quarta-feira, 10 de julho de 2019

VESTIMENTAS

Nem sempre
o amor
acontece,

De repente,
um laço, uma armadilha,
serpente,

engolindo
tragédias
sem nome,

com esse
morrer
visto minha solidão.

ANJOS E DEMÔNIOS

Um anjo de unhas postiças,
boca pintada, olha por mim,

não entendo esta vigília,
se sou amigo de Marx, Engels e Brecht,

anjos não quero,
porque sou João ninguém,

deito-me no humor do vento, e,
rezo pelas crianças.

CAVALGADAS

Todo dia, toda madrugada,
dorme uma boca pagã
acorrentada pelo tempo
após a menstruação descer,

anda...anda...voa....

Com os homens nobres,
de real, euro e ien,
vai apagar esse fogo
que só o seu ventre tem,

indo ao êxtase e gozo
dentro do confessionário,
enquanto o poeta
lhe corta a jugular,

não há culpas no prazer
nem no trote da cavalgada
quando as fêmeas educadas
se transformam em sêmen.

BADALADAS

Bate o sino do Mosteiro São Bento
entre o bem e o mal da cidade,
fantasma da crucificação.
São dezoito horas, já esta na hora.

A fome do povo
não se mata com hóstias,
mas é vício alimento
de corpo incorporado,

entre céu e inferno
Deus e o Diabo, ambivalentes
matam a fome de boas intenções
num mundo girando num saco cheio.



CACHORROS E CADELAS

As mulheres buscam amor,
eu tento fugir delas.
Se não houvesse a vagina
o que fariam elas?

Será que seriam companheiras
se nem se dão bem entre elas?
São belas quando singelas,
se não se olhou para elas,

sinceras são garotas de programa,
as putas são menos hipócritas,
pois o pudor e o pecado, pertencem
as carolas, a venda em outro mercado,

Tenho medo da poesia das mulheres
não são a melhor opção,
poesia é palavra sincera
como as cadelas no cio,

não quero me expor
para não ser atingido,
por isso melhor fugir delas,
como um cachorro vira latas.

FEIRA DO ROLO

Na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
homens vendem de tudo,
até traças para devorar frieiras,

As igrejas ao lado cheias,
de graça não existe nada,
nem princesas nem castelos,
onde habitam cobras e ratos,

também padres e pastores,
cheios de boas intenções,
vendendo a mãe da miséria
e o paraíso em parcelas,

na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
os homens vendem de tudo,
isso, aquilo, o fim e o início.

BORBOLETANDO

Como uma borboleta
que acabou de sair do casulo,

escuto os prantos
de quem não consegue bater asas,

há cobras nos pântanos
querendo se alimentar,

mariposas desmaiam
todos os fins de tarde,

ela no seu corpinho rosa,
chora pedindo a Barbie.

COISAS MORTAS

Artistas carregam máscaras,
finjo-me de arlequim,

mas sou bom palhaço
nesse circo de destroços,

tudo tão subjetivo
nesse mundo cada vez mais morto.

DEGUSTAÇÃO

A cabeça
cheia de pensamentos

certo, errado,
muitas contradições,

meio embriagado
um hálito de urubu

uma Rua Aurora
não chega,

na sarjeta
acendo um cigarro falso

tragando
um poema.

INEXISTENTE

Você
tão útil

maquiagem
tão barata

cabelo tingido
dourado sem ouro

dias
sem sol

noites
sem lua

tão gasta
tão leve

tão frágil
tão nada

tão coisa alguma
que não existe.

BURACOS

Quantos buracos cabem
em outros buracos?

Quantos olhares profundos
nos buracos que te olham?

Quantas rosas brancas
quanta bossa nova,

quantos encontros, desencontros,
em irrupções diárias,

para dar paz ao coração
que bate desenfreado,

com que direito
me beijas e me dá abraços?

