terça-feira, 23 de maio de 2017

LEMBRANÇAS

Lembro-me das pequenas perdas
que a imaginação desloca,
preferiria ter perdido todas,
das grandes as pequenas.
As ausências são um bom silêncio,
as lembranças ficam nuas,
pequenas, adultas, adultas, velhas,
velhas querem morrer,
não sei pela sobra ou falta de amor.

SAUDOSISMO

Os adolescentes são crianças
no seu tempo, os invejo,
pois já me falham as lembranças.

Hoje tenho um fardo na corcunda,
carrego um calombo nas costas.





FIM DOS TEMPOS

Alguns dias enterro,
pois mortos eles não sonham mais;
que esses versos galopem,
os percursos cotidianos,
vivos, como os dias de ontem
que serão melhor um dia,
seguindo diferentes,
sem nunca olhar para os lados,
sob as lápides em cova rasa,
embaladas pelos dias mortos
com as horas que não mais avançam,
adormecidas, as lágrimas molham,
os dias mortos exaustos
que estirados soluçam.

terça-feira, 16 de maio de 2017

MULHER APENAS

Daniela
fresca
sutil

(vagalumes
iluminam
sua noite)


uma
mulher

linda
serena
misteriosa
apenas.

ATÉ AMANHÃ

Bocejo,
eu: mortalmente vivo:
respiro.
No jornal do dia
as crianças da noite,
em notícia.
Nos meus passos calibrados,
disparo um praguejo.
Nas calçadas
mijos e cusparadas,
com meu inútil
andar cotidiano.
No rosto dos postes e árvores,
um lambe lambe sensual,
a cidade fraciona até o sol,
o dia aguarda a noite sonâmbulo,
o tempo ainda não deixou de existir.

HOMEM CAVALO

Quando?
Acordado, liberto do celeiro,
relincho, serpenteio,
escoiceio o passado,
galopo o futuro
no homem cavalo de mim.

CRACOLÂNDIA

Dúzias, covas, ossos,
não há jardins na infância,
abracadabra, abocabraba,
fumaças e pedras no caminho,
o sinal de humanidade,
estão nos olhos do mêdo.

SONHO

Daniela baunilha
me olhava da frutaria
sorrindo com outras frutas,

por um segundo eterno,
de pele clara, cabelos negros,
lisos como um tobogã,

Um poema alheio
que se explicava,
por existir; para ser,

Hoje é uma onça
enjaulada, que não diz que é,
outra coisa que quer ser,

Lá fora chovia, os pingos bailavam,
Daniela sorria, eu soluçava,
outro dia, de vento e água no rosto,
enquanto o sonho vivia.



NADA É COMO ANTES

Os olhos com que te vejo,
não são os olhos com que te vi;
penso para me encontrar
como forma de me perder,

perdendo o passado de pouca idade,
não compreendo os saltos, os obstáculos,
com meus braços longos, pernas finas,
 procuram como forma de me achar,

entre achados e perdidos
as estórias hoje colho,
não são as sempre felizes,
são, quando as colho, de um tempo contrário,

as que não lembro, esqueço,
coisa pouca saliva a boca.
As que mais me lembro o poema contém,
dividindo as estórias com alguém,

fica o quarto, fica o parto,
o pasto, o choro, o riso,
o verso, inverso, fica de mim vocês,
eu guerreiro de lutas mortas,

feito de coisas lembradas e esquecidas,
como todos, fatigado de verdades e mentiras;
o tempo passa, com sonhos e denúncias,
lembrando as minhas duras perdas,

Os olhos com que te vejo,
não são os olhos com que te vi.

MELANCOLIA

Queria ter tido outro destino,
esse não planejei, fui indo com o vento,
de bem querer a mal querer.

Já tive mulheres e filhos,
que a ventania me levou,
joguei bola, bolinha de gude,
ri muito, fui contente,
hoje não tenho dentes.

Meu último amigo foi meu umbigo,
seco, lógico, ferido morro só,
alguns se vão como eu, de nada em nada.

O que me sobrou? Sobrou esse poema,
palavras de lamentos e recordações,
alguém que é utopicamente feliz,
um velho crocante de idade em idade,
se movimentando na barbárie.

Resta-me nessa mesmice, o som do violino,
esse mundo de múltiplas faces,
faminto de melancolias.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

O CÁRCERE

Anos de cárcere
levam a transformações psíquicas
pela repetição do tédio e inércia,
deixando dúvidas sobre nós mesmos.
Pensam o que penso, como penso?
Todo louco nega a loucura,
por não saber, não fazer juízo,
é uma coisa a cada instante.
Até não sei quando...
- Todo dia lutarei.

