segunda-feira, 23 de julho de 2012

AMIZADE É AMOR QUE AS VEZES MORRE

O lamento das minhas mágoas
mais suaves que goles de cervejas
mais do que faca da língua,
maliciosamente me aquecem os dias
frios e mudos

Na gruta que me abrigo
fico mais pedaço de pedra

Um triste lampejo nos olhos
me adoecem quando penso imagens
dor de fanáticos em suplícios
ou de um lobo urbano...

Farsa
essa que vivi, amigo,
como câncer,
como crença,
covardemente assassinada

Foram-se as amizades
que guardamos com punho cerrado
pra solidalizarmos nos sonhos?

Hoje já não há sonho.

Durmo enganando as mágoas
essa que o punhal deixou nas costas
por gerações narcísas
geradas pelo mundo das coisas

Descanço meus dedos cansados
de palavras mudas, pedras,
falta de rimas , versos
de angústia tropical

Nessa e outras noites
vão sendo superadas
Hoje me privo de versos
não declamo mais
Zecas e Cristinas

Amizade é amor que as vezes morre,

IMAGINANDO COISAS

Lá no meu quartinho
meu mundinho
escondo um sol
no buraco da parede
que me aquece quando chamo.
Não! Como posso ter um sol num buraco?

(Segredo: Me imagino poeta.)

ME CHAMO SOMÁLIA

Há uma pobre razão pra viver
povo somaliano,
quando me vejo negro minguando
como tu
num delicioso morrer de fome.

MAÇÃ

Não teve importância
a maçã
não era nem maçã
antes de se fazer pecado.

Todo momento e manhã
maçã
sem lugar, em cima em baixo
entre

Fruta madurando
salivando a boca
como você
nos pomares das mordidas.

TERRA

Que me cantem
aos ouvidos
os sabiás.
Que me voem
as borboletas,
as libélulas,
aos beija-flores
quando chegam, digo:
Me polinizem!
Sou terra!

NEM MAR NEM PEDRA

Não mar nem pedra
no silêncio que se isola
mar amor como
vento suave e violento

Em qualquer mesa de bar
os versos fogem ao poeta
intrasubjetivamente
isolado como pedra

Não uma pedra pedra
mas um pedaço humano
coberto de andrajos
em outras mesas de bar

Não andrajos andrajos
fragmentos humanos
cercados de solidão
por todos os lados

Minha menina contempla
as doses dos copos
gotas dos olhos
Não gotas gotas
mar de pedras caídas.


URSO

A mágoa ibernou
murchou a rosa
do espinho
que me torno,
firo teu corpo
com sonhos
quando acordo.

UM TRABALHADOR COMEU UM PADRE

Os padres pedem ao trabalhador
para ter esperança, dividir seu pão,
com ritos ao som de aleluias
diante do corpo presente de Cristo.

Sem pão na mesa,
os pratos transbordam de esperança,
faminto, ronaca a barriga
e ele come o padre, diante
do corpo presente de Cristo.

ENSINANDO A POESIA A FALAR

Aquele beijo
que você me deu
a semana passada
tá doendo até hoje.

TEMPO

O tempo é movimento
interminável na existência
sussurra
sobre a vida
existência passageira
como o movimento do amor
sua significância incontrolável
laço, armadilha
que sorri, dessa efêmera existência
brisa de transformação do corpo:
dança eterna.

domingo, 22 de julho de 2012

FRUTAS PODRES

Como poeta, as vezes me revolto,
escondo mágoas
envelheço pra outras festas
e cumprimentos amigos
Só no pomar dos meus segredos
há frutas amarelando no pé,
quando apodrecerem não chorarei.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

BRINCANDO DE BONECA

Aline é menina
de louça, boneca,
que brinco no quarto
quando sonho.

Dormindo pesadamente
vou além do sonho
com meus segredos
que a realidade assassina

Essa minha imaginação fértil
coloco nos versos, pensando,
a boneca de louça
que brinco no quarto

Sem a rima na poesia
uma boneca mastigo,
a criança, o poeta,
que não sabe fazer poemas.

Ela sentada na cama. Sem saber
de mim, como se virasse fumaça.

OLHANDO O MAR

Penso em Cristina
sentada na pedra ao meu lado
olhando o mar
ao meu lado.

Ao meu lado, tão distante;
a distância tem que ser longe?
Faltou-me esse distanciamento
antes de sentar a olhar o mar.

LOBO DO MAR

O mar uivava
os uivos ensurdeciam os lobos,
os lobos eram cruéis.

A história passa por mim,
as lembranças são fantasmas
me torturam as noites.