LOUCURAS

O que não tem lógica
loucura, ilógica.
Muros se erguem,
pastores cobram dízimos,
de quem nada cai de cabeça para baixo
só cartazes de preciso beber cachaça, colabore.
pombas disputam migalhas
coisa que se parecem, se misturam,
o tempo vai passando...passou...
Agora é a hora!
O amanhã é um pato atropelado
na Av. Francisco Morato.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

DOIS UM PRA CADA LADO

Um dia emprestamos as mãos,
passeamos no Trianon
sem olhar para nada
nem em frente nem pro lado,

sentamos nos bancos do parque
contamos flores e árvores,
pique esconde, amarelinha,
nada de normas ou regras,

eu, você o hotel,
avançamos ruas, cruzamos esquinas,
cheirando hamburguer e gás carbônico,
nessa cidade sem graça,

Amassamos lençóis, sem fôlego, sem freio,
adentramos cavernas, trançamos pernas,
viajamos à Hong Kong,
falamos com Kama Sutra,

sem hora, sem nada,
solucionando mistérios.
O sol se pôs e acordou,
esperava por nós,

Um beijo, um aceno,
um aperto de mão,
- Até um dia!
Fomos cada um pro seu lado.




AS VELAS

Venta o vento, veneno,
onde quero chegar?
Não há falcões ou borboletas
apenas paixões passageiras.
Navego para o futuro
tão cheio de fronteiras,
ainda dormindo com mulheres,
ao invés de dormir nelas.
as velas vão se apagando
quando recebem carícias.




EN PASSANT

José não morava na Praça Panamericana,
ele nunca foi passarinho que descansasse,
nasceu para voar pelo mundo,
nunca fora notado, nem encontrado,
(Foi achado morto de morte matada)
Fazia uma sopa de pedras como ninguém,
mas as fumava também, bebia até as ruas                                                         ,
com suas roupas lavadas de chuva,
seu carrinho de supermercado era seu baú de riquezas,
corria feito um calango, era sua natureza,
só não sabia palitar os dentes.

COVAS

Homens deficientes de infância
habitam porões, pensando em parques,
brincam com a vida e a morte
e voltam a ressuscitar,

olhos cegos de ira,
um não vê, o outro não se enxerga,
a infância olha e ele olha pra ela,
olhando para coisas mortas,

Em um buraco de 7 palmos,
preso a presilhas no céu,
voa passarinho passarinheiro,
entre a fome, estrelas e luar,

quando cava mais fundo,
afunda-se cada vez mais,
se esvaziando por dentro,
para fora lá de dentro, seu invento.

JAMAIS

Jamais, pode ser agora,
quando desejos são poeira
e acabam quando morrem,
ou quando os versos sofrem,

Jamais, acabam no início,
a beira de precipícios,
aos cegos atentos,
no escuro, muros e lados,

Jamais, roubarão princípios,
na fissura da forma,
impacto entre guerreiros
em lutas hereditárias,

Jamais, aqui jazz
um domador de nuvens,
corpo insolente,
distante de si e destino,

Jamais...Jamais...
recuso o percurso,
frente aos galos gagos,
pois, posso mudar o mundo.

INSTANTES FINAIS

O vento despia os Ipês,
misturando cores,
recheando o chão de primavera.

Na flor da adolescência,
puxa como era bom!
Lá em Boissucanga.

Em noites amenas,
a lua sorria cheia,
e piscavam os vagalumes,

Agora na maioridade,
Ufa!
Como bate a saudade,

Chuvas, grilos,
vagalumes,  namoradas
sapos que coxavam,

Caiu a última flor do Ipê,
dias, horas, segundos passaram
nesse meu último instante.


NÃO QUERO MORRER AGORA

As pálpebras caíram,
o silêncio falou.

Era a morte
que me visitava.

E agora sem o chão?
Onde colocar a vida do morto?

Quem tem medo do escuro quer saber.
Não quero morrer agora.

INFANTILIDADADE

Estive jovem algumas vezes,

dos 15 aos 25
dos 25 aos 35
dos 35 aos 45
dos 45 aos 55

Cansei.
Era melhor quando era criança.

Até os 15,
brinquei, pulei, acho até que namorei,

Todo velho perde o tempo, chega a tempo,
com a beleza que os olhos viram,

como fruta, verdejam, amarelam, apodrecem,
se vão e novamente florescem crianças.

PERGUNTAS

São as ruas?
São os buracos?
Os homens?
A multidão?
A política?
ou são nossos olhos míopes?
São os gritos?
As bandeiras?
O tempo?
A lógica?
Ou o absurdo dentro de nós?

