segunda-feira, 13 de outubro de 2014

BANANA

Uma velha árvore centenária
Desfolhada, nua,
Alienadamente sozinha
Olhava um lago sujo
Diante daquela imagem, lodosa,
fincada uma bananeira
Com um cacho de bananas amarelentas
Balançando, como um canto de ninar.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

POESIA DE VOCÊ

Como coisa imaginada
você
Tudo que te fecha
abro
Sua morada coração
invado

devagarinho arranco
sorrisos e abraços

sem reciprocidade
me entrego

Me permito sonhar
sobre sua pessoa
Seu cheiro. Beleza
açoitando a mim mesmo

Não permito tristezas
nessa poesia de você

OSTRA

Se você viver mais do que eu,
mais do que a minha vida
nunca esqueça do nosso amor e ódio,
das borboletas que colorimos,
dos sorrisos de jacarés.
Tempo de amor, vermelhos carinhos,
num mar revolto, amante navegante,
náufrago errante das tempestades.
Ostra sou.
Amor e ódio quero desfrutar novamente.
do outro que está em nós, nas marés
No porto que atracarei.

CORAÇÃO DO OUTRO

Tomara esse flerte não me cegue,
e não! Nunca me seja eterno.
Que não me sequestre a razão,
nem me torture.
Mesmo tendo sido, sendo, serei,
por ele, o amor.
Que meu olhar não se perca no horizonte,
aquilo que ainda é tão belo desejo ver,
espante o tormento.
Que não me apequene, pequeno flerte,
gigante sentimento.
Se tornar-se amor que me deixe
cofre coração do outro.

A GENTE SE VÊ POR AI

O sol levantou cedo
estava todo dourado
o ar com cheiro de orvalho
meu corpo amarrotado de você
o sol, você, começam a esquentar
só não dá para entender
- A gente se vê por ai!
Lagartixa na parede
deixa ela comer
esses pernilongos chatos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

AS ESCOLHAS SÃO TUAS

Homem de sonhos
as margens da vida,
que te fala a solidão?

Que é só, e que oca te fica,
e que já foi antes,
hoje, amanhã e depois de amanhã
que te diz?

Mas do que essa poesia, com cereteza,
e muita outras rimas e poemas,
delas e das saudades
de tudo que nunca foi.

Não escuta essa solidão
narcisa que só fala dela,
teus ouvidos são pra outros hinos,
as escolhas são só tuas.

INFERNO E CÉU

Infelizes mulheres de becos e cemitérios,
todas tem medo de poesia,
mas crescem, florescem, sorriem,
sorriso que se repete desde a antiguidade,
desde o primeiro amor,
um poema que as uniu e acariciou o coração,
pra tê-las felizes, cheias de inferno e céu.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

NO BANHEIRO

Engoli palavras
embrulha-me o estômago
que agora ronca.
Dói-me os bagos de ameixa
com a poesia crescendo
nauseante, grávido?
Vômito? Não!
Fora existe o mundo
Onde bocas pousam em outras bocas
como moscas, palavra que me dá ânsia?
Amor?
É chegada a hora da teatral defecação.
Que bicho será que darei a luz?

SE O SENHOR NÃO TÁ LEMBRADO

Estamos favelados, fruto de classe,
cruel, saboroso como limão,
ácido como a história ácida.
Quem são os construtores? Todos, que se farão cinzas,
mãos cruzadas no caixão que sorriem hipocritamente,
ricas, cheias, reduzidas a nada, singelas autoritárias,
afagando a historia na cabeça submetida de outros homens,
sonhadores, criadores de Deuses.

Os barracos se levantam alienados pra durar
reproduzindo sonhos da classe oposta desejada.
Descobrimos a roda dia a dia que há tempos roda
entusiasmada pelo mundo, turista,
da paisagem da fome, consternados olhos,
presos a correntes ocultas.
Barracos, arquitetos, singelos egoístas,
cada qual com seu espelho,
falida consciência, morta, se esvaindo em desencanto,

Tomara seja mentira
essa realidade eterna eternizada,
que barracos vão viver, mas, morrer
todos os dias, pouco a pouco,
mesmo que na beleza de cada poesia.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

ERA UMA VEZ...


A mulher na gaiola
de que adianta, pular.
de poleiro em poleiro
bater asas?

Ela na gaiola
a gaiola dentro dela
simbiose crescente
dentro de um mesmo silencio

Meu coração Quixote
te libertará donzela!
Para mim as coisas não
são coisas que são

Galopante
não vejo o cenário
acenando
estou no cenário

Com a mulher e a gaiola
como se uma coisa só fosse, vivo,
Era uma vez...era uma vez...
a vida e o resto.

sábado, 5 de abril de 2014

TRABALHO ALIENADO

Se uma máquina quebra
outra máquina nasce
dentro do trabalhador

Alienado, minuto a minuto, dentro,
em cima embaixo esconde o capital, a magia,
da máquina que brota

(vida, noutra vida, vida severina)

Vida, sem nenhum viver,
vivendo a enrugar, ruga a ruga,
que aguarda , o trabalhador, reserva,

Para ter o direito a envelhecer,
com a máquina eterna criança.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

É MEU? É NOSSO?