Pela manhã, as lembranças se divertem
rodopiam como borboletas,
na cama o suor do embate,
a cena da tortura,
que se esconde ao raiar do sol.

OS DESEJOS

Os desejos desejaram
a morena do Rio Grande do Norte,
os sonhos, o poeta cansado,
a menina, o laço, a armadilha,
companheiros, oss corações pulsaram
e os desejos fugiram.

(Os desejos continuam ainda erectos)

ALGODÃO

Aquela jovem
era como chimaço de algodão,
tinha mêdo d´agua,
do mar azul,
do pó dos grandes centros,
da geada úmida,
daqueles que morrem de frio, mas,
sabia aquecer o meu corpo.

D´JAVÚ

Eu e ela
sentados na pedra
que o mar
quer abraçar?

No pensamento dela
golfinhos passam voando
em idéias que rastejam
como cobras.

Eu tenho um d´javú no peito
onde os gestos das mulheres,
suas ações,
se repetam.

Nós olhando a imensidão do mar
vigiados pelo seu horizonte.

domingo, 24 de junho de 2012

RENASCIMENTO

Ela jamais quebra
o silêncio
de pedra, por ser
pedra.
Ele não desmuda
o homem
de fala muda, por ser
homem

Ele ela apesar
de estátuas
homem-mulher-pedra, por ser
amantes de si
sedentários se quebram
fazendo brotar pássaros cantantes
que entoam
canções de protesto.

domingo, 10 de junho de 2012

AFIRMAÇÕES E PERGUNTAS

No mercado da mão de obra
ele se vende
Obrigado a trabalhar para sobreviver
ele se mata
Obrigado a calar a boca
ele tampa olhos e ouvidos.

No mercado da mão de obra
ensina-se a esperança,
Amai-vos uns aos outros!
Genti-leza gera genti-leza!
ele diz amém,
mas começa-se a perguntar:

Esperança, amor, gentileza?
Por um trabalho que me mata?
O que produzo, prque não posso ter?

No mercado da mão de obra
caro amigo
sua paciência, seu sorriso submisso
bebendo seu copo de humilhações,
traduzem a mais profunda barbárie
que rege tua vida. 

FATO

Nunca é o que parece
nunca é o mesmo à pouco
à pouco nunca, já passou
tudo vai se refazendo
com juízos de valor
nunca é impossível, afinal.
Nunca é o que parece
não há de ser nunca.

MEU CAMPO

Cultivo um gramado
no armário
e uma bola na gaveta
do criado mudo

logo vou ter meu
próprio campo
no meu quarto
pra não assistir campeonatos
com a sensação
de estar sendo enganado

já ouço a torcida
gritando gol bem baixinho
todas as noites.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

BRINCADEIRA DE VENTO

O vento brinca
lá fora
com a natureza

Flôres em pânico
águas trêmulas
levanta a poeira

Não fosse o vento
só o silêncio,
não fosse tanto

seria quase.

HÁ TEMPO

Ainda há tempo
minhas rugas
ainda há tempo
Nem meu definhamento
nem meu descanso fatal
Vão matar a vida que ouso
pois vou começar
tudo de novo.

ESPERANDO

Esperei se e-mail
ele não veio
esperei por vôce
também não
Nunca disse que mandaria
ou viria
mas o coração esperou.

LEMBRAR APENAS

Levanta teu muro de cravos brancos
Sei que pretende aventuras e fantasias
No passar do tempo
do calado relógio
me espia.
Provei do teu gosto
teu sumo grosso
sei que te sei
não queria dizer
nem te pôr de poema
só quero lembrar, apenas.

terça-feira, 5 de junho de 2012

PARTINDO

Gelo no copo
(chorando)
gelo ao sol.

Silêncio de gelo
que o gelo chora

No sol e no copo
gelos são
só letras frias

Silêncio - lágrimas
sempre o mesmo:
gelo.

TORTURA

Barulho de chaves
barulho das chapas
das grades
dos coturnos
dos corpos na escuridão

Um côro de passos
Um côro de bombas
um côro eu nú,
pendurado, penso,
sobre uma arara.

MATA CHICO

Da floresta mais densa
ao morrer
de uma árvore de joão de barro
bumbo sem baqueta

Os homens bárbaros
abatem como rês
o grito em volta

Tomba o corpo verde
quixote da selva
aos olhos

A cobiça (sempre a cobiça)
Age sem punição
aos interesses da ganância.

CONSTATAÇÃO

Sempre
um corpo surge
macio ao toque
de uma mão
se
uma vez acariciado
o corpo responde:
é a mão
que faltava.