REZANDO

Quando deito caio no sono
sem saber o que há  embaixo da cama,

há algo crescendo, coisam  que me perturbam,
o sono e os sonhos.

A lua nova faz carícias, nos medos,
mas o que mais me assusta são os gemidos.

A PEDRA DO PATRIARCA

A pedra do Patriarca,
não vê a praça
pelos seus olhos de pedra,

nem os sem famílias,
as sujeiras dos pombos nos ombros,
ou os disfarçados poetas,

a igreja na paisagem cansada,
hoje só faz casamentos,
e outras pedras no caminho.

MEMÓRIAS

Pensando o passado
que já foi novo,
vejo um mar,
uma cozinha, uma cama,
fotos de gaivotas,
melancolia do tempo,
de ontem que hoje me lembro.

PASSARINHO

Houve um tempo
em que meus braços
entrelaçados aos braços dela
eram como um abraço
que me abraçava,

Minhas pernas
com as pernas dela,
entre, em cima, embaixo,
atrás na frente,
me gozassem,

As línguas que dançavam
a chuva, entrelaçadas,
eram uma grande armadilha,
encharcadas, enxurradas,
de rosas aguadas,

Tudo afora, adentro,
as feridas que ferem o tempo,
desenha seu fim,
sustentando as sobras que fomos,

embora, ela lá eu aqui,
o amor foi beija flor,
violento, belo passageiro,
com ninhos que ficaram com ela.

ALIENAÇÃO

Entre saber e não saber
me alieno no tempo,

entre igrejas socialistas,
e quarteis que rezam a Deus,

Adeus. Fique com o que é teu!
Marx nunca foi Deus,

Vôo em vão,
avestruz perco a cabeça.

MARISCO

Pena...arrancadas...penas,
palmas apenas, poemas,
Pétalas...arrancadas...pétalas,
uma a uma de um coração apenas,

Fim desse tédio
de mulher serena,
me lambe as feridas,
fode minha vida,

marisca-me as costas,
me banha de sal,
afoga-me em seus seios,
que nas suas tranças me enforco.

PASSANDO O TEMPO

Sentado numa pedra sabão,
eu ouvia o mar,
após mais uma desilusão,

olhava para o horizonte,
pensando no tempo passado,
quebrando nas rochas mariscas,

Diante do som do sal,
os olhos marejavam,
eu um grão de areia,

Uivando como um lobo,
quebro o meu casulo,
para voar como borboleta.

O ATIRADOR

Muitos chamam esse governo:
de fascista, filho imperialista,
eu chamo de calhordas,
dominantes e individualistas
num espaço de injustiças.
Muitos bezerros pra mamar
numa vaca de poucas tetas,

Depois que ele findar
nada terá mudado,
a educação terá emburrecido
mas com diploma na mão, pois,
a lei é uma caixa de projéteis
na mão de um atirador.


DESDESEJO

Algum tempo atrás
eu quase me afoguei
de amor,

nadei numa morena,
com olhos de jabuticaba,
vinda do Rio Grande do Norte,

vestia um corpo tropical
com rosto de adolescente
e muita alegria de viver,

não havia de fato desejo,
apenas uma enorme vontade
de curar minha solidão.

PERNILONGO JACU PÊSSEGO

Um pernilongo
cantava no meu ouvido,
dei-lhe uns tapas na cara,
pra cantar noutra freguesia,

Lá reuniu os amigos,
fez fofoca, fez fuxicos,
voltou com a turma toda,
pra me fazer sinfonia,

Tudo era uma grande festa,
dia de Sabatto D' Angelo.
No córrego Jacu Pêssego,
nos tiravam para dançar.

POESIA DE CÃO

Lá na Rua Rouxinol
tem um cachorro que late,

assustando o dono,
muito mais os passantes,

Nas noites silenciosas, quando
não é mais um cão de guarda,

fica olhando para a lua,
com cara de cão sem dono,

uivando sem parar,
cada estrela que conta.

COISA DE BACO

Se você for ao Bixiga,
A tarde, depois do trabalho,
Talvez encontre um amigo,
Um amor antigo, quem sabe?

Vá lá comer macarrão,
Ou, beber um bom vinho,
Lá é um espaço mágico,
O macarrão é chinês,
o vinho é coisa de Baco

PICO DO JARAGUÁ

O frio é muito intenso
no Pico do Jaraguá,
onde os poemas,
tremem, congelam,

Se você gosta de poesias,
ao deitar-se à noite
pede para os seus sonhos
voltar a nos aquecer.

