quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

AMBIVALÊNCIA

5 moradores de rua,
lhe pedem 8 reais,
você com 5 clientes
que vai visitar,
pra ganhar 40 reais,
com 5 bocas para alimentar.
Como a matemática é tão comum
aos miseráveis.

GPS

Direita, esquerda,
viramos a rua direita,
viramos,

a esquerda da rua,
vai dar no centro,
o centro conhece a cidade.

PAISAGEM

Nela eu toco,
os seios...
olhando,

amor platônico
é isso,
da cintura para cima,

lá em cima,
bate um coração, sonho
d'outro coração vivo,

batidas de poema
desgovernado,
que bate com porta na cara.

PASSATEMPO

O homem que eu achava que era,
procuro, não acho, não fui, não sou,

Infância não tive, foi outro,
que morava em outro mundo,

o que sou nem imagino,
talvez os poemas descubram,

o homem que achava que era,
passou, pela esfera, escorregou,

se fosse quadrada despencava,
para um tudo ou nada,

ficam esses segredos no meu jazigo...
a poesia já não fala comigo.

TEMPO DO ANO

Ano que morre aos doze,
começo e fim
que não finda,

entre pedidos que navegam
um rio tietê, entre
margens marginais,

ano que vem, outro vai,
vem marionetes,
no mais feliz dos anos,

Este ano não!
Ano não tem tempo,
tempo tem comando,

você que não tem nada,
com isso,
carregado pela correnteza,

Me responda!
Como pode um peixe vivo,
navegar águas tão turvas?



OUTRAS POESIAS

A poesia da rua, poesia miserável,
ninguém lê, não emociona,
em qualquer rua que ande,

Não é de ninguém, nem a rua produz,
só um anônimo autor e um muro branco,
sujando a cidade,

Poemas que dormem e acordam,
agasalhados pela noite e a notícia do dia,
assim dorme a fantasia,

Poesias doentias, deitam nas paredes frias,
onde deitam cimento, gente e terra fria,
cheias de amor nessa farsa festa criada.

OUTRAURORAS

Durante horas...
aqueles segundos
me atraíram,

Aquela curva aberta
me disparou o coração,
voce passou...passou...

Quanto tempo?
Quanto ficou, no instante?
Que olhei.

Foram horas,
os segundos olharam, e agora?
Não esqueço mais você,

Como uma Consolação,
desfilando de salto da poesia,
sem medo de ser atropelada.

DEZEMBRO

Os dezembros na 25 de março,
são de gente com dinheiro
carnês  e pesadelos,

Como vai ser o ano que vem?

Estouramos champagnes, e,
explodimos a vida, para,
depois descansar olheiras,

Sonham os que não tem?

Anda café eu vou...
Café não costuma falhar,
meus pão com manteiga, cai com a manteiga pra baixo,

Acordo humano de amigo e despedidas?

Esse Papai Noel de agora
não é o mesmo Papai Noel que conheço,
que só mata a tristeza uma vez por ano,

No Natal se vendem canhões?

Esse vermelho que a cabeça leva é de luta,
vermelho Papai Noel,
com sangue a beira-mar,

Desconfia desse branco, desse olimpo, limpo?

Jingle Bell...Jingle Bell...
Carrego essa efermidade desde a infância,
fazer poesia criança.

CONTRADIÇÕES

Só vou viver depois que morrer,
não me enterrem por favor,
me queimem como bruxo que sou,

Nasci repleto de sonhos que já não lembro
pela distração que o mundo promoveu,
mas lembro do gás de pimenta,

condimento dos meus anos 70,
quando sonhava com um mundo feliz,
adolescente rebelde aprendiz,

quis ser tudo para o qual fui educado,
doutor, professor, engenheiro, tudo que proporcionasse dinheiro,
tornei-me um poeta, nem melhor, nem exato,

Cultivei a vida, a vida inteira,
hoje tenho medo da morte,
dos botões on e off,

Só vou viver depois de morrer,
que minhas cinzas pulem um viaduto,
e sintam o ar que respiro.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PARAPOESIA


Eu meio Milton ou Gonçalves,
parapoetizo o sal da terra,
entre peixes, entre Palmeiras,
como um perdido sabiá,

Aqui na Barra do Saí,
Não há ruas para deitar,
As ruas que aqui se deitam,
Não se deitam como lá,

Aqui tem muito mar,
Muita mata, muita areia,
A maré açoita pedras,
mais amor para apreciar,

Aqui pode-se andar sozinho,
Há cheiro de natureza no ar.
Gosto da fumaça de lá, e,
Balas perdidas para chupar,

Aqui na Barra do Saí,
Não há tantos amores para deitar,
Aqui as mulheres se deitam,
mas não se deitam como lá,

Aqui tem mais amor,
Mas sinto saudades de lá,
As ruas que se deitam,
Não tem o desconforto de lá.

Aqui temos coqueirais,
Temos varas para pescar,
Os peixes que aqui pescamos,
Muitas vezes se dão por lá,

Aqui não se tem companhia
Mas se tem muito mais vida,
Como pode um peixe vivo,
Viver fora d´agua fria?