Meu coração
deixei pintado na escola
onde ficou pintada
minha sexta namorada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu primeiro abraço
foi um abraço foi-se
meu corpo usado
como uma mosca bêbada

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente

como um sol de outono)

Minha primeira rima
a mulher do sorriso
que cruzava as pernas
à minha frente

É meu esse mundo colorido?


(Quente, quente
como um sol de outono)

Meu coração achei
pintado na escola
no peito da pintada
não mais sexta
primeira namorada agora

É meu esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)

Amor achei adentre
em meio, embaixo, entre
com esses olhos girassóis
olhando, o dia ensolarado

É nosso esse mundo colorido?

(Quente, quente
como um sol de outono)


SORRISOS

Os sorrisos escondidos
são adubo da seriedade
cinza e gelada

Os sorrisos palhaços
não tem cor na formalidade
por temer os erros engraçados

Uma lagartixa
na parede solitária
silenciosa

Ilumina a noite a lua gorda
com cara de preguiça
meia lua

Hoje é dia de sol!
Invade sua boca despintada
abrindo os lábios coloridos e quentes.

sábado, 29 de março de 2014

COPULANDO MISTÉRIOS

Um rosto não perde sua cor rosada
sobre outra cor,
deitado corpo, numa cama rápida.
Na noite, em movimento, o corpo,
doçura, sutilmente desenhado,
pisos, crateras, cavernas d'agua,
em que por vezes me afogo.
Sexo abundante, espelho,
onde dançam estas palavras de mistério,
Elas arfam altas e baixas tão silenciosas,
mortalmente confusas.

POEMA MUSICAL

Suado baú de sons
ela sonhava agora eu
depois do grande acorde
vivia em mim noite dia
um tempo de música
poesia ia e vinha
colcheia semi colcheias
violino que me tocava
Eu? Tinha a obrigação de cantar.

quinta-feira, 27 de março de 2014

PERDIDO

Não me acho
não me achando
não procuro por mim

Sem nascer
não morri

Eis me aqui
sem estar

Esqueci
que me lembro

Nesse chão
sou apenas semente

Flôr não deu.

FICÇÃO

É fato!
A vida é o que imagino.
A vida não é!
Quando ela sai de mim
sou morto - Morto - Vivo
só quando existo.

PROCURA

Um amor procura
um corpo leve, sustentável
no solitário tempo
Um anel
Um véu
Gaiola de pássaros
Um mar, maremoto
na paisagem tranquila,
olhando um horizonte
que ninguém viu.

TENHO GOSTO DE MAR

Se eu pudesse me escolher
Como ser? Teria que me desenhar
molhar lençóis de suor
talhar em dura pedra,
exato nas curvas e retas,
mesmo em pedra - pedra suave
Meu intelecto?
Esse já me é dado,
não me é dado a escolha
de ser.
Por isso sou sem asas, porém...
ser humano é um privilégio
dessa estrela,
ora fria, ora morna,
com gosto de mar.

MARIONETE

Passo a vida
embalado pela história,
mesma, mão que balança o berço,
me vigia os passos,
a frente, atrás, entre,
ora me afoga e ressucita,
me rasga o peito e cicatriza.
A vida, a vida mesma,
nunca conheci, não me achega.
As cordas dessa marionete
deixadas pelo chão, não tem raízes,
esticadas linhas frias,
que escreve esse poema
antes que a morte lhe venha.
Escreve o seu.

domingo, 23 de março de 2014

CÃES

Os cães dos vizinhos
se xingam a noite

Os cães
símbolos de proteção das casas
presos, entre paredes,
saltam sobre os portões
gritando palavrões
saltos, corpos, presas,
assaltos , sobressaltos,
assustam até estrelas
poderosos supermans
como se fossem policiais.

NOTURNOS

À noite, acordados,
os pernilongos, baratas, ratos,
corujas e grilos
Tudo que pude escutar e ver,
além de outros de pouca vida,
todo jardim dormia com o pomar
somente a vela na varanda
aquecia o silêncio
que caminhava para o fim.

