terça-feira, 17 de dezembro de 2019

PARAPOESIA


Eu meio Milton ou Gonçalves,
parapoetizo o sal da terra,
entre peixes, entre Palmeiras,
como um perdido sabiá,

Aqui na Barra do Saí,
Não há ruas para deitar,
As ruas que aqui se deitam,
Não se deitam como lá,

Aqui tem muito mar,
Muita mata, muita areia,
A maré açoita pedras,
mais amor para apreciar,

Aqui pode-se andar sozinho,
Há cheiro de natureza no ar.
Gosto da fumaça de lá, e,
Balas perdidas para chupar,

Aqui na Barra do Saí,
Não há tantos amores para deitar,
Aqui as mulheres se deitam,
mas não se deitam como lá,

Aqui tem mais amor,
Mas sinto saudades de lá,
As ruas que se deitam,
Não tem o desconforto de lá.

Aqui temos coqueirais,
Temos varas para pescar,
Os peixes que aqui pescamos,
Muitas vezes se dão por lá,

Aqui não se tem companhia
Mas se tem muito mais vida,
Como pode um peixe vivo,
Viver fora d´agua fria?


JINGLE BELL


Dia de ofertas
Nós e mercadorias à beça,

Coisas na vida:
Um homem faz sopa de pedras,

Com cara de água de salsicha, e
Gosto de cabo de guarda-chuva,

Não morremos na véspera,
Somente os perus,

Nós e as mercadorias
Temos dias e horas marcadas,

É quase meia-noite
Para quem acredita em papai Noel,

Levantam-se os cordões,
Balanço a cabeça ao sim,

Movimento os braços arlequim,
como um feliz bobo na corte,

Noite feliz...noite feliz...
E o dia seguinte?

Jingle Bell...Jingle Bell...
This boat smells...

Entre merdas, e,
Coisas que tomam vida.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

AÇÕES

Porque as lutas não vencem batalhas?
Palavras de ordem despencam,

conspiramos embates, debates,
falácias gagas, promessas,

que não dão em nada,
nada acaba, na margem,

a correnteza arrasta
tudo que a mente inventa,

toda ideia deveria queimar,
se o verso não aquece,

É hora de fecundar poemas
com a palavra fazer.

SILÊNCIO CONJUGAL

Mais uma mulher morta
jogada no meio da rua,

mais que mulher...era gente...
gente como a gente que sangra,

morte de falta de pergunta:
o que eu quero para mim?

Sedução, festas, luxúrias,
homem pra deitar e casar,

exigências, mudanças,depois:
primeiro tapa na cara,

por amor entre paredes,
promessa de família feliz,

desmedidas outras se afoga
a braçadas,

em luas cheias de mel minguantes,
seu silêncio conjugal.

FAMINTO

Gosto de ovo frito,
maionese e bacon,
um fundo de arroz queimado,

coisas simples, saborosas
quanto matam a fome,
deixando um gosto de quero mais,

Gosto de salada Caeser,
picanha e Moet Chandon,
bom mesmo é arroz com feijão,

não sou fã de pão e vinho
nem de hóstias de igrejas,
não sustentam a barriga,
mas enchem a cabeça.

NOITES FRIAS

A noite nas ruas do centro
os ratos cochicham,

balas perdidas procuram
gemidos sob viadutos,

dormindo sonos injustos,
sonhando no asfalto gelado,

Como será o amanhã?
Pergunte a quem a souber.


Aquelas ruas que são jazigos
daqueles que respiram mortos.



ENTREPOESIAS

Olhando aquele bunda
acima das coxas e joelhos,
eu imaginava entrepernas

a paisagem árida
dagruta entrequadris
pela frente da encosta,

a côncava visão misteriosa
causava arrepios,
efêmeras eternidades,

a bunda, o surdo marcapasso
um samba sincopado,
de um enredo suado entrepúbis,

um marquês gritava:
Sapeca ai!!!
Sapeca ai!!!

GRAVIDEZ

Embaixo da marquise
da ponte da Vila Maria,
uma coruja piava,

não há vida em você!
Sob aquele céu negro
ofuscado pela luz do poste,

ela se escondia,
olhando sem enxergar,
grávida de adãos e evas.

CANTOS

Moro nessas ruas
apreensivas,
violentado,

Espero a oportunidade
que sempre chega antes,
vai, insisto, apreensivo,

não me espanto,
deito o corpo na calçada,
em cantos as vezes em prantos.

PLÁGIOS

Meus dias são
um plágio após o outro,
meus anjos se suicidam
por uma realidade menos morta,

Viver é profundo,
a morte é muito mais,
tempo inexistente;
vou ficar onde quero estar,

aqui nesses tantos lugares,
tenho a minha caverna,
que vive dentro de mim,
mais bem dentro, momentos,

momentos que não são de verdade,
você no meio da tarde
uma ausência que quero lembrar
daquilo que parecia ser,

Ontem, hoje, ontem hoje plágios,
túmulos de momentos cadáveres,
nesse verão saudosista,
de sombras e fantasmas.

Uma longa noite de pesadelos.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

ACONTECIMENTO

Nunca vi,
mas sabia que acontecia lá.

Um negro de cabelo loiro,
um branco rastafari,

Todos os olhos
carregavam meninas pretas,

numa Vila Madalena
fantasiada de pavão,

Trotava um homem cavalo,
com sua carroça verde amarela,

seguido fielmente
pela felicidade que latia,

naquele lombo negro reluzente
todos queriam colocar um pano branco.

SONHOS COTIDIANOS

Um sujeito matou a mulher
num sonho de família feliz,
Sonho que sonhava só.

O corpo foi encontrado,
cimentado debaixo da cama
em uma manhã cinzenta,

Nem chuva nem sol,
lavavam o sonho
do homem que se achava Deus.

EDUARDO E MÔNICA

Eduardo e Mônica
desejaram mudar o mundo,
jogaram molotvs na Rua da Consolação,
criaram o Partido Tamo Junto,
os molotovs se apagaram,
hoje fazem discursos domesticados
na Câmara dos Deputados.

KING KONG

Há animais na Rua 15 de Novembro,
prédios como o Empire States,
branquelas manchadas de negros,
de nariz empinado, em mais um dia
deitando noite adentro.

DIA DO FICO

No Parque Dom Pedro
vigiam-se contrabandos,
corotes e mendigos,
principalmente a miséria.

CONFORTO

Na Praça da Sé haviam 5 crianças,
pés descalços e nariz escorrendo, com fome,
eu cheio de vergonha elas tão magrinhas.
A mãe? deitada com o pai de agora;
ninguém se incomodava.

BADALOS

Caminho pela Rua Direita
quebro a esquerda
chego na praça da Sé,
tropeço na miséria, e,
ouço o sino da catedral.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

BEIJO NA BOCA

Boca na boca
ventosa
melhor do que ontem,

Um coração
fantasiado
de Arco Íris,

Tudo tão colorido,
sorrisos,
nos lábios da borboleta.


HAICAI

Bem te vi
colibri
eu Urutau


A Maritaca: - Ai cai...Ai cai...

DESAGUANDO

Uns dias chove
noutros bate sol
soprando o vento,

Cai a chuva
lava a rua
mata a sede,

Me leva
leva a rima
a poesia poema,

olhos de Lula
águas azuis,
eu e minhas maresias?

DANDO RISADAS A TOA

Surpreso? Não. Tudo foi indo,
pente ante pé, passo a passo
as mesmas manhãs,

café, almoço e jantar,
com cheiro de naftalina

Sexo? Só nas noites de sexta,
depois da novela,
posto que é chama, apagou...

depois do cigarro aceso,
a fumaça subiu, se foi,
como se nem tivesses estado,

Tudo é um saudosismo,
sem cheiro, nem nada,
agora rio a toa.

ARRANHA CÉUS

Não ando em ruas
que não me levam
a lugar algum,
por minha conta e risco
nem ando com a fé
entre prédios que me oprimem,
pelas calçadas fétidas, e,
corpos apodrecidos
sinto o cheiro de Deus,

Nunca arranharei o céu!

ZÉ MANÉ POETA

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José bobão,
Marias te trairiam,
nesse seu esgoto de ilha,

Sou José,
meio Carlos,
Talvez dissesse Drumond:

-José deixa de ser estéril,
põe vida nessa vida, ou,
leva ela a sério?

SALVE-SE QUEM PUDER

O sangue de Deus
não é verde amarelo,
incolor,

Nos espinhos das rosas,
não tremulam améns,
primavera já chega,

Trabalhadores sertão reis?

Machucam as cabeças
coroadas de reis que trabalham,

Diante de tanto sangue colorido,
Salve-se quem puder!

CARAMUJO

Inicio o dia
adentro a noite
sonhando riquezas
que não enobrecem,

mentiram para mim,
corro como uma cão para morder o rabo,
prazer não me cabe,

Não gosto, tem gente que gosta,
dessa vida oposta, fim sem finalidade,
onde tudo tem cheiro de peixe,

Reclamações são o ostento,
nestes rabiscos inúteis?
Palavras de caramujo, que
só acontecem em versos.

MUSICALIDADE

Acordo dançando uma valsa,
passo a passo, o ato é um fato
pronto,

Escuto a música que brota,
poderia ser mais bruta,
bossa nova,

O som da avenida, entoa,
outro canto, outro tempo,
que é deles hoje,

harmônica exploração de espaço,
desconforto e consolo,
diante de uma clave de sol,

Tudo faz sentido na poesia talvez?

SUICÍDIO

Viaduto. Alto. Arranha o céu.
Um salto. Ambulância.
Mergulho vermelho.
Uma manhã amarela.