JINGLE BELL


Dia de ofertas
Nós e mercadorias à beça,

Coisas na vida:
Um homem faz sopa de pedras,

Com cara de água de salsicha, e
Gosto de cabo de guarda-chuva,

Não morremos na véspera,
Somente os perus,

Nós e as mercadorias
Temos dias e horas marcadas,

É quase meia-noite
Para quem acredita em papai Noel,

Levantam-se os cordões,
Balanço a cabeça ao sim,

Movimento os braços arlequim,
como um feliz bobo na corte,

Noite feliz...noite feliz...
E o dia seguinte?

Jingle Bell...Jingle Bell...
This boat smells...

Entre merdas, e,
Coisas que tomam vida.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

AÇÕES

Porque as lutas não vencem batalhas?
Palavras de ordem despencam,

conspiramos embates, debates,
falácias gagas, promessas,

que não dão em nada,
nada acaba, na margem,

a correnteza arrasta
tudo que a mente inventa,

toda ideia deveria queimar,
se o verso não aquece,

É hora de fecundar poemas
com a palavra fazer.

SILÊNCIO CONJUGAL

Mais uma mulher morta
jogada no meio da rua,

mais que mulher...era gente...
gente como a gente que sangra,

morte de falta de pergunta:
o que eu quero para mim?

Sedução, festas, luxúrias,
homem pra deitar e casar,

exigências, mudanças,depois:
primeiro tapa na cara,

por amor entre paredes,
promessa de família feliz,

desmedidas outras se afoga
a braçadas,

em luas cheias de mel minguantes,
seu silêncio conjugal.

FAMINTO

Gosto de ovo frito,
maionese e bacon,
um fundo de arroz queimado,

coisas simples, saborosas
quanto matam a fome,
deixando um gosto de quero mais,

Gosto de salada Caeser,
picanha e Moet Chandon,
bom mesmo é arroz com feijão,

não sou fã de pão e vinho
nem de hóstias de igrejas,
não sustentam a barriga,
mas enchem a cabeça.

NOITES FRIAS

A noite nas ruas do centro
os ratos cochicham,

balas perdidas procuram
gemidos sob viadutos,

dormindo sonos injustos,
sonhando no asfalto gelado,

Como será o amanhã?
Pergunte a quem a souber.


Aquelas ruas que são jazigos
daqueles que respiram mortos.



ENTREPOESIAS

Olhando aquele bunda
acima das coxas e joelhos,
eu imaginava entrepernas

a paisagem árida
dagruta entrequadris
pela frente da encosta,

a côncava visão misteriosa
causava arrepios,
efêmeras eternidades,

a bunda, o surdo marcapasso
um samba sincopado,
de um enredo suado entrepúbis,

um marquês gritava:
Sapeca ai!!!
Sapeca ai!!!

GRAVIDEZ

Embaixo da marquise
da ponte da Vila Maria,
uma coruja piava,

não há vida em você!
Sob aquele céu negro
ofuscado pela luz do poste,

ela se escondia,
olhando sem enxergar,
grávida de adãos e evas.

CANTOS

Moro nessas ruas
apreensivas,
violentado,

Espero a oportunidade
que sempre chega antes,
vai, insisto, apreensivo,

não me espanto,
deito o corpo na calçada,
em cantos as vezes em prantos.

PLÁGIOS

Meus dias são
um plágio após o outro,
meus anjos se suicidam
por uma realidade menos morta,

Viver é profundo,
a morte é muito mais,
tempo inexistente;
vou ficar onde quero estar,

aqui nesses tantos lugares,
tenho a minha caverna,
que vive dentro de mim,
mais bem dentro, momentos,

momentos que não são de verdade,
você no meio da tarde
uma ausência que quero lembrar
daquilo que parecia ser,

Ontem, hoje, ontem hoje plágios,
túmulos de momentos cadáveres,
nesse verão saudosista,
de sombras e fantasmas.

Uma longa noite de pesadelos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ACONTECIMENTO

Nunca vi,
mas sabia que acontecia lá.

Um negro de cabelo loiro,
um branco rastafari,

Todos os olhos
carregavam meninas pretas,

numa Vila Madalena
fantasiada de pavão,

Trotava um homem cavalo,
com sua carroça verde amarela,

seguido fielmente
pela felicidade que latia,

naquele lombo negro reluzente
todos queriam colocar um pano branco.

SONHOS COTIDIANOS

Um sujeito matou a mulher
num sonho de família feliz,
Sonho que sonhava só.

O corpo foi encontrado,
cimentado debaixo da cama
em uma manhã cinzenta,

Nem chuva nem sol,
lavavam o sonho
do homem que se achava Deus.

EDUARDO E MÔNICA

Eduardo e Mônica
desejaram mudar o mundo,
jogaram molotvs na Rua da Consolação,
criaram o Partido Tamo Junto,
os molotovs se apagaram,
hoje fazem discursos domesticados
na Câmara dos Deputados.