SEM RIMA

Não sou Gramsci,
não tenho livros,
nem canetas,
na minha caverna de Platão,

Minha concepção de mundo,
cabem em 9 m2 úmidos,
entre 18 homens secos,
sem lealdade intelectual,

Só me restam poemas,
sem rima.

RUMORES

É mais fácil esconder-se
por trás das portas,
fechar as janelas,
ficar ouvindo nuvens, até,
esperar o chegar das estrelas,
que lutar com os pés no chão
para alcançar o rumor dos passos.

VAZIOS

Bate a saudade,
o que nos resta,
o vazio.

O mundo a volta,
deixa sempre,
o vazio.

Nada preenche,
ele em si
mesmo com tudo,

nos enganando
com esse
vácuo.

Saudade por saudade
o vazio é todo
que nos resta,

a distância
silencioso buraco
que vou descobrindo.

TENTATIVAS

Todas as formas
tentadas e nada avança,
passos, sobre-passos,
caminhos tantos,

sem encontros,
certos, errados,
desencontros,
não acho,

não faço conta
das promessas
de ontem, de hoje,
tudo é incerto,

eu tento,
nem quero saber,
enquanto, quanto,
tentar tantas vezes,

dividido ao meio,
nem menos, nem mais,
quem sabe quando,
encantos, lugares?

Vou tentando
encontrar minha metade
acordando mais cedo,
amanhã.


FICANDO INFANTIL

O bom humor é a forma
que meu sentimento encontrou de ver ,
o resto é só extensão da felicidade
e um aumento de rimas
que concluem um poema,

entre metáforas e trocadilhos
vou bebendo palavras
imaginando o destino
com sorvete de pistache

então, nessa meia-idade,
infantil e lenta,
brinco de amor,
diante de olhares surpresos.

ROUPA NOVA

Transbordo de amor pensado,
assim como das margaridas despetaladas
de sim e não,
cuido das paisagens na janela,
estáticas que murcham
de desejos e alegrias, que,
derramo nas suas tristezas,
adolescente de quem sou filho.
Tudo é um risco
numa eternidade sem espaço,
assim que me trajo,
nem tanto nem tanto aquilo,
penitencias de mentiras,
que há de não ser.

PERGUNTA A QUEM QUISER

Nada deu certo,
tudo ainda é incerto.
O povo soa a camisa
- Para quê?

O fim do tradicionalismo chega,
depois o nosso, e agora?
Muda o mundo?

Amanhece, escurece, sobe, desce,
assim. Fome ao norte, ao sul,
ao leste e oeste,
as hienas comendo o que resta.

E agora? As hienas
continuam a rir, pois restam
muito povo pra comer,
e um cheiro de meu Deus.

Nem sei mais o que dizer. Pensar
demais me traz desconforto,
ouvir dói os ouvidos,
nessa grande mesmice.

Tudo sem mudar, tudo se transforma,
não há negação radical, não há novo,
de novo o mesmo sol,
a mesma chuva.

Ontem passou
Hoje já vai,
Como será o amanhã?

LINGUA

Você descobre
que o que sabe
não sabe. Há controvérsias.
Silêncio. Contradições.

Os dentes rangem
se mordem, com,
as palavras, na ponta
da língua, com a língua de fora.

Você descobre
que amor e valor
confabulam toda manhã,
engolindo a língua.

A língua é faca e foice,
anêmicas gêmeas,
na palavra do operário,
na garganta do patrão.

Lambuzam-se paralelas,
bolinantes pegajosas
no eterno bom gosto
salivar.

Você descobre
que as línguas serpenteiam
como vagalumes na noite,
no gesto dos amantes,

se abraçam, umedecem
como cúmplices, aos pares,
pelo mundo todo
a procura de um leito.


quinta-feira, 13 de abril de 2017

CRÔNICA POÈTICA

O homem
se decompõe
na calçada

O corpo
imagem
do óbvio

Entre míopes, transeuntes,
algumas palavras,
em rima, um registro,

O papel absorve
a tinta da poesia.

MARGARIDA

Olá Margarida!
Que alguns homens ignoram,
outros nunca conheceram.

Não há como sabê-la
só me resta colhê-la.

RATOS

Corruptos
roem
o povo

De repente
preguiçosos
gordos - vivem?
De aparência

Revelam-se
na barbárie
e muitos outros quesitos.

CIDADANEANDO

Cidadania é o ato
de votar sem saber

O saber desse fato
como olhar um buraco

Que te olha, presente,
de oração, sangue e miséria.