ABAYOMI

Nunca tive Danielas, que
deveriam ter outro nome, Abayomis,
minhas bonecas de pedidos,

Sonho com que cruze oceanos,
e deite-se na minha cama,
para que eu desfaça seus nós,

Não tenho talento para amante,
nem ocasião que permita
fazer-te minha Julieta.

PASSEIOS

Saio de casa, para
mais uma aventura,
visto a roupa da cidade
costurada, vou à caçada,
nas ruas de caminhos largos,
idas, chegadas, bebidas,
gastronomia, um trago,
uma bala, fim da fome,
minha vida interrompida.

CELSIUS

Oficina - Temperatura Celso,
coisas da Rua Jaceguai,
convulsões, surpresas, sustos,
corpos que brincam,
de brincar o mundo, desconstruir,
dissonante das outras ruas, frias,
porque solenes, corpos de plásticos
ouvem o hino nacional.

OS CAVALOS

A Av. Indianópolis
não é pista de corrida, mas,
garotos donos de cavalos,
controlam volantes,

Pânico no asfalto, um assalto!

Cavalos com vidros fúnebres,
abrigam o garoto fantasma,
deitado no lombo virgem,
o corpo não controla, não corre,

Na pisca seca, o cavalo ainda relinchava,
vapor nas narinas da noite que chegava calma,
escurecendo a violência, iluminando,
o sangue e a cidade que dispara.

FIO DA NAVALHA

Um gole...engole seco
no semi árido do cimento,
na Rua Morato Coelho,
onde a noite floresce,

Não tem céu, só arranhões
de concreto, muitos gestos,
muitas cores e botecos,
que aquecem o íntimo,

Flores na rua, cobiçados olhares, 
violentam calçadas animais,
que as presas vão devorar,
o que se vê no buraco da fechadura?

Agora tudo, a pouco nada,
tudo efêmero na balada,
a noite só começou, de um lado e outro
no meio, fio da navalha.

CULPAS

Miseráveis...sem ofensa,
perfume forte que se veste,
nem um olhar,  ignora
a culpa,

Culpa da exposição,
fraterna humilhação
nas ruas do centro.
Beija-me Constant,

Desperta entre anúncios
que acorda o consumo,
aos que podem,
que também aquecem,

Como resolver?
Toda caridade será castigada
no corpo na alma,
as vidas de morte matadas.;

SEVERINA

A fome não se alimenta
da fome, nem o gosto, nem o arroto
brutal das mãos caridosas.

As quentinhas da Praça da Sé,
sem sentimento de culpa, sem saber
matam de vagar, a fome,

Como entender? Entendendo,
porque chora, escondida, naturalizada,
a vida severina.

FIM DE RUA

Passos rápidos, apesar dos avisos,
não ande assim pelas ruas
que não caminham,
nos buracos que te olham,

Olha amor, raia o dia,
deixemos os carinhos na cama,
relaxa  e escuta as batidas do coração,
que pulsa e ainda dorme,

Acorde as ideias, elas vem primeiro
com o sol que aquece o dia,
nesse duro chão, vívido,
posto aqui...no caminho,

não se pode dizer,
onde vai dar, onde?
Longe ou perto,
até que finde a rua.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O VALOR DA INFÂNCIA

Crianças jogam em casa,
crianças jogam na rua,
crianças brincam nas piscinas,
crianças brincam na chuva,
crianças sorriem
crianças choram,

entre chinelos e pés no chão,
com suas caixinhas de sonhos,

Crianças contam estrelas,
dividindo de forma justa,
o que serão amanhã?
Vou lhes contar um sonho:
- Todas serão ladras!
De ponteiros dos relógios do tempo.

SEM SENTIDO

Um pé de chuchu
pulou a cerca,

Um bicho preguiça
escalava um poste,

A menina cor de rosa
o menino azul,

misturavam as cores
brincando de arco iris,

um sol sem vergonha
dava sentido as coisas.

DANÇA DA NATUREZA

Ventos fortes
dançavam com as árvores
no Parque Villa Lobos,
uma garoa umedecia tudo,
acho que eram carícias demais,
foi assim por horas.