KING KONG

Há animais na Rua 15 de Novembro,
prédios como o Empire States,
branquelas manchadas de negros,
de nariz empinado, em mais um dia
deitando noite adentro.

DIA DO FICO

No Parque Dom Pedro
vigiam-se contrabandos,
corotes e mendigos,
principalmente a miséria.

CONFORTO

Na Praça da Sé haviam 5 crianças,
pés descalços e nariz escorrendo, com fome,
eu cheio de vergonha elas tão magrinhas.
A mãe? deitada com o pai de agora;
ninguém se incomodava.

BADALOS

Caminho pela Rua Direita
quebro a esquerda
chego na praça da Sé,
tropeço na miséria, e,
ouço o sino da catedral.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

BEIJO NA BOCA

Boca na boca
ventosa
melhor do que ontem,

Um coração
fantasiado
de Arco Íris,

Tudo tão colorido,
sorrisos,
nos lábios da borboleta.


HAICAI

Bem te vi
colibri
eu Urutau


A Maritaca: - Ai cai...Ai cai...

DESAGUANDO

Uns dias chove
noutros bate sol
soprando o vento,

Cai a chuva
lava a rua
mata a sede,

Me leva
leva a rima
a poesia poema,

olhos de Lula
águas azuis,
eu e minhas maresias?

DANDO RISADAS A TOA

Surpreso? Não. Tudo foi indo,
pente ante pé, passo a passo
as mesmas manhãs,

café, almoço e jantar,
com cheiro de naftalina

Sexo? Só nas noites de sexta,
depois da novela,
posto que é chama, apagou...

depois do cigarro aceso,
a fumaça subiu, se foi,
como se nem tivesses estado,

Tudo é um saudosismo,
sem cheiro, nem nada,
agora rio a toa.

ARRANHA CÉUS

Não ando em ruas
que não me levam
a lugar algum,
por minha conta e risco
nem ando com a fé
entre prédios que me oprimem,
pelas calçadas fétidas, e,
corpos apodrecidos
sinto o cheiro de Deus,

Nunca arranharei o céu!

ZÉ MANÉ POETA

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José bobão,
Marias te trairiam,
nesse seu esgoto de ilha,

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José deixa de ser estéril,
põe vida nessa vida, ou,
leva ela a sério?

SALVE-SE QUEM PUDER

O sangue de Deus
não é verde amarelo,
incolor,

Nos espinhos das rosas,
não tremulam améns,
primavera já chega,

Trabalhadores sertão reis?

Machucam as cabeças
coroadas de reis que trabalham,

Diante de tanto sangue colorido,
Salve-se quem puder!

CARAMUJO

Inicio o dia
adentro a noite
sonhando riquezas
que não enobrecem,

mentiram para mim,
corro como uma cão para morder o rabo,
prazer não me cabe,

Não gosto, tem gente que gosta,
dessa vida oposta, fim sem finalidade,
onde tudo tem cheiro de peixe,

Reclamações são o ostento,
nestes rabiscos inúteis?
Palavras de caramujo, que
só acontecem em versos.

MUSICALIDADE

Acordo dançando uma valsa,
passo a passo, o ato é um fato
pronto,

Escuto a música que brota,
poderia ser mais bruta,
bossa nova,

O som da avenida, entoa,
outro canto, outro tempo,
que é deles hoje,

harmônica exploração de espaço,
desconforto e consolo,
diante de uma clave de sol,

Tudo faz sentido na poesia talvez?

SUICÍDIO

Viaduto. Alto. Arranha o céu.
Um salto. Ambulância.
Mergulho vermelho.
Uma manhã amarela.

VELHA CRIANÇA

Fraldas geriátricas, desfibrilador,
telefone dos amigos no SAMU,
um velhinho brincando de criança,

Pula corda na ida e na volta,
não vai nem volta,
nem chega também,

nada termina de ser feito,
tudo começa hoje, amanhã novamente,
com a vontade de fazer sempre,

As velhas narrativas,
das experiências com o tempo,
morrem e nascem,

Amarelinha, cabra cega,
acabam como ontem,
da vida somos amantes.

ÁGUAS PASSADAS

Há dias acordo assim:
sem saber definir,
o que são águas passadas,

Dói-me as costas, navego
as águas afluentes de mim,
quanto tempo passou?

Paro em frente ao espelho,
sorrio com as respostas,
da velhice aportando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MINHOCÃO

Um minhocão
abriga, sob...embala,
o lixo,

O poeta
olha a miséria,
sem culpa,

Esculpida,
pedras - pessoas, pelos
batalhões de poemas,

sobre os restos,
ratos roem
a vida,

sem gatos
que moram em
arranha-céus,

habitam
a nova violência
sem perder a ternura,

Jama`s.

ABUSANDO A VIDA

Uma nuvem cinza,
esconde, atrás,
um sol,

dentro,
uma chuva densa.
Vai saltar!

Retumbam os trovões,
correm,
ratos e baratas,

os raios, iluminam
sem suspeitar
que irão acabar em poesia,

as plantas se divertem
dos que correm
da vida seca,

vida
dádiva ávida
lavada,

molhada ou seca
em perfeita sintonia,
a poesia usa e abusa.