POEMA TROPICAL

A jabuticaba dos olhos
refletidas no espelho,
deixaram as maçãs do rosto
vermelhas,
diante de um maracujá
de gaveta,
passado; com saudades,
passará a adolescência?
Abacateiro acatarei teu ato,
viverei como um banana
nesse pomar de alegrias,
Eta mundão animal!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

CANTEIROS

Minha casa tem muitos cantos,
que dão para outros encantos,
onde ficam janelas e portas,
por onde admiro meu jardim deitado,
onde cai de bruços a chuva.
As flores batem bola com os pingos,
as árvores? Nunca se vão,
obcenas, serenas, amor?
Nem me lembra!
Era uma vez...
uma poesia.

MATANDO O TEMPO

Hoje de ontem,
amanhã do sempre,
flutua nas roupas.

Que forma tinha o tempo que passou?

LÚMPEN

Morrer de fome
sem lutar
é deixar o corpo
ao Deus-dará
o voto é um demônio,
herança do nosso umbigo.

Morrer é mais bonito.

TEMPORAL

Chuva nos lábios,
pernas molhadas,
pescoço eriçado,

tamborins e cuicas
sambam no peito,

entre borboletas e um colorido beija-flor
melaninas se fundindo,
entre, em cima, em baixo, suores,
salivando o céu da boca.

O dente do juízo, indeciso,
rangia um corpo, com medo,
prenuncio de um temporal.


sexta-feira, 7 de abril de 2017

TE PREPARA

Pra você estou comovento
- O vento que arrasa tudo -
Te prepara pra ventania!

DE PAPAS PRO MAR

Hoje minha fantasia
de Tartaruga
coloca lentamente
a cabeça pra fora.

Nada a fazer:
- é hora do almoço!
Na mesa farta,
uma Rã de pernas abertas.

Não vou me avexar,
não tenho saída,
vou brigar com Siri
depois escutar a Orca cantar.

Hoje estou mareando.

ARRASTO

Tenho uma brisa no peito,
leve,
Dou de presente ao seu peito,
suave:
Uma ventania que arrasta
o que penso.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

BREVES LEMBRANÇAS DE DANIELA

Intrasubjetiva, boca de beijos,
cabelos cascatas negras,
olhos de mariscos, pele em neve,
num fundo preto,

num sentar suave
de um corpo demente
tamborilavam dedos
no seu livro de conflitos

No sorriso depravado
que quebrava o silêncio,
lembro que voava
adormecida na calma da lembrança

Na garganta, muda, um nome,
que à ausência não cabe gritar,
o destino se fez caminho
que não levam mais as cavernas

O corpo cresceu entre as pernas
que despetalavam girassóis,
escassos que já não cheiram,
a carne, os seios e o sorriso.



TROCADILHOS

Não troco chinês por japonês
nem siamês por francês
muito menos chinelo havaiana
por bunda de baiana,
tenho dois braços, duas pernas, sorte a minha,
posso rastejar ou correr,
fugir da caverna, romper o casulo,
borboletar e morrer.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

ESPERANDO O MORTO

Por trás do violino doce,
recostado no peito,
serro as cordas,
morto, onde?
Os vagalumes ascendem, brilham.

No crematório
o som das chamas,
melancólicas, do silêncio,
antes de me doer o peito,
pelo sorriso da amada.

Um tucano
selvagem
sob as árvores
um coração fragmentado, caminho.

Só, na mesa gelada,
a barriga sem ronco,
nem é primavera,
nesse mundo de Deuses.

EM 3D

Negro me vejo no espelho a maneira branca,
num modo narciso de se ver, alma branca,
o resto tem haver com o mesmo céu,
as mesmas nuvens, onde o olhar alcança,
então,
voo sobre o soalho do oceano,
me perco na paisagem,
um vai e vem de águas e ventanias,
que me afugentam.
Divido-me em cores primárias,
como personagem de um quadro.

DESMATAMENTO

Germinei com o andar dos outros,
ereto, um chimpanzé, com nome e sobrenome,
germinei com as roupas que vestiam,
tornei-me flor em tudo, no vaso de todos,
ramos, galhos, raízes, numa floresta,
tronco parado, modelado, defecado por pássaros,
singelas folhas ao vento, desconfiado,
a madeira rústica tinha escamas,
entre um sol amanhecendo e cascos crispados,
à espera da serra elétrica.

quarta-feira, 22 de março de 2017

ACHANDO O QUE FAZER

Não sei porque te amo,
nem sei se é amor...ou carência...
Talvez eu ame sem querer...
ou para ser...sobreviver...
ou morrer...
Tenho que achar o que fazer!

MELANCOLIA

Somente os poetas em conflito,
sem rimas, inversos,
verão o contrário,
despindo o mundo, a vida e a morte,
no choro melancólico da cuica.

ALÉM DO ESPELHO

Quem se olhar em espelhos
há de passar.
Quem se olhar além do espelho,
há de sentir, há de sonhar.