ESPERANDO UM AMÔ

Estou a horas olhando o horizonte,
ondas vão, ondas vem,
nenhuma delas me traz você de volta.

PRECAUÇÃO

Na necessaire
fralda geriátrica,
desfibrilador,
telefone do SAMU,
cueca limpa,
 remédio pra enxaqueca,
guarda chuva
muito papel higiênico,
nunca sei
quando vou fazer cagadas.

ANTICLÁSSICO

Corpo flácido,
cansado,
no tempo,

rugas,
testas e pálpebras,
caídas,

o corpo de dentro?
adolescente
em crescimento,

olhos famintos,
desejosos,
observando perigosa mente,

sem licença,
a velhice não vive,
só convive,

essa velha,
vanguarda militante,
anticlássica,

Assim,
não sei,
não fico.

INDIVIDUALISMOS

Borboleta
parece salada

salada
lembra primavera

Prima Vera
amor de lado

lado
éramos os dois

Dois, cada um
no seu quadrado.

VAZIOS

Dentro de mim
mora um labirinto
onde caminho
perdido de mim,
nascido sinoidal
uma vida espiral,

As vezes
tenho saudades,
de Zélia, Simone e Daniela,
mesmo que por minutos.
Eterna saudade que dói...
as vezes.

ALÔ

Toca o orelhão
na rua solitária,
toca pra ninguém,

Toca orelhão
com insistência,
alguém existe?

Olho toda a solidão,
alguém continua chamando,
ninguém, serei eu?

USOS E ABUSOS

Amar não pesa,
não custa,
como algodão
que aquece,

o valor
 está nos fios
que tecem
que cobrem

Eu peço,
me use, me leve,
para deitar
em cima de você.

FAMINTO

Daniela, João, Pedro,
não me beije,
sou um predador,

meus dentes
rasgam carnes
mastigam quem se atreve,

sou chamego, cafuné,
coração, pedra sabão,
bicho de pé,

me subverta,
me acolha,
mas não me beije

me deixa te despir,
depois,
te devoro.

CONSUMISMO

Amor não é
sacrifício
nem orifício
ou isso
ou aquilo,
é mesa, é casa,
pão e água,
Ah! se dinheiro eu tivesse.

DOCE UTOPIA

Uma bala
salivava a boca,
chocolate, hortelã,
açai cá aqui.

vai engano
sabor submisso
seduzindo
desejos.

dejetos
sonhos
doce
utopia,

nem te quero
de verdade
meu amor
diabético.

MARÉ

A onda
inquieta
do mar
vai
amaré
vem
forte
vacilante
cresce
hesita
corre
morre
nos pés.

PASSAGEIRA

Diante desse mar imenso
um sol descansando,
sem cor,

O mar. As ondas. As marés.
Vai e vem uma sensação vaga,
no corpo um arrepio.

Onde andam as ondas?
vagas águas salgadas
sem cascata,

Esse mar não tem queixume,
só vai e vem
como Cristina Naiara Fernandes.

NÃO GUARDEI

Te odeio tanto
que dá vontade de chorar,
de apertar, de sufocar.
Entrar dentro de você
inteiro até morrer
na tua cama,
onde jamais deitei.

VÃOS E VENS

Dias vem
dias vãos,
no mesmo
lugar,

Dias presentes
dias faltam
não sei
dos dias,

Hoje,
amanhã...
dias...
os mesmos.

VÁCUO

Estou ansioso,
vacilo
em meus desejos,
não tenho devolutivas do amor,
nem olhares, nem sorrisos,
só silêncios,
tudo tão vazio para mim.

MUITO A FAZER

Não sou absoluto
até daqui a pouco,
serei, sobre o que sei,
não sou

um poema de contradições
e rimas sem versos, só,
um vagalume num buraco negro,

pisco...pisco...
quando cruzo comigo...
durante do dia não.

Há muito a fazer
sobre minhas dúvidas,
naquilo que acredito,
nesse mundo que também é meu.

sábado, 29 de junho de 2019

ORIGEM


Nem Adão nem Eva,
botões, gerações,
que fecundam o solo,
transformam-se em florestas,

Outras se erguerão, podadas
na próxima primavera,

Botões e flores,
Caem e renascem,
como a humanidade
que nasce e morre.