FRUTAS DO CONCRETO



A poesia lida
de tão metafórica
te traem o sentido

Um papel de rabiscos
rasga o pensamento
de todos

Dos homens distraídos
as mulheres aceboladas
correndo as ruas

Os meninos famintos
aspirando o perfume da cola
do país de berço explêndido

Um pomar na cidade
de frutas amadurescendo
mortas

As que não morrem
apodrecem na terra.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

GRAVIDEZ

Pelo outro
em face do outro
sob seu olhar
de gemidos e extase
um ser vai sendo
esculpido no corpo.

ESTILHAÇOS

Hoje sinto teu carinho amanhã,
os traços de teu rosto,
depois a tristeza do teu silêncio
um cristal que caiu e estilhaçou,
caminho por eles gritando
de dor e surpresa.

QUEM ME DERA

Quem me dera fosse seu livro de cabeceira
e que seus dedos me virassem página à página

Quem me dera fosse seu travesseiro
que apoiasse sua cabeça e me derramasse os cabelos

Quem me dera fosse seu cobertor
te cobrisse e aquecesse por cima e em baixo

Quem me dera depositado em seu criado mudo
voce me olhasse satisfeita pelo prazer que causei

Antes livro da sua vida, travesseiro que te equilibra, e cobertor que te aquece
do que nada na sua estória.

CARINHO

Carinhosa, carinhosa, muito carinhosa
um afago,uma palavra, passa carinhosamente
e some, sempre muito carinhosa
não sei o que dizer a respeito,
é melhor me calar.

MUNDO ESTRANHO

Nesse mundo estranho
morte e vida
tem o mesmo horário
morte e vida
severina

nesse mundo estranho
jogo palavras ao vento
sel lenço ou documento
pra acalmar as horas

e nelas me afundo
elas pedras tropeços
faca afiada de manejo
nesse poeta que não conheço,
mais estranho é o mundo.

O FIM EM SI

O fim mais triste
é aquele que anuncia ir para sempre
contrariando sua finalidade
provocando a dúvida da partida
que vai chegando
Não evitá-lo parece-me racional
para se cair na teia da alegria
que transforma a feia beleza
da mesmice.

VIRANDO AREIA

Um frio inrrompe
ela sumindo, matando afetos,
naquilo que diz,
naquilo que escreve e não lemos.
Pombas nos telhados
ventando incertezas

Vão -se grandes arranhões
como se surgissem de gatos
no cio.

Chora o quarto vazio
onde o silêncio do dia
se deita na cama tendo ela ali
desfazendo os castelos de areia.

MATURIDADE

Vou sumindo
o corpo dela tem mil balanços
na musicalidade da vida,
o que a faz criança,
ela de vários desejos
abandona regras, e,
das mãos extensão dos braços
transforma os brinquedos em ferramentas
de sedução, construindo sua própria cama.

NARCISO

O beautiful da minhoca
fugia pelo menor buraco
enquanto eu ouvia "carinhoso".
Isso mostra a realidade esvaindo
o que não fomos,
como flores murchando
nos afastando
do nosso muro e do nosso jardim
nos tornando narcisos d'outro mundo

MINHAS VERDADES

Estou velho
Não sou feio,
não sou belo
aos meus olhos;
sou bom como um cão,
impuro como a lama

PERDIDO

Que alguém me ache

algum

alguém

qualquer

sem nome
pra viver

Pra viver que venha

MEDITAÇÃO

Adormeço de tua ausência
Desperto de tua ausência.
Jeans,seios, meias, nádegas,
calçados, foram embora.
Falar de ti? Falar tudo nada.
Dócilmente, por acaso.
Durmo, gozo, nú, talvez

FAZENDO AS HORAS

Como um guerreiro indígena
pinto-me para a guerra.
Levanto minha lança e lanço
gritos de indignação
sem medo do que venha a acontecer,
por andar de ombro a ombro
com aquilo em que acredito.
A fome e a opressão me fazem
ter essa coragem.

Para os sonhadores
sou mais um idealista
sob o pressuposto do idealismo.
Meus pais me ensinaram
os primeiros passos: como pensar,
a forma certa e errada de me portar,
encheram-me de juízos de valor;
aprenderam com quem?
Pergunto-me.

Fora do casulo
confronto as contradições,
daquilo que acho que sei,
com o que acham que sabem
os outros.
Alço vôo pelos jardins,
e observo o roubo das flores,
permaneço calado.
Me deparo com o pisoteio
dos jardins e a caça as borboletas,
permaneço calado.
Quando por fim resolvo gritar
para o mundo, arrancam-me a voz
e cortam-me asas
já não posso voar ou falar.