VELHA CRIANÇA

Fraldas geriátricas, desfibrilador,
telefone dos amigos no SAMU,
um velhinho brincando de criança,

Pula corda na ida e na volta,
não vai nem volta,
nem chega também,

nada termina de ser feito,
tudo começa hoje, amanhã novamente,
com a vontade de fazer sempre,

As velhas narrativas,
das experiências com o tempo,
morrem e nascem,

Amarelinha, cabra cega,
acabam como ontem,
da vida somos amantes.

ÁGUAS PASSADAS

Há dias acordo assim:
sem saber definir,
o que são águas passadas,

Dói-me as costas, navego
as águas afluentes de mim,
quanto tempo passou?

Paro em frente ao espelho,
sorrio com as respostas,
da velhice aportando.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MINHOCÃO

Um minhocão
abriga, sob...embala,
o lixo,

O poeta
olha a miséria,
sem culpa,

Esculpida,
pedras - pessoas, pelos
batalhões de poemas,

sobre os restos,
ratos roem
a vida,

sem gatos
que moram em
arranha-céus,

habitam
a nova violência
sem perder a ternura,

Jama`s.

ABUSANDO A VIDA

Uma nuvem cinza,
esconde, atrás,
um sol,

dentro,
uma chuva densa.
Vai saltar!

Retumbam os trovões,
correm,
ratos e baratas,

os raios, iluminam
sem suspeitar
que irão acabar em poesia,

as plantas se divertem
dos que correm
da vida seca,

vida
dádiva ávida
lavada,

molhada ou seca
em perfeita sintonia,
a poesia usa e abusa.

TEMPESTADE

Ando enquanto os olhos
se abrigam das gotas,
de chuva,

Cai exausta
numa enxurrada
de existências,

Antes desse águasal,
um mendigo
já dormia úmido,

Um cheiro podre,
subindo molhado
do chão,

Abrigado sob um toldo,
ouço o pranto
da tempestade bruta,

Um choro em si mesma,
que na garoa acalma,
umedecendo a calçada,

sacia  a sede
dos pássaros...passos,
vão em vãos,

o arco íris
se levanta de manhã
sobre os ausentes,

somente ao poeta,
encharcou de palavras,
essa chuva intensa.



terça-feira, 12 de novembro de 2019

DEUS URBANO

Não gosto desse Deus urbano,
de rosto branco, loiro de olhos azuis,
olhar de candura, boca singela,
entra devagarinho, sem licença poética,]
nas casas, cavernas e mentes,

Esse velho e forte, sabe que começo tem fim,
sem medo da descrença,
com orgulho do ódio e de maldades,
tudo em mim é rebeldia,

Caminho numa insana procura,
por aqui por ali
o mundo se deita em mim,
me acoberta de gaze, nem percebemos,
quase, que vai nos cobrindo de terra.

MANDARIM

Meu amigo chinês disse:
Chinesas não gostam de negros.

Eu respondi:
Brasileiras também não.

Não durmo com Mao na cabeceira,
todo sexo é revolucionário,

só é contido pelo café e um cigarro,
nas minhas manhãs em Cunha,

Cachoeira na cabeça, água fria,
um levante popular,

um suor e um gozo
entre o fogo do molotov,

um sorriso de felicidade
meio comunista.

MEU ESPELHO

Havia um cavalo dentro de mim,
só eu montava,
com meu colete a prova de balas;

na cabeça, o descuido, meu chapéu coco,
cavalgando entre xilocaína, lidocaína, cafeína,
acetona, bomba e éter,

sempre fui medieval,
inconsciente com meu umbigo
e me espelho particular.

FAKE NEWS

Os solitários das redes sociais,
não escutaram a explosão.

Morreram crianças?
Morreram minorias?
Morreram trabalhadores?
Morreram muitos.

Os solitários nada viram,
haviam muitos amigos deletáveis e um conforto,
fugir da realidade, dos conflitos lá de fora,
basta ficar offline e ver tudo pela TV.


quarta-feira, 6 de novembro de 2019

NÃO SEI FAZER POESIA

Olho pela janela do trem,
um mundo em miséria e injustiça,

O fogo de Deus, me faz respirar,
uma fumaça que embaça,

que passa,

Aqui não meu irmão!
Vou descer em outra estação,

Cains não me enganam
nessa vida severina,

Perdoai-me
não sei fazer poesia.

UM DIA

Um dia
minhas rimas
se levantarão,

andarão,

não a pedido de Deus,
mas pela palavra pão!

Todos juntos, como um batalhão
de punhos cerrados, cavalos,

deixando  o cercado
ganhando o descampado,

Rosas e cravos, espinhos,
num início de flor e cultura.

SONHO E SOL

Lá longe no horizonte,
o mar encontra as nuvens,

Tão perto?

Na menina dos olhos, uma clara paisagem,
onde aportam lembranças,

de um coração batendo asas
na imensidão azul,

o sol derretendo as penas de cera,
de um Ícaro de olhos mareados.




TEMPO

O tempo é a distância
entre e o espelho e a fotografia,
estampado na nossa cara de bunda,

Tudo é colorido
quando se cobre de cinza,

nesse tempo despresível,
vivo como cachorro morto,
cavando buracos para enterrar os ossos,

infestado de amor e silêncio,
de chão molhado,
esperando abraços.

EMOÇÃO

Sou o mesmo,
mudando: todo dia,

Pião, roda gigante,
eu num parque de diversões,

rodando moinhos
eu giramundo,

geração que gera ação
bebendo emoção.

MOCHILANDO

De sal,
castelos de areia, mar
de muitas desilusões,

exite violência
no bater das águas
sobre as rochas?

A lâmina afiada
dos mariscos
abrindo a pele?

Na minha, sua, dentro
e fora, na estrada,
eu, você com a mochila inchada?

NA BOCA DO POVO

Lábios sem intensão
não tem a ambição das bocas,
beijos, sabor e feitiço,

sufocando, afogando
despedidas e encontros,
em todas as estações do ano,

salivando como as marés
que beijam a areia nas
salgadas doces manhãs,

Olha!

Lá longe o horizonte
que habita o céu da boca
daqueles que morrem de saudade.

VIVO MINHA SEPULTURA

Quando me olho
vejo duas pessoas,
um verso, inverso,

algo incompleto,
sem ser vivo
virginal perigo,

o corpo enruga
desacompanhado
olhando lápides,

tenho idades, que
correm sem parar,
com coisas da intimidade,

um dia não terei
tempo, nem envelhecerei,
mortos não vivem isso.

NADA É COMO É

Amor que se acaba não é mais amor,
ódio que se guarda também não é mais ódio,
momentos que não são vividos não são momentos,
tudo é casco de tartaruga, abrigo de solitários,
sentimentos que devemos ultrapassar,
ao terminar um verso busca-se outras rimas,
poemas tem flores e cactus, então agora,
levanta da cama e não pergunta quem desarrumou.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

INFANTIL

Arfante, militante, infante em si,
com erguidos punhos, cerrados,
por palavras, armas de liberdade,

marcha, molotov, fumaça,
correria, paus e pedras,
gritos e lágrimas,

Tudo em vida busca a morte,
severina fome do outro,
ainda um porvir,

Infante, lutador,
de punhos cerrados,
armado de liberdade.

EU VOCÊ E EU E VOCÊ

Todo eu que há em você
nem sempre é o eu que o outro vê,
se o eu do outro te choca,
soca, sem se abater,

Melhor ser filho da outra,

Outra realidade que se inventa
entre Deuses e diabos,
previsões e provisões
nesse mundo do nunca,

E daí?

Sou um eterno insatisfeito
me debatendo no túmulo,
quando Drumonds e Suassunas
me chamaram de bunda,

Eu sou você, eu e você,
sem você nem eu, o outro
que foge de mim
nem me conhece.

ENTREPASSOS

Vejo os punhos cerrados,
as palavras de ordem,
gritos inaudíveis
nas bocas pálidas da paisagem,

As utopias se construindo,
como edifícios, rachadas.
Não dá para abraçar
o mundo, com sal de lágrimas,

No final o mesmo começo
que segue e resiste
contando verbos de pedra,
deixando tudo em movimento,

Se não chegamos ao fim de tudo,
subimos apenas uns degraus,
de mãos dadas, não esse, outro você,
mudando as coisas entrepassos.

ENGANO PORQUE GOSTO

Amor não é para sempre,
ele só vem para amar.
Mesmo que ele se perca...
não ligue..ele vai voltar
enquanto engano você
com essa minha poesia.

MATANDO O TEMPO

Meu melhor o tempo escondeu,
não teria sobrevivido sem você,
sem arrependimentos,
continuo abraçando as manhãs,

Tudo vai mudar, o tempo, o vento
vai espantar o que está seco,
o sol vai se apagar, a lua acender,
sem explicação ou razão,

Com essa nova luz, fica?
Sai da escuridão lá de fora,
não há o que inventar sem sol e lua,
vale a pena matar o tempo.

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

PERSONAGENS

Entre os personagens com quem convivo,
não acho o real, nem procuro,
nessa páginas que já enrugam,

vivo subjeticídio público,
funcional, funcionário frente a espelhos,
afogando-se num mar de idades,

mesmo se os encontrar
perderei o fôlego na praia,
sob um sol escaldante,

nas minhas costas, gargalhadas,
que batem em corais e incomodam a maré,
nessa ilusão de horizontes.

AMÉM

Um mar que sabe nadar,
nada desengonçado,
quebrando a cara nas pedras,

Um mar que não sabe andar
anda afundando seus pés
num imenso chão de areia,

Um mar dentro da ostra
não conhece
o sonho de uma pérola,

Um mar que não sonha
não vai nem vem,
só leva uma vida de amém.