DIÁLOGO

Eu debruçado sobre o alpendre da janela
à sombra de um abacateiro
os braços dobrados segurando o queixo
o dedo indicador levantado
dialogava com uma maritaca
sentada num abacate
- Porque tanta falação?
- As minhas palavras escravizadas fugiram da gaiola
sou mulher!
Discutimos pomares, flores, ventos...
Que as rugas do tempo jamais esquecem.

sábado, 22 de março de 2014

ROTINA

A mulher da minha escola
voa com o vento
observa o casal de moscas
espera palavras de amor

Reluz o repetitivo dia
na mente de trovões e trovoadas

O domingo chegando depois de amanhã
com macarrão, maionese e frango
ossos de cachorro - futebol de amor de ontem

Correm jovens sonhando
a mulher da escola voando
asas são seus pensamentos

Não sabe que sou poeta
e do amor que rima em mim.

TRISTEZA

Capotei nas curvas da morena
que descia a estrada
a caminho da escola
Minha primeira aula do dia:
sonhar!

As pudicas salivaram
o desejo dos meus olhos,
o sexo dá vertigem
molham lençóis brancos

O vento corta o tempo
que já não tenho
Pernas pra que te quero?
Corpo de ex cravo visado

As rugas amassadas
vertem lágrimas que não voltam mais.

REBOLADO

Vi um lagarto na praia
belas cores brilhantes
pele fria desfilando ao sol
atento. Me viu
correu sambando.

AO VENTO

Cavalguei muito tempo
pelas trilhas do corpo dela
O sabiá do mato cantou
Estávamos partindo de nós

A arara azul decolou
um roceiro montou a armadilha
que nunca prendia vôos
trotei para o pomar

Daniela me agarrava a cintura
com os olhos na pradaria
voava no trotar ao ar
despida de si mesma.

COISA DE VAGABUNDO

Sei lá porque faço poesia!
Não sei se rima... se faz barulho...
Talvez rime de vez enquando
talvez tenha musicalidade... ou não...
Prá ler...não pra cantar...
O trabalho me grita:
- Isso é coisa de vagabundo!

OUTRO AMOR

Amor, amor que transforma
efêmero, amor que muda
outro, amor sempre amor
mudanças sofridas que vivemos

sofremos passarinho
colibris numa gaiola
prisão de gelo num pôr de sol
amor, senão amor

Se o sol mudasse
derretesse o gelo,e,
nossas asas de Ícaro
amor, existência plena

amor, despe a camisa de vê nus
nau de náufragos
me faz feliz porque
te amo

Amor, amor que transforma
efêmero, amor que muda

DOMINGO DE SOL

O dia amanheceu humorado neste domingo
o sol lava a sala, os móveis, a geladeira,
não há crença no eterno
nem a verdade de haver verdade em tudo
somente um domingo de sol quente
um dia vagabundo de horas preguiçosas
cores infantis, quixotes cotidianos

na rua - um cão coçando a bunda num poste
gente caminhando juntas, distâncias cansadas
na fruteira uma banana preta, um maracujá de gaveta
tudo um domingo de sempre, rotina sonolenta
Tudo me empurrando a poesia - domingo de sol
um poema que ainda não tenho.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

METÁFORAS DE UM GRÃO

Busquei o sangue, e,
escrevi a palavra...grão...
Beija-me!
Com a faca que rasgo o chão,

chão sem fim de tarde morto
não germina o verde fim, assim,
num silêncio de flor afora
triste como o podar árvores nesse poema,

de sonhos e cansaços
onde voam coloridos pássaros
na brisa de um vento vago
envergando lírios brancos, vivendo

entre sangue, grãos e sonhos
quem me sinto, faço  morro
sentado no colo de seus ombros
navegando no mar de meus olhos,

a tarde pôs-se a garoar
no chão batido e rachado
pingos pipocas num caldeirão enorme
logo a chuva chovia, então,

que sabem os grãos, as flores
o chão, a chuva e a vida?
Gotas d'agua não são anjos,
seja o que for, parecem falar comigo,

semente de ilusão, nasce e fecunda
metas aforas, floresce o mundo
como coelhos e estrelas
sendo flor sempre será grão.



sábado, 8 de fevereiro de 2014

QUEM ME FIZ?

Risos de hiena, goiaba bichada
Quem me fiz?

Passeios ao fim da tarde
furtando flores de seus vestidos
Quem me fiz?

Borboleta colorindo vôos
que bate asas no espaço, só,
quem sou eu?

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ROSAS

O perfume se exala
ao largo das ruas

entre a brisa
se levantam
se espalham
aos braços do vácuo

aroma que voa
juntos colibris coloridos
cortando o ar
aromatizando o vôo

Outras rosas se procuram
voam todas pelos espaços.

PÁSSARO NEGRO

Negro
um risco
de grafite
um corcel
desenhando dias
de sol e chuva

Ao peso da outra cor
outra flor
outras correntes
selando elos e cadeias
envolvida em lençol negro

Caminho cego
num quadro negro
onde o açoite, calado, vive
à fuga da imagem
que não muda.