Fica claro que o movimento
na terra se acelera e não nos é possível
perceber ou descansar, sob a égide da barbárie.
Os cachorros continuam a obedecer às ordens
de comando, e nós que não somos domesticados,
ficamos calados de terror.
Afundado no travesseiro fantasio um levante;
ao acordar suado, sinto o gosto do mar na boca.
Um vírus me corrói corpo, está preste a me destruir.


Dormindo e acordando diante
das mudanças lentas, fica claro.
que minto a mim mesmo, só repetindo.
a história de outros heróis que não mais precisamos.
A televisão me mostra quem é Duro de matar,
Matando minha consciência.
Livros de apóstolos são lidos para embalar
meus dias para me alimentar de esperanças
enquanto o estômago ronca com a promessa
de que todos os homens serão julgados um dia.
Não estamos atrás de vingança,
queremos igualdade em vida.
Nenhum monarca divino ou terreno deve traçar
nossos destinos: basta de sermos súditos!
Nem justiça ou Salvador aparecerão
nas prateleiras de algum supermercado.

Plantamos flores e colhemos,
na hora da paga pelo esforço,
lá estão eles como aves de rapina
a espreita para nos roubar em nome.
da nossa segurança; mas se nos defendermos.
é sobre nós que eles marcham e pisoteiam
com os coturnos que lhes demos;
temerosos vivemos sob o slogan liberdade.
È chegada a hora de não ter mais medo,
afinal a vida é efêmera, acaba-se,
precisamos fazer valer a existência:
fazendo nossas horas.

*Direitos Reservados*

ALIENAÇÃO

Alienei-me.

sem perceber, nos rostos anônimos das ruas do centro, as vidas eificadas, meu espelho, mais que isso, é como se não houvesse gente, dentro de mim, a dizer-me: acorda!
volta-se as ações.
abre-se ao desconforto.
deixa-se levar pelo movimento da vida.

deixo que as contradições me atravessem, que o mundo me possua, me possua, me leve a reflexão, continue, pra que eu possa fazer e refazer, sem ter certeza, certo de estar certo.

o fazer é meu foco, como um pragmático intelectual, para sentir mudanças que não havia sentido.
deixo a apatia da alienação, a morte em vida, com ternura e faço meus dias.

volto-me as ações.
Abro-me ao desconforto.
Deixo-me levar pelo movimento da vida.

AFRONTA

Dia
sem por de sol
desanoitece
no escuro
na noite, quase

Dia em si
na linha reta do horizonte
transborda de indignação
fuzis ou lua
que, enfim te afronte.

ANDARILHOS

Os Kms percorridos por um andarilho não o fazem um herói.
Os gritos anônimos nos interiores das casas de crianças,
não silenciam os mares ainda.
Continuamos revirando as latas de lixo à sinfonia da barriga.
Os soldados continuarão marchando comemorando
suas vitórias, ao som dos coturnos, agitando bandeiras.
Andarilhos não podem andar só, não podem andar só,
As armas e os tanques não trazem alimentos,
a farinha da pólvora não tem um bom cheiro.
A côr do sangue do andarilho também é vermelho
Como poderemos viver vivos, fingindo não enxergar?
Andarilhos não podem andar só, não podem andar só

VOANDO

Se estiver muito sol amanhã,
e da prisão eu me for,
depois d"amanhã

POLIGAMIA

A poligamia é o desejo de uma mulher solitária que ama pedaços de homens.

ENGANO

Tão meiga e tão cruel
A morena que me amava
Não passava de um açoite.

INSTRUMENTO

Descubro o mundo
procuro um buraco
Caralho!
Sem osso
toco
instrumento de sopro.

sábado, 12 de maio de 2012

BANHO DE CHUVA

As formigas se beijam
quando se encontram;
há quem não acredite,
só quem tem tempo
de olhar pra elas
percebe,
como o sol
se refresca na chuva.

OUTRO DIA

Outro dia uma amiga
veio construir narrativas comigo
em silêncio

Ela veio
inteira...não...meio a meio

Enchemos a cara
construímos juízos morais,
em silêncio

E fomos cada um para o seu lado.

MUITA POESIA

Na dialética da luta
todas as contradições
são válidas.
Quem sou eu?
quero ter tudo
não tenho
se tenho
é meu...
mas divido...
se não consigo...
não ligo...
todo mundo é assim...
é natural
dor de cabeça
aspirina
Marx
e muita poesia.

