,
verso aqui tem nome,
que esquenta o coração com rima,
porque aqui habita,
poeta e poesia.

ONDE ANDAS?

Onde anda seu corpo?
Que a mim vinha enquando,
me causando arrepios insolentes,
me tomando, montando,
invadindo e quente,
com chamegos e dengos.
Que chegava fino,
pesando e ferindo,
perigoso e ousado,
fazendo-se de manso,
que corria os pelos do corpo,
me amando.
Pra meu espanto,
encabulando minha timidez.

NOVA VIDA VELHA

Cavalgo pelos campos,vejo flores,
pelo lombo dos homens que encontro,
que encontro aos montes, aos dias,
Atrás do homem que não encontro,
que o tempo esbofeteia o rosto,
rosto enrugado de vida,
encontro um novo vivendo um velho,
com vida que não encontro.

*Direitos Reservados*

NOVAS MARIAS

Foram-se os homens dos berros,
Que sentados mandavam dar,
Foram-se as Marias,
mulher pra noite, comidas.
Se agora houver amor,
que seja inteiro,
senão que compre aquela,
meio termo,
que fingida geme,
e te atormenta o sono.
Irrompeu uma mulher diferente,
Não é mais propriedade dada,
ou vendida.
Que venha essa nova Maria,
que ela cavalgue junto com seu homem,
como amazona e montaria,
sem tapas ou bofetões,
que se refaçam as aparencias,
e ambos se preguem botões.

SEPARAÇÃO

Tantas fez o homem,
que ela cansou,
Como de costume ele,
tarde enxergou.
No coração dela,
mágoa e lágrimas,
caladas,
Sem nada a dizer.
A ele só resta ouvir,
as batidas do coração,
como batem os remos,
que nunca mais voltarão.

PÔPALAVRAS

Cúmplices eu e a caneta;
de mãos dadas num longo passeio,
ao sol escaldante,
frio, garoa ou chuva,
humor discutível,
sonhava sem pesadelos,
sem afetos.
Me sorriam as palavras,
palavras tímidas e dessrrumadas,
fetos pro mundo,
amadurecendo com rimas,
versando existência,
tornando-se poesia.

*Direitos Reservados*

CORPO QUE CAI

O menino se isola, soluça,
perdeu por ai o prazer,
deixou ir seu amor,
peito oco apertado,
o corpo a bebida flagela,
olhos não choram, secaram,
sua menina já não brilha,
a boca não fala, balbucia.
Num pálido abrigo,sem habitante,
ermitão que se destrói,
isolando corpo e razão,
debruçado na janela, cai,
alma para vagar no vácuo,
e corpo pra se quebrar na calçada.

*Direitos Reservados*

MARGINAL

A prisão agora te abriga
por desconhecer teu pedaço,
do direito que é seu.
No segredo da noite,
das paredes te velam,
aprende mais do que o cão,
como matar pulgas,
porque necessita.
A ferrugem cobre teu tempo,
de bicho homem que anda,
com as pernas, que nas mãos
por vezes surgem afagos,
não cabem mais consigo na cela,
as pernas, as mãos e os sonhos
de um homem no buraco,
acordando sua verdade,
melhor enterrado vivo,
do que vivo morto.

*Direitos Reservados*

SEM GRAÇA

O dia surge, o dia corre
A noite surge, a noite dorme
A hora surge, o tempo passa
O riso surge, o riso chora
O pranto surge, o pranto ama
O momento surge, o momento esconde
A fala surge, a fala cala
O surdo surdo, o surdo ouve
A luz surge, a escuridão apaga
As idéias surgem, a alienação fica
A pomba surge, a guerra fica
A vida surge, a morte mata
O tempo passa, O tempo cria, o tempo mata
O que sem graça surge, a animação enterra.

*Direitos Reservados*

domingo, 16 de setembro de 2007

TOCO

Com um tapa na bunda,
ascendeu-se o pavio da vela,
Minha cara de cêra iluminou,
o recinto, choro de vida.
Ao nascer o mundo
me roubou a chave da bunda
e com toda sua energia,
me afogou em lágrimas,
consumindo-me aos poucos,
fui tornando-me um toco,
procurando como um louco,
uma nova escuridão pra enxergar.

*Direitos Reservados*

CRENDICES

Pra contar estórias,
da carochinha,
contratei um vereador,
pras crianças dormir.
Pra limpar a cozinha,
contratei um deputado.
Pra gerenciar um senador,
pra administrar,
um Presidente.
Joguei todos na rua,
e me casei novamente,
com minhas crendices.