Ainda o dorso dobra
fustigado de liberdade
coagulado sangue escravo
Num cicatrizado
pássaro preto.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

ALAGAMENTO

Vem chuva por ai
Não venha! Conserve
a água represada
como um poço

O odor da terra
não desenha a colheita,
tão pouco se contenta
com o cheiro dos grãos

Chuva, chuva: estamos
molhados
tem gente sofrendo
a fome é um afogamento
dos que aceitam


Sem alagamentos
amor e amantes, úmidos,
da água são sementes
que colhem ao fechar das mãos

Chuva, chuva
O sol vem por ai
te espera, esperma,
tua natureza.

MEU TROTAR

Como deixo
sendo cavalo
sendo montado
antes de não ser

Como cavalgo
pelos prados, nesse novelo de gato,
teia de aranha
que grudo nos cascos

Porque trotar, se ainda
o cavaleiro me doma
o trote da vida?

Domado estou, nos campos
ferrado, nos buracos
covas me acolhem

Tombei repentinamente, sei,
sacrificado serei. Funcionário.
Não funciono. Mesmo morto
restos meus combatem.

ALERTA

Se foram
desaparecidos
eles nós vivos
em nós vivos
um alerta
aguçado instinto

Os cães adormecidos
apertam mãos, abraçam,
não estão longe, aqui,
lágrimas das lágrimas
ainda são armadilhas

Custa nos existir
gritar gritos
forca, abafos, mas,
sussurram- nos o passado
nas tardes sem brisa

Ainda somos poucos
ninguém percebe
precisamos seguir
ao ponto do medo,
resistir ao medo

Somos o todo, juntos
uma arma
que não reluz
com as estrelas

Mas, as idéias
trabalham,
sonham vivendo.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

TÚMULOS

Humilhante
humilhante reconhecer
que vivo num buraco

De buraco em buraco
aguardo uma vela acesa
no fim do buraco

De buraco em buraco,
cheio de contradições, que,
se transforma o tempo todo

Meu buraco é meu lar
como o de um pombo
com ar e migalhas
preso dentro da vela

De buraco em buraco
minha metáfora buscou o mundo
o mundo era cego
num buraco maior

De buraco em buraco
abriguei a vida, cada vez
mais fundo acolhida
com tudo que acumulei
latinhas, ferro, misérias do dia

De buraco em buraco
escondido em meu latifúndio,
coquetéis molotov, um violão
Uma lata de tinta 18 litros
pra cozinhar meus dias

De buraco em buraco
maltrapilho, pés rachados
muitos caminhos e chinelas
chinelas menores que os pés

De buraco em buraco
uma mancha
uma pedra
rolando no chão

De buraco em buraco
o miserável se esconde
meu porão, meu calabouço
no fundo de cada dia

De buraco em buraco
do tamanho que é
da profundidade que quis
sou erva que não se arranca

De buraco em buraco
vivo com folhas mortas
sonhando ser, sem cura
nem existo, nem dói

De buraco em buraco
mistério e minha ignorância
onde todos são sombras
de árvores dos outros

De buraco em buraco
na inquietação de meu descanso
sonho com flores a minha volta
Não são flores! São gente, e,
só há gente lá fora

Quem me fia me desfia
de buraco em buraco.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

HOMENS E COISAS

Criaturas ou criaturas
ou lógicas criadas

Num mundo de Deuses
ou coisas estáticas
sem conflitos, harmoniosamente
névoas aspiradas viciadas

Um espetáculo resiste
leão, sereia, urso
máscaras de neon
infinitas vestimentas

Na resistência cruel
pela acumulação do valor
cemitério, latifúndio
ou ficção?

Submissos criadores
sonhos que somos
desse legado, resgate
que o sonho liberta

criatura de vidas próprias
não se vestem como nós
são coisas que nos conjuram
só morrendo para sabê-las

Nas fatias do tempo
elas caminham paradas
são fetiche, são ousadas
instantes coisificados

Só o poeta percebe o abismo
entre os homens e as coisas
como rosas e percevejos
O homem não resiste a essa infecção

Quando nos despimos
nús e sem cabrestos
obtemos uma lente de aumento
onde as coisas ficam claras




sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

NASCIMENTO E MORRIMENTO

Meu começo um nascimento
chorei no ventre , no mundo
a vida, água, ar
o começo do fim
vivo morrendo

Vou me construindo
nas experiências que vivo
viver é minha ação
entre acertos e erros

De negar a ficção
ou não, vivendo
da não ficção
e das coisas que renego

A vida não sabe, desconfia
tudo o que nela agrego.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

QUADRO DE RECORDAÇÕES

Recordações são,
como um quadro
na parede, colorido,
quadrado,simétrico,
como quarta parede
de momentos após momentos