VIDA ALHEIA

Um graveto seco
desce pelo rio.
Uma formiga nua
toma sol na bunda.
Lá nas nuvens,
fofocam um bando de maritacas.

AO PÉ DA LETRA

O escuro aprisiona vaga-lumes
em lugares vazios,
a cada um que foge uma luz se perde
e enterra um corpo,

O escuro fica órfão, não enxerga,
perde a direção e cambaleia,
tem asas mas não voa,
lágrimas de um só olho,

O vazio se fortalece,
proliferam morcegos,
a poesia vai fugindo,
caminhando com pés de letras.

LADEIRA PORTO GERAL

Uma rua para quem sobe,
uma ladeira para quem desce,
para todos que caminham,

fantasias, futilidades,
roubos e precariedades,
uma ladeira Porto Geral.

AMOR

Me livra do laço
que aperta o pescoço,
dessas armadilhas insanas,

que afogam os olhos,
bumba marcapasso
que no coração lateja,

Ah! Amor alado dolorido,
com asas de Ícaro,
só me vale as orgias,

que estrangula esse lobo
sem matilha, vai e vem
que não volta nunca mais.

CRIANCICE

Tomara eu viva mais 10 anos,
reclamando, chutando pau da barraca,
tenha amor de uma loirinha ou negrinha,
meninas para brincar, de papai ou médico,
de mamãe ou enfermeira, tudo assim misturado,
chorar, soluçar e sonhar criança de novo.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A RUA

A rua deita, acorda, o corpo,
cansado, inerte, lúmpem, desesperado,
só o seguinte,

Morre,

morte fria, acamada, indigente coisa,
animal fera inútil,
disforme.

A rua é despresível, aconchegante,
te abraça, te ouve calada,
conforta,

cama esquecida, deitada,
acordamos depois.


FATOS FRIOS

- Quem vai querer comprar banana?
Pergunta a Rede Globo.

- Acataremos teu ato! Responde o abacate.
Nós também somos do mato.

Nesse pomar de futilidades,
tem carne seca na calçada,
caipirinha de água ao dente,

Um pato aqui outro acolá,
noves fora entre,
se não é do lixo não pense,

De tudo o que falta,
o que resta,
é somente um fato frio.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

CEGUEIRA

Pergunto:
Menina o que você olha?

O que você vê
além do que já está posto?

Minha menina, nos olhos
engole o silêncio,

no limite desse olhar
fiquei pasmo,

havia adiante, o mundo, e,
os cegos não enxergavam a pérola.

MEDO

Nada é claro
na rua da minha casa.
Latem cachorros,
gatos pretos passeiam,

Passos marcam o compasso
por onde caminham fantasmas.
Um bêbado mija no poste, e,
projéteis me assoviam assexuados,


as pernas se recusam a andar,
a violência não me desvia o olhar.
Ufa! Não me escolhe a faminta,
devora outro inocente,

dou um, dois, três passos,
caminho porque não morri,
passageiro, passarinho
vou voar dessa gaiola chinfrim.


IDADE

A juventude se esvai
entre dedos, hora a hora,

No rosto o silêncio e ela
vigiando fotografias,

todo dia volto ao começo
entre vômitos de rugas e verdades

que conheço e desconheço,
recriando do que padeço,

sonhos me acompanham
cobrando coisas de criança,

esse é um dia secreto
viajando com cogumelos.

TERRA DO NUNCA

Ainda sonho
nessa terra do nunca,

não na linha da frente,
nem na linha do fundo,

entre meus golpes de vista
entre o tudo e o nada,

vida severa violenta
que nesse poema explode,

que não posso deixar morrer,
nem posso deixar me matar.

AGORA SEI

Agora sei
que já passei
Já fui
ainda miserável,

Agora sei
levantei, me curvei
procurei, achei
não guardei,

Agora sei
que sou culpado
de levantar muros
que não derrubei,

Agora sei
geração
gera-ação
mesmo distraída.

AMÉM

Há tempos que escuto estórias.
Que a história agita lenços
brancos de derrotas, como pombas
brancas manchadas de sangue,

na vida urbana, no campo
do gado na fila do matadouro,
rumo a paz com orgulho, nessa
história embaixo do tapete,

em cada momento, que se inicia
a necessidade, assim como finda
quando a chuva leva o sangue
no consumo da naturalizado,

de joelhos ontem, sempre
palmas juntas abertas,
Hoje ainda, a palavra amém.

TRANSFORMAÇÕES

Somos nós trabalhadores
que levantamos prédios, casas,
alteramos a natureza, o País,

Somos nós trabalhadores
que levantamos cidades,
com as ferramentas da tortura,

Somos nós trabalhadores,
que navegamos mares e céu
com o rosto molhado de sal,

Somos nós o amanhã,
ancorados porto a porto,
para onde?

De punhos cerrados,
tremulam outras bandeiras
que nunca são o bastante.

MILITÂNCIA

Levanto bandeiras, luto
pela verdade, e,
aguardo respostas,

Abro minhas portas, contradições?
Espero que entrem, pelas janelas
entre luzes e possibilidades,

pássaro, Ícaro, em vôo
bato asas derretidas
de muitas formas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

INSETOS

Havia um presidente
que roubava palavras das lixeiras,
políticos todavia, sorriam mentiras, e,
escreviam palavrões em meio a ignorância,
se tivessem conhecido Maria Carolina de Jesus
talvez tivessem aprendido sobre quartos de despejo,
mas insetos e pernilongos são apreciadores de sangue e restos.

AMAR E PARAR

Como é que se pode
afirmar, que há...
rima entre...
amar e parar,

há muita poesia
no meio,
dá vontade de beijar,
amar e parar,

por aqui,
não precisa ser hoje,
sei lá quando,
meu coração sem dono,

essa ressaca não para,
melhor amar para passar,
tudo ou nada, que nos resta,
viver essas rimas, enfim...

vomitar por você.

EMOÇÕES PRIVADAS

Não que eu tenha
esquecido os sorrisos, os beijos
de todas as noites, mesmo cansado,
é que, sei lá, eu não tinha,

antes não, perto ou longe
sempre faltava, vivia um vazio
de saudade que ficava, não sacia
a vontade de te ver, agora

eu tenho, todo dia toda hora,
aqui está, fim de toda emoção
cardíaca, nem lembro mais,
se não está, não precisa ser lembrada,

foi, a fim de ficar,
transbordando o vácuo,
que se rompeu, pronto
para se esvaziar,

mesmo que seja verdade, desamar
é isso, voltar para o nada,
um anti sentimento, começou
agora, essa vontade de ir embora...


segunda-feira, 16 de setembro de 2019

MENINAS

Uma mulher, uma sereia?
De frente para minhas meninas,
que nadam no fundo dos olhos,

encharcadas pelos tempos de agora,
deste lado do porto, do outro,
o porto do mundo,

Canta cedo o mar,
gaivotas mergulham e pescam
muito antes de mim,

um lado amarrado, outro fundo,
as meninas navegando em tudo,
serão mulheres ou sereias?

Nesse mar onde nado lento,
água que tanto bate e fura,
comovido, como vento,

mar parado, de sal e areia,
não sei se existem sereias,
só sei que a muqueca foi boa.

MATURIDADE

Uma fruta madurando morta, eu,
banana com cigarro apagado
no canto da boca,

deitado na fruteira
olhando baladas, casais
cheios de céu e flores,

bananeiras e buquês de esperança,
pomar de silhuetas abrigando passarinhos,
que, colhidas vidas suspiram,

degoladas, lavadas, descabeladas,
expostas no centro da mesa,
como maracujás de gaveta,

doze bananas já vivi,
um cacho jaz ali,
penca com calda,

me resta esse sentimento louco,
saber o sabor, despencando
entre a fruteira e a boca.

CORUJANDO

Minha vida passa
nesse tempo enorme,
passam nas miragens
da minha janela,
assim me contam as meninas
dos olhos, impotentes e silenciosas
que sou uma coruja.

PRINCESAS

Ainda sonham, cavalos brancos,
castelos, guardados, fechados,
dentro delas - sonhos de terror,

Nesse circo moram crentes,
palhaços num picadeiro de areia,
saltando em cordas frouxas,

Todos pintados, como anjos
cavalgando canduras, que passam ao largo,
marcando o trotar dos corações.

LUTA

As crianças levadas,
a crer em céu e inferno
aprendem em casa, sob
um céu de telhas e paredes felizes,
gravuras de cegonhas, coelhos de páscoa,
Papai Noel.

Ave gaivotas, marinhas,
Ave Marias, maresias
azuis e rosas todos os dias,
batem palmas, palmas juntas,
cheias de amém e teias
elas crianças num pula pula,

Como encontrar a realidade,
sendo poeta e poesia?
Eu sou - e dentro dela?
Sem verdades absolutas
a Ave Severina grita:
Luta!

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

COLHEITA

No seio de uma beterraba
sentava um passarinho amarelo,
cenário intersexual de poemas,
de onde ejaculam rimas como chuva,
rimas, concavas, convexas, curvas,
em uma plantação de milho,
sob os olhares dos espantalhos.

CASA DAS ROSAS

Na hora do almoço
caminham grupos palitando os dentes.
Um mendigo pede um real,

Penso:
(Rua mais sem gente)

Rua cheia de novidades,
atropelamentos de montão,
meninas do: vou ali e já volto, e somem,

Lá na Casa das Rosas
tem uma mulher casada
que não consigo arrancar do jardim,

Deve ser esse meu sentimento Jambo,
Ela cultiva uma flor que já usa band-aid,
que logo, logo vai colecionar sapos, ou,

embuchar de palhaço, como o anjo da sua mãe.