*Direitos Reservados*

LUTA

Olhando no espelho
o rosto de mim mesmo no outro,
testa franzida e olhos cansados,
repetindo as gerações que se movimentam,
amores, desamores, idas e vindas,
com a cabeça pesada de pensamentos confusos,
sobre o ser ou não ser de teorias prenhas.
Nessa sublime crise de existência,
vou desmontando uma casa, tábua por tábua,
pra me fazer um caixão.
Na fronte brota minha lágrima,
escorrida na sofrida feição um homem impotente,
convicto que esse mundo imenso
ainda merece uma boa briga.
Me descubro formiga na fila que anda,
pra rezar, pra pensar, andar em fila,
pra baixo de um pisante, pronto pra ser esmagado,
agora sem mêdo..

*Direitos Reservados*

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

AMOR DE CARTEIRA

Não falo de amor com ninguém,
não falo de amor por alguém,
meu amor coloquei na carteira,
no bolso do paletó, com o coração na cômoda.
A noite ouço palavras bonitas e carícias caras,
de manhã devolvo o coração ao peito,
coloco os sapatos gastos, visto meu paletó;
os compromissos deixo na cama do quarto,
pelo preço que isso vale,
no corpo estendido,
o cheiro de carícias,
carteira no bolso, ao trabalho.

*Direitos Reservados*

HOMEM PATETA

Desce o morro,
o homem pateta,
falando impropérios,
pro homem que acorda,
quando o galo canta;
dando tiros pro alto,
na mão do irmão,
e na fome do asfalto;
engole os sapos,
da autoridade comprada,
que xinga os projéteis,
do pé do morro,
mata cristo, surra a criança,
e vai pra ser o rei da floresta,
enriquecido de poeira,
tantas fez o pateta,
que se tornou um caroço,
pro homem gravata legalizado,
que lhe dá um caixão,
e sete palmos de terra.

*Direitos Reservados*

CONFORMISMO

Não adianta gritar,
o mundo é surdo,
nem rosa em fuzil
comove o mundo,
Ghandi leva porrada,
de crianças de fralda,
cocas - cola e gazes,
precisa bomba,
pra acordar o que dorme,
do sono profundo da nostalgia de Marx,
do lirismo de Stanislavsky,
na veleidade, insensata,
da mulher guerreira que ama a causa,
mais que o amante na cama.


*Direitos Reservados*

INVERSÃO POÉTICA

Eu não minto, na poesia não dou asas,
imaginando uma vida de rosas,
só falo de espinhos, não floreio balas perdidas
no peito do homem, nem me calo,
sobre crianças remelentas de nariz escorrendo,
correndo na esquina em sandálias de dedo,
fora da escola.
Sonhando com objeto da moda, de tvs e vitrines,
que se pode roubar, pois caráter é abstração,
governo não tenho, mas não aprendi só,
enganar, foi o meu meio poeta,
também não sou poeta, pois meio não existe,
sou cidadão do mundo, de qualquer lugar,
que não mereça devaneios.

*Direitos Reservados*

BEBINHO

Todo dia acordado é igual como bala,
de hortelã, num trem lotado barulhento,
como novelo de lã na mão do gato,
desenrolando um sub-emprego,
de sacolas de gêlo, coca,
que se bebe e se cheira,
como vida evangélica,
em vão na boca, um deus cercado,
de amigos ladrões, acariciando corações,
de céu sem dente, com fome,
de mudança que não vem,
porisso se embriago de palavras,
para derreter pedras e andar meu caminho.

*Direitos Reservados*

MOEDA

Os reis criaram os Réis,
que fizeram um Cruzeiro,
nos dando um Cruzado,
Cruzado de Novo,
e nós espancados, fudidos,
vamos vivendo na merda,
escravos de um capital,
pois meu único valor é minha força,
serão felizes esses homens?
Um dia ao relento, coberto de notícias,
de crises cíclicas me esquento no jornal,
qque o pensamento eu lia sem dar um grito,
como um lobo noturno, sem procurar minha caça,
sempre fui humano ao invés de verdadeiro animal.

*Direitos Reservados*

É COISA DOS HOME

A criação da terra?
É coisa dos home.
A fome e a festa?
É coisa dos home.
O sofrimento e o amor?
É coisa dos home.
A paz e a guerra?
É coisa dos home.
Deus e o diabo?
É coisa dos home.
É coisa dos home,
morrer de infarto.

*Direitos Reservados*

NAS NUVENS

No vôo de Fernão Capelo
com sua gaivota,
vi um mundo correndo,
nem me viu, correndo também,
na vida sempre em sonho,
girando...girando, como roda,
em idealismos bêbados,
que se vão, vão voltando,
a cada volta completa,
vai trazendo, nós de gravatas,
sandálias hippies, guerrilheiros,
deuses santos entre amarrotadas nuvens.

*Direitos Reservados*

TORTURA

Sem casa, sem saúde,
Vive um homem casmurro,
Sem rumo, a pé, descalço,
que luta contra incertezas,
listando o que deixou de cumprir,
como um Vandré,tentando fazer a hora,
entre a tortura do algoz,
num novo porão de gritos,
Werzogs que a história repete,
crueldade de sempre,
roga gigante que submete o homem,
ao próprio homem.