 O quadro na parede
gasto, vibrante, intensa
estória de vivos e mortos,
uma jovem lenda imortal
do que foi ontem

Para avisar de que
por aqui passei
e não voltarei

O quadro quadrado
aprisionado e prisão
pincelado, linhavado,
não possui rugas, ou,sentimentos,
fria grafia que não finge

No quadro
com suas linhas multicores
pousam moscas
sem asas, sem vôo.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ARMADILHAS

Tendo sido e tanto
no meio da tempestade
caiu no entanto hoje
no esquecimento

Foste um furacão
de intensa destruição
- Sua natureza
Hoje rasteja pelo chão
como bicho de peçonha

Se foi, se foi!
Não lhe abano o rabo
como cão adestrado
que come na tua mão

Hoje não é mais que um verso
catavento, que enquando
com o vento gira pra movimentar o mar
junto com outros dejetos

Sido tanto fui
um lobo faminto
preso na minha própria armadilha

TEU SILÊNCIO

Conversa com teu silêncio
na varanda
- Com o balanço da cadeira,
olha o que teu olhar alcança.
Sopra a brisa mesma
do final de tarde
arrogante, arruaceira.
Pensa no que foi, é e será
medrada por contradições,
enquanto as rosas mortas
embelezam o vaso da tua mesa
é tua  a solidão companheira de si mesma
- Como a lagartixa no alpendre
Como vai?
Seu idealismo enfrenta
a mesmice hegemônica
e tua inquietude concreta
pronta a comungar

CONSTATAÇÃO

Amigos são inimigos contra os quais não se tem defesas.

PEDRAS NO BECO

Vou morrer num beco
de crime sem autor
por quebrar pedras no caminho
tinha pedras no caminho
do beco que me abrigava,
incendiei todas.

DETRÁS DA PORTA

Sai detrás da porta
achando que o mundo havia mudado
que a fome tinha acabado
e você fosse só minha.

Que tudo fosse filho de Deus
e pecar tinha passado a ser lindo.

Escondido detrás da porta
não vi nenhum movimento,
sonhei com tudo perfeito,
cheguei tarde pra algo fazer
assim como minhas lágrimas.

Sai detrás da porta
pensei e fiz
mesmo suspeito, sujeito,
sem movimento
eu quis.

MENINA

Ouvido, silêncio ou choro
barulho que o mar faz.

Talvez seja inveja dessa meninapequena,
que, nesse olho tão grande jaz.

ALÉM DA VIDA

Não precisa vida,
sente a brisa,
estrela que não sabe nadar;
nascimento que me instiga,
só podia ser vida!
Estrangeira até para si,
só quem te vive pressente
Que dia é hoje?
Preciso dar um passo a frente.

SABEDORIA

Venho aos poucos morrendo

As pernas dando seu passo
são passos de marca passo

Venho virando criança
brincando de amarelinha

Venho saltando muito
entre céus e infernos

Venho esquecendo momentos
e os vivendo de novo

Venho perdendo as crianças

Venho descobrindo o saber
sabendo o saber que me mata.

NOTÍCIAS INACABADAS

Sobre a calçada fria
abriu-se um jornal novo
com velhas notícias do dia
numa mente deitada tranquila

O ano velho se foi
ficam nossas noites mais brabas
com o ano que agora fica
ainda repetindo os dias

Notícias dos outros
as pombas, as festas,
as roupas, as cestas,
as ceias, romãs

as notícias que aquecem o corpo
cobrem de sabedoria
sobre ser meio isso ou aquilo
sem nunca ser um inteiro

Jamais sei, saberei
Se o mundo será meu ou nosso
Com essa força pra fazer
o que posso

Certo é que essa vida decepada
jaz na tua calçada
em noites de estrelas,
ruas desertas e notícias inacabadas.

FOME

Magro, encurvado
dentes à mostra
costelas nas costas
dormindo ao relento
um cadavérico corpo
Está comendo vento?

domingo, 29 de dezembro de 2013

VIAGEM

Faço parte dessa gente, que
agora vai
viajando em nuvens
puxadas por cavalos alados
conduzidas por mim mesmo
gente que tem vidas reais
que vão à lugares - que existem
querendo explodir o destino.
Que o diabo me carregue!
Não divague sobre sua existência
a única verdade da vida é morrer.