ÁGUA FRIA

Como pode um peixe vivo
esmorecer-se do que foi?
O futuro depende do peixe
que aquece a água fria.

segunda-feira, 20 de março de 2017

SENSUAL

As cracatuas falam sem parar,
daquele jeito obsceno,
cabelos de moicano,
estridentes arrogantes,
gritando e gozando muito.

PEDRA SABÃO

Sempre fui pedra sabão,
comi muito bolo de noiva,
amei as mulheres para sempre,
o sempre nunca soube,
me olharam, usaram, lambuzaram,
eu ainda procuro.
Só vou melhorar ao chorar.

FUI EU ACHO

Fui feliz? Ficaram três filhos,
cinco descasamentos, muitas fotos amarelidas,
na memória: vinhos, lençóis, sorrisos, lágrimas,
cachorros e latidos, também estrelas,
tudo muito alegre e triste. Fui.

VOU LEVANDO

Meu tempo vai passando
sem nenhuma ruga a mais,
meus desejos, fragmentos, lembranças,
com café com leite e pão com manteiga.

SIMPLES ASSIM

Eu saio, não sei se eu,
caminho só.
em busca de poesia,
entre conversas e buzinas
canta um galo as 16 hs,
despretencioso, sonolento,
rompendo a ordem do dia.

Um canto cansado
entre nossos abraços
barulhento de ecos,
cuicas e surdos desfilando.

É meu coração disparado,
simples assim.

segunda-feira, 13 de março de 2017

ROSA

José morreu torturado
militar = militando = gerúndio,
A luta continua! Gritavam os companheiros.
José não era capitalista, não era comunista.
Um homem humilde, pai, marido, trabalhador.
Comia pão com ovo de manhã e café
na marmita ovo de novo ou salsicha.
Gostava de flores, todas as flores.
azaléias, margaridas, rosas, mulher e três filhas.
Distribuia alegria desde as 05:00hs da manhã,
gostava de rosas, por isso não quero,
rosa longe de mim.

DESMEDIDO

Desocultando horizontes
remando uma canoa furada,
desaceitei um naufrágio,
desinventei a viagem,
disseminarei metáforas
desoculpado da minha ocupação.

CRIANÇA ASSUSTADA

Há palavra mais aterrorizante
que MONSTRO?
Ou INCONSTITUCIONALICIMAMENTE?
Crianças boquiabertas, atônitas, comovidas.

SINGELO

A pombas pousadas,
nos fios de alta tensão,
sem pernas, perceverantes,
- juntas por justiça -
migalhas e bondade da miséria.

PRESAS

As hienas, riem,
o tempo observando arregalado,
os cajados, martelos, pás, covas,
cimento, capital, areia..
as presas domesticadas
que movimentam e levantam o mundo.

sexta-feira, 10 de março de 2017

ESPERANÇA

Chove chuva chorando
lavando o mundo de bruços,
aguardando outros dias e noites,
sorrisos e açoites,
as mudanças que nunca vem.

GOTAS LENTAS

Me assusto com gotas de chuva,
exageradamente, exagerado como meu susto...
meus olhos castanhos,
olham um céu sem sol;
chorando gotas lentas.

MORDENDO O COTOVELO

Na disputa entre os donos da verdade,
quanto ao caminho do mundo,
ainda sob a ótica do bem e do mal,
erros e acertos, verdades e mentiras,
os conscientes inconscientes,
na singeleza ou na arrogância,
caminham pra lugar nenhum.
Desconfie, aproveita,
na realidade ainda há beleza!
Só se vive uma única vez
as efemeridades do tempo,
se não concordar,
continua mordendo o cotovelo.

AFLORESCÊNCIA

Num mar verde de alfaces e hortaliças
o brilho vermelho dos tomates,
sobre a planície úmida
onde passeiam lagartos e formigas,

crianças brincam de amarelinha,
muitos jogos e brincadeiras,
inocência em saber e sabedoria,

O ar cheira fraldas,

Nas meninas dos olhos,
os meninos também,
doçuras e crueldade,
páginas ganhando tinta,
canções, violinos, zumbidos,

De plantações, pomares, jardins,
hortaliças, raízes..

Com muito sol e muita água.

NADA É TÃO PURO HOJE

As lágrimas não caíram...
não molharam...
me afoguei.

Nunca mais entrei num rio.

Só as borboletas me contam
o que o casulo escondia.

Nada..Nada é tão puro hoje!

O ARTISTA

Gritos, fumaça e lágrimas,
chorando injustiças
sob o olhar das hienas
e agonia da cultura,
batalha de pedras poéticas,
contra balas de borracha.

A MULHER NA ESQUINA

Uma Gueixa
cacos de caráter pelos chão
pétala de flôr ao vento
pairando na calçada.

