segunda-feira, 8 de julho de 2019

MARISCO

Pena...arrancadas...penas,
palmas apenas, poemas,
Pétalas...arrancadas...pétalas,
uma a uma de um coração apenas,

Fim desse tédio
de mulher serena,
me lambe as feridas,
fode minha vida,

marisca-me as costas,
me banha de sal,
afoga-me em seus seios,
que nas suas tranças me enforco.

PASSANDO O TEMPO

Sentado numa pedra sabão,
eu ouvia o mar,
após mais uma desilusão,

olhava para o horizonte,
pensando no tempo passado,
quebrando nas rochas mariscas,

Diante do som do sal,
os olhos marejavam,
eu um grão de areia,

Uivando como um lobo,
quebro o meu casulo,
para voar como borboleta.

O ATIRADOR

Muitos chamam esse governo:
de fascista, filho imperialista,
eu chamo de calhordas,
dominantes e individualistas
num espaço de injustiças.
Muitos bezerros pra mamar
numa vaca de poucas tetas,

Depois que ele findar
nada terá mudado,
a educação terá emburrecido
mas com diploma na mão, pois,
a lei é uma caixa de projéteis
na mão de um atirador.


DESDESEJO

Algum tempo atrás
eu quase me afoguei
de amor,

nadei numa morena,
com olhos de jabuticaba,
vinda do Rio Grande do Norte,

vestia um corpo tropical
com rosto de adolescente
e muita alegria de viver,

não havia de fato desejo,
apenas uma enorme vontade
de curar minha solidão.

PERNILONGO JACU PÊSSEGO

Um pernilongo
cantava no meu ouvido,
dei-lhe uns tapas na cara,
pra cantar noutra freguesia,

Lá reuniu os amigos,
fez fofoca, fez fuxicos,
voltou com a turma toda,
pra me fazer sinfonia,

Tudo era uma grande festa,
dia de Sabatto D' Angelo.
No córrego Jacu Pêssego,
nos tiravam para dançar.

POESIA DE CÃO

Lá na Rua Rouxinol
tem um cachorro que late,

assustando o dono,
muito mais os passantes,

Nas noites silenciosas, quando
não é mais um cão de guarda,

fica olhando para a lua,
com cara de cão sem dono,

uivando sem parar,
cada estrela que conta.

COISA DE BACO

Se você for ao Bixiga,
A tarde, depois do trabalho,
Talvez encontre um amigo,
Um amor antigo, quem sabe?

Vá lá comer macarrão,
Ou, beber um bom vinho,
Lá é um espaço mágico,
O macarrão é chinês,
o vinho é coisa de Baco

PICO DO JARAGUÁ

O frio é muito intenso
no Pico do Jaraguá,
onde os poemas,
tremem, congelam,

Se você gosta de poesias,
ao deitar-se à noite
pede para os seus sonhos
voltar a nos aquecer.

ABAYOMI

Nunca tive Danielas, que
deveriam ter outro nome, Abayomis,
minhas bonecas de pedidos,

Sonho com que cruze oceanos,
e deite-se na minha cama,
para que eu desfaça seus nós,

Não tenho talento para amante,
nem ocasião que permita
fazer-te minha Julieta.

PASSEIOS

Saio de casa, para
mais uma aventura,
visto a roupa da cidade
costurada, vou à caçada,
nas ruas de caminhos largos,
idas, chegadas, bebidas,
gastronomia, um trago,
uma bala, fim da fome,
minha vida interrompida.

CELSIUS

Oficina - Temperatura Celso,
coisas da Rua Jaceguai,
convulsões, surpresas, sustos,
corpos que brincam,
de brincar o mundo, desconstruir,
dissonante das outras ruas, frias,
porque solenes, corpos de plásticos
ouvem o hino nacional.

OS CAVALOS

A Av. Indianópolis
não é pista de corrida, mas,
garotos donos de cavalos,
controlam volantes,

Pânico no asfalto, um assalto!

Cavalos com vidros fúnebres,
abrigam o garoto fantasma,
deitado no lombo virgem,
o corpo não controla, não corre,

Na pisca seca, o cavalo ainda relinchava,
vapor nas narinas da noite que chegava calma,
escurecendo a violência, iluminando,
o sangue e a cidade que dispara.