PAIXÃO

Paixões ainda me tentam
não nego
cruzes que carrego
quando as noites fazem estrelas

Paixões mal curadas também,
dos meus erros, zelos,
cuidados que não quero mais

Apaixonado
sempre fui suspeito
assustado dentro do peito
parecendo que nunca existi

Agora só invento quando preciso
ou...
quando quero comer o universo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

BERINJELA FOI AO MERCADO

Berinjela foi ao mercado
comprar chuchu pra salada
que fugiu pela portados fundos

Era um chuchu pequeno
chuchuzinho de não ser
notado, nem pra cozido
nem pra assado

Berinjela se chateou
com toda a confusão
não fala mais com chuchu
só anda com beterraba

MORRENDO COISAS MORTAS

Um vaso morreu
no chão da minha sala

Túmulo de uma rosa morta

Fina matéria vida
aos cacos, desfolhada se foi.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

SOBREVIVENTE

Sobrevivo a tudo isso

O amor que pareceu foi
não cabe neste poema

Fato: Foi
absolutamente

Passou simplesmente
nada mais que isso.

CARIOCAGEM

A vida corre
com água de côco
muito barulho
um mar heresia
nos corpos de areia
e muito chiado na voz.

MINHA NATUREZA

Abelhudo
bebi o mel
da Azaléia
da tua saia

A natureza
bela te veste
fera
te dispo

Nos meus sonhos
infinitamente
tanto.

PELO VÃO

Que cruel tortura esta
de querer explicar tudo

As respostas ai estão
estão ai as respostas

Há uma explicação para isso

Essa curiosidade
de querer saber
o que são como são
e que são ficção

Melhor negá-las
sempre que possível
ou vivê-las

Na ficcional realidade
dum vão.

DÚVIDAS DE UM BÊBADO

Será que vale a pena
se estou fetichisado
pela imensidão do Estado

Luto meus momentos
com o canto das cigarras
silencio... anoiteceu...
a brisa ficou

Nunca muda
tudo no devido lugar
a TV no canto
e o sofá no centro

O que devo fazer
ou não?
A vida enruguece
eu bêbado

no butiquim do Seu Armando.

ATÉ MAIS VER

Hoje há uma preguiça em tudo
uma lentidão aparente, um
silencioso pânico de gente
com doze badaladas, noite
de atores, clows, sorrisos, choros,
matando vidas inteiras
um genocídio imenso de estrelas,
parece real, mas não é
Só parece eterno
porque é lento
entre luzes e ribaltas
acenos de quem volta
sereno e descalço
 Pro ano que vem.

24 P/ 25 DO 12

Que solidão é essa
que invade até tua sombra
sob  o olhar de quem procura?
Nem-te-vi
Nada sei sobre você e a pedra
nem sobre o cão mendigo da esquina
Sei que dessa solidão me construo
construído sou só
Metafísica?
Meia noite toca o sino
nas ruas desertas, baratas,
sorrisos flácidos, amores, amigos?
Um maltrapilho morre de fome
mas a fome não morre com ele
o menino sobre a pedra na manjedoura
é de louça e fantasia.

DIÁRIO

No diário que você guarda
momentos de tua vida
não há referências
de amor

No diário
seus momentos são
linhas magras
mágoas

Seu diário
não te cabe mais
seu diário
não cabe um mar inteiro

As medidas do teu diário
são tão grandes como suas verdades.

BICHO DE GOIABA

Tento enxergar
além de mim e você
um futuro quase real
de teorias prenhas

Amanhã enxergo
todo o passado de mim e você
revivendo,
minhas correntes

De resto?
nada vejo
senão rugas
num mundo pálido

como bicho
de dentro
de goiabeira.

DESABAFO

Tomar todas as brejas
ao Pagodinho cabe,
loiras, geladas, redondas
nascer corinthiano
a nós, periferia
essa cruel realidade, de
fazer da luta um nada.

A FOME FICOU

O Natal passou
o ano já vai pra janeiro
um menino nasceu
bezerros
ovelhas
presentes
trabalho
e a fome ficou.

NO NATAL

No Natal
cantou-me um sino ao ouvido
e depois emudeceu.

PAREI, PORQUE PAREI?

Nós lutávamos

E a massa perseguida
com a luta que lutávamos

Nós lutávamos

e a luta que lutávamos
como essa de hoje
nos traz o prazer da utopia

e a luta que lutávamos
era outra alegria

Nós lutávamos

e a luta que lutávamos
achávamos vencer todo dia

Havia tanta luta que lutávamos
e o movimento mesmo
Porque parei?

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

SARDAS

Sardas esticadas no rosto
como um tapete de onça
Deito no chão e observo,
não há flores no meu Natal,
que vento te chegou?
Não veio, não virá,
só meu resto de vida
que acredita em Papai Noel.

AMANHECENDO

Amanhã é um devaneio
porque não existe hoje.
O dia é cinza agora,
se o sol não surgir
vai chover com certeza.
Apesar de bonito o amanhã
não sei se vou brincar
de sol e chuva com você,
amanhã é só um nome,
será melhor depois de amanhã.