POEMA INFANTIL

Na criancice das palavras
vi um lagarto mastigar um pedaço de vento,
escrevo o que não acontece, infantilmente,
melhor que prender passarinhos dos outros,

Da natureza seu moço!
Lugar de passarinho é em cima de pedra de rio,
palavras com pé no chão
onde os lagartos que mastigam ventos andam,

Meu professor ensinou
que mesmo as palavras bichadas
tem seu valor, seu sentido, ódio e amor,
eu juro não sei quase nada,

Um dia vou saber tanto quanto as abelhas,
que sabem das flores. Não para fazer jardins,
mas para encontrar as sementes de todas as palavras.

NADA

Um luar desovou um osso de ovo,
com olho de inseto, um nada com nadadeiras,

sabe das coisa por folhas secas,
não desenvolve, não vai além do nada,

Guarda vento no pulmão, pula de galhos...quebrados,
lambendo palavras alucinadas, fodendo o mundo,

Tem pernas mas não anda, tem asas mas não voa,
um nada, ou, quase nada, nada desenvolvido,

não fala uma coisa nem outra, querendo falar de tudo,
ou quase, coisa que ninguém escutava,

Eles iam cuidar da vida, isto é, assistir as novelas das oito.

ESPERANÇA

Na minha liberdade algemada,
só vivo imagens e formas,
o conteúdo deu adeus,
enterrando a narrativa,

os fragmentos já não colam,
os grilos não falam mais comigo,
sinto-me um pouco resto
como concha cuspida de mar,

sinto falta da infecção das palavras,
dão dor de cabeça mas me mantém vivo,
não sei se estou no fundo de um jazigo, ou,
o vazio de mim que tem esse silêncio bárbaro,

meus verbos estão com o pé na lama,
as palavras não fazem gestos,
tudo caminha para a ignorância,
decidi falar com passarinhos e fazer coisas inúteis,

entretanto na primeira ereção do dia,
o dia promete, olhando um deserto, ou,
um menino brincando num chão de areia
com um molotov em garrafa de coca-cola, sugere mudanças?

FILHO DA OUTRA

Aquilo que não conheço é muito mais bonito
para tocar o clítoris do mundo,
o modo como o sol se ascende e apaga,
como canta uma rã todo fim de tarde,

Um verbo movimenta tudo
quando formigas entram em suas casas de bunda,
falar de formigas é insano eu sei,
como sei que elas não dão a luz,

Daquilo que não sei eu me habituo,
minha coleira é determinante no caso,
é como um nada crescendo,
num corpo cheio de vazios.

SIMPLICIDADE

O céu é espelho do mar,
misterioso e indecifrável tão quanto,
se há Deus por lá,
deverá haver Deus para a cá?

Ostras, pérolas, vidas, oferendas,
caminhamos sobre ondas,
simples, altivas suntuosas,
para vomitar maré na praia,

Tudo tão simples assim.

RECEITA

Mãos na massa
temos muito trabalho,
neutralidade ideológica não existe,

Mãos a massa
Difícil? Manobra,
neutralidade ideológica não existe,

Mãos a massa
unta a forma, bota a forma,
neutralidade ideológica não existe,

Coloca para assar
com uma pitada de lenda,
neutralidade ideológica não existe.

IDENTIDADE

Sou aquilo que me deu a vida
que vou vivendo a cada passo,
passo tropeçando a rapidez do traço,

Já chorei, já sorri,
já achei, já perdi, 
tantas casas que sorriam,

Sou algo vivo,
já nem sinto tanto frio,
nem sei a idade que tenho,

Vou juntar tudo sobre mim,
passado e presente, além de nós,
para me dar um abraço futuro.

SAUDOSISMO

Oficina - Arena
Os dois teatros do meu início
em que me conheci,
subjetividades tão próximas,
que so de lembrar é como estar lá.

CAVALOS BRANCOS

Os que olham mulheres belas,
se olhassem para além da beleza,
veriam que que há nelas
um narcisismo agudo,

Ouvem relinchos de cavalos brancos,

Elas produzem um sorriso frouxo,
num corpo de desamor aflito,
com lábios flácidos e beijos rápidos
com olhos de muitas perguntas,

Ouvem relinchos de cavalos brancos,

Não importa se tem sol ou noite nos cabelos,
tem em comum que são belas,
só não se atentam para além da imagem,
que não há cavalos brancos nos centros urbanos.

LA MANCHA

Minha mula empacava,
não haviam moinhos na praia,
só os vistos por mim.

Minha armadura ganhei da LBV,
trapos de coração para o dia a dia,
com um escudo de cascas de coco e melancia,

Pança de sobretudo num sol de 40º graus,
Chapéu de palha e tule, botas de solado furada,
um ninja sunsei da Liberdade,

Será que serão poetas? Perguntavam:
Nesses doces trajes poéticos,
repletos de ricas rimas?

Atuais ou medievais,
são quixotes contemporâneos,
vistos como La Mancha.

RUA TAMANDARÉ

O centro tem muitos ratos,
aqui na Rua Tamandaré nunca falta,
espanto pra todos os lados, e,
ele correm aos bueiros,

Quando estão lá todos juntos,
com certeza falam de mim, e,
um deles faz um comunicado:
Vou participar da São Silvestre!

ÁGUA BRANCA

Um parque sem rios ou fonte,
verde água branca,
onde construo lembranças
sob memórias rasas,

Verdes sombras, desvendei,
obscuras relações,
encobertas por frondosas árvores,
frutificando segredos,

Suspeitas me franzem a testa
das descobertas secas,
molhando um tempo,
entre verdades e mentiras,

Sei que ali corre uma jovem,
suando pelo caminho escultural,
sombra sinuosa, saltitante,
que avança com o pensamento que lembro.


SAMPA É NÓS

As ruas de Sampa não nos oprimem,
suas calçadas, lojas, arranha-céus.
São as pessoas, coisas bípedes,
que ruminam, ruminam e mordem,

Suas utopias que empurram a vida,
impulsionam limites, pichando de
alucinações rebeldes o dia, depois de amanhã,
num muro extenso,

aqui nessas ruas qualquer coisa pode ser,
João e Maria de barbas e bigodes,
procurando sem saber o que,
crescendo, indo, vindo, eu, ficando,

nossas tímidas resistências,
a outras lógicas, ilógicas,
da qual se vestir mesmo que sem relevância.


EXISTÊNCIA

Se somos a síntese da existência
no tamanho possível dos nossos sonhos,
não encontramos ainda nosso caminho,
nas casas, ruas, espaços e tempo,

O inesperado futuro nos questiona:
O que deixamos de fazer no passado?
Uma ira covarde invade tudo,
somente uma ira impotente,

Míopes olhares desvirtuam nossa ousadia,
nessa vida defensiva de fracassos guardados,
um cigarro, outro, muito mais, e,
um pavor da inércia do lucro,

São livres os caminhos que não se encontram?
Corpos que transitam como um bando de andorinhas,
um balé de muitos, únicos, paradoxal e obscuro.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

MUNDO DA LUA

Atrás da bunda da lua
se escondia um sol absurdo,
vergonha de uma noite íntima,

O céu rangeu sem parar,
Trotsky...Trotsky... Trotsky...
como uma cena Mayakovski,

Lua sem ideologia
dormia em qualquer lado,
lua de Brasil, lua Japonesa,

Afora essa lua cheia ou meia,
lua luz luzidia seduzia
meu pênis pela janela do quarto de dormir.

PADARIAS

Entre roscas atrevidas e baguetes fálicos,
são mais consumidos os cacetinhos franceses,

Os olhos de sogra e os beijinhos,
não ficavam sem lamber os beiços,

quando um pão de queijo sempre fora de hora,
fornicado de goiabada, escorre como sêmen,

Meu amor na padaria,
tinha um cheiro de tudo fresco,

um doce de palavra avelã,
fermentamos a partir das 5 da manhã.

COISAS INTERNAS

Nessa minha cama morta
nos tempos que ela dormia,
rangiam canções de alegria
que se achavam infinitas,

Infinita de sons
que não conheciam silêncios,
mesmo que ensurdecessem,

Fui preso nessa armadilha
entre nós de lençóis, e,
trapos de extase,

Junto tudo e vejo
o eterno em mim
como uma lembrança sem fim.

MAR DO LADO

Desse lado a onda vem
do outro lado do mundo também,

Muitos lados de um mar
ancorado,

Cercamos o mar,
ou o mar é nosso cercado?

Velejamos a crista d'água,
n'água dos naufragados,

Do lado que não tem cercado
tá tudo muito amarrado.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

MAR DOS AFOGADOS

Naquele mar imenso,
brincamos, molhamos,
olhares invejosos,

seu corpo salgava
a água
o suor naufragava,

Um amor tão grande
sem perceber
se afogava.

TORTURA

Fui cruelmente torturado,
gaivotas, beija flores, maritacas...
galinhas... até mesmo borboletas.

Mulheres foram mais bárbaras,
bastaram alguns beijinhos,
e um abrir de pernas.

COISAS DE BUTECO

Quem bebe em pé
mija mais rápido,

Tudo desce
diz a gravidade,

Assim como
todo desamor desaparece.

JANELAS DE CASA

A luz escorria pelas frestas,
abria-se um enorme buraco na paisagem,
a luz invadia a sala,

Clarão comprido,
comprido e quente,
no obscuro momento da minha vida,

Os móveis calados,
as paredes abraçadas,
a janela aberta gargalhava de alegria.

MEUS DESEJOS RUINS

Tomara que minha saudade
te afogue,

aos poucos,
a medida que bato asas para longe,

Deixo de presente
tuas nafitalinas,

Pimenta vermelha
para teus olhos,

com bastante fé,
tua morte em vida.