FIO DA NAVALHA

Um gole...engole seco
no semi árido do cimento,
na Rua Morato Coelho,
onde a noite floresce,

Não tem céu, só arranhões
de concreto, muitos gestos,
muitas cores e botecos,
que aquecem o íntimo,

Flores na rua, cobiçados olhares, 
violentam calçadas animais,
que as presas vão devorar,
o que se vê no buraco da fechadura?

Agora tudo, a pouco nada,
tudo efêmero na balada,
a noite só começou, de um lado e outro
no meio, fio da navalha.

CULPAS

Miseráveis...sem ofensa,
perfume forte que se veste,
nem um olhar,  ignora
a culpa,

Culpa da exposição,
fraterna humilhação
nas ruas do centro.
Beija-me Constant,

Desperta entre anúncios
que acorda o consumo,
aos que podem,
que também aquecem,

Como resolver?
Toda caridade será castigada
no corpo na alma,
as vidas de morte matadas.;

SEVERINA

A fome não se alimenta
da fome, nem o gosto, nem o arroto
brutal das mãos caridosas.

As quentinhas da Praça da Sé,
sem sentimento de culpa, sem saber
matam de vagar, a fome,

Como entender? Entendendo,
porque chora, escondida, naturalizada,
a vida severina.

FIM DE RUA

Passos rápidos, apesar dos avisos,
não ande assim pelas ruas
que não caminham,
nos buracos que te olham,

Olha amor, raia o dia,
deixemos os carinhos na cama,
relaxa  e escuta as batidas do coração,
que pulsa e ainda dorme,

Acorde as ideias, elas vem primeiro
com o sol que aquece o dia,
nesse duro chão, vívido,
posto aqui...no caminho,

não se pode dizer,
onde vai dar, onde?
Longe ou perto,
até que finde a rua.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O VALOR DA INFÂNCIA

Crianças jogam em casa,
crianças jogam na rua,
crianças brincam nas piscinas,
crianças brincam na chuva,
crianças sorriem
crianças choram,

entre chinelos e pés no chão,
com suas caixinhas de sonhos,

Crianças contam estrelas,
dividindo de forma justa,
o que serão amanhã?
Vou lhes contar um sonho:
- Todas serão ladras!
De ponteiros dos relógios do tempo.

SEM SENTIDO

Um pé de chuchu
pulou a cerca,

Um bicho preguiça
escalava um poste,

A menina cor de rosa
o menino azul,

misturavam as cores
brincando de arco iris,

um sol sem vergonha
dava sentido as coisas.

DANÇA DA NATUREZA

Ventos fortes
dançavam com as árvores
no Parque Villa Lobos,
uma garoa umedecia tudo,
acho que eram carícias demais,
foi assim por horas.

ESPERANDO UM AMÔ

Estou a horas olhando o horizonte,
ondas vão, ondas vem,
nenhuma delas me traz você de volta.

PRECAUÇÃO

Na necessaire
fralda geriátrica,
desfibrilador,
telefone do SAMU,
cueca limpa,
 remédio pra enxaqueca,
guarda chuva
muito papel higiênico,
nunca sei
quando vou fazer cagadas.

ANTICLÁSSICO

Corpo flácido,
cansado,
no tempo,

rugas,
testas e pálpebras,
caídas,

o corpo de dentro?
adolescente
em crescimento,

olhos famintos,
desejosos,
observando perigosa mente,

sem licença,
a velhice não vive,
só convive,

essa velha,
vanguarda militante,
anticlássica,

Assim,
não sei,
não fico.

INDIVIDUALISMOS

Borboleta
parece salada

salada
lembra primavera

Prima Vera
amor de lado

lado
éramos os dois

Dois, cada um
no seu quadrado.

VAZIOS

Dentro de mim
mora um labirinto
onde caminho
perdido de mim,
nascido sinoidal
uma vida espiral,

As vezes
tenho saudades,
de Zélia, Simone e Daniela,
mesmo que por minutos.
Eterna saudade que dói...
as vezes.