A coisa.
Nada mais.
A coisa,
útil ou propícia.

Havia charme
no andar
no roçar das pernas
no batuque dos sapatos.

Sorriso de maritaca
na boca a meia luz,
no poste da esquina.

Um amor guardado
a ser descoberto
entre cervejas e cocaína
numa rua sem colorido.

Escolha feita
no chão do asfalto deita
entre ratos e baratas
sempre refeita.

LÁGRIMAS

Eu queria nesse caminho tortuoso
não viver o conflito posição/oposição,
entre as hienas e gatos singelos,
antes lobos e cordeiros.
Dos olhos do tigre, nessa ficção,
vertem lágrimas.

CIDADANIA INFANTIL

- Se é corredor é pra correr!
- Se correr você pode cair!
- Se cair eu me levanto!
- Você pode machucar alguém!
- Só se o outro não souber correr!
- Tem gente que não sabe!
- Quem não sabe cai e aprende!
- Você tem que fazer o que nós adultos mandamos!
- Se é corredor é pra correr! Se não...
- Muda o nome para P-A-S-S-A-R-E-LA,
ai a gente D-E-S-F-I-L-A!

EDUCANDO

Dos ensinamentos que tive
guardo aquilo que fui banhado,
seguindo a ser o que sou,
Nunca andei com as próprias pernas,
pernas muitas, correndo na paisagem do tempo,
o tempo mostrando o caminho,
curvas encruzilhadas, minhas escolhas,
os mestres, esqueci os rostos,
uma se fez inesquecível,
me beijou a face nos meus 6 anos e disse:
- Você não tem olhos de doutor,
porque carrega muita poesia nos olhos!

A TEIA

Uma aranha tecendo seu amanhã
farta de moscas e insetos,
armadilhas, devorando o mundo,
até que nada mais grude,
O sol  há de aquecer a vida,
a teia há de enfraquecer,
para os fracos não terem
que se debater novamente.

QUADRO INFANTIL

Desenho sem forma
quadro inacabado
pai, mãe, irmãos, amigos
cruzando becos e ruas
outras famílias, pessoas,
e outras..e outras...famílias e ruas,
tinha tantos irmãos
nem sabia contar.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CIDADANIA SURREAL

Sempre atento, sempre paranoico,
Culpa do stress. Tudo é negro. Tudo é branco.
A dor de barriga é a mesma  entre nós, amarelos ou vermelhos
Brigamos institucionalmente para ser.
Acordo Guevara, Tomo café Cazuza, vivo o dia Tim Maia e durmo Drumond,
Sonho Fuerbach e tenho pesadelos com Niestche,
Um dia de choro, ao mesmo tempo sorriso
Kafikamente sou barata no universo gritando : 
Vocês vão ter que me engolir!
Zagalo tem nome de vagalume.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

NUNCA SOUBE AMAR


Sei que deveria gostar mais de mim
Deixar de buscar aprovação
Buscar um enfermeiro as vezes.
Pra sempre não existiria
Seria romântico e adoeceria por isso
Preciso de transfusão de poesia.
Tenho um coração gelado
Cheio de mar salgado
Mariscando nas pedras.
Não sei amar
Não tenho medida
Pouco, metade, demais
Sempre transbordando.
Não compreendo os lados
Do outro, do meu
Não me dou
Se não tenho.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

MEU TEMPO

.
O tempo é sussurro no ouvido
Que por vezes parece grito
Segundos que duvido
Horas que são possíveis
Dias que duvido
Meses que não findam
Anos que nos torturam
Preciso de tempo
Pra entender

O tempo que o tempo tem para mim

domingo, 31 de julho de 2016

PEGANDO FOGO

Meu oitavo amor
arde em chamas
de fogueira de São João.

ATRIZ

Mulher de muitas faces
Vi você de vermelho
num bordel
depois voando
numa caixa preta, mas,
você já sabia,
que a cortina descia.

RODA VIVA

Acho que morremos amanhã, fato.
Hoje vivemos intensamente
pode ser agora.
Não. Não desejamos.
Daqui a pouco, os velhos vão.
novos virão, novos se vão,
A idade se pronunciará efêmera,
aos velhos serena, aos jovens apenas.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

AMOR PRÓDIGO

Um sorriso, uma palavra, um olhar,
Não diz tudo, mas  despretenciosamente,
Também pode não significar nada,
Sendo sutil e leve
O feito breve eu guardarei

As palavras escravizadas
Em garrafas de outros mares
Li, noturno, ejaculação distante,
Melou-me  saudades.
Não vou responder.

Se  não me conhece
Continuarei andarilho
Com cruzes na mochila
Respirando outros tempos
Até me encontrar.