VÔO POÉTICO

Nem passarinho,
nem avião
nestas paisagens,
apenas um poeta.

O poema que aqui reside
é um poema de rua,
lá, longe, fica, está,
o que ele habita,

nesse vôo conhecido
como poesia.

sábado, 3 de agosto de 2019

FÁBULA

Nem sapo, nem princesa,
nem príncipe ou anjo beato,
somente uma grande foda,
entre fantasmas,

entre estrelas e espermas
debaixo do Viaduto do Chá,
eco de escarros e gemidos
de homens morcegos e piratas,

Tudo um cheiro e carne,
nessa fábula moderna
encenando desigualdades...
faz de conta, nada não passou.

SIMPLESMENTE POESIA

Nem passarinho, nem avião,
paisagens, poetas, poema residente,
de rua, lá, longe, fica, está,

habitante, dentro, fora, onde?
Felicidade, tristeza, ira, tudo que é sentimento,
simplesmente poesia.

MORRENDO DE IDEIAS

O desejo é anarquista, negam os capitalistas,
ludibriam-se os socialistas, bota medo aos comunistas,

deve ser nessa ordem, organizados cataclismos,
São desejos demais, de fome...muita fome...haja fome.

INFANTILIDADE

Não vou deixar minha infância,
vou parar por aqui, daqui não saio não,

Vou viver meu pique esconde,
vou brincar de cabra cega,

Vou pular amarelinha,
do inferno chegar ao céu,

Vou ser sempre passarinho,
até morrer bebezinho.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

MASP

Quem nunca esteve
na marquise do MASP,

A espera da militância
nunca viu arte,

- tomando ar, ou,
sufocando no sub-solo,

É o movimento da Av. Paulista,
que silenciam pessoas incautas,

Á falta de paredes, subtraio os ângulos,
um vão que denuncia a arte.


ESPERANDO MARGOT

No ano passado você foi?
ou
Nesse ano você vem?

Tem muito sol lá fora!
e
Nesse ano você vem?

E agora que você foi?
esquece
Nesse ano você vem.

Eu te espero Margot.

ANJO

dentro de mim
mora um outro
que vejo por ai
com meu corpo
caminhando sem rosto
sem certezas ou erros
livre, da morte e dos mortos.

DESCONFIANÇA

Fome, guerras,
fezes e mijos.
Dizem que: Se é de Judeu é bom!
Será?
- Desconfia até de Deus seu Tomé!

PRINCESAS

Ela tem celular e espelho
não há mais nada a dizer,

Não fala. Calada sussurra
num jazigo de futilidades,

o cadáver dentro dela sorri,
que fique longe de mim, pode seduzir minha alma,

tudo ontem, hoje, amanhã,
essas coisas não descansam.

terça-feira, 23 de julho de 2019

VONTADE DE CHORAR

O que estou fazendo aqui?
causando o nada.

Sou muito menos que isso,
nem tenho identidade,

Nasci e vou morrer nesse mesmo caixão,
fabricado no tempo, para ocupar meu espaço,

filho de Deus, aponto para a igreja,
meus olhos marejam d´água.

MUROS

Os muros que acontecem melhor saltá-los,
olhando para trás com os olhos de quem vai cair,

A cobiça nos fazem voar pelas vontades de lá,
onde os muros ficam incapazes de aprender,

Não se pode impedir as manhãs, nem os arco-iris desbotados,
que para lá do além muro outros muros vão saltar,

a cada salto realizado, progressivo voam esperanças,
sonhadas idealizadas como as casas de um João de barro.

D´JAVIR

Esta tarde já aconteceu,
quando?

Um cachorro se coçava no poste
um homem urinava no canto
com a sirene da polícia ao fundo,

Um homem estapeava a bíblia
blasfemando suas palavras,
colocando Deus no bolso,

Esta tarde já aconteceu,
anêmica, sem sentido, sem chuva.

Produtos chineses à venda
para homens de olhos grandes,
meninas de todos os números
se atreviam com gestos antinaturais,

a tarde segue a noite
sem consciência social,
lógica formal de sentimentos
cheia de Deuses e desejos,

Esta tarde já aconteceu,
novamente na Praça da Sé.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

SEM LIMITE


Eu não tenho limites
E gostaria que eles não houvessem,
Caminho por todos os lugares,
Não admito paradas,
Só quero um teclado ou caneta,
E muitas folhas em branco.

POEMA ENGAJADO


Tudo que é povo
É poema mal remunerado,
Presidiário dos livros,
Assim como lua, sol, mar e amor.

Porque?

Só cabe o poeta mendigo
Que passa o chapéu,
Que não come, mora ou dorme
Com palavras sem valor.

A poesia?

Está em tudo que existe,
Forte, oprimido, alegre ou triste,
Esquerda, direita, ou
Em coisas centrais.

A LÓGICA DAS RUAS

Existe um rumo que as ruas tomam
como se não ligassem para o espaço,
diante da lógica perplexa da geografia,

Porém, caminham sem se mover,
os passos dos homens e dos animais,
cantam, cantos becos, vielas,

frenéticos vai e vem que marcam o compasso,
onde a carne é verbo na esquina, em descidas,
subidas, num looping de versos adversos,


As ruas estanques não param,
não respeitam limites e vão, e,
todos os ouvidos sucumbem, sem brincar de sol e chuva.

ENTRE VERSOS E RIMAS

Entre o verso e a rima
a ambivalência salta para o nada,

A cada palavra metáforas e sonhos,
maçã, amor, no tempo de Eva,

entre coisas e sentimentos
a ambivalência calada,

rolam no branco pichado de tinta,
ponto a ponto linha a linha,

projetadas frases desconexas,
como asa de xícaras teimosas,

As palavras dançam num carnaval de versos,
dando mãos as rimas num imenso mar de lágrimas.

MIOPIA

Quando silencia o ronco do estômago
os olhos se arregalam, surpreendendo as meninas,
as dilatadas barrigas saem até do lugar,
então calam-se os ossos e relacham-se as pálpebras.

GATOS NO TELHADO

Profundo poema sem rima
não imita a cama,
desenha a forma da sombra,
do corpo que flutua,
nos braços negros que te enlaçam
e apertam o nó do seu coração,
que arfa descompassado
como os gemidos dos gatos no telhado.

ANDARILHO

A boca de lobo,
a boca da mina,
nuca mais beijos
no samba que vela,

Doces ideias,
amargos propósitos,
da música cantada
que levanta a poeira,

dança dos mundos.
comes e bebes
na 13 de maio
entre meigos ladrões,

Vou devagar e vou só
com meus pés pré-defuntos
atravessando a cidade
para o sono dos velhos.

PROIBIÇÃO

Olhando a calçada,
olhando a boca de lobo,
olhei para o fim da rua,

casas anônimas, janelas anônimas,
anônimos colibris dormindo,

a solidão deliciosa
de um cada qual na sua rua
sonhando a vida em pedaços,

onde a vida anoitece?
Pedaços de mortos morridos,

Olhando o fim da rua
um coro de silêncio em vida
proíbe qualquer manifestação.

AVENTURAS

Amor armadilha
animais da ficção
com unicórnios ao redor,

Nasce e finda o dia
transformando o ódio,
que imaginei na harmonia,

sobressaltos na calmaria,
guerras de um guerreiro
nas fugas que implorei,

cavalo nu celado
nessa planície escaldante
galopando as aventuras que amei.

DESCANSO

A maré traz
a maré leva.
Maravilhoso!
A maresia
desse mar dormindo.

VAZIOS

Perto?...Longe?
nem sinal do fim da rua.

Nada pode evitar os calos
somente se um avestruz surgisse na esquina,.

ou se minha fada madrinha
me desse uma passagem de metrô,

ou se sua negra vara de condão
estrelasse minha vazia trajetória.

GUAIANAZES DA ÁFRICA

Passei na Rua Guaianazes
com a África de pano de fundo,

A rua fica aqui perto
no oceano do mundo,

mulheres abundantemente negras
como espetinhos na calçada,

baratas mortas, ratos rasantes,
em obscuros convívios,

negros diamantes constantes
forjados numa dura existência,

velha África brasileira, escurecendo o dia,
as crianças daqui te saúdam.

BICHO DE PEDRA

O corpo de um crak
uma vida de pedra
que a pedra faz gol,

a face doce
tem sabor de salgado
na miragem da praça,

bicho no buraco
da paisagem pinga, pó e vapor,
como Quixotes e Sanchos Pança.

NÓS E AS RUAS

Minha rua eu batizei,
ou não,

É um pedaço de espaço
onde pessoas vão e vem,

A rua é como nós,
sem ter nome não lembramos mais,

vira água parada
nem nada,

Ah! Se não fossem as pessoas,
nesse caminhar infindo,

que passam, não passam, passas
doces ruas enrugadas,

por onde mastigam
seu caminho finito.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

CÂNCER

As armas não te deixam morrer de câncer
te protegem da morte que te procura,
mas os espelhos espalhados e expostos no espaço
formam a imagem que te espia,

cuturnos negros calçados numa roupagem verde,
empunhando bandeiras vermelhas, travestidas verde amarela,
bombardeiam jovens e adultos que explodem num arco-iris.

LUMPENS

Vaga-lumpens vadios
vagam num vai e vem,

varam vertentes
pardais, pedras e pó,

velejam brisas zumbis
com Deus no espantalho dos olhos,

vasto vago vale
de crack da cracolândia,

quando o nascer renascer
não mostra caminhos de fuga,

nem vaga-lumes acesos.


DELÍRIO

Se eu te falar baixinho
tudo aquilo que sinto,

vai dizer que é ridículo
dessa solidão que me acolhe?