ALÔ

Toca o orelhão
na rua solitária,
toca pra ninguém,

Toca orelhão
com insistência,
alguém existe?

Olho toda a solidão,
alguém continua chamando,
ninguém, serei eu?

USOS E ABUSOS

Amar não pesa,
não custa,
como algodão
que aquece,

o valor
 está nos fios
que tecem
que cobrem

Eu peço,
me use, me leve,
para deitar
em cima de você.

FAMINTO

Daniela, João, Pedro,
não me beije,
sou um predador,

meus dentes
rasgam carnes
mastigam quem se atreve,

sou chamego, cafuné,
coração, pedra sabão,
bicho de pé,

me subverta,
me acolha,
mas não me beije

me deixa te despir,
depois,
te devoro.

CONSUMISMO

Amor não é
sacrifício
nem orifício
ou isso
ou aquilo,
é mesa, é casa,
pão e água,
Ah! se dinheiro eu tivesse.

DOCE UTOPIA

Uma bala
salivava a boca,
chocolate, hortelã,
açai cá aqui.

vai engano
sabor submisso
seduzindo
desejos.

dejetos
sonhos
doce
utopia,

nem te quero
de verdade
meu amor
diabético.

MARÉ

A onda
inquieta
do mar
vai
amaré
vem
forte
vacilante
cresce
hesita
corre
morre
nos pés.

PASSAGEIRA

Diante desse mar imenso
um sol descansando,
sem cor,

O mar. As ondas. As marés.
Vai e vem uma sensação vaga,
no corpo um arrepio.

Onde andam as ondas?
vagas águas salgadas
sem cascata,

Esse mar não tem queixume,
só vai e vem
como Cristina Naiara Fernandes.

NÃO GUARDEI

Te odeio tanto
que dá vontade de chorar,
de apertar, de sufocar.
Entrar dentro de você
inteiro até morrer
na tua cama,
onde jamais deitei.

VÃOS E VENS

Dias vem
dias vãos,
no mesmo
lugar,

Dias presentes
dias faltam
não sei
dos dias,

Hoje,
amanhã...
dias...
os mesmos.

VÁCUO

Estou ansioso,
vacilo
em meus desejos,
não tenho devolutivas do amor,
nem olhares, nem sorrisos,
só silêncios,
tudo tão vazio para mim.

MUITO A FAZER

Não sou absoluto
até daqui a pouco,
serei, sobre o que sei,
não sou

um poema de contradições
e rimas sem versos, só,
um vagalume num buraco negro,

pisco...pisco...
quando cruzo comigo...
durante do dia não.

Há muito a fazer
sobre minhas dúvidas,
naquilo que acredito,
nesse mundo que também é meu.

sábado, 29 de junho de 2019

ORIGEM


Nem Adão nem Eva,
botões, gerações,
que fecundam o solo,
transformam-se em florestas,

Outras se erguerão, podadas
na próxima primavera,

Botões e flores,
Caem e renascem,
como a humanidade
que nasce e morre.

MATURIDADE


A maturidade, vindas da experiência,
Aventuradas sem medo de se jogar,
carregamos como uma cruz
sob o calor do e a suavidade da brisa,

A maturidade sorri, porque brinca
De saber pular corda e amarelinha,
Dentro de um buraco quer observa
A prisão da velhice,

A maturidade consume o fazer,
O não fazer, as lágrimas, o tempo,
Sedenta de desertos,

A maturidade não envelhece no
O corpo idoso que a acompanha,
Mas morre morrida desde seu nascimento.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

LOOPING

Poemas são
escritos
sem rima, sem querer,

como um amor
que vai esvaindo
saber sem amar,

nada mais é tão natural,
nada mais é...
tão humano,

Tudo agora é coisa,
coisa
que já foi antes.


DESEJOS

Ela me deu uma mão,
natural que eu queira o resto,
não fui.
Ela tem 20 anos, e eu?
Com 60 quero me manter vivo
até a hora da minha morte.

MOVIMENTO

Aranhas tecendo redes
no teto,

descanso os cotovelos
no alpendre,

vejo folhas dançando
na varanda,

um cheiro de café no ar,

se tudo isso acabar
ficarei preocupado.