MÃOS QUE MUDAM

No passado sentia a esperança
num futuro que não houve
sem gula sem fome
e nenhum dos outros seis pecados capitais
O capitalismo me deu esse hoje
e possivelmente um amanhã pior
com mais miséria enlatada
palavras que saem da boca
que não cabem mais na cabeça,
irão até as mãos, capazes,
de transformar essa natureza.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

DÚVIDAS

Das dúvidas fazem-se certezas
ou dúvidas novas,
entre uma dúvida e outra
nascem as melhores e as piores dúvidas,
disso eu tenho dúvidas.

MELANCOLIA

Levantei-me um franco-atirador
um socialista platônico
vendo o dia vestido de elegâncias
enquanto o sol ficou namorando a lua
pela janela olhei em volta, e vi,
um homem narciso
que viu sobre sua imagem
as marcas do uso na sua fisionomia,
notou nas dobras outra existência,
achou que não lhes pertencia
e quis afastar dle o espelho do pai.

As verdades de um momento
são infinitas.

A descoberta de ter esperado
como um personagem de Beckett
que o mundo se transformaria
enquanto ficou enrugando quieto
fingindo que agia
a espera, sempre a espera,
banhou um mar pelo rosto
carregando uma melancolia,
do que buscou não fazer,
o mar ainda revolto, e ainda,
a espera...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

É TUDO DELES

É tudo deles
a foice, o martelo,
a bigorna, o ferro,
o trigo, o pão,
também seu coração,
seu pensamento, sua canção,
sua moradia, seu salário,
sua mulher e seus filhos,
tudo que voce acha ser seu;
Tudo porque jogamos fora as espadas
e agora carregamos cruzes, e,
caminhamos para o nada
com a nossa face enrugada.












TENHO MÊDO DO DIABO

As vezes fico muito triste
quando ando pela periferia ou centro
e vejo gente comendo lixo
crianças comendo a fome
a casa ao relento
a vida se sujeitando.
Fico triste, mas ando por ai;
nos meus segundos burgueses
minha ira materialista
me leva a pensar em lutar,
mas tenho medo do vermelho
tenho medo do diabo.

AMO SEMPRE

Não é preciso o amor,
nem precisamente, o rosto angelical,
os cabelos sedosos,
a escultura do corpo,
o padrão de beleza vendido
que me desperta o amor.
TYenho mil, milhões de motivos
para amar sempre.

PELA ESQUERDA PELA DIREITA

Pela esquerda pela direita
desalojam-se índios
pra morada capital
pela direita pela esquerda
operários na sarjeta
batalhões de miseráveis
pela esquerda pela direita
fodem-se livros e mulheres
pela direita
se aposentam, e olham
o poder pela varanda
pela esquerda
discursos, desesperos,
da luta ao luto
pela esquerda pela direita
o mundo crê que avança,
há quem conchave
Sou poeta de baixo para cima
e como ação
defeco no papel.

POETA DE INCERTEZAS

Não gosto de marxistas
que não vêem a ideologia como instrumento
que tem respostas para tudo
e um estoque de certezas
Sou poeta de incertezas
do tudo desamarradinho,
do tudo desarrumadinho,
amo o antidiscurso.
A poesia é de uma clareza...
como lua cheia...
quando escapa da poluição.

VIVO

Vivo
vivo porque participo da vida
não aceito o destino
não cultivo esperanças
não faço pedidos em orações
faço minha hora
quando ela for chegada
reclamarei a barricada
Vivo
vivo porque também aprendi a morrer

terça-feira, 8 de maio de 2012

APOSENTANDO DA HISTÓRIA

Minha geração
sem ereção política?
Onde estão as lideranças
de ontem, seus discursos, seus orgasmos?
Aposentaram-se uns, reclamam-se outros,
e o mundo não para, cansados, enfadados,
como se houvesse tempo para isso.
Se outras revoluções houverem
olharemos com tédio no espelho
contemplando nossos filhos,
como as formigas que perdem o rumo
e os Tamanduás - bandeiras
vão comendo a história
pela mão do nosso Estado,
Tudo é tão natural olhando-se da varanda.

CELA

Privado da liberdade
nesse momento da vida
nesse momento da história
nesse momento de mim

- è um doloroso castigo

Como prender um beija-flôr ou um avião
a contemplar sempre o horizonte
sem diálogos, sem o sexo do dia e da noite

- é muita perda

Só por desejar ser quixote e domar arranha-céus?

É trágico o poder,
o não poder é mais triste.