MATURIDADE


A maturidade, vindas da experiência,
Aventuradas sem medo de se jogar,
carregamos como uma cruz
sob o calor do e a suavidade da brisa,

A maturidade sorri, porque brinca
De saber pular corda e amarelinha,
Dentro de um buraco quer observa
A prisão da velhice,

A maturidade consume o fazer,
O não fazer, as lágrimas, o tempo,
Sedenta de desertos,

A maturidade não envelhece no
O corpo idoso que a acompanha,
Mas morre morrida desde seu nascimento.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

LOOPING

Poemas são
escritos
sem rima, sem querer,

como um amor
que vai esvaindo
saber sem amar,

nada mais é tão natural,
nada mais é...
tão humano,

Tudo agora é coisa,
coisa
que já foi antes.


DESEJOS

Ela me deu uma mão,
natural que eu queira o resto,
não fui.
Ela tem 20 anos, e eu?
Com 60 quero me manter vivo
até a hora da minha morte.

MOVIMENTO

Aranhas tecendo redes
no teto,

descanso os cotovelos
no alpendre,

vejo folhas dançando
na varanda,

um cheiro de café no ar,

se tudo isso acabar
ficarei preocupado.

VELHICES ADOLESCENTES

Quase agredi o coração
outra vez,

com um poema
velho para namorar,

com abraços
e repetidos beijos,

de um velho adolescente
comovido.

ÁGUAS PASSADAS

Remos, remarão
águas que não voltarão,
levando gente e você,

encontrei outra fonte,
que deságua noutro rio,
rio já pronto,

um outro que rema
em mim calmo,
noutras águas que ficarão,.

Danielas molhadas,
Dá nelas! Fazem de tudo,
senão virgens aguadas.

ESPETÁCULO

Você não é poesia,
ideia de Guy Debord,
um espetáculo de seios,
bundas em um jeans,
tudo true and lies,
nada natural,
nos inventamos
para ser felizes,
a vida dura um pouco mais
lírica.

MEDOS

Tenho medo do tempo
pelo limite que me impõe,
à vida,

serei eterno
enquanto dure
essa vida,

dançarei lambadas,
surfarei meu mar
sem ondas,

sem mais nem menos,
somarei, subtrairei palavras,
amor

tenho medo, medo literário
de não incomodar,
com poemas tão calmos.

ATOA

Não faço buracos no céu,
não vou a lugar algum,
nem caminho por onde não conheço,

nem adianta me seduzir
com suas nuvens sem graça,
enquanto o buraco me espia,

meu céu é a rua onde piso, onde
faz tempo que não caminho,
porque não gosto de dobrar esquinas,

queria te dar um poema
mesmo entre tropeços,
com a forma da tua bunda e seios,

Já disse! Não gosto de dobrar esquinas,
dizem que lá se encontra a morte,
Que Deus me proteja!

TEMPO

O tempo não para,
invenção nossa,

Para que tempo?
Essa eternidade que nos devora.

Quem sabe faz a hora?
agora...agora...agora...

Eu danço, a cabeça balança,
entre palavras inúteis,

volto novamente,
escrevo,

o tempo
que vai embora.

VAZIOS

O vazio
não enche,
nem transborda
também,

cada qual
no seu
cada qual,

nós meio ali junto
sem assunto,
sem esperar, sem pesar,
sem mexer muito.



BURACO

É fato
cada buraco
afunda a nós mesmos,
mais fundo
todos os dias,
mais fundo,
quando a gente se vê
aos sorrisos, ou,
quando o buraco
olha para nós.


FILÓZO

Meu velho
corpo
aqui

deitado seu peso
na cama

sonha

seu corpo
as curvas
uma boca

tudo aqui
massa cinzenta
no espaço.


SOB O SOL

A pele
morena de sol

Como um Assaí
com morangos e bananas,
sobre: leite condensado

um solitário qualquer
um corpo dançante
deseja

a falta de realidade
atrapalha qualquer ilusão
nessa tarde de praia.