VELHICES ADOLESCENTES

Quase agredi o coração
outra vez,

com um poema
velho para namorar,

com abraços
e repetidos beijos,

de um velho adolescente
comovido.

ÁGUAS PASSADAS

Remos, remarão
águas que não voltarão,
levando gente e você,

encontrei outra fonte,
que deságua noutro rio,
rio já pronto,

um outro que rema
em mim calmo,
noutras águas que ficarão,.

Danielas molhadas,
Dá nelas! Fazem de tudo,
senão virgens aguadas.

ESPETÁCULO

Você não é poesia,
ideia de Guy Debord,
um espetáculo de seios,
bundas em um jeans,
tudo true and lies,
nada natural,
nos inventamos
para ser felizes,
a vida dura um pouco mais
lírica.

MEDOS

Tenho medo do tempo
pelo limite que me impõe,
à vida,

serei eterno
enquanto dure
essa vida,

dançarei lambadas,
surfarei meu mar
sem ondas,

sem mais nem menos,
somarei, subtrairei palavras,
amor

tenho medo, medo literário
de não incomodar,
com poemas tão calmos.

ATOA

Não faço buracos no céu,
não vou a lugar algum,
nem caminho por onde não conheço,

nem adianta me seduzir
com suas nuvens sem graça,
enquanto o buraco me espia,

meu céu é a rua onde piso, onde
faz tempo que não caminho,
porque não gosto de dobrar esquinas,

queria te dar um poema
mesmo entre tropeços,
com a forma da tua bunda e seios,

Já disse! Não gosto de dobrar esquinas,
dizem que lá se encontra a morte,
Que Deus me proteja!

TEMPO

O tempo não para,
invenção nossa,

Para que tempo?
Essa eternidade que nos devora.

Quem sabe faz a hora?
agora...agora...agora...

Eu danço, a cabeça balança,
entre palavras inúteis,

volto novamente,
escrevo,

o tempo
que vai embora.

VAZIOS

O vazio
não enche,
nem transborda
também,

cada qual
no seu
cada qual,

nós meio ali junto
sem assunto,
sem esperar, sem pesar,
sem mexer muito.



BURACO

É fato
cada buraco
afunda a nós mesmos,
mais fundo
todos os dias,
mais fundo,
quando a gente se vê
aos sorrisos, ou,
quando o buraco
olha para nós.


FILÓZO

Meu velho
corpo
aqui

deitado seu peso
na cama

sonha

seu corpo
as curvas
uma boca

tudo aqui
massa cinzenta
no espaço.


SOB O SOL

A pele
morena de sol

Como um Assaí
com morangos e bananas,
sobre: leite condensado

um solitário qualquer
um corpo dançante
deseja

a falta de realidade
atrapalha qualquer ilusão
nessa tarde de praia.

PROSTÍBULO

Na casa
dos corpos
moram desejos
pessoas se foram

A casa
antiga
de cama
 janelas

A casa
não cai
nos corpos deitados
a casa é você,

A casa
guarda
gemidos,
só isso,

Na casa
reside
medos, receios,
portas e janelas.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

SINAL DE VIDA

Ela se foi...
entre meus versos,
levantei,
abri as cortinas da janela
para ver o pôr do sol,
foi meu sinal de vida,

Vivo, ainda sonho,
com os olhares...
com o toque das mãos...,
quentes, nas feridas abertas,
mas vazias em meu silêncio
sem respostas,

A partida foi medida
para não se desgastar,
apesar do porre do "não voltar".
Levo essas dores comigo,
carregando para sempre
esse amar desamar.

PROSTÍBULO

Podem dizer que sou insensato,
finjo mesmo a minha vida,

Ela tinha olhos sábios,
assim como o corpo e os lábios,

Me chamava pra dormir,
era toda doce e feroz.

POESIA

No branco do papel
deitado,
não dormia a poesia
com suas rimas inquietas.

De dia de noite
o branco,
solitário e distante,
corria aqui acolá.

Não podia deitar
o verso,
que dormia onde podia,
ontem hoje e durante.