TEMPESTADE

Ando enquanto os olhos
se abrigam das gotas,
de chuva,

Cai exausta
numa enxurrada
de existências,

Antes desse águasal,
um mendigo
já dormia úmido,

Um cheiro podre,
subindo molhado
do chão,

Abrigado sob um toldo,
ouço o pranto
da tempestade bruta,

Um choro em si mesma,
que na garoa acalma,
umedecendo a calçada,

sacia  a sede
dos pássaros...passos,
vão em vãos,

o arco íris
se levanta de manhã
sobre os ausentes,

somente ao poeta,
encharcou de palavras,
essa chuva intensa.



terça-feira, 12 de novembro de 2019

DEUS URBANO

Não gosto desse Deus urbano,
de rosto branco, loiro de olhos azuis,
olhar de candura, boca singela,
entra devagarinho, sem licença poética,]
nas casas, cavernas e mentes,

Esse velho e forte, sabe que começo tem fim,
sem medo da descrença,
com orgulho do ódio e de maldades,
tudo em mim é rebeldia,

Caminho numa insana procura,
por aqui por ali
o mundo se deita em mim,
me acoberta de gaze, nem percebemos,
quase, que vai nos cobrindo de terra.

MANDARIM

Meu amigo chinês disse:
Chinesas não gostam de negros.

Eu respondi:
Brasileiras também não.

Não durmo com Mao na cabeceira,
todo sexo é revolucionário,

só é contido pelo café e um cigarro,
nas minhas manhãs em Cunha,

Cachoeira na cabeça, água fria,
um levante popular,

um suor e um gozo
entre o fogo do molotov,

um sorriso de felicidade
meio comunista.

MEU ESPELHO

Havia um cavalo dentro de mim,
só eu montava,
com meu colete a prova de balas;

na cabeça, o descuido, meu chapéu coco,
cavalgando entre xilocaína, lidocaína, cafeína,
acetona, bomba e éter,

sempre fui medieval,
inconsciente com meu umbigo
e me espelho particular.

FAKE NEWS

Os solitários das redes sociais,
não escutaram a explosão.

Morreram crianças?
Morreram minorias?
Morreram trabalhadores?
Morreram muitos.

Os solitários nada viram,
haviam muitos amigos deletáveis e um conforto,
fugir da realidade, dos conflitos lá de fora,
basta ficar offline e ver tudo pela TV.


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

NÃO SEI FAZER POESIA

Olho pela janela do trem,
um mundo em miséria e injustiça,

O fogo de Deus, me faz respirar,
uma fumaça que embaça,

que passa,

Aqui não meu irmão!
Vou descer em outra estação,

Cains não me enganam
nessa vida severina,

Perdoai-me
não sei fazer poesia.

UM DIA

Um dia
minhas rimas
se levantarão,

andarão,

não a pedido de Deus,
mas pela palavra pão!

Todos juntos, como um batalhão
de punhos cerrados, cavalos,

deixando  o cercado
ganhando o descampado,

Rosas e cravos, espinhos,
num início de flor e cultura.

SONHO E SOL

Lá longe no horizonte,
o mar encontra as nuvens,

Tão perto?

Na menina dos olhos, uma clara paisagem,
onde aportam lembranças,

de um coração batendo asas
na imensidão azul,

o sol derretendo as penas de cera,
de um Ícaro de olhos mareados.




TEMPO

O tempo é a distância
entre e o espelho e a fotografia,
estampado na nossa cara de bunda,

Tudo é colorido
quando se cobre de cinza,

nesse tempo despresível,
vivo como cachorro morto,
cavando buracos para enterrar os ossos,

infestado de amor e silêncio,
de chão molhado,
esperando abraços.

EMOÇÃO

Sou o mesmo,
mudando: todo dia,

Pião, roda gigante,
eu num parque de diversões,

rodando moinhos
eu giramundo,

geração que gera ação
bebendo emoção.

MOCHILANDO

De sal,
castelos de areia, mar
de muitas desilusões,

exite violência
no bater das águas
sobre as rochas?

A lâmina afiada
dos mariscos
abrindo a pele?

Na minha, sua, dentro
e fora, na estrada,
eu, você com a mochila inchada?

NA BOCA DO POVO

Lábios sem intensão
não tem a ambição das bocas,
beijos, sabor e feitiço,

sufocando, afogando
despedidas e encontros,
em todas as estações do ano,

salivando como as marés
que beijam a areia nas
salgadas doces manhãs,

Olha!

Lá longe o horizonte
que habita o céu da boca
daqueles que morrem de saudade.

VIVO MINHA SEPULTURA

Quando me olho
vejo duas pessoas,
um verso, inverso,

algo incompleto,
sem ser vivo
virginal perigo,

o corpo enruga
desacompanhado
olhando lápides,

tenho idades, que
correm sem parar,
com coisas da intimidade,

um dia não terei
tempo, nem envelhecerei,
mortos não vivem isso.