PROSTÍBULO

Na casa
dos corpos
moram desejos
pessoas se foram

A casa
antiga
de cama
 janelas

A casa
não cai
nos corpos deitados
a casa é você,

A casa
guarda
gemidos,
só isso,

Na casa
reside
medos, receios,
portas e janelas.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

SINAL DE VIDA

Ela se foi...
entre meus versos,
levantei,
abri as cortinas da janela
para ver o pôr do sol,
foi meu sinal de vida,

Vivo, ainda sonho,
com os olhares...
com o toque das mãos...,
quentes, nas feridas abertas,
mas vazias em meu silêncio
sem respostas,

A partida foi medida
para não se desgastar,
apesar do porre do "não voltar".
Levo essas dores comigo,
carregando para sempre
esse amar desamar.

PROSTÍBULO

Podem dizer que sou insensato,
finjo mesmo a minha vida,

Ela tinha olhos sábios,
assim como o corpo e os lábios,

Me chamava pra dormir,
era toda doce e feroz.

POESIA

No branco do papel
deitado,
não dormia a poesia
com suas rimas inquietas.

De dia de noite
o branco,
solitário e distante,
corria aqui acolá.

Não podia deitar
o verso,
que dormia onde podia,
ontem hoje e durante.

No branco do papel
deitado,
caiu um montão de letrinhas
que agora vão cantar.

MEIO CORDEL

Tudo foi inventado,
até nosso pensamento,

que o ignorante compra
porque o que olha cobiça,

nunca nada ele escuta
onde se contam mentiras,

aqui se prendem inocentes
entre futebol e facebook,

essa é minha terra onde cantam sabiás,
tudo se vende e se compra.

RUA AUGUSTA

Augusta dorme lá em casa,
sempre enquando é carne.
Morando na Rua Augusta,
como não saber morar?

Não há lugar no mundo
augusta em outro lugar,
gastronomia e putaria,
mulheres de catedral,

Augusta traiçoeira,
becos e fundo de quintal,
lençóis suados, escolas,
que não se esquecem jamais,

Lá bem longe, muito longe,
hoje te lembro aqui,
tempos em que te chorei,
tempos que te sorri.

BORANDÁ

Se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante,

sei bem quem vai e não vai,
eu? Vai você com seus conflitos!
Tenho as certezas e dúvidas
de que irei bem depois,

depois com nós dois,
vão todos os filhos da mãe,
embora pelegos,
caminharão contra a vontade,

depois e depois, todos os outros,
até mesmo os oportunistas,
que querem manter o controle,
do desgovernado sem freio,

se vamos à algum lugar,
quem irá antes?
Juntos com a mesma angústia,
vamos todos adiante!

MEU RIO DE JANEIRO

De volta
Leblon, Botafogo, Irajá,
onde tudo é chiado
como onda de mar,

seu vai e vem nunca para,
entre acertos, entre érres,
conversa de carioca
com o samba brasileiro,

a maré estica o ésse
que dá sutaque ao mar,
tudo parece tão livre,
aos acorrentados de todo lugar,

Aqui do Cristo Redentor,
o poder constrói armadilhas,
que se armam nas favelas, nos palácios,
dando abraços em criancinhas.

DÚVIDAS

Ando sempre calado,
silencio-me. Não falo com gente,
diante delas , falo de coisas,
delas, não será também de mim?

Será que esse silêncio,
amordaçado
não será medo do outro,
fragmentado?

Uma coisa é uma coisa,
outra coisa é o espelho?
medo sempre, incômodo,
a cada descoberta?

Para descobrir me aventuro
a versar versos, timidamente,
uma forma de silêncio, poderá dizer tudo?


VIOLÊNCIA

Te quero,
mas me distraio;
até que a barriga grita:
Fome!
Levanto os punhos,
soco o ar, e,
te abraço.

PLÁGIOS

Os dias são
um plágio atrás do outro,

Pela fresta ela sempre passa,e,
eu com a emoção nas pernas,

Sonho em lhe dar mordidas, não!
melhor comer com os olhos,

os dias são
um plágio atrás do outro,

os cachorros se coçam no poste,
minha janela olha os ônibus circularem.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

FATOS DE UM FAROFEIRO

Jesus se mudou para uma goiabeira,
galos cantam a internacional,
sob o olhar atento de uma viatura que nada na correnteza,
bancas vendem jornal pra cachorro
uma ventania dá sentido a todas as coisas,
uma velha sem dentes sorri:
E as causas? E as causas?