No branco do papel
deitado,
caiu um montão de letrinhas
que agora vão cantar.

MEIO CORDEL

Tudo foi inventado,
até nosso pensamento,

que o ignorante compra
porque o que olha cobiça,

nunca nada ele escuta
onde se contam mentiras,

aqui se prendem inocentes
entre futebol e facebook,

essa é minha terra onde cantam sabiás,
tudo se vende e se compra.

RUA AUGUSTA

Augusta dorme lá em casa,
sempre enquando é carne.
Morando na Rua Augusta,
como não saber morar?

Não há lugar no mundo
augusta em outro lugar,
gastronomia e putaria,
mulheres de catedral,

Augusta traiçoeira,
becos e fundo de quintal,
lençóis suados, escolas,
que não se esquecem jamais,

Lá bem longe, muito longe,
hoje te lembro aqui,
tempos em que te chorei,
tempos que te sorri.

BORANDÁ

Se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante,

sei bem quem vai e não vai,
eu? Vai você com seus conflitos!
Tenho as certezas e dúvidas
de que irei bem depois,

depois com nós dois,
vão todos os filhos da mãe,
embora pelegos,
caminharão contra a vontade,

depois e depois, todos os outros,
até mesmo os oportunistas,
que querem manter o controle,
do desgovernado sem freio,

se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante!

MEU RIO DE JANEIRO

De volta
Leblon, Botafogo, Irajá,
onde tudo é chiado
como onda de mar,

seu vai e vem nunca para,
entre acertos, entre érres,
conversa de carioca
com o samba brasileiro,

a maré estica o ésse
que dá sutaque ao mar,
tudo parece tão livre,
aos acorrentados de todo lugar,

Aqui do Cristo Redentor,
o poder constrói armadilhas,
que se armam nas favelas, nos palácios,
dando abraços em criancinhas.

DÚVIDAS

Ando sempre calado,
silencio-me. Não falo com gente,
diante delas , falo de coisas,
delas, não será também de mim?

Será que esse silêncio,
amordaçado
não será medo do outro,
fragmentado?

Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é o espelho?
medo sempre, incômodo,
a cada descoberta?

Para descobrir me aventuro
a versar versos, timidamente,
uma forma de silêncio, poderá dizer tudo?


VIOLÊNCIA

Te quero,
mas me distraio;
até que a barriga grita:
Fome!
Levanto os punhos,
soco o ar, e,
te abraço.

PLÁGIOS

Os dias são
um plágio atrás do outro,

Pela fresta ela sempre passa,e,
eu com a emoção nas pernas,

Sonho em lhe dar mordidas, não!
melhor comer com os olhos,

os dias são
um plágio atrás do outro,

os cachorros se coçam no poste,
minha janela olha os ônibus circularem.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

FATOS DE UM FAROFEIRO

Jesus se mudou para uma goiabeira,
galos cantam a internacional,
sob o olhar atento de uma viatura que nada na correnteza,
bancas vendem jornal pra cachorro
uma ventania dá sentido a todas as coisas,
uma velha sem dentes sorri:
E as causas? E as causas?

TUDO E NADA

Me inspiram tantos poetas
que no los puedo contar,
e una nina mujer moça,
por quem as palavras se rebelam,
não dizem nada, as vezes dizem tudo,
nem quase nada, nem nunca foi lido,
é só o que posso oferecer.

PALAVRAS NA GARRAFA

Dentro de uma garrafa
me livro das palavras,
que deitariam num livro,

nada ou vice-versa, náufraga,

afogando num sol escaldante
de amor, mágoas, lamentos,
conflitos em rima - poesia.

HERESIAS

O pôr da paz eu vi da janela,
despertei com uma bomba,

Dei por mim fragmentado,
nunca mais de novo,

ouvi o relógio
que silenciou o tempo,

Tempo desenterrado,
digital,coisificado, ficcional,

Volta a se mover,
inerte, inútil,

As bocas costuradas, caladas,
fora delas, tudo corre,

como a muito correu,
não dará para vivê-lo,

Sabe! É como brincar de amarelinha,
pula-pula, céu e inferno.