NA VEIA

Passado os tempos
relembro fragmentos
adolescentes, equivocados,
lendo a história de ontem
a hoje; o que ocorre,
o fato, convenhamos,
é um porre.
Vivíamos fumando maconha
dançando sobre o trabalho alheio
nossa religião materialista recitávamos
outra droga, mas: entranhada em nossas veias.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

ONTEM NÃO ACONTECEU


Ontem
não aconteceu
um porque
não aconteceu
... não aconteceu como não
aconteceu

Ontem
de como aconteceu
um porque
aconteceu que não
aconteceu

Ontem
como acontece
quando há
porques e
acontecimentos.

sábado, 5 de maio de 2012

VIRADA CULTURAL

Hoje tem virada cultural
eles lá estarão - pés de chinelos
bermudas, bêbados ou não - caminhando
esperando a virada.

Alimentados por sopa de pedras, aconchegados
por papelão e jornal; um morador de rua
acordará, mendigará seu café, olhará
sem enxergar, o carinho da cidade
que lhe violenta os dias

Amanhã, depois de todo festejo cultural
dormirá sob o jornal de hoje.
Ao levantar sob sol e chuva
cidade vai lhe dizer o quanto foi divertido viver.

HOJE

Como me indignar com meu hoje?
Tenho apreciado a cerveja,
as redes sociais, as novas tecnologias,
calçado seus sapatos
vivido seus sonhos e contradições...
e vomitado muito.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

OS VERBOS

Os verbos
me movimentam
para onde as nuvens
se esticam
e o mar se encolhe
pra outros nascimentos

Os verbos
me fazem sonhar
com mãos e pés,
com a fartura de pão,
e com crianças que falam com flôres.

VÁCUO

O amor inquieto
derruba a facadas
a solidão em volta

Não vive o conforto
do cafuné
aos ouvidos

O silêncio (sempre o silêncio)
cala-se
sem explicação
no fundo do vácuo.

AFETO

Hoje o maracujá se dá
o corpo enrugado
a espera de carícia,
uma vez tocado
o coração confirma
o afago aceito,
o afeto oxidado.

DESATENÇÃO

Um dia ao meu amor desatento
mandarei comer peixe com banana
pra morrer ou engordar
como vivem as ilhas.

SINOIDAL

Adormeci a solidão,
se passa, passo.
Ontem foi ontem
hoje é agora mesmo
fico sinoidal
a vida assim
precisando do que
não esteja parado
de tudo que não descansa
com toda a solidão
que nos são próprias,
a minha vida já não é.

AMOR

O amor
o meu amor?
não está em você
está em mim

Na moda ou piegas,
poético, enfim,
é meu amor
que está em mim

 O amor
este, sedutor,
único
é maior que eu
já está

Nele umedeço meu coração
banho meu corpo nú.

CINZAS

Na vida real
as mortes são vivas
feito do efeito do nada
sem compromisso com a vida
tudo sempre acaba em cinza
até as cinzentas verdades
contida na filosofia.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

LEMBRANÇAS

Quanto tempo se passou?
Não sei.
Mar de lembrança,
vou içar as minhas velas
em você vou navegar.

MULHER

Humilde e vertical
como milho no milharal
lutadora mulher genital
quando andas, troteias,
gazela, entre suas nádegas metal.

MENINAS

Dos teus olhos saltam
as meninas, num parque de diversões

cabelos
fios me milho no pé
que quando se espelham n`agua,
fazem ondas, carícias a vida do fundo

Tuas meninas sabem mais que tua cabeça
e tanto como teu ventre
é  a beleza da pele alva
do teu corpo em pêlo
esse mar onde nadam
as nuas meninas dos teus olhos.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

LUGAR COMUM

Sabia que a chuva fina parava,
que era fim de tarde porque as rãs cantavam.
Vou a janela sem nada a dizer,
exceto que que vou decifrar paisagens.
Assim: coisas úmidas, limpas, nas próprias formas,
cantos, floras, faunas, terra, de cada qual o extremo.
Sem nada a dizer, aperto entre o indicador e o dedão
a caneta, firmo-a no papel e descrevo minhas imagens
deixando boquiaberto o poema.
O meu lugar comum tem outro cheiro,
tem muitas cores e muitas rimas.
No meu olhar pro horizonte,
pererecas, pássaros, borboletas e grama molhada;
ventam o espaço aberto. Cada palavra deixada, como música anterior,
dançam, rimam, se alinhando,
no úmido centro do meu lugar comum.


terça-feira, 17 de abril de 2012

AS MARGENS

Na poesia concreta
homens de pedra
arranha céus
becos, ruas, ciladas,
onde?
escondem-se os urutais
Seu teto
estrelas
suas criações
criaturas que se erguem
de anjos que batem asas
silenciando gritos
tempestades
que afogam margens
arrastam tudo.
Crianças que não sabem nadar
agarram-se aos golfinhos
no cotidiano do rio
que corre pro mar,
curso que tem de mudar.

domingo, 15 de abril de 2012

AQUI SE DIZ AMÉM

Moro num país tropical
aqui celebra-se, natal, ano novo,
carnaval.
Sambamos cristianismo
recitamos marxismo
ainda aprendemos catecismo,
nunca lemos, "o capital"

Aqui quem come crianças,
são padres, pastores e bispos,
que não dançam carnaval,
o demônio ainda é o comunismo
pede-se paz as almas,
apontando o caminho do céu,
não dá pra ir de avião,
ao trabalhador comum.