NOVO ANO

Quando entrar o novo ano
talvez já não me encontre aqui.
Tomara o novo ano seja gente
que possa chorar crianças
mas um novo ano nem sequer é coisa!?
Nem mesmo o pão, o trigo,
os pães, o trigo
dias de um novo ano justo,
Nada surge do nada
não há d'javir
Tudo é tão ficção sem luta.

ABRAÇOS DE POLVO

O abraço do polvo
acolhe
fetichisa

Meu corpo
quente
pesado
escravo

Minha alienação
minha vida
abraçada
mão de obra

Realidade
do meu olhar fictício
meu olhar
trabalhador

Meu ver comovido
o mar
quando é tsunami

Polvo
de abraço terno
suave

Agradável
como o levantar
da brisa

Ou como a canção de sereia
que tudo é
assim é o que é

Aceito, agradeço,
acolhido pelos tentáculos
que faz pensar
que existo.

Difícil ser eu
não enxergar
ao olhar

Um trabalhador mudo
olhando o poente
pra escutar o que ele fala.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

TRISTE

Foi-se tanto tempo
momentos que a vida viveu
te casou, te felicitou,
não podia ser diferente
E eu?
Também. Triste?
Triste.
Com o tempo.

FINAL DE TARDE

Sempre ao final da tarde
final da tarde em ponto
ela me sorri, dedilha os dedos no ar
sempre ao final da tarde em ponto
telefones, amigos, funcionários, lhe cobram atenção
sempre ao final da tarde em ponto
Pequenos gestos silenciosos, flertamos,
sempre ao final da tarde em ponto
covardes perante a forma e o conteúdo dados
sempre ao final da tarde em ponto
não vivemos um amor de verdade
sempre ao final da tarde em ponto
a noite nos escurece.

PASSATEMPO

Passa tempo
como se não passasse,
Meu baú de lembranças
guarda você, o vento, e o sol

De quando em quando
me remexo a lembrar
pro tempo passar

A coloco ao meu lado
com nossa imaginação
entristecido com o pôr do sol
quando a noite escurece
com o gostinho dos vagalumes
Sorrio pras suas sardas, desejo-lhe,
muito sol e muita chuva,
levantar-lhe as saias, na esperança
Que a qualquer momento o tempo
devolva vida ao meu baú
Pra eu deixar de passar por isso
vivê-la sem pensar nisso.

TALVEZ SEJA OUTRA

Talvez eu te achasse mais linda
de noite, nas calçadas de Cajuína.
Olho teu corpo frágil e branco
vejo forma de noite calma.
Na cama, a forma que carrega
me cobra destreza e delicadeza
como quem não deitou com ninguém.
Talvez seja outra.

NATAL

Todos (alguns) terão
um Natal, quem saiba uma ceia
em (in) completa, bárbara, solidão
No saco que carrego... amigos?
Só mercadorias.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

FERIDA

Feriu-se de amor?
Não morra nas margens
nem seja marginal.
Siga a correnteza.

PRAZER PLATÔNICO

Amar dormindo
é masturbação,
morrer de gozo,
amor a perder de vista.
É demais!

PENA DE MORTE

A pena de morte
é um pitbull faminto
de carne putrefa
dos ossos que somos
O resto é botão de camisa com casa
pente de eufemismar
imagens indigeríveis.

CRUZADAS

Todo momento de solidão
me faço um guerreiro
um São jorge
Assassino um dragão
e duas cruzes
depois decifro cruzadas.

DIA DE CHUVA

Sampa
dia de chuva
noite de meia lua
em barulhos cegos
sem poesia.
Acabou a rima.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LEVEZA DE SER

Corre de mim Carolina
pela areia do mar
conflituosamente , olha o caminho
e a vida que passa
nossas separadas,
Não fica, não deixa, não volta
corre esse mar imenso
para um porto porvir
bem longe das flores
Corre arfante, barulhenta
com sua leveza de ser
que logo te alcanço.

MORTE EM MOVIMENTO

Só morrerão meus verbos
quando me for, o movimento,
com sua suavidade
de mais nada dizer.
Pena uma vida tão breve
Depois que me for, passa
porque nunca fui
quem aqui esteve.

DOS OUTROS

Oh! Portuguesa
algum dia
num bar, com cerveja
será minha por algumas horas

Seu corpo e sorriso cativante
me atravessam como flexa
aguçando-me a cobiça,
algum dia...

Me verá gostando
naquele bar, só a mim
cansado, como sempre,
das mulheres dos outros

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PORVIR

Um dia
depois de um sono frio
de lagarto
te direi o que penso

Um dia
terei a coragem
que não posso hoje

Um dia
guerreiro me torno
armado com as armas
de talvez amor

Um dia
um porvir...
um porvir...

TÉDIO

A noite subindo
as estrelas se ascendendo
abrindo-se para o vácuo universo

Uma grande festiva noite
universo em brilho, cintilando,
pelas semeadas estrelas

Fixo meus olhos no mastubar dos astros
Flora hegemônica do negro céu
Onde terminamos o tédio.