FÉRIAS

O mar lava meus pés com sua espuma branca,
uma água viva me queima,
dois caranguejos se esgrimam,
as lutas estão no horizonte que vejo,
hoje sou um demônio descansando.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

MAR DE HERESIAS

Uma onda em mim
subia e descia,

de manhã,
de tarde,
de noite,

No horizonte,
uma paisagem de sal,

Ressecando,
vidas
passas secas,

Dentro de mim
um mar de possibilidades.

COGUMELOS

Num Jardim de Cogumelos,
subi numa goiabeira,
pelado em pelo,

Uma mulher me chamava de Jesus,
enquanto eu pegava bicho de pé,
de uma vaca que defecava,

Cavalguei um porco espinho
animal e solitário pelo pasto,
como uma porta bandeira,

Seguido de Dom Quixote,
Sancho Pança e um moinho,
o mundo mugia,

Nessa tarde aconteceu,
eu comendo flores,
numa guerra de estrumes.

FUGAS PASSAGEIRAS

De passagem passei,
ou fui passado
pra trás,

tenho vontade de pular
desse viaduto...cair
num buraco sem fundo,

cair em pé
sem um arranhão
depois sair andando,

assim foi, fez
esse amor passageiro...
passou.

NECESSIDADE POÉTICA

Um verso me infectou
por isso não reconheço rimas,

Assim afirmam
os sectários e pelegos,

poeta quando não caga
na entrada caga na saída,

Eu?
Quando tenho vontade,

de quando em quando
num beco sem saída,

onde haja
um bom cheiro de urina.

DESPEDIDA

A escolha de ser (ou não) é só minha,
viver efêmeramente tudo,
que não esteja morto,

Tenho câncer azul e rosa,
necessito de radioterapia
como homem, não estrelas,

Nessa leveza de ser,
dormir, acordar,
comer e beber,

Olho o sol nascente,
sol poente,
acordando em seus braços,

Esperando gentilmente morrer.

sábado, 30 de março de 2019

PESCANDO PAISAGENS

O mar
cheirava peixe,

um vai e vem
eu enjoado,

entre os sorrisos
sarcásticos das ondas,

meu mal estar
num mar de heresias,

liso, um marisco
se banhava na pedra,

golfinhos passeavam
com muitos amigos,

Eu? Pescava paisagens,
vomitava iscas.

ALI LÁ LONGE

Eu ficaria ali,
à sua frente,
longe da ansiedade,

que limita a vida
e não nos deixa
ser gente,

Ali
quietinho entre seus braços,
e olhos afogados,

Eu ficaria ali
com meus antigestos silenciosos
e refúgios e cumplicidades,

Ali
numa suave permanência
enquanto todo movimento
é verbo,

Ali
numa vida sorridente
sem juízo e livre.


MARIA

Maria,
Nome de flôr, vento ou mar?
O que sei?

Morrem e vivem em terra,
nascem e deitam no horizonte,
entre vidas macieiras,

Em Marias vãos e vem os dias,
entre senzalas e taquicardias
afogada entre versos e rimas,

Mãe do mundo
adoradas, cuspidas e escarradas,
entre templos e cavernas,

banhadas em línguas e lágrimas,
meninas dos olhos em cobiça,
fala o que queres, que te adentro e durmo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

FRAGMENTO DE ORGIA

A cama
Depois de se molhar
Inteira
Foi para o sofá, e lá,
Encontrou ondas,
Deitou então tapete
No chão suado

FORMAS


Deitada na areia,
Desenhada, entre curvas e montes,
Suas cavernas de mistérios,
Brilham só descansando a solidão,
Momentos de lúcida lucidez,
Pelo sol, pelo mar, pela espuma...
Ou seus sonhos...ou seu gozo.

VIDAS SECAS

O deserto
Quer um mar,

Debaixo desse sol,
Desse pé de sossego,

Algum vento
Para refrescar?

Já houve, chuva
Onde não há,

O tempo
Já não pode esperar,

Não podem sempre
Essas vidas secas

COMO?


Foram-se os homens, é preciso renascer,
Longe desta vida grávida
De coisas que tenho que fazer
Entre subjetividades e sonhos,

- Isto é viver?
- Tudo em preto ou branco?