*Direitos Reservados*

SURDEZ

Não se ouve
o choro da criança
do mundo.
Não se ouve
O lamento triste
da fome
Não se ouve
o soluço da saúde.
só na abstração
religiosa
algum dia melhor
acontecerá.
Ninguém ouve
o coração do surdo,
que marca a canção,
canto que soa mudo,
que de há de voar
como andorinha,
acabar com os prantos,
ou não,e ser um novo Araguaia.

* Direitos Reservados *

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

RUA EM MOVIMENTO

Apedrejadas de luar e sol,
Cama de sombras imaginárias,
Que fere...
que mata...
que transforma,
atos em poesia,
poetizando a vida ao contrário,
movimento em movimento,
agitados tripulantes de ti,
que hoje somos.
Um dia chegaremos ao abrigo,
guardado de interrogações,
sem respostas, cokm muitas reflexões.
Lembre que há um pouco de nós,
Em teu corpo de piche.

*Direitos Reservados*

MEU BURACO

No buraco caiu uma semente,
foi germinando aos poucos e planta se fez.
Dela veio vida, um pedaço de raiz,
um pedaço de folha, um pedaço de fruta,madura,
me estiquei pra fora do buraco,
pela primeira vez vi o Sol,
vi a luz, vi gravatas, vi rios,
vi montanhas, vi o amor,
vi queimadas, vi a fome,
vi a morte, vi a dor,
nessa meu olhar com asas,
achei entre montes, um jardim muito verde,
repleto de flores, um cantinho intacto,
de vida de gente, cutuquei...cutuquei,
lá fiz um furinho, bem devagarinho,
ao lado da cachoeira cavei meu novo buraco.


*Direitos Reservados*

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

JANELAS

Janelas
Molduras
Da natureza
que pintam a vida,
um jardim florido,
uma rua deserta,
um mar, uma pipa,
Um céu cheio de estrelas,
Um pôr do sol,
Um surgir da lua,
Um amor que passa,
Um beija-flor perdido,
Uma bala perdida,
um avião suicida,
que entra pela janela.

*Direitos Reservados*

ROUPA POÉTICA

Você me parece fazer tanto,
pensar tanto, relaxa!
É só despir sua pele e seguir nua,
até que o mundo te vista com a lua,
aí escolhe tua própria roupa
Se nada lhe couber,
Se veste de poesia.
Deixa transcender tudo,
pelos olhos curiosos.
Coloca braços nas xícaras,
lágrimas na garoa,
esconde a brisa,
aquece o sol,
saliva a boca,
se não ficar feliz,
queixa-se pro mar,
se as ondas não truxerem respostas,
nas garrafas náufragas,
novamente se veste de poesia.


* Direitos Reservados*

INVEJA

O alecrim não chorava
quando a garoa caia,
Invejava as folhas,
que lágrimas vertiam,
invejavam as folhas,
o alecrim,
de porte atlético,
corpo esbelto,
invejava a garoa
As lágrimas,
que sentiam-se só,
invejam o alecrim,
fino, cheiroso e frio,
como um cavalheiro inglês,
Morto.

*Direitos Reservados*

SEM FRONTEIRAS

Não se escuta o ronco
da barriga do mundo
quando o mundo tem fronteiras,
fronteiras de credo,
de cor, sexo, de amor,
de deus, de fome e de dor.
O homem de mão de ferro
pegará a picareta,
quebrará o coração de pedra,
e cultivará uma flor
E livre do cativeiro de si
Vai entoar outro canto.


*Direitos Reservados*

VAGANDO

Conheci as ruas
juntando latinhas,
mijando em paredes,
fazendo fogueiras,
vagando sózinho.
Conheci as ruas
tomando cachaça,
vivendo aventuras,
fazendo trapaças,
não sou pobre coitado,
sou um homem capaz, inteligente,
por me deitar com jornais,
escolhi ser largado,
viver sonhos roubados
e almoço esmolado,
sou cheio de mim mesmo.
Com as pessoas que vivo,
sempre sou esperto,
eles são trouxas,
quando não acordam primeiro,
como malandros vividos,
e eu, intrigante,
um corpo vazio,
num mundo hipócrita,
de malícias em sorriso,
me sinto feliz
neste vagar liberto,
que aos outros invejo,
a esposa que acolhe,
pra mim o sereno,
e o perigo da noite,
no preto do asfalto.
Um homem da rua,
homem, moleque,
deste mundo que adoro
Só quero uma mulher
pra amar, pra me dar atenção,
pra fazer poesia,
de noite ao deitar,
descoberto, cansado,
com o rosto tristonho,
quero ser filho de Deus,
com quem peço insistente,
pra junto me levar,
pra com ele morar,
pensamento indeciso,
de quem só sabe vagar,
num vagar impreciso.