TUDO E NADA

Me inspiram tantos poetas
que no los puedo contar,
e una nina mujer moça,
por quem as palavras se rebelam,
não dizem nada, as vezes dizem tudo,
nem quase nada, nem nunca foi lido,
é só o que posso oferecer.

PALAVRAS NA GARRAFA

Dentro de uma garrafa
me livro das palavras,
que deitariam num livro,

nada ou vice-versa, náufraga,

afogando num sol escaldante
de amor, mágoas, lamentos,
conflitos em rima - poesia.

HERESIAS

O pôr da paz eu vi da janela,
despertei com uma bomba,

Dei por mim fragmentado,
nunca mais de novo,

ouvi o relógio
que silenciou o tempo,

Tempo desenterrado,
digital,coisificado, ficcional,

Volta a se mover,
inerte, inútil,

As bocas costuradas, caladas,
fora delas, tudo corre,

como a muito correu,
não dará para vivê-lo,

Sabe! É como brincar de amarelinha,
pula-pula, céu e inferno.

FÉRIAS

O mar lava meus pés com sua espuma branca,
uma água viva me queima,
dois caranguejos se esgrimam,
as lutas estão no horizonte que vejo,
hoje sou um demônio descansando.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

MAR DE HERESIAS

Uma onda em mim
subia e descia,

de manhã,
de tarde,
de noite,

No horizonte,
uma paisagem de sal,

Ressecando,
vidas
passas secas,

Dentro de mim
um mar de possibilidades.

COGUMELOS

Num Jardim de Cogumelos,
subi numa goiabeira,
pelado em pelo,

Uma mulher me chamava de Jesus,
enquanto eu pegava bicho de pé,
de uma vaca que defecava,

Cavalguei um porco espinho
animal e solitário pelo pasto,
como uma porta bandeira,

Seguido de Dom Quixote,
Sancho Pança e um moinho,
o mundo mugia,

Nessa tarde aconteceu,
eu comendo flores,
numa guerra de estrumes.

FUGAS PASSAGEIRAS

De passagem passei,
ou fui passado
pra trás,

tenho vontade de pular
desse viaduto...cair
num buraco sem fundo,

cair em pé
sem um arranhão
depois sair andando,

assim foi, fez
esse amor passageiro...
passou.

NECESSIDADE POÉTICA

Um verso me infectou
por isso não reconheço rimas,

Assim afirmam
os sectários e pelegos,

poeta quando não caga
na entrada caga na saída,

Eu?
Quando tenho vontade,

de quando em quando
num beco sem saída,

onde haja
um bom cheiro de urina.

DESPEDIDA

A escolha de ser (ou não) é só minha,
viver efêmeramente tudo,
que não esteja morto,

Tenho câncer azul e rosa,
necessito de radioterapia
como homem, não estrelas,

Nessa leveza de ser,
dormir, acordar,
comer e beber,

Olho o sol nascente,
sol poente,
acordando em seus braços,

Esperando gentilmente morrer.

sábado, 30 de março de 2019

PESCANDO PAISAGENS

O mar
cheirava peixe,

um vai e vem
eu enjoado,

entre os sorrisos
sarcásticos das ondas,

meu mal estar
num mar de heresias,

liso, um marisco
se banhava na pedra,

golfinhos passeavam
com muitos amigos,

Eu? Pescava paisagens,
vomitava iscas.

ALI LÁ LONGE

Eu ficaria ali,
à sua frente,
longe da ansiedade,

que limita a vida
e não nos deixa
ser gente,

Ali
quietinho entre seus braços,
e olhos afogados,

Eu ficaria ali
com meus antigestos silenciosos
e refúgios e cumplicidades,

Ali
numa suave permanência
enquanto todo movimento
é verbo,

Ali
numa vida sorridente
sem juízo e livre.


MARIA

Maria,
Nome de flôr, vento ou mar?
O que sei?

Morrem e vivem em terra,
nascem e deitam no horizonte,
entre vidas macieiras,

Em Marias vãos e vem os dias,
entre senzalas e taquicardias
afogada entre versos e rimas,

Mãe do mundo
adoradas, cuspidas e escarradas,
entre templos e cavernas,

banhadas em línguas e lágrimas,
meninas dos olhos em cobiça,
fala o que queres, que te adentro e durmo.