Para onde correm as águas?
Mar? Farol? Seca?
Não sou só eu que faço perguntas,
Nem sou quem tem as respostas.

Vão-se os homens,
Florescem coisas
Flores artesanais
De surpresas naturais
Que germinam versos.

TEMPO DE VIVER


Sem tempo
Finda o dia
Eu sonharia,

Sem tempo
Nasce o dia
Eu? Você? Comeria,

Sem tempo
Nasce a vida e finda
Eu morreria.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

DIA A DIA

Os pombos bicam o chão duro,
comem e namoram daquele jeito. Sabe?
- imoral -
os machos eriçam os pescoços,
fazem a corte por todo lado.
A evangélica espantada,
pensando nas coisas de Deus
ficou toda molhada.

MORADOR DE RUA

Debaixo do minhocão,
um homem e seu fiel cachorro,
dormem com as notícias do mundo.

BAIRRO DO CAMBUCI

na minha adolescência no Cambuci
eu me transformava em um capeta,
minha tia até me comprou uma capa vermelha,
um tridente e me cochichava:
pula, canta, com samba nos pés.
Eu até cuspia fogo no carnaval da minha rua.

DA LUZ A RIO GRANDE DA SERRA

Lá vai o trem!
Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Tem gente com fome...Tem gente com fome...Tem gente com fome...
Atravessa o centro...
rumo a Rio Grande da Serra,
Vai...volta...vai...volta

LEITURA ESPELHADA

Na poesia em que me leio
      rimas após rimas
               sou sim
               sou nem,

De quando em quando
       sou só coração,
  cheio de lembranças
       que vem e vão,

Entre tantas metáforas,
    tão pouco, a pouco,
do que sou? O que restará?
    Nem vem que tem,

um homem no espelho,
  espantosa aparência
    que o olhar viaja,
como quem sabe das coisas


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

CRÔNICA DE MIM

Aprendi a me esquecer,
comprei certezas demais,
institucionalizado,
tomei muitos prejuízos,

Nunca fui humano para a burocracia,
um dia minhas certezas se distraíram,
lendo Marx, Engels, Lenin, Saramago...
As dúvidas passaram a ser uma cruz,

Entre o gosto do malte artesanal
e o trago no cigarro de contrabando,
essas novas certezas não dormiam,
ficavam miando sobre o telhado,

Corto cebola até chorar,
invento tragédias para depois rir,
repetidas são comédias, elas, as tragédias,
afinal, tudo terá carnaval mesmo,

Se tivesse sido informado que
tudo que nasce é para depois morrer,
teria escolhido não estar aqui...
me embebedando de conflitos,

vou bebendo a vida,
até tomar um porre de morte,
vou bebendo...vou bebendo...
brindando o dia seguinte,

Meu Estado fala por mim,
tenho o direito constitucional,
beber essa vida de porre,
minha garrafa é privada!

Ainda uso calça Lee
Us Stop!
Já sabem o que ando lendo,
respeitem minhas contradições

Apesar dessa fala idosa,
um adolescente vive dentro de mim,
com dor nas costas, gozo uma vez ao mês,
Certo é que na poesia eu posso tudo.



sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PÉROLA

Uns tantos,
outros nem,
sobre a areia.

De onde veio?

Empurrada pela maré,
me olhava,
negra de brilho.

Gaivotas e Marlins, cuspiram?

Ela brilhava, o coração batia,
qualquer olhar
para mim é ouro.

Tantos, nem,
ontem,
fui um deles.

O amor trabalha de muitas maneiras.

A MORTE

Morrer
é estar enrugado como um maracujá
cheio de doçura e sementes férteis,

o processo
é ser doce e tolerante,
crescer e alimentar o mundo,

nem todo gozo jazz
num prazer futuro.

Esse futuro não nos pertence,
pertence ao outro, desconhecido,
que fez por você.

Funcional, funcionário, flor ou espinho?

Na lógica formal,
nascemos para morrer.

Só.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

MEMÓRIAS


Você voltou, eu ainda estava
cheio de esperanças.
O hoje?
Correndo atrás do amanhã.