Aqui ainda se diz amém.

DIZAMANHÃ

Gritou-me o mar: acorda!
Eu vi teu rosto
no vai e vem das marés
na minha manhã de fantasia
lavou-me os pés
esfriou-me o corpo.
Pena que esta manhã
sem você é verdadeira.

FOTOGRAFIA

A imagem assim sem fome. Muda
sorridente e jovem. Registro de amor
ou desamor de frontes nuas. Que arquivo;
movimento roda da vida, que sobe e desce,
nunca a mesma vida que pensamos conduzir.
Nós maracujamos nas gavetas,
a imagem rejuvenesce a cada dia,
amor de lençóis amarrotados
iluminado pelas noites, que as vezes,
gozam estrelas.

HISTÓRICA É A FOME

Histórica é a fome
sol sob sol a roncar, a cantar,
a música que ninguém assune ter cantado
nem admitem as amarras da mordaça.
Hoje cantaremos
somos todos responsáveis,
matamos com nossa munição de ódio,
de isenção, de amor,
somos todos responsáveis,
por plantar sangue, ditaduras e versos.

CRIANÇAS DO AMANHÃ

Olhem o futuro
olho nas crianças
nos olhos, nos pés,
na barriga, nos risos,
no choro, na esperança.
Versos do amanhã
que a luta desperta.

JAZIGOS

Sangue derramado
cicatrizes que não fecham
fome mastigada
onde não se tem pão
barbárie inacabada
tostão a tostão
pelos jazigos sãos.

LUZ

Bombas de criações podres
perguntem aos Deuses
se plantam arroz?
A partir de hoje
bombardearemos a alienação
enforcaremos a singeleza do capital
e sairemos da escuridão.

VAIDADE

As coisas são homens
Os homens são coisas
expostas nas vitrines
como frango em fila
na frente da padaria
a espera da felicidade

As coisas tomam vida
penduricalhos, quinquilharias,
homens coisas vivas
expostos em fila,
polidos vidros,espelhos,
vaidade sedenta.

sábado, 14 de abril de 2012

SOLIDÃO

Não sei o que fazer
não posso perder seu encanto
Você já ouviu muitos gozos
não ouvirá homens que gozam sózinhos
Vou engolir meus desejos
defecar minhas verdades
fantaziar-me
amar noutra mulher
sem ter delas,
chorar meu gozo
no meu sexo de solidão.

VENDO TUDO MUITO CLARO

Com a mar nas mãos
você molhou minhas areias
achou-me nos meus inscritos
que a maré trazia e levava
meu olhar no horizonte
enxergou você.

sexta-feira, 30 de março de 2012

FLÔR DE IPÊ NA CABEÇA

Sorrio com as flôres de ipê
espalhadas na cidade nua,
alegres, meio rosas, meio roxas,
amarelas, meio brancas
acenando pelas ruas,
primavera que vai passar
marcando mulheres, silhuetas,
o sol põe no chão - friozinho -
que está no ar, disputa a cena bela,
em meio as borboletas,
som de buzinas, gás carbônico,
gritam os pardais, atropelam-se pombas.
As flôres de ipês, não se incomodam,
não sabem que em meio a tudo isso
tenho voce na cabeça.

UM A UM OS DIAS PASSAM

Lá se foram os cinquenta
as duas da manhã
eu com trinta
um cigarro atrás do outro
pensando comer maçã com você
que aos vinte e cinco
depois de uma dúzia de cervejas
flertava, eu insistia
em dar forma a outra argila.
Os arquétipos que cultuo vão se embora
quando eu abrir os olhos,
essa faca que fere
nunca disse a que veio,
já me perguntei mais de mil vezes.

quarta-feira, 28 de março de 2012

PRA AMANHÃ

Sou do mundo
os que me precedem também
a caminho do buraco negro

Me curvo ao poente
todos os dias
sentado na minha pedra

Fazendo poesia?
Nunca sei.