Um dia te visitarei.

terça-feira, 12 de julho de 2016

O ÓDIO QUE CARREGO

Odeio amar
Amar exige equivalência
Está ai o conflito
Não se ama igualmente, equilibradamente,
Amar é feitiço, fetiche,
Odeio amar, por não poder se livrar,
Armadilha, num looping incansável
Dialética companheira ilha,
Odeio amar
Me alimenta e me mata faminto.
As lembranças são sorrisos de hienas.,

domingo, 3 de julho de 2016

SOLIDÃO


O tempo vai passando e acompanhando,
você, não vai embora indo todo tempo.
Ficando.

O tempo passou e fica recusado, nas feridas
que não fecham, onde não é mais bem-vinda
na miopia que te enxerga.

O tempo lagrimeja no mar.

Já passou, sem perdas nem lucros,
o valor ficou aplicado
os ganhos são gastos nas novas relações

Só quem dividiu muito aprende a ser só.

Há uma espécie de prazer em ser ostra,
Não ter o outro todo tempo,
Talvez seja pelo conteúdo que se carrega.

Ficar só pode ser uma opção de amor.



quarta-feira, 29 de junho de 2016

ANIMAL


Sou um animal civilizado
Acordo com vontade de matar alguém,
Com vontade de desprezar alguém,
Mato mais do que deixo viver, na minha utopia.
Meu amor é natural, a lógica divorcia,
pela ação, pelo cheiro, pela ilógica das
contradições desse corpo, onde...
As mãos são a ferramenta da transformação,
Te acaricio e te nego, te acolho no abraço,
Te dou adeus. Vai! Vem! Quando não te quero mais

sexta-feira, 27 de maio de 2016

APOSENTADO


Estou obrigado a ser e viver
ovulamente espermatozóidemente.
Chegou a hora de me preparar,
minha palavra de ordem:
Não aguento mais dar murro em ponta de faca!
Decidi.
Vou me aposentar.
Já fiz o que deveria fazer mesmo que o mundo
continue girando e a vida morrendo.

domingo, 10 de abril de 2016

LIMPEZA POÉTICA

Lavei as palavras e pus pra secar
Depois do enxágue de sabão e amaciante,
Enchi de brisa e pouco sol

No varal balançavam minhas utopias,
Sonhos e lembranças
E as palavras domesticadas

Mesmo com tantas coisas ao redor,
Sou um louco a secar palavras
E arrumá-las em verso e prosa

Sinto, penso, vivo,
As palavras mudas, limpas,
Que nunca ouvirão.

SOBRESEXO

Não tenho reputação poética,
Titica de galinha no pênis
Versando a menina de família,
Exagerando rimas caminho
Nessa estrada vaginal
Gozando dos significados
E insignificâncias, marginal,
Que para sempre, morre,

Gostando de não ter te conhecido.

COISAS HUMANAS

O carro, o celular, a língua do tênis,
Coisas humanas, muito mais que coisas,
São vivas, efêmeras, serenas, pequenas,
 coisas com estilo.

O sol escaldante, pedras de gelo,
Abraços não encontram eco,
Se vão,  procurando
Entre caminhões e aviões,

Mãos e olhos tudo tocam
Aquecem  a mente
Semente inútil, sem escuta,

Que não germina, contra coisa.

sábado, 9 de abril de 2016

TRUES AND LIES

Eu sempre quis desistir do conhecimento, 
Com o sonho de família feliz, ordem e progresso
Sempre me senti enganado, até pela perversa arte, 
e os escorpiões dentro de casa.
Eu vivi meus primeiros de Maio,
chorei, bati meu coração cerrei os punhos.
Um fascinante esquisito bicho preguiça,
Contabilizando moedas.
Na consciência, um dente de baleia Jubá
Nas brincadeiras, as presas eram divertidas
gritavam como bolas de futebol
Os craques com câimbras com,
massagens de queixas, num céu estrelado,
Sugavam nosso sangue de luta.

domingo, 27 de março de 2016

ANIMAL DOMÉSTICO



Meu olhar cobiçou
E sorri
Como uma tartaruga
Escondi a cabeça no corpo
O impossível era sonho
Para a menina dos olhos
Peguei meu coração
Coloquei uma coleira

E arrastei pelo chão.

domingo, 6 de março de 2016

MEU DIA MARGINAL


No palácio se come faisões 
em meio a desabamentos
o povo em lágrimas, vomita pombos
caminhando caminhos que não andam
As crianças aprendem e desaprendem
professores professam desacreditados
a verdade, enquanto bruxos e bruxas
enfeitam jornais, margeando tempestades
com bacalhais defecando na geladeira
As meninas dos olhos fazem-de-conta
narcisos olhos que olham a peneira
que tampa o sol frente a eternização dos mitos
nós os poetas queimamos em fogueiras
maltrapilhos sorrisos amarelos
rimas rosas mulheres
sempre um grito em meio a ossos
atirando projéteis de luz
iluminando o asfalto