NADA É COMO É

Amor que se acaba não é mais amor,
ódio que se guarda também não é mais ódio,
momentos que não são vividos não são momentos,
tudo é casco de tartaruga, abrigo de solitários,
sentimentos que devemos ultrapassar,
ao terminar um verso busca-se outras rimas,
poemas tem flores e cactus, então agora,
levanta da cama e não pergunta quem desarrumou.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

INFANTIL

Arfante, militante, infante em si,
com erguidos punhos, cerrados,
por palavras, armas de liberdade,

marcha, molotov, fumaça,
correria, paus e pedras,
gritos e lágrimas,

Tudo em vida busca a morte,
severina fome do outro,
ainda um porvir,

Infante, lutador,
de punhos cerrados,
armado de liberdade.

EU VOCÊ E EU E VOCÊ

Todo eu que há em você
nem sempre é o eu que o outro vê,
se o eu do outro te choca,
soca, sem se abater,

Melhor ser filho da outra,

Outra realidade que se inventa
entre Deuses e diabos,
previsões e provisões
nesse mundo do nunca,

E daí?

Sou um eterno insatisfeito
me debatendo no túmulo,
quando Drumonds e Suassunas
me chamaram de bunda,

Eu sou você, eu e você,
sem você nem eu, o outro
que foge de mim
nem me conhece.

ENTREPASSOS

Vejo os punhos cerrados,
as palavras de ordem,
gritos inaudíveis
nas bocas pálidas da paisagem,

As utopias se construindo,
como edifícios, rachadas.
Não dá para abraçar
o mundo, com sal de lágrimas,

No final o mesmo começo
que segue e resiste
contando verbos de pedra,
deixando tudo em movimento,

Se não chegamos ao fim de tudo,
subimos apenas uns degraus,
de mãos dadas, não esse, outro você,
mudando as coisas entrepassos.

ENGANO PORQUE GOSTO

Amor não é para sempre,
ele só vem para amar.
Mesmo que ele se perca...
não ligue..ele vai voltar
enquanto engano você
com essa minha poesia.

MATANDO O TEMPO

Meu melhor o tempo escondeu,
não teria sobrevivido sem você,
sem arrependimentos,
continuo abraçando as manhãs,

Tudo vai mudar, o tempo, o vento
vai espantar o que está seco,
o sol vai se apagar, a lua acender,
sem explicação ou razão,

Com essa nova luz, fica?
Sai da escuridão lá de fora,
não há o que inventar sem sol e lua,
vale a pena matar o tempo.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

PERSONAGENS

Entre os personagens com quem convivo,
não acho o real, nem procuro,
nessa páginas que já enrugam,

vivo subjeticídio público,
funcional, funcionário frente a espelhos,
afogando-se num mar de idades,

mesmo se os encontrar
perderei o fôlego na praia,
sob um sol escaldante,

nas minhas costas, gargalhadas,
que batem em corais e incomodam a maré,
nessa ilusão de horizontes.

AMÉM

Um mar que sabe nadar,
nada desengonçado,
quebrando a cara nas pedras,

Um mar que não sabe andar
anda afundando seus pés
num imenso chão de areia,

Um mar dentro da ostra
não conhece
o sonho de uma pérola,

Um mar que não sonha
não vai nem vem,
só leva uma vida de amém.

VIDA ALHEIA

Um graveto seco
desce pelo rio.
Uma formiga nua
toma sol na bunda.
Lá nas nuvens,
fofocam um bando de maritacas.

AO PÉ DA LETRA

O escuro aprisiona vaga-lumes
em lugares vazios,
a cada um que foge uma luz se perde
e enterra um corpo,

O escuro fica órfão, não enxerga,
perde a direção e cambaleia,
tem asas mas não voa,
lágrimas de um só olho,

O vazio se fortalece,
proliferam morcegos,
a poesia vai fugindo,
caminhando com pés de letras.

LADEIRA PORTO GERAL

Uma rua para quem sobe,
uma ladeira para quem desce,
para todos que caminham,

fantasias, futilidades,
roubos e precariedades,
uma ladeira Porto Geral.

AMOR

Me livra do laço
que aperta o pescoço,
dessas armadilhas insanas,

que afogam os olhos,
bumba marcapasso
que no coração lateja,

Ah! Amor alado dolorido,
com asas de Ícaro,
só me vale as orgias,

que estrangula esse lobo
sem matilha, vai e vem
que não volta nunca mais.

CRIANCICE

Tomara eu viva mais 10 anos,
reclamando, chutando pau da barraca,
tenha amor de uma loirinha ou negrinha,
meninas para brincar, de papai ou médico,
de mamãe ou enfermeira, tudo assim misturado,
chorar, soluçar e sonhar criança de novo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A RUA

A rua deita, acorda, o corpo,
cansado, inerte, lúmpem, desesperado,
só o seguinte,

Morre,

morte fria, acamada, indigente coisa,
animal fera inútil,
disforme.