Mas estou perto
do poente que desejei

Olho tudo, as vezes,
mesmo atento, nada vejo

Nem quando as lágrimas
molham as conversas

Sensibilidade aflorada
na palavra sentimento

Mas a menina dos olhos
tem muitos carinhos,
curiosos como as marmotas

Já enfrentei os dragões
como guerreiro
de capa e espada

Uma rã me atingiu
posso vê-la em você,
no instante do beijo
no paraíso das noites

Ensino e aprendo
o tempo todo, mas
me diluo quando a vejo,
ali, onde beijei

Que sonhei ter beijado
que imaginei ter deitado

Sou do mundo, becos,
mulheres e outros gêneros,
acorrentado, torturado,
de outro amor platônico

Depois da descoberta 
(des) vendada
interna - mente

me embebedarei,
serei destilado

deste lado
me afogando vivo
nas lágrimas engasgado

A isso me afasto
por ser mortal e penoso
queima o fogo, que acendi
pra nele se apagar

Te escrevo hoje, na janela
olhando minha noite,
meu poema, pra amanhã.

(Para minha amiga Aline Mattos)

PEDRA DURA ATÉ QUE FURA

Ela olhava a noite
festeira
e a cerveja suava
sobre a mesa

Uma escuridão dourada
confundia o tempo
entre uma e outra
conversa muda

O sorriso, róseo,
vibrante. Como se jorrasse
um som de violino
nos ouvidos

Amor ali tinha
margaridas todas na voz
a noite não prometia
nem lambia a maçã da poesia

Poeta que não sei amar,
advertido, com carinho,
a caminho estanquei
corri da minha morte

Deixei sentada na mesa
o amor a vista
Me olhando. Como faca
de corte de dois gumes

Confesso: Tenho medo da morte,
Se for do coração
Não quero morder
suas maçãs fonemas

O que ne deixa
me faz viver em paz
viver ventando todo
mas não acredite em mim

A cada noite festeira
de muita cerveja suada
Vai pondo seu carinho
sobre essa pedra.

domingo, 18 de março de 2012

COISAS DE UM VELHO

Não faz tempo
latinhas vazias
livros relidos
viravam tartarugas
e meu cachorrinho
tinha lábios de miss
sorriso de hienas
Meus olhos eram
os flachs do pensamento...
Minha velhice é coisa
de gente fútil.

FILHOS

Carrego teorias prenhas
como filho de meus pais
que lutaram, morreram
aprenderam, na lida, de calos,
mortos calados, em alguma prisão,
Lá vou eu filho
na mesma pegada, ouros calos
Talvez me encontre com progéteis
pelo caminho.
Lá vou eu filho
na batalha pelos silenciosos
não como herói, mais morto vivo
Lá vem eles!
Os filhos da puta
dançando ao som hegemônico
de seus coturnos.

MASSAS

Me misturo as massas
como da massa, me pergunto:
onde está minha morada,
minha saúde, meu alimento,
que sustente minha vida?

Que sustente meus pares e o mundo
que de mim quer tirar a vida

Vivo morrendo
Será que morro vivendo?

Sou guerreiro
Preciso de armas, como muitos,
Pra defender meu direito a vida.

domingo, 11 de março de 2012

É AMOR?

Tudo que odiei em voce
guardei pra mim
num baú de antiguidades

Toda manhã
quando fazia o café
voce sorria, achando que eu adorava
o café perfumado. Eu gostava de chá.

Os olhares parasitas, aos homens,
de corpo inteiro. Não eram pra mim.
Eu até acreditava nos seus anjos.

Com cuidado ajeitava o lençol suado da cama.
Minha pele arrepiava, lembrando o calor da noite,
sonhando eu perguntava: Isso é paixão?
Parecia mais, será amor?

Minha consciência se abre, se despe, me explica:
Germina o que se planta na cabeça. É amor!
Sempre quando se coloca-se em segundo
sabendo-se ser o primeiro.

AS AÇÕES ALERTAM

Diante de tantas palavras
que pulam como pipocas
construímos frases na cabeça
que andam como filas de formigas

Junto com colibris coloridos
que beijam flores,
adoçam os lábios bicos,
fazendo crescer poemas

O ato é o movimento
da vida diária
cheia de conceitos prenhos
de uma estória em pedaços

Sinceridade?
Soltar a voz,
essas palavras latrinas,
explicando vontades e crueldades
que abrem feridas nas costas?

Os atos são um aviso
firmes como geléia
é o instinto animal
sem justificativa na poesia.

sexta-feira, 2 de março de 2012

ESPAÇO

Escuridão - e espaço
que, livre,
está em qualquer lugar
e abriga
guardando
o universo
de possibilidades infinitas
enquanto você se esconde.