Puxei pela memória,
os nossos momentos,
cada lembrança, com muito cuidado,
com carinho; uma a uma,

com elas fiz um colar de lágrimas,
de todas as alegrias e tristezas,
brigas e reconciliações, fechei o fecho
no pescoço. Um princípio de enforcamento.

SOMBRAS


Meu coração cheio de maresia
chora muitas lágrimas salgadas,
que no convívio diário disfarço,
faço carinhos e até sou sorrisos,
na minha cama quando dou forma as sombras,
mas com medo, cantando sozinho Caetano,
as sombras me machucam.

ORQUÍDEA


Gosto de flores
são tão frágeis
duram o tempo
que dura o amor.

Duram pouco.

Se você fosse
amigas delas
talvez as orquídeas
lhe caíssem bem.

MENINA DOS OLHOS


Quanta beleza
me mostra a menina
quando ela passa,
mesmo em fração de segundos,

Teu olhar me basta
nas imagens; olhar de meninas...
me acalmam, me sugerem...
Cristina.

O QUE SERÁ QUE SERÁ.


Não parei no meio,
nem existe meia,
ela é toda,
toda poesia e ponto.

Mas como?

Nem comecei
rima por rima
rima é rima
na poesia.

Senão valem
as metáforas
que lhe dão asas,
o que será?

OBSCENIDADES

Por onde eu roce,
orelhas, pescoço, seios,
bundas, coxas e bocas,
haverá de se molhar,

Por onde eu toque,
em cima, entre, embaixo
não haverá promessas,
só um monte de surpresas,

Por onde eu beije
ou a língua toque,
haverá uma revolução,
com possíveis liberdades

CAVERNAS


Lábios, labirintos,
grande, falange,
seiva, sede,
pênis, ereto,
o caule, a flor,
lenta, mente
a vontade,
entreaberta.

ARMADILHAS

Excita-me vaginas molhadas,
num corpo cheio de formas que expressa
aos gritos em meio ao silêncio,
seu gozo matinal,

Excita-me vaginas coloridas,
grutas entrecoxas,
pensadas, descompensadas,
em seus mistérios silenciosos,

Mistérios que vou sorvendo,
com boca e língua faminta,
uma singela refeição, uma armadilha,
um laço que me aprisiona.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

BOTÕES DE ROSAS

No mundo as flores florescem a terra
para ornar os túmulos dos homens e das crianças,

gerações em fila levantam muros,
um depois do outro para que a separação implore,

aos negros, brancos, vermelhos e amarelos,
que acumulam e fazem silêncio,

silêncio de heróis mortos vivos,
exaltando liberdade e psicopatia,

No mundo as flores florescem a terra,
a primavera está abrindo botões de rosas e girassóis.

O BERÇO

Fiquei de mal com Deus a muito tempo,
meus demônios assassinaram meus anjos,
perdi a infância e as asas brancas,

ouvindo teorias prenhas, nas orações
onde nasciam realidades mortas,
sem que eu pudesse sentir ou questionar,

Ainda ouço cantigas de ninar,
uma vontade grande de voar,
mas o mundo continua a balançar meu berço.

ABRAÇOS

Quando os tentáculos me envolvem
todo fim de tarde chega a noite,
sinto a saudade de quando sabia nadar,

Não dou mais braçadas desordenadas,
não sinto mais as transformações do tempo,
tudo é tão mesmo que a mesmice afogou,

Óh meu polvo!
Perdi a memória apertado por seus abraços,
agora sou um Marlin cor de rosa.

QUESTÃO DE SEDE

Depois que comprei meu celular,
um tênis e uma moto,
enterrei minha cabeça de avestruz
num aparelho de TV de 42 polegadas.
Minha vida? Vai virando suco.


JD. UMARIZAL


O medo anda pelas ruas do Jd. Umarizal,

Companheiro das noites mal dormidas.

Entra no mercado, sai pelo posto de gasolina,

Vestindo todos os corpos.

 

Lá a infância morre cedo,

O medo envelhece todos os dias

Molhando de lágrimas as noites,

das mães com insônia.