A rua é despresível, aconchegante,
te abraça, te ouve calada,
conforta,

cama esquecida, deitada,
acordamos depois.


FATOS FRIOS

- Quem vai querer comprar banana?
Pergunta a Rede Globo.

- Acataremos teu ato! Responde o abacate.
Nós também somos do mato.

Nesse pomar de futilidades,
tem carne seca na calçada,
caipirinha de água ao dente,

Um pato aqui outro acolá,
noves fora entre,
se não é do lixo não pense,

De tudo o que falta,
o que resta,
é somente um fato frio.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

CEGUEIRA

Pergunto:
Menina o que você olha?

O que você vê
além do que já está posto?

Minha menina, nos olhos
engole o silêncio,

no limite desse olhar
fiquei pasmo,

havia adiante, o mundo, e,
os cegos não enxergavam a pérola.

MEDO

Nada é claro
na rua da minha casa.
Latem cachorros,
gatos pretos passeiam,

Passos marcam o compasso
por onde caminham fantasmas.
Um bêbado mija no poste, e,
projéteis me assoviam assexuados,


as pernas se recusam a andar,
a violência não me desvia o olhar.
Ufa! Não me escolhe a faminta,
devora outro inocente,

dou um, dois, três passos,
caminho porque não morri,
passageiro, passarinho
vou voar dessa gaiola chinfrim.


IDADE

A juventude se esvai
entre dedos, hora a hora,

No rosto o silêncio e ela
vigiando fotografias,

todo dia volto ao começo
entre vômitos de rugas e verdades

que conheço e desconheço,
recriando do que padeço,

sonhos me acompanham
cobrando coisas de criança,

esse é um dia secreto
viajando com cogumelos.

TERRA DO NUNCA

Ainda sonho
nessa terra do nunca,

não na linha da frente,
nem na linha do fundo,

entre meus golpes de vista
entre o tudo e o nada,

vida severa violenta
que nesse poema explode,

que não posso deixar morrer,
nem posso deixar me matar.

AGORA SEI

Agora sei
que já passei
Já fui
ainda miserável,

Agora sei
levantei, me curvei
procurei, achei
não guardei,

Agora sei
que sou culpado
de levantar muros
que não derrubei,

Agora sei
geração
gera-ação
mesmo distraída.

AMÉM

Há tempos que escuto estórias.
Que a história agita lenços
brancos de derrotas, como pombas
brancas manchadas de sangue,

na vida urbana, no campo
do gado na fila do matadouro,
rumo a paz com orgulho, nessa
história embaixo do tapete,

em cada momento, que se inicia
a necessidade, assim como finda
quando a chuva leva o sangue
no consumo da naturalizado,

de joelhos ontem, sempre
palmas juntas abertas,
Hoje ainda, a palavra amém.

TRANSFORMAÇÕES

Somos nós trabalhadores
que levantamos prédios, casas,
alteramos a natureza, o País,

Somos nós trabalhadores
que levantamos cidades,
com as ferramentas da tortura,

Somos nós trabalhadores,
que navegamos mares e céu
com o rosto molhado de sal,

Somos nós o amanhã,
ancorados porto a porto,
para onde?

De punhos cerrados,
tremulam outras bandeiras
que nunca são o bastante.

MILITÂNCIA

Levanto bandeiras, luto
pela verdade, e,
aguardo respostas,

Abro minhas portas, contradições?
Espero que entrem, pelas janelas
entre luzes e possibilidades,

pássaro, Ícaro, em vôo
bato asas derretidas
de muitas formas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

INSETOS

Havia um presidente
que roubava palavras das lixeiras,
políticos todavia, sorriam mentiras, e,
escreviam palavrões em meio a ignorância,
se tivessem conhecido Maria Carolina de Jesus
talvez tivessem aprendido sobre quartos de despejo,
mas insetos e pernilongos são apreciadores de sangue e restos.

AMAR E PARAR

Como é que se pode
afirmar, que há...
rima entre...
amar e parar,

há muita poesia
no meio,
dá vontade de beijar,
amar e parar,

por aqui,
não precisa ser hoje,
sei lá quando,
meu coração sem dono,

essa ressaca não para,
melhor amar para passar,
tudo ou nada, que nos resta,
viver essas rimas, enfim...

vomitar por você.

EMOÇÕES PRIVADAS

Não que eu tenha
esquecido os sorrisos, os beijos
de todas as noites, mesmo cansado,
é que, sei lá, eu não tinha,

antes não, perto ou longe
sempre faltava, vivia um vazio
de saudade que ficava, não sacia
a vontade de te ver, agora

eu tenho, todo dia toda hora,
aqui está, fim de toda emoção
cardíaca, nem lembro mais,
se não está, não precisa ser lembrada,

foi, a fim de ficar,
transbordando o vácuo,
que se rompeu, pronto
para se esvaziar,

mesmo que seja verdade, desamar
é isso, voltar para o nada,
um anti sentimento, começou
agora, essa vontade de ir embora...