Se eu te falar baixinho
que vou bandear noutras bandas,

para tocar-te e aprender
como entender o canto das sereias?

Com estas minhas letras de blues
vou fazer um trato com o diabo.


LÍNGUA SOLTA

Nesse eterna vida maçã
nada é louca é sã,

teu corpo é fruta romã,
fruta urbana, do mato,

fruta de noite e manhãs
êxtase de cama e sofá,

nua entre meus dentes
na sensibilidade da minha língua solta.

GRUTA

É misteriosa essa sua gruta
rasgada por esse rio que te escorre
diante de meu olhar fálico,

busco esse ponto g
que minha língua umedece,

se revira...sere vira...se revira...
como cobra, onça, mulher.

COMPANHIA

O mar nesse coração gelado,
entre algas e festa de sol
há de ser minha companhia,

nasceu bem antes de mim
ouviu amor e lamúrias,
há de ser minha companhia,

bom ouvinte sagaz salgado
de lágrimas de tantas almas
há de ser minha companhia,

Nesse coração gelado
sou só um ser que vai e vem
debaixo desse arco-iris.

FIM DO TEMPO

A brisa arrepia seu corpo
e eu fico excitado
entre esses pelos eriçados,

são carinhos da sua pele,
esquentando ...  em mim
seus abusos e seus desejos


entre suas pernas e o cabelo me escondo,
entocado nas suas formas
até que esse tempo me acabe.

SÊMEN

Se a mistura ficção e realidade
e devaneios de família feliz
me assombram por toda minha vida,
é porque sou sêmen divino,

Essa vida é para morrer
como a flor que perde as pétalas
nesse eterno bem quer mal me quer,
tudo tão lógico formal no ventre da primavera,

lembranças da minha cabeça
descabelada queimada de sol,
ao fixar sua coroa de espinhos
encho-me de prazer e puro êxtase,

nasci para viver e morrer
neste corpo enformado,
cheio de sonhos de jardim,
invento o que me é real.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

SONÂMBULO

Na inocência dos meus sonhos,
acordei com os seios das lâmpadas,
acesos,

Uma estrela deitada aos pés,
que na cama me tiram memórias,
a pouco,

A noite cheia de malícias,
me olhava pelo espelho,
nua,

Toco o pênis e a vida
fálico ritmo equilibrado,
ejaculo,

Cubro os seios da lâmpada,
apago os olhos,
sonho profundamente.

ÂNUS

1º de Abril
não é o dia da mentira,

acho que é 24 de Dezembro
à meia noite,

é o dia
em que sou enganado,

a esperar
por mais 12 meses.

VESTIMENTAS

Nem sempre
o amor
acontece,

De repente,
um laço, uma armadilha,
serpente,

engolindo
tragédias
sem nome,

com esse
morrer
visto minha solidão.

ANJOS E DEMÔNIOS

Um anjo de unhas postiças,
boca pintada, olha por mim,

não entendo esta vigília,
se sou amigo de Marx, Engels e Brecht,

anjos não quero,
porque sou João ninguém,

deito-me no humor do vento, e,
rezo pelas crianças.

CAVALGADAS

Todo dia, toda madrugada,
dorme uma boca pagã
acorrentada pelo tempo
após a menstruação descer,

anda...anda...voa....

Com os homens nobres,
de real, euro e ien,
vai apagar esse fogo
que só o seu ventre tem,

indo ao êxtase e gozo
dentro do confessionário,
enquanto o poeta
lhe corta a jugular,

não há culpas no prazer
nem no trote da cavalgada
quando as fêmeas educadas
se transformam em sêmen.

BADALADAS

Bate o sino do Mosteiro São Bento
entre o bem e o mal da cidade,
fantasma da crucificação.
São dezoito horas, já esta na hora.

A fome do povo
não se mata com hóstias,
mas é vício alimento
de corpo incorporado,

entre céu e inferno
Deus e o Diabo, ambivalentes
matam a fome de boas intenções
num mundo girando num saco cheio.



CACHORROS E CADELAS

As mulheres buscam amor,
eu tento fugir delas.
Se não houvesse a vagina
o que fariam elas?

Será que seriam companheiras
se nem se dão bem entre elas?
São belas quando singelas,
se não se olhou para elas,

sinceras são garotas de programa,
as putas são menos hipócritas,
pois o pudor e o pecado, pertencem
as carolas, a venda em outro mercado,

Tenho medo da poesia das mulheres
não são a melhor opção,
poesia é palavra sincera
como as cadelas no cio,

não quero me expor
para não ser atingido,
por isso melhor fugir delas,
como um cachorro vira latas.

FEIRA DO ROLO

Na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
homens vendem de tudo,
até traças para devorar frieiras,

As igrejas ao lado cheias,
de graça não existe nada,
nem princesas nem castelos,
onde habitam cobras e ratos,

também padres e pastores,
cheios de boas intenções,
vendendo a mãe da miséria
e o paraíso em parcelas,

na feira do rolo
lá pras bandas do Glicério,
os homens vendem de tudo,
isso, aquilo, o fim e o início.

BORBOLETANDO

Como uma borboleta
que acabou de sair do casulo,

escuto os prantos
de quem não consegue bater asas,

há cobras nos pântanos
querendo se alimentar,

mariposas desmaiam
todos os fins de tarde,

ela no seu corpinho rosa,
chora pedindo a Barbie.

COISAS MORTAS

Artistas carregam máscaras,
finjo-me de arlequim,

mas sou bom palhaço
nesse circo de destroços,

tudo tão subjetivo
nesse mundo cada vez mais morto.

DEGUSTAÇÃO

A cabeça
cheia de pensamentos

certo, errado,
muitas contradições,

meio embriagado
um hálito de urubu

uma Rua Aurora
não chega,

na sarjeta
acendo um cigarro falso

tragando
um poema.

INEXISTENTE

Você
tão útil

maquiagem
tão barata

cabelo tingido
dourado sem ouro

dias
sem sol

noites
sem lua

tão gasta
tão leve

tão frágil
tão nada

tão coisa alguma
que não existe.

BURACOS

Quantos buracos cabem
em outros buracos?

Quantos olhares profundos
nos buracos que te olham?

Quantas rosas brancas
quanta bossa nova,

quantos encontros, desencontros,
em irrupções diárias,

para dar paz ao coração
que bate desenfreado,

com que direito
me beijas e me dá abraços?

LOUCURAS

O que não tem lógica
loucura, ilógica.
Muros se erguem,
pastores cobram dízimos,
de quem nada cai de cabeça para baixo
só cartazes de preciso beber cachaça, colabore.
pombas disputam migalhas
coisa que se parecem, se misturam,
o tempo vai passando...passou...
Agora é a hora!
O amanhã é um pato atropelado
na Av. Francisco Morato.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

DOIS UM PRA CADA LADO

Um dia emprestamos as mãos,
passeamos no Trianon
sem olhar para nada
nem em frente nem pro lado,

sentamos nos bancos do parque
contamos flores e árvores,
pique esconde, amarelinha,
nada de normas ou regras,

eu, você o hotel,
avançamos ruas, cruzamos esquinas,
cheirando hamburguer e gás carbônico,
nessa cidade sem graça,

Amassamos lençóis, sem fôlego, sem freio,
adentramos cavernas, trançamos pernas,
viajamos à Hong Kong,
falamos com Kama Sutra,

sem hora, sem nada,
solucionando mistérios.
O sol se pôs e acordou,
esperava por nós,

Um beijo, um aceno,
um aperto de mão,
- Até um dia!
Fomos cada um pro seu lado.




AS VELAS

Venta o vento, veneno,
onde quero chegar?
Não há falcões ou borboletas
apenas paixões passageiras.
Navego para o futuro
tão cheio de fronteiras,
ainda dormindo com mulheres,
ao invés de dormir nelas.
as velas vão se apagando
quando recebem carícias.




EN PASSANT

José não morava na Praça Panamericana,
ele nunca foi passarinho que descansasse,
nasceu para voar pelo mundo,
nunca fora notado, nem encontrado,
(Foi achado morto de morte matada)
Fazia uma sopa de pedras como ninguém,
mas as fumava também, bebia até as ruas                                                         ,
com suas roupas lavadas de chuva,
seu carrinho de supermercado era seu baú de riquezas,
corria feito um calango, era sua natureza,
só não sabia palitar os dentes.

COVAS

Homens deficientes de infância
habitam porões, pensando em parques,
brincam com a vida e a morte
e voltam a ressuscitar,

olhos cegos de ira,
um não vê, o outro não se enxerga,
a infância olha e ele olha pra ela,
olhando para coisas mortas,

Em um buraco de 7 palmos,
preso a presilhas no céu,
voa passarinho passarinheiro,
entre a fome, estrelas e luar,

quando cava mais fundo,
afunda-se cada vez mais,
se esvaziando por dentro,
para fora lá de dentro, seu invento.

JAMAIS

Jamais, pode ser agora,
quando desejos são poeira
e acabam quando morrem,
ou quando os versos sofrem,

Jamais, acabam no início,
a beira de precipícios,
aos cegos atentos,
no escuro, muros e lados,

Jamais, roubarão princípios,
na fissura da forma,
impacto entre guerreiros
em lutas hereditárias,

Jamais, aqui jazz
um domador de nuvens,
corpo insolente,
distante de si e destino,

Jamais...Jamais...
recuso o percurso,
frente aos galos gagos,
pois, posso mudar o mundo.

INSTANTES FINAIS

O vento despia os Ipês,
misturando cores,
recheando o chão de primavera.

Na flor da adolescência,
puxa como era bom!
Lá em Boissucanga.