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

NÃO ENTENDO AS MULHERES

Eu vi uma morena, morenas não tem nome,
com o cabelo comprido negro e rosto amarelo;
Vi o inocente olhar perverso, na menina dos olhos,
e os dentes branquinhos de uma cascavel.
Eu vi o corpo, tocando uma canção,
As bandas bundas dançavam fascinantes,
Na cabeça, um cocar e uma casa de marimbondo
no coração, um bater de crocodilo,
Nas mãos, dedos de uma preguiça,
Na boca, lábios de Tamanduás,
buscando meu eu formiga
Pernilongos zuniam nos meus ouvidos,
um cheiro de jasmim, coroa de espinhos dourada,
e as veias do meu corpo latejando de felicidade.

sábado, 14 de novembro de 2015

PROPOSTA INDECENTE


Continuo dano corda no relógio
Pra amar e ser amado
Gostaria de ouvir
Um te amo
De mentirinha
Nesse mundo que a  grana
Já destruiu  as coisas belas.
Agora eu penso o gingado
O corpo do violão
A barriga de tanquinho
Coisas
Que molham o instinto
A ideia de gozar de voce
Já está em gozo
É  a efemeridade dos tempos
Mas tenho medo do amor,
Pode virar amizade
Me deixa te tocar

Sem nenhum respeito?

ESTRELA

Há sonhos que quero alcançar
Há sonhos que quero ter concretamente
Não vejo motivos pra não sonhar
Estrelas.
Não há motivos pra não querê-las
A Via-Láctea é um espaço aberto
Como sonhador quero tocar estrela
E morar no céu
Quando fecho meus olhos, vejo a distância
Penso: demora!
Abro meu coração, cheio de espanto
A luz não é dela, é de estrela
Se revelasse meus pensamentos
Outro brilho estrela teria.
Se foi um choque de planetas
Aceito o confronto, não tenho medo
Num dia vi a lama,

No outro dia vi estrela.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

DECEPÇÃO



Esperamos das pessoas muitas vezes coisas que elas não podem nos dar, porque vemos no outro aquilo que queremos ver, aquilo que o outro acha que é, no meio disso um poço sem fundo nesse objetivo de viver sob o olhar do outro, é ser aceito.
A verdade muitas vezes não tem haver com a ação, para que a vida siga seu caminho, sem pedras no caminho, precisamos da convivência feliz,  em meio a sorrisos falsos, mentiras e ilusões.
 Viver não é pra qualquer um.
O mundo fictício é doloroso, para todas as relações, principalmente para o amor e a amizade.
Após cada decepção, esquecemos, depois de muita tortura partimos pra outra.
Aquilo que se vai e se perde, fica e se acha, em vida a todo movimento.
O que foi porque morreu não se encontra em vida, melhor seguir em frente, as decepções nos ensinam esse viver.
Uma fênix renasce das cinzas da decepção, num mundo fictício, de sorrisos amarelos, sexo utilitário, trabalho alienado, amor valorado, no universo da desilusão. A cada momento falso, o passado, presente e futuro se aproximam e são saudados por novas decepções.
Os personagens deste mundo se confundem cada qual nas suas espertezas. Dualidade entre verdades e mentiras na sociedade do espetáculo. Mesquinhos altruístas, demagogos decentes, certificando toda a prole com doutorado de falsidade.
-  Quem são os tolos?
Numa noite negra uma luz vai escancarar essa monstruosidade?
Um tolo não percebe no singelo e na sutilidade, conteúdos indecentes e desprezíveis.
- Prefiro me manter bêbado e só, meu brio.
Eu sabia que a decepção, sem saber nem era.


SIDNEY NUNES

domingo, 6 de setembro de 2015

REALIDADE MENOS MORTA


Ela tinha muitas ruas
Muitos bares, muitas luas
Meias, inteiras, confusas,

Ela tinha lugares, esquinas,
Becos, hotéis, camas, quartinhos,
Fragmentos de mundo.

Ela tinha amigos jovens, maduros,
Velhos, banqueiros, mendigos,
Negros, índios e passarinhos.

Ela tinha bonecas, sonhos, família,
ficções, imaginação, utopias,
Gente é assim quando mantém o caráter.