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

MENINAS

Uma mulher, uma sereia?
De frente para minhas meninas,
que nadam no fundo dos olhos,

encharcadas pelos tempos de agora,
deste lado do porto, do outro,
o porto do mundo,

Canta cedo o mar,
gaivotas mergulham e pescam
muito antes de mim,

um lado amarrado, outro fundo,
as meninas navegando em tudo,
serão mulheres ou sereias?

Nesse mar onde nado lento,
água que tanto bate e fura,
comovido, como vento,

mar parado, de sal e areia,
não sei se existem sereias,
só sei que a muqueca foi boa.

MATURIDADE

Uma fruta madurando morta, eu,
banana com cigarro apagado
no canto da boca,

deitado na fruteira
olhando baladas, casais
cheios de céu e flores,

bananeiras e buquês de esperança,
pomar de silhuetas abrigando passarinhos,
que, colhidas vidas suspiram,

degoladas, lavadas, descabeladas,
expostas no centro da mesa,
como maracujás de gaveta,

doze bananas já vivi,
um cacho jaz ali,
penca com calda,

me resta esse sentimento louco,
saber o sabor, despencando
entre a fruteira e a boca.

CORUJANDO

Minha vida passa
nesse tempo enorme,
passam nas miragens
da minha janela,
assim me contam as meninas
dos olhos, impotentes e silenciosas
que sou uma coruja.

PRINCESAS

Ainda sonham, cavalos brancos,
castelos, guardados, fechados,
dentro delas - sonhos de terror,

Nesse circo moram crentes,
palhaços num picadeiro de areia,
saltando em cordas frouxas,

Todos pintados, como anjos
cavalgando canduras, que passam ao largo,
marcando o trotar dos corações.

LUTA

As crianças levadas,
a crer em céu e inferno
aprendem em casa, sob
um céu de telhas e paredes felizes,
gravuras de cegonhas, coelhos de páscoa,
Papai Noel.

Ave gaivotas, marinhas,
Ave Marias, maresias
azuis e rosas todos os dias,
batem palmas, palmas juntas,
cheias de amém e teias
elas crianças num pula pula,

Como encontrar a realidade,
sendo poeta e poesia?
Eu sou - e dentro dela?
Sem verdades absolutas
a Ave Severina grita:
Luta!

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

COLHEITA

No seio de uma beterraba
sentava um passarinho amarelo,
cenário intersexual de poemas,
de onde ejaculam rimas como chuva,
rimas, concavas, convexas, curvas,
em uma plantação de milho,
sob os olhares dos espantalhos.

CASA DAS ROSAS

Na hora do almoço
caminham grupos palitando os dentes.
Um mendigo pede um real,

Penso:
(Rua mais sem gente)

Rua cheia de novidades,
atropelamentos de montão,
meninas do: vou ali e já volto, e somem,

Lá na Casa das Rosas
tem uma mulher casada
que não consigo arrancar do jardim,

Deve ser esse meu sentimento Jambo,
Ela cultiva uma flor que já usa band-aid,
que logo, logo vai colecionar sapos, ou,

embuchar de palhaço, como o anjo da sua mãe.

POEMA INFANTIL

Na criancice das palavras
vi um lagarto mastigar um pedaço de vento,
escrevo o que não acontece, infantilmente,
melhor que prender passarinhos dos outros,

Da natureza seu moço!
Lugar de passarinho é em cima de pedra de rio,
palavras com pé no chão
onde os lagartos que mastigam ventos andam,

Meu professor ensinou
que mesmo as palavras bichadas
tem seu valor, seu sentido, ódio e amor,
eu juro não sei quase nada,

Um dia vou saber tanto quanto as abelhas,
que sabem das flores. Não para fazer jardins,
mas para encontrar as sementes de todas as palavras.

NADA

Um luar desovou um osso de ovo,
com olho de inseto, um nada com nadadeiras,

sabe das coisa por folhas secas,
não desenvolve, não vai além do nada,

Guarda vento no pulmão, pula de galhos...quebrados,
lambendo palavras alucinadas, fodendo o mundo,

Tem pernas mas não anda, tem asas mas não voa,
um nada, ou, quase nada, nada desenvolvido,

não fala uma coisa nem outra, querendo falar de tudo,
ou quase, coisa que ninguém escutava,

Eles iam cuidar da vida, isto é, assistir as novelas das oito.

ESPERANÇA

Na minha liberdade algemada,
só vivo imagens e formas,
o conteúdo deu adeus,
enterrando a narrativa,

os fragmentos já não colam,
os grilos não falam mais comigo,
sinto-me um pouco resto
como concha cuspida de mar,

sinto falta da infecção das palavras,
dão dor de cabeça mas me mantém vivo,
não sei se estou no fundo de um jazigo, ou,
o vazio de mim que tem esse silêncio bárbaro,

meus verbos estão com o pé na lama,
as palavras não fazem gestos,
tudo caminha para a ignorância,
decidi falar com passarinhos e fazer coisas inúteis,

entretanto na primeira ereção do dia,
o dia promete, olhando um deserto, ou,
um menino brincando num chão de areia
com um molotov em garrafa de coca-cola, sugere mudanças?