Em noites amenas,
a lua sorria cheia,
e piscavam os vagalumes,

Agora na maioridade,
Ufa!
Como bate a saudade,

Chuvas, grilos,
vagalumes,  namoradas
sapos que coxavam,

Caiu a última flor do Ipê,
dias, horas, segundos passaram
nesse meu último instante.


NÃO QUERO MORRER AGORA

As pálpebras caíram,
o silêncio falou.

Era a morte
que me visitava.

E agora sem o chão?
Onde colocar a vida do morto?

Quem tem medo do escuro quer saber.
Não quero morrer agora.

INFANTILIDADADE

Estive jovem algumas vezes,

dos 15 aos 25
dos 25 aos 35
dos 35 aos 45
dos 45 aos 55

Cansei.
Era melhor quando era criança.

Até os 15,
brinquei, pulei, acho até que namorei,

Todo velho perde o tempo, chega a tempo,
com a beleza que os olhos viram,

como fruta, verdejam, amarelam, apodrecem,
se vão e novamente florescem crianças.

PERGUNTAS

São as ruas?
São os buracos?
Os homens?
A multidão?
A política?
ou são nossos olhos míopes?
São os gritos?
As bandeiras?
O tempo?
A lógica?
Ou o absurdo dentro de nós?

REZANDO

Quando deito caio no sono
sem saber o que há  embaixo da cama,

há algo crescendo, coisam  que me perturbam,
o sono e os sonhos.

A lua nova faz carícias, nos medos,
mas o que mais me assusta são os gemidos.

A PEDRA DO PATRIARCA

A pedra do Patriarca,
não vê a praça
pelos seus olhos de pedra,

nem os sem famílias,
as sujeiras dos pombos nos ombros,
ou os disfarçados poetas,

a igreja na paisagem cansada,
hoje só faz casamentos,
e outras pedras no caminho.

MEMÓRIAS

Pensando o passado
que já foi novo,
vejo um mar,
uma cozinha, uma cama,
fotos de gaivotas,
melancolia do tempo,
de ontem que hoje me lembro.

PASSARINHO

Houve um tempo
em que meus braços
entrelaçados aos braços dela
eram como um abraço
que me abraçava,

Minhas pernas
com as pernas dela,
entre, em cima, embaixo,
atrás na frente,
me gozassem,

As línguas que dançavam
a chuva, entrelaçadas,
eram uma grande armadilha,
encharcadas, enxurradas,
de rosas aguadas,

Tudo afora, adentro,
as feridas que ferem o tempo,
desenha seu fim,
sustentando as sobras que fomos,

embora, ela lá eu aqui,
o amor foi beija flor,
violento, belo passageiro,
com ninhos que ficaram com ela.

ALIENAÇÃO

Entre saber e não saber
me alieno no tempo,

entre igrejas socialistas,
e quarteis que rezam a Deus,

Adeus. Fique com o que é teu!
Marx nunca foi Deus,

Vôo em vão,
avestruz perco a cabeça.

MARISCO

Pena...arrancadas...penas,
palmas apenas, poemas,
Pétalas...arrancadas...pétalas,
uma a uma de um coração apenas,

Fim desse tédio
de mulher serena,
me lambe as feridas,
fode minha vida,

marisca-me as costas,
me banha de sal,
afoga-me em seus seios,
que nas suas tranças me enforco.

PASSANDO O TEMPO

Sentado numa pedra sabão,
eu ouvia o mar,
após mais uma desilusão,

olhava para o horizonte,
pensando no tempo passado,
quebrando nas rochas mariscas,

Diante do som do sal,
os olhos marejavam,
eu um grão de areia,

Uivando como um lobo,
quebro o meu casulo,
para voar como borboleta.

O ATIRADOR

Muitos chamam esse governo:
de fascista, filho imperialista,
eu chamo de calhordas,
dominantes e individualistas
num espaço de injustiças.
Muitos bezerros pra mamar
numa vaca de poucas tetas,

Depois que ele findar
nada terá mudado,
a educação terá emburrecido
mas com diploma na mão, pois,
a lei é uma caixa de projéteis
na mão de um atirador.


DESDESEJO

Algum tempo atrás
eu quase me afoguei
de amor,

nadei numa morena,
com olhos de jabuticaba,
vinda do Rio Grande do Norte,

vestia um corpo tropical
com rosto de adolescente
e muita alegria de viver,

não havia de fato desejo,
apenas uma enorme vontade
de curar minha solidão.

PERNILONGO JACU PÊSSEGO

Um pernilongo
cantava no meu ouvido,
dei-lhe uns tapas na cara,
pra cantar noutra freguesia,

Lá reuniu os amigos,
fez fofoca, fez fuxicos,
voltou com a turma toda,
pra me fazer sinfonia,

Tudo era uma grande festa,
dia de Sabatto D' Angelo.
No córrego Jacu Pêssego,
nos tiravam para dançar.

POESIA DE CÃO

Lá na Rua Rouxinol
tem um cachorro que late,

assustando o dono,
muito mais os passantes,

Nas noites silenciosas, quando
não é mais um cão de guarda,

fica olhando para a lua,
com cara de cão sem dono,

uivando sem parar,
cada estrela que conta.

COISA DE BACO

Se você for ao Bixiga,
A tarde, depois do trabalho,
Talvez encontre um amigo,
Um amor antigo, quem sabe?

Vá lá comer macarrão,
Ou, beber um bom vinho,
Lá é um espaço mágico,
O macarrão é chinês,
o vinho é coisa de Baco

PICO DO JARAGUÁ

O frio é muito intenso
no Pico do Jaraguá,
onde os poemas,
tremem, congelam,

Se você gosta de poesias,
ao deitar-se à noite
pede para os seus sonhos
voltar a nos aquecer.

ABAYOMI

Nunca tive Danielas, que
deveriam ter outro nome, Abayomis,
minhas bonecas de pedidos,

Sonho com que cruze oceanos,
e deite-se na minha cama,
para que eu desfaça seus nós,

Não tenho talento para amante,
nem ocasião que permita
fazer-te minha Julieta.

PASSEIOS

Saio de casa, para
mais uma aventura,
visto a roupa da cidade
costurada, vou à caçada,
nas ruas de caminhos largos,
idas, chegadas, bebidas,
gastronomia, um trago,
uma bala, fim da fome,
minha vida interrompida.

CELSIUS

Oficina - Temperatura Celso,
coisas da Rua Jaceguai,
convulsões, surpresas, sustos,
corpos que brincam,
de brincar o mundo, desconstruir,
dissonante das outras ruas, frias,
porque solenes, corpos de plásticos
ouvem o hino nacional.

OS CAVALOS

A Av. Indianópolis
não é pista de corrida, mas,
garotos donos de cavalos,
controlam volantes,

Pânico no asfalto, um assalto!

Cavalos com vidros fúnebres,
abrigam o garoto fantasma,
deitado no lombo virgem,
o corpo não controla, não corre,

Na pisca seca, o cavalo ainda relinchava,
vapor nas narinas da noite que chegava calma,
escurecendo a violência, iluminando,
o sangue e a cidade que dispara.

FIO DA NAVALHA

Um gole...engole seco
no semi árido do cimento,
na Rua Morato Coelho,
onde a noite floresce,

Não tem céu, só arranhões
de concreto, muitos gestos,
muitas cores e botecos,
que aquecem o íntimo,

Flores na rua, cobiçados olhares, 
violentam calçadas animais,
que as presas vão devorar,
o que se vê no buraco da fechadura?

Agora tudo, a pouco nada,
tudo efêmero na balada,
a noite só começou, de um lado e outro
no meio, fio da navalha.

CULPAS

Miseráveis...sem ofensa,
perfume forte que se veste,
nem um olhar,  ignora
a culpa,

Culpa da exposição,
fraterna humilhação
nas ruas do centro.
Beija-me Constant,

Desperta entre anúncios
que acorda o consumo,
aos que podem,
que também aquecem,

Como resolver?
Toda caridade será castigada
no corpo na alma,
as vidas de morte matadas.;

SEVERINA

A fome não se alimenta
da fome, nem o gosto, nem o arroto
brutal das mãos caridosas.

As quentinhas da Praça da Sé,
sem sentimento de culpa, sem saber
matam de vagar, a fome,

Como entender? Entendendo,
porque chora, escondida, naturalizada,
a vida severina.

FIM DE RUA

Passos rápidos, apesar dos avisos,
não ande assim pelas ruas
que não caminham,
nos buracos que te olham,

Olha amor, raia o dia,
deixemos os carinhos na cama,
relaxa  e escuta as batidas do coração,
que pulsa e ainda dorme,

Acorde as ideias, elas vem primeiro
com o sol que aquece o dia,
nesse duro chão, vívido,
posto aqui...no caminho,

não se pode dizer,
onde vai dar, onde?
Longe ou perto,
até que finde a rua.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

O VALOR DA INFÂNCIA

Crianças jogam em casa,
crianças jogam na rua,
crianças brincam nas piscinas,
crianças brincam na chuva,
crianças sorriem
crianças choram,

entre chinelos e pés no chão,
com suas caixinhas de sonhos,

Crianças contam estrelas,
dividindo de forma justa,
o que serão amanhã?
Vou lhes contar um sonho:
- Todas serão ladras!
De ponteiros dos relógios do tempo.

SEM SENTIDO

Um pé de chuchu
pulou a cerca,

Um bicho preguiça
escalava um poste,

A menina cor de rosa
o menino azul,

misturavam as cores
brincando de arco iris,

um sol sem vergonha
dava sentido as coisas.

DANÇA DA NATUREZA

Ventos fortes
dançavam com as árvores
no Parque Villa Lobos,
uma garoa umedecia tudo,
acho que eram carícias demais,
foi assim por horas.