OPERANDO UM VERSO

Saltam os gritos da folha branca
dos operários que mastigam ossos
do matadouro que engole homens
como um polvo, abraçando, sacudindo,
afundando as marés com os tentáculos
ao som de uma canção de ninar
O balançar das ondas?
Juntam os corpos e as memórias
que já não trabalham, fodem como cães
mães, pais, filhos sem mais valia.

POEMA

O poeta
versou a filha
mas ela, amanhecendo
deitou-se com a lua

O poeta
rimou as amantes
mas só lhe coube,
flores, flores
e um beija-flôr

O poeta
poemou os amigos
sem rimas
se perderam em diferenças,
Fez então uma auto-poesia

Os Narcisos gritaram:
Somos enfim um poema!

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CHINFRIM

Real ou ficção?
O eu em mim pra você
você em si para mim
sei que surfo
um mar e moto
aventura chinfrim

O que procuro?
Vida e morte
Narciso num mundo de mim
na crista da onda
esse mar e moto
aventura chinfrim.

EXISTÊNCIA

Velho ? Me volto a infância,
birrento, marrento, exigente
recordo, olho, comparo.

Tudo tão velho onde fui novo
tão outro o que me tornei
não sei se fui sou feliz ou não
sei que essa garoa me lava as rugas

Toda vez que me revejo
busco respostas a essa existência
que me transcende.

SEVERINA SOLIDÃO

Jamais admitiria ser uma nuvem
Pra que tudo que voasse defecasse

Melhor seria ser chão
que úmido brotasse

Tudo que fizesse vida
ùtero do mundo, em cena

Severina lida, solidão
mistérios, sofrimentos.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

DEVANEIOS EXISTENCIAIS

Sózinho sido
Sózinho sendo
Serei
Um gato meigo
Tenho amor a isto
talvez por não ter o que amar
ou
por nada que valha meu amor
tanto poderia dá-lo à um gato
ou
as estrelas
Nunca amei senão coisa nenhuma?
Do amor só lhe exigi que fosse sonho
Tenho muitas mulheres dentro de mim
reais, imperfeitas
Sou um sonhador que faz poesia pra mim.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

COISAS QUE VALEM A VIDA

Cultivo ainda algumas mágoas
em que o ceticismo sobrevive.
Um pouco de amor,
vivo porque já vivi.

Sou um tanto ignorante
de saber que pouco sei
è uma ficção
com pitada de realidade

Rosa de desamor
em arranjos de laços de fita,
Berra! vermelha, gritante,
as lutas que movem o mundo.

DO BALANÇO NA VARANDA

Esta tarde refrescou no balançar do vime.
A cobiçada Carolina brincava de mal me quer
com as margaridas.

Essa varanda é uma janela grande
quando assim a imaginei e fiz,
era um romântico Pudol
Acolhido na primeira vez.

Queria então ser poeta, sem noção de rimas.
Tenho agora esse espaço meu em vida
Balançando com minha cadeira de sanidade.




QUERENÇA

Meu desejo aumenta, cobiça
novamente sentado na praça,
tempo fechado, cinza entre
um desejo e outro,
negação da negação, fendas
num lençol úmido,
querença, de suores, deitando
os sonhos do mundo, nadando...
voando...pra banhar-se de novas águas
num dia colorido de borboletas.

AS QUINTAS NA MINHA RUA

Buzinas de carros, pregão na feira,
gritos.apelos. dvd's piratas e sorrisos
na rua da minha casa às quintas;

Cheiro de urina dormida
homens em descanso à porta das lojas
sabiás, maritacas, gritando juntas

O sol secando a chuva do mundo
sangue seco da vida roubada
no asfalto debaixo da caixa de tomate

A brisa, cheiro das flores,
condimentos e frutas
tudo isso e eu sózinho

Minha vida, minha gente,
minha rua...
amanhã novamente.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O AMOR BUSCA O QUE NÃO TEM

O amor veleja pelo que não tem
Se as velas não se movem
Nem aqui ou Mucuripe
não sai para pescar amor
não pega nem gripe.
Mexe, vento mexe,
pra velejar de novo, sem remo,
cobiça o horizonte.
O que amo hoje tenho,
Amo o que não tenho ainda.

 

MASCARADOS

Quando caírem as máscaras
que compõem o rosto, atrás,
infindas rugas inofensivas, aparecerão,
do passado não construído, um cão,
acoleirado, morrendo de câncer,
morrerá, morrerei, na roda gigante,
que gira peões.
Deito-me, talvez fosse feliz,
como coisa ou outra,
dispo a máscara, estúpido
ficcional ou não; versando...
versando...