FILHO DA OUTRA

Aquilo que não conheço é muito mais bonito
para tocar o clítoris do mundo,
o modo como o sol se ascende e apaga,
como canta uma rã todo fim de tarde,

Um verbo movimenta tudo
quando formigas entram em suas casas de bunda,
falar de formigas é insano eu sei,
como sei que elas não dão a luz,

Daquilo que não sei eu me habituo,
minha coleira é determinante no caso,
é como um nada crescendo,
num corpo cheio de vazios.

SIMPLICIDADE

O céu é espelho do mar,
misterioso e indecifrável tão quanto,
se há Deus por lá,
deverá haver Deus para a cá?

Ostras, pérolas, vidas, oferendas,
caminhamos sobre ondas,
simples, altivas suntuosas,
para vomitar maré na praia,

Tudo tão simples assim.

RECEITA

Mãos na massa
temos muito trabalho,
neutralidade ideológica não existe,

Mãos a massa
Difícil? Manobra,
neutralidade ideológica não existe,

Mãos a massa
unta a forma, bota a forma,
neutralidade ideológica não existe,

Coloca para assar
com uma pitada de lenda,
neutralidade ideológica não existe.

IDENTIDADE

Sou aquilo que me deu a vida
que vou vivendo a cada passo,
passo tropeçando a rapidez do traço,

Já chorei, já sorri,
já achei, já perdi, 
tantas casas que sorriam,

Sou algo vivo,
já nem sinto tanto frio,
nem sei a idade que tenho,

Vou juntar tudo sobre mim,
passado e presente, além de nós,
para me dar um abraço futuro.

SAUDOSISMO

Oficina - Arena
Os dois teatros do meu início
em que me conheci,
subjetividades tão próximas,
que so de lembrar é como estar lá.

CAVALOS BRANCOS

Os que olham mulheres belas,
se olhassem para além da beleza,
veriam que que há nelas
um narcisismo agudo,

Ouvem relinchos de cavalos brancos,

Elas produzem um sorriso frouxo,
num corpo de desamor aflito,
com lábios flácidos e beijos rápidos
com olhos de muitas perguntas,

Ouvem relinchos de cavalos brancos,

Não importa se tem sol ou noite nos cabelos,
tem em comum que são belas,
só não se atentam para além da imagem,
que não há cavalos brancos nos centros urbanos.

LA MANCHA

Minha mula empacava,
não haviam moinhos na praia,
só os vistos por mim.

Minha armadura ganhei da LBV,
trapos de coração para o dia a dia,
com um escudo de cascas de coco e melancia,

Pança de sobretudo num sol de 40º graus,
Chapéu de palha e tule, botas de solado furada,
um ninja sunsei da Liberdade,

Será que serão poetas? Perguntavam:
Nesses doces trajes poéticos,
repletos de ricas rimas?

Atuais ou medievais,
são quixotes contemporâneos,
vistos como La Mancha.

RUA TAMANDARÉ

O centro tem muitos ratos,
aqui na Rua Tamandaré nunca falta,
espanto pra todos os lados, e,
ele correm aos bueiros,

Quando estão lá todos juntos,
com certeza falam de mim, e,
um deles faz um comunicado:
Vou participar da São Silvestre!

ÁGUA BRANCA

Um parque sem rios ou fonte,
verde água branca,
onde construo lembranças
sob memórias rasas,

Verdes sombras, desvendei,
obscuras relações,
encobertas por frondosas árvores,
frutificando segredos,

Suspeitas me franzem a testa
das descobertas secas,
molhando um tempo,
entre verdades e mentiras,

Sei que ali corre uma jovem,
suando pelo caminho escultural,
sombra sinuosa, saltitante,
que avança com o pensamento que lembro.


SAMPA É NÓS

As ruas de Sampa não nos oprimem,
suas calçadas, lojas, arranha-céus.
São as pessoas, coisas bípedes,
que ruminam, ruminam e mordem,

Suas utopias que empurram a vida,
impulsionam limites, pichando de
alucinações rebeldes o dia, depois de amanhã,
num muro extenso,

aqui nessas ruas qualquer coisa pode ser,
João e Maria de barbas e bigodes,
procurando sem saber o que,
crescendo, indo, vindo, eu, ficando,

nossas tímidas resistências,
a outras lógicas, ilógicas,
da qual se vestir mesmo que sem relevância.


EXISTÊNCIA

Se somos a síntese da existência
no tamanho possível dos nossos sonhos,
não encontramos ainda nosso caminho,
nas casas, ruas, espaços e tempo,

O inesperado futuro nos questiona:
O que deixamos de fazer no passado?
Uma ira covarde invade tudo,
somente uma ira impotente,

Míopes olhares desvirtuam nossa ousadia,
nessa vida defensiva de fracassos guardados,
um cigarro, outro, muito mais, e,
um pavor da inércia do lucro,

São livres os caminhos que não se encontram?
Corpos que transitam como um bando de andorinhas,
um balé de muitos, únicos, paradoxal e obscuro.