Ela tinha fogo nas ventas,
intensa, nos cais , cemitérios,
era filha de outras realidades.

domingo, 23 de agosto de 2015

TRANSFORMAÇÕES

Sob a consciência daquilo que é velho,
A lápide sobre mim não sintetiza o que fui.
Quando era, nascido, seria para sempre,
O ovo, a lagarta, a libélula,
Olhos, braços, pernas, espreguiçadeira,
Família feliz na cabeça.
Sempre soube que o que começa termina,
lógica de tudo nas rugas,
engano os anos a ferro e bisturi,
convenço, um, dois, nunca o mundo.
Eu diante do espelho.
Passeando no tempo durante tudo é lindo,
Uma mordida, um maracujá na gaveta,
cheio de cicatrizes de tempo,
o drama da carne ficcionando a vida.
Talvez pudesse negar mudanças,
Do que sou, fomos, seremos,
Preso as correntezas afogando margens,
Remando felicidades, como borboletas,
Vivente a vida cochicha maturidade

Me ensinando a ser pó.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

MINHOCANDO

De buraco em buraco
a terra sobre mim
enche-me de pensamentos,
patéticos  políticos,
somente semente de dois lados
esquerda e direita
como se a terra não fosse redonda,
um queijo suiço quadrado,
meus buracos, casulos ideológicos,
tomara esse poeta poema,
saia borboleta, do buraco, da minhoca.

REGGAE

Um sapo embriagado falou
numa esquina
Ei! reggae...reggae...reggae...
Estava eu embriagado?...sorri

Muitos surdos mudos, passavam,
não valiam libras ou tostão, se ,
não sabem quem são,
Eu? Ouvia Bob Marley.

Preguiçoso, nas pernas,
com os olhos eu vejo,
um mundo um beijo.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

PALAVRAS DO CORAÇÃO

Ainda não me encontrei,
eu que me procuro todos os dias,
tentando encontrar o equilíbrio,
ser harmônico, sereno,
ser poeta da poesia ideal, exata,
como um bêbado poeta francês de outrora.

Não sei o que me cabe
só sei o que me cabe dentro do peito,
que ao dormir com minhas utopias,
acordo muitos guerreiros,
que ouvem meu coração

Tenho medo do que falo
algumas palavras me machucam
tanto quanto o meu interlocutor
sinto que apodrecem comigo
porque gostam de mim
são palavras do coração.

MEIO SÉCULO

Parece que foi ontem
Cinquenta anos. Como o tempo passa!
O tempo é sem graça.

A aposentadoria diz que agora
nada tenho haver com o mundo,
já fiz a minha parte.
O mundo ainda gira?
Como? Se somente agora deixo a adolescência,
agora sou cara pintada, boca pintada,
unhas pintadas como um anjo
descompassado de amor,
pronto para contribuir nas mudanças.

Parece que foi ontem
o século não me parece tão distante.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

LOUCURAS

Estudo a falta de lógica da vida
desconstruo cheio de certezas,
poemas desfocados entre rimas sem sentido,
minha lógica, para sua lógica é ilógica,
minha poesia não tem meta, não tem seta,
com ela não tem negócio.

SEXO DE ESQUERDA

Coquetéis molotov
em garrafas de coca-cola.
- Putkin que voodka!
A cama rangendo, Trotsky...trotsky...trotsky...
- Toma um Marx vermelhinho!
Geme baixinho Lenin...lenin...lenin...
A esquerda está em festa
depois da passeata.

HERANÇAS

Bibliotecas parecem túmulos,
vão de silencios.
Muitos cegos, muitos surdos.
Quem vê, quem escuta, naturaliza?
Espera o coelho da páscoa, e,
acredita que virgens acendem o sexo
num barulho genético.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

MÚSICA MORTA

A morte não existe
é coisa inventada,
cantava a tuba
aos ouvidos do povo:

...pópópópó...pópó...pópó...pópópópó...
...pópópópó...pópó...pópó...pópópópó...

VENTO UTÓPICO

As utopias, não tem pernas,
não são coisas, não são gente,
nem vivem por aqui.
São vento ventania, em todo lugar,
dançam pelo ar.

LÁPIDES POÉTICAS

Triste o silêncio dos poemas,
nos túmulos dos poetas mortos
em lápides livros nas bibliotecas.
De quando em quando uma visita rima,
lê e vomita poesia oração.

MULHERES DO MAR

Nessas águas salgadas
o protetor solar protege do sol
Não das merdas do mar
que já está dentro delas.

DISTANTE

A lua ao meu alcance
brilhava na imaginação
eu a tocava com os dedos
na ponta dos pés,
qualquer distração
leva a lua pra longe.

CREMAÇÃO

Incendeia
dinheiro
pra ver
a fumaça
ir pro céu.
Quero ser
cremado
também.

TUDO

O que não cabe
 em tudo?
Nada!
Tudo, adormece,
Tudo, acorda
com o sol.

AFOGANDO MÁGOAS

O vai e vem
das marés
Não sai do lugar
Se saisse
pra navegar
se afogaria.