ESPERANDO UM AMÔ

Estou a horas olhando o horizonte,
ondas vão, ondas vem,
nenhuma delas me traz você de volta.

PRECAUÇÃO

Na necessaire
fralda geriátrica,
desfibrilador,
telefone do SAMU,
cueca limpa,
 remédio pra enxaqueca,
guarda chuva
muito papel higiênico,
nunca sei
quando vou fazer cagadas.

ANTICLÁSSICO

Corpo flácido,
cansado,
no tempo,

rugas,
testas e pálpebras,
caídas,

o corpo de dentro?
adolescente
em crescimento,

olhos famintos,
desejosos,
observando perigosa mente,

sem licença,
a velhice não vive,
só convive,

essa velha,
vanguarda militante,
anticlássica,

Assim,
não sei,
não fico.

INDIVIDUALISMOS

Borboleta
parece salada

salada
lembra primavera

Prima Vera
amor de lado

lado
éramos os dois

Dois, cada um
no seu quadrado.

VAZIOS

Dentro de mim
mora um labirinto
onde caminho
perdido de mim,
nascido sinoidal
uma vida espiral,

As vezes
tenho saudades,
de Zélia, Simone e Daniela,
mesmo que por minutos.
Eterna saudade que dói...
as vezes.

ALÔ

Toca o orelhão
na rua solitária,
toca pra ninguém,

Toca orelhão
com insistência,
alguém existe?

Olho toda a solidão,
alguém continua chamando,
ninguém, serei eu?

USOS E ABUSOS

Amar não pesa,
não custa,
como algodão
que aquece,

o valor
 está nos fios
que tecem
que cobrem

Eu peço,
me use, me leve,
para deitar
em cima de você.

FAMINTO

Daniela, João, Pedro,
não me beije,
sou um predador,

meus dentes
rasgam carnes
mastigam quem se atreve,

sou chamego, cafuné,
coração, pedra sabão,
bicho de pé,

me subverta,
me acolha,
mas não me beije

me deixa te despir,
depois,
te devoro.

CONSUMISMO

Amor não é
sacrifício
nem orifício
ou isso
ou aquilo,
é mesa, é casa,
pão e água,
Ah! se dinheiro eu tivesse.

DOCE UTOPIA

Uma bala
salivava a boca,
chocolate, hortelã,
açai cá aqui.

vai engano
sabor submisso
seduzindo
desejos.

dejetos
sonhos
doce
utopia,

nem te quero
de verdade
meu amor
diabético.

MARÉ

A onda
inquieta
do mar
vai
amaré
vem
forte
vacilante
cresce
hesita
corre
morre
nos pés.

PASSAGEIRA

Diante desse mar imenso
um sol descansando,
sem cor,

O mar. As ondas. As marés.
Vai e vem uma sensação vaga,
no corpo um arrepio.

Onde andam as ondas?
vagas águas salgadas
sem cascata,

Esse mar não tem queixume,
só vai e vem
como Cristina Naiara Fernandes.

NÃO GUARDEI

Te odeio tanto
que dá vontade de chorar,
de apertar, de sufocar.
Entrar dentro de você
inteiro até morrer
na tua cama,
onde jamais deitei.

VÃOS E VENS

Dias vem
dias vãos,
no mesmo
lugar,

Dias presentes
dias faltam
não sei
dos dias,

Hoje,
amanhã...
dias...
os mesmos.

VÁCUO

Estou ansioso,
vacilo
em meus desejos,
não tenho devolutivas do amor,
nem olhares, nem sorrisos,
só silêncios,
tudo tão vazio para mim.

MUITO A FAZER

Não sou absoluto
até daqui a pouco,
serei, sobre o que sei,
não sou

um poema de contradições
e rimas sem versos, só,
um vagalume num buraco negro,

pisco...pisco...
quando cruzo comigo...
durante do dia não.

Há muito a fazer
sobre minhas dúvidas,
naquilo que acredito,
nesse mundo que também é meu.

sábado, 29 de junho de 2019

ORIGEM


Nem Adão nem Eva,
botões, gerações,
que fecundam o solo,
transformam-se em florestas,

Outras se erguerão, podadas
na próxima primavera,

Botões e flores,
Caem e renascem,
como a humanidade
que nasce e morre.

MATURIDADE


A maturidade, vindas da experiência,
Aventuradas sem medo de se jogar,
carregamos como uma cruz
sob o calor do e a suavidade da brisa,

A maturidade sorri, porque brinca
De saber pular corda e amarelinha,
Dentro de um buraco quer observa
A prisão da velhice,

A maturidade consume o fazer,
O não fazer, as lágrimas, o tempo,
Sedenta de desertos,

A maturidade não envelhece no
O corpo idoso que a acompanha,
Mas morre morrida desde seu nascimento.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

LOOPING

Poemas são
escritos
sem rima, sem querer,

como um amor
que vai esvaindo
saber sem amar,

nada mais é tão natural,
nada mais é...
tão humano,

Tudo agora é coisa,
coisa
que já foi antes.


DESEJOS

Ela me deu uma mão,
natural que eu queira o resto,
não fui.
Ela tem 20 anos, e eu?
Com 60 quero me manter vivo
até a hora da minha morte.

MOVIMENTO

Aranhas tecendo redes
no teto,

descanso os cotovelos
no alpendre,

vejo folhas dançando
na varanda,

um cheiro de café no ar,

se tudo isso acabar
ficarei preocupado.

VELHICES ADOLESCENTES

Quase agredi o coração
outra vez,

com um poema
velho para namorar,

com abraços
e repetidos beijos,

de um velho adolescente
comovido.

ÁGUAS PASSADAS

Remos, remarão
águas que não voltarão,
levando gente e você,

encontrei outra fonte,
que deságua noutro rio,
rio já pronto,

um outro que rema
em mim calmo,
noutras águas que ficarão,.

Danielas molhadas,
Dá nelas! Fazem de tudo,
senão virgens aguadas.

ESPETÁCULO

Você não é poesia,
ideia de Guy Debord,
um espetáculo de seios,
bundas em um jeans,
tudo true and lies,
nada natural,
nos inventamos
para ser felizes,
a vida dura um pouco mais
lírica.

MEDOS

Tenho medo do tempo
pelo limite que me impõe,
à vida,

serei eterno
enquanto dure
essa vida,

dançarei lambadas,
surfarei meu mar
sem ondas,

sem mais nem menos,
somarei, subtrairei palavras,
amor

tenho medo, medo literário
de não incomodar,
com poemas tão calmos.

ATOA

Não faço buracos no céu,
não vou a lugar algum,
nem caminho por onde não conheço,

nem adianta me seduzir
com suas nuvens sem graça,
enquanto o buraco me espia,

meu céu é a rua onde piso, onde
faz tempo que não caminho,
porque não gosto de dobrar esquinas,

queria te dar um poema
mesmo entre tropeços,
com a forma da tua bunda e seios,

Já disse! Não gosto de dobrar esquinas,
dizem que lá se encontra a morte,
Que Deus me proteja!

TEMPO

O tempo não para,
invenção nossa,

Para que tempo?
Essa eternidade que nos devora.

Quem sabe faz a hora?
agora...agora...agora...

Eu danço, a cabeça balança,
entre palavras inúteis,

volto novamente,
escrevo,

o tempo
que vai embora.

VAZIOS

O vazio
não enche,
nem transborda
também,

cada qual
no seu
cada qual,

nós meio ali junto
sem assunto,
sem esperar, sem pesar,
sem mexer muito.



BURACO

É fato
cada buraco
afunda a nós mesmos,
mais fundo
todos os dias,
mais fundo,
quando a gente se vê
aos sorrisos, ou,
quando o buraco
olha para nós.


FILÓZO

Meu velho
corpo
aqui

deitado seu peso
na cama

sonha

seu corpo
as curvas
uma boca

tudo aqui
massa cinzenta
no espaço.


SOB O SOL

A pele
morena de sol

Como um Assaí
com morangos e bananas,
sobre: leite condensado

um solitário qualquer
um corpo dançante
deseja

a falta de realidade
atrapalha qualquer ilusão
nessa tarde de praia.

PROSTÍBULO

Na casa
dos corpos
moram desejos
pessoas se foram

A casa
antiga
de cama
 janelas

A casa
não cai
nos corpos deitados
a casa é você,

A casa
guarda
gemidos,
só isso,

Na casa
reside
medos, receios,
portas e janelas.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

SINAL DE VIDA

Ela se foi...
entre meus versos,
levantei,
abri as cortinas da janela
para ver o pôr do sol,
foi meu sinal de vida,

Vivo, ainda sonho,
com os olhares...
com o toque das mãos...,
quentes, nas feridas abertas,
mas vazias em meu silêncio
sem respostas,

A partida foi medida
para não se desgastar,
apesar do porre do "não voltar".
Levo essas dores comigo,
carregando para sempre
esse amar desamar.

PROSTÍBULO

Podem dizer que sou insensato,
finjo mesmo a minha vida,

Ela tinha olhos sábios,
assim como o corpo e os lábios,

Me chamava pra dormir,
era toda doce e feroz.

POESIA

No branco do papel
deitado,
não dormia a poesia
com suas rimas inquietas.

De dia de noite
o branco,
solitário e distante,
corria aqui acolá.

Não podia deitar
o verso,
que dormia onde podia,
ontem hoje e durante.

No branco do papel
deitado,
caiu um montão de letrinhas
que agora vão cantar.

MEIO CORDEL

Tudo foi inventado,
até nosso pensamento,

que o ignorante compra
porque o que olha cobiça,

nunca nada ele escuta
onde se contam mentiras,

aqui se prendem inocentes
entre futebol e facebook,

essa é minha terra onde cantam sabiás,
tudo se